Anatomia de um amor imortal escrita por Eduardo Marais


Capítulo 29
De volta ao novo mundo




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Johnathon entrega seu desenho para pai e sorri, acentuando as covinhas em suas bochechas.

— Eu desenhei a mamãe também. Aqui, ela está com um bebê na barriga.

— Fez bem, amigão. Ela irá adorar, quando retornar da viagem.

O menino sobe nas pernas do pai.

— Por que vocês não estão juntos? Você foi embora e ela ficou. Agora você voltou e ela foi embora. Onde ela está?

— Ela está num lugar chamado Romênia e vai demorar bastante a voltar.

— Ela está com aquela tia dela?

Vladimir concorda com um movimento de cabeça.

— Aquela tia da mamãe está muito doente e precisa de cuidados. Então, a mamãe está com ela.

— Mas por que a mamãe não me telefona ou usa o computador para falar comigo? Ela não gosta mais de mim? Eu estou comendo legumes e já sei tomar banho sozinho!

Vladimir agarra o filho e o aperta num abraço possessivo. Cobre-o de beijos.

— A mamãe é louca por você! E sempre será, mesmo quando for velho como o papai!

Entrando de maneira espetaculosa como sempre, Killian vai sentar-se num dos sofás e larga-se ali. Sorri para o irmão e para o sobrinho.

— Os últimos trâmites estão sendo acertados e em breve a nossa agência de seguranças estará em funcionamento! – ele sorri e estende a mão para chamar o sobrinho, que desce do colo do pai e vai brincar com o tio. – Conversei com o Reverendo Costa e nem uma das tentativas foi exitosas em quebrar aquela “nossa estátua”. Fico imaginando o que é aquilo.

— Não deveria, Killian. Pelo bem da nossa família, atire aquilo no oceano.

— O Reverendo Costa me pediu mais uns dias para continuar testando aquele material. – ele dá de ombros. – Depois, enterrarei, jogarei no mar, eu me livrarei daquilo.

— Depois de tudo o que eu presenciei naquele castelo, sinto muito medo em manter algum elo com essas coisas sobrenaturais, Killian. É muito medonho, mesmo! Eu não quero ser surpreendido com a volta de Lenine em algum raro eclipse.

O homem mais jovem exibe um sorriso divertido.

— Só mais um mês e prometo que livrarei da estátua.

— O Reverendo e você já me prometeram isso há quatro meses, desde que voltamos da Romênia. Lembre-se do que a obsessão é capaz.

Sorrindo e beijando o sobrinho, Killian não responde.

— E então, companheiro, vamos brincar em nosso playground?

Momentos depois, Vladimir está parado diante da janela grande da sala, observando o filho e o irmão divertindo-se nos brinquedos instalados no jardim da casa nova. Casa feita seguindo todos os melindres de Killian.

— Ainda não conseguiu acostumar-se com a casa, filho?

Vladimir olha o pai por cima do ombro e sorri.

— Não se ofenda, Kane, mas mesmo com meus sogros, Zelena e Emma morando conosco, sinto esta casa tão vazia. Amo todos vocês, mas sem ela...- a voz dele embarga. – Desculpe-me...mas ainda não consigo. A espera está longa demais.

— Vlad, ela fez a escolha porque é uma habilidosa e sabe o que está fazendo. Acredito que tudo isso tem um propósito e ela sabia que mesmo debilitada, Reyninna era poderosa demais para vocês. Regina ama você e também ama Reyninna com a mesma intensidade.

— Minha razão sabe...porém, meu coração não..- Vladimir enxuga as lágrimas. – Eu vou voltar à Romênia, mesmo que seja para ver Regina de longe.

— Espere que ela se manifeste. Pense pelo ângulo dela: imagine se você tivesse de escolher entre o amor que sente por ela e o amor que sente por Killian. Sua esposa está vivendo um dilema, porque tanto você quanto Reyninna precisam da força dela. Seja paciente!

— Fui covarde! Eu deveria ter ficado e lutado. Ela lutou por mim!

— Eles conseguiram vencer porque Regina tem aquelas habilidades! O que dois policiais e um padre ladrão poderiam fazer sem ajuda específica? E as coisas disformes que estavam no casarão? Até que ponto eram racionais a ponto de saberem respeitar a proteção que estava e vocês?

Do outro lado do oceano, a dor dentro de dois corações não era menor que a de Vladimir. Amores de tempos distintos, mas amores verdadeiros e poderosos.

— Tem certeza de quer isso? – Regina acaricia a lateral da caixa de mármore.

— A dor é intensa demais, minha menina. – Reyninna passa a mão pela barriga. – A dor de minha alma e a dor de minhas chagas estão misturadas e nem sei qual é física ou não.

— Quanto tempo precisará de repouso?

— Como você é gentil, minha menina. O tempo que for necessário, até que alguém venha aqui e descubra o meu sepulcro e cometa a estupidez de abrí-lo.

Regina enxuga as lágrimas.

— Vou sentir a sua falta.

— Obrigada por ter mentido por mim.

— Como?

A Condessa acaricia os cabelos longos e escuros da mulher mais jovem.

— Sei que você mentiu para Vlad e sei que ele sentiu isso. Ele sabia que você não estava falando a verdade, porque o amor que sente por aquele homem é tão intenso quanto o que eu senti pelo meu Conde. A diferença é que você confiaria nele, caso alguém criasse uma intriga como Boris criou.

