Era noite de natal. Toda vizinhança estava iluminada e decorada pro evento do ano. Todos na cidade deviam estar celebrando em suas casas com suas famílias e uma bela ceia. Também tinha a troca de presentes, que era o que mais agradava minha irmã Maddie de 12 anos. Além de estarmos comemorando o natal, também celebramos a promoção que meu padrasto Jack havia recebido. Em janeiro ele iria pra Europa e teria que ficar lá por dois anos seguidos, o que me desanimou um pouco já que eu gostava de Jack, ele me criou então era praticamente um pai pra mim. Maddie também era muito apegada a ele, só que ela estava muito feliz em pensar em seu pai na Europa que não sobrou tempo pra pensar que ele ficaria dois anos distante da gente.

Já tinhamos comido, e também os presentes já se encontravam abertos, como sempre eu havia ganhado vários livros. Maddie estava sentada próxima a árvore de natal, tirando foto de seus presentes pra exibir pras amigas. O que me deixou com um pouco de ciúmes, eu não tinha pra quem mostrar meus presentes. Depois de cantar cerca de umas 5 canções ao som do meu violão, guardei ele em sua capa protetora e sorri meio triste.

— Boa noite pessoal, já vou indo, cantar me deixou cansada. 

Na verdade eu só havia perdido meu humor, antes mesmo nem estava tão feliz a ponto de festejar como as outras pessoas. Já ia dando as costas pra sair da sala quando minha mãe me impediu.

—Espera Demi. Tenho que dar uma ótima notícia à todos.

Apoiei meu violão no chão e me virei pra ver o que ela tinha pra comunicar.

—Já que Jack vai viajar por dois anos, decidi que nós também vamos dar uma voltinha.

Um arrepio estranho passou pelo meu corpo, mas eu o ignorei. Devia ser frio.

Maddie soltou um gritinho da onde estava junto com a Sra.Bennet (Nossa cozinheira)

—Pra onde vamos mamãe? Paris? Veneza?

—Não seja bobinha bolotinha, no máximo vamos jantar no Mc Donald's.

O sorriso de Maddie sumiu e o de minha mãe só aumentou. Estranho...

—Meninas, vamos para Darien!

Congelei. O mundo girou. Perdeu o foco e depois voltou, todos me olhavam como se esperassem explodir, e era o que eu faria. Não pude controlar o espanto que saiu junto a minha voz.

—MAS O QUE???

Maddie se encolheu, ela não estava mais acostumada com a Demi meio agressiva. A Sra.Bennet pegou ela pela mão e a levou em seu quarto. Fiquei mais tranquila, assim não iria aterrorizar minha irmãzinha. Minha mãe deu um passo em minha direção, eu recuei subindo um degrau da escada.

—Vamos aproveitar e tirar férias da vida agitada de New Haven, imagina só que bom a calmaria de Darien. 

Comecei a caminhar desinquieta pela sala, como se tentasse fugir do pânico que me cercava de todos os lados. Eu não queria voltar, não gostava de lembrar do meu pai bêbado e agressivo, era horrível!

—Eu não quero ir!

Jack se colocou ao lado da minha mãe.

—Isso já estamos vendo.

—Vocês não entendem! Cidade nova atraí curiosos, e eu não suporto aqueles vizinhos idiotas que mal podem ver alguém se mudando e já vão pra porta da pessoa bisbilhotar e oferecer tortas ruins! São todos uns falsos! Todos uns interesseiros por você ser casada com o bilionário Jack Willian's!!!

Jack fez um cara de ofendido. É, eu realmente havia explodido.

—Amor, deixa a Demi descansar, já está tarde e todos estamos exaustos. 

Mentira! Vocês me provocaram, agora fiquem e me vejam destruir tudo com meus punhos de moça macho!

Tentei me acalmar, se não acabaria destruindo a casa só com meu pensamento.

—Mãe, você sabe que não precisa ser assim, vamos ficar. Jack vai num pé e volta no outro. E tem mais, e o colégio? Eu não posso perder dois anos.

Eu realmente estava implorando? A que nível cheguei...

—Demetria Devonne Lovato...- Sim, eu estava ferrada-... Não vou mudar minha opinião, então é melhor colaborar, não estou afim de te arrastar até o aeroporto. Ah, a gente vai nesse sábado.

Ela e Jack saíram me deixando sozinha. Ótimo, sábado. Só tinha dois dias... ou menos, sei lá.

Ia saindo da sala quando me lembrei de quebrar alguma coisa, era um costume meu que eu tinha quando estava preste a explodir. Peguei uma almofada e acertei naquela árvore que brilhava sem graça, a mesma começou a cair. Corri pro meu quarto com meu lindo violão.

—É meu chuchu, agora sou só eu e você.

Já passava das 01:30 da madrugada, eu precisava dormir se não ia acordar com olheiras lindas. Não que eu me importasse, mas nos livros que eu li, descobri que elas faziam muito mal.

Sentei perto do chão e fiz a única coisa que me acalmava. Toquei lentamente a música que estava compondo a algum tempo. Dei o nome de Fot the Love Of a Daughter, que significa Pelo amor de uma filha; passei meus dedos pelas cordas produzindo uma sinfonia calma:

For years old,                                               Quatro anos de idade,

With my back to the door,                           Com minhas costas na porta,

All I could hear,                                          Tudo o que eu conseguia ouvir,

Was the family war.                                     Era a guerra da família.

[...]

Depois que terminei a canção, prendi meus cabelos, tirei a roupa e joguei num canto qualquer, deitei no meio da minha coberta fofa cor de rosa e dormi quase perfeitamente.