— Eu amo você, Reyninna, também. Amo demais!

— Sei disso, minha menina. Tanto que preferiu permanecer ao lado de uma velha moribunda, apenas para dar qualidade de vida nos últimos suspiros. – a Condessa tenta sorrir, mas a dor a impede. – Deixe-me saber: você machucaria Vlad caso houvesse um combate naquela noite?

— Não.

— Eu sabia da resposta. Sabia que você não arriscaria o amor de sua vida em troca do beijo de fogo. – Reyninna estende a mão e pede ajuda para entrar no féretro forrado e elegante. – Ao longo de minha existência, eu nunca sofri tanto como nesses últimos meses. E não me refiro às dores das chagas, mas ao fato de ter sido presa em minha casa pela proteção que o General pôs em torno de minha propriedade.

— Tentei tirar, mas não pude. Peço perdão.

— Não conseguiria porque era uma proteção feita para combater o mal. E o safado do General fez algo bem feito, porque eu tinha a sensação de estar presa numa redoma de vidro. Nunca pensei que viveria meus dias presa em minha própria casa. Meu lar virou minha mastaba.

A Condessa sorri e com a ajuda de Regina começa a deitar-se.

— Não se preocupe com as propriedades, porque serão bem administradas como sempre foram. Você e sua família receberão todas as informações e valores significativos para sua vida. Quero que invista num excelente universidade para Johnathon e os outros filhos que virão. – ela sorri amplamente sem preocupar-se com a dor. – Sei que Vlad e você irão ficar pelos menos seis meses em cima da cama, matando a fome da ausência.

Mesmo chorosa, Regina sorri.

— Lembre-se, meu amor: você terá quinze minutos para descer o féretro, lacrar a tampa, sair deste subsolo e trocar as senhas dos andares de cima. Caso perca o tempo, não sairá mais deste sepulcro. Morrerá.

Deitando-se, Reynina se acomoda deitada. Fecha os olhos, inspira profundamente e não diz mais nada.

Regina baixa a tampa do féretro e usa o botão do dispositivo para descer o objeto para dentro da lápide de mármore. Em seguida, gesticula e a pesada tampa de mármore escorrega para fechar o espaço. Passando delicadamente a mão pelas frestas, ela provoca um estranho derretimento do material e lacra a caixa retangular. Reyninna estava protegida em seu sono.

Rapidamente, ela apaga as luzes e sai do cômodo, fechando a porta e travando as fechaduras, digitando os dias de nascimento de Vlad, Jonny e de Killian, como o novo código. Segue a escada até a saída do outro andar e digita outras datas de aniversário como proteção.

Por horas, ela se deixa ficar sentada na sala principal, pensativa e chorosa, ensaiando o que iria dizer ao seu homem amado e treinando uma maneira de reconquistá-lo para sua vida.

— A senhora deseja mais alguma coisa, Condessa?

— A Condessa está dormindo, agora, Nestor. Eu sou apenas Regina.

— O que irá acontecer com a senhora?

— Vou retornar para minha casa. E o que você irá fazer?

— Vou continuar na casa, cuidando como sempre fiz como zelador há mais de trinta anos. Quando eu estiver bem velho, passarei a função à outra pessoa, mas não o segredo de que minha Condessa está lá embaixo dormindo. Além disso, tenho que cuidar daquelas criaturas que ainda moram nos porões da casa.

Regina bem que tenta, mas as lágrimas eclodem dos seus olhos e ela chora copiosamente. Tudo poderia ser tão diferente, caso ela tivesse lidado com a chegada de Reyninna em suas vidas, de outra maneira. Todos estariam juntos ali em Campina e todos estariam felizes.

As festas do final do ano estavam por todas as partes na cidade. As casas enfeitadas criavam o típico clima natalino e fazia ressurgir o desejo de estar junto de quem se ama.

— Posso abrir só um presente, papai?

— Precisa esperar até amanhã cedo.

— Eu posso abrir e depois fechar o pacote. Posso?

— Claro que não, Jonny. É a regra!

O menino sorri, faz uma careta e coloca a língua para fora, mostrando que não estava convencido com as regras. Sai correndo em meio aos adultos que estavam na sala.

Cora entrega uma caneca com um coquetel para Vladimir. Os dois permanecem parados olhando a rua pela janela.

— Poderíamos ir para o litoral este final de semana. Faríamos fotografias submarinas e isso desopilaria a nossa alma.

— Pode organizar e irei para onde vocês forem. Com licença!– ele sorri e aproveita-se da pequena distração dos outros adultos e sai da casa. Estava sufocado e queria gritar.

Ali, na varanda da casa, ele se deixa perder em pensamentos. Estava criando os detalhes de um plano para retornar para a Romênia, mas desta vez não deixaria Johnathon para trás. Precisaria pensar em todos os detalhes porque iria lidar com alguém mais poderoso que Reyninna e alguém amado por ele. Jamais poderia produzir dor em sua amada, mas tinha de tirá-la daquele inferno dourado e enganoso.

Não iria sozinho. Levaria Dandara, Killian, o Reverendo Costa e Zelena. Tinha certeza de que juntos dizimariam qualquer criatura disforme que tentasse impedir a aproximação à Regina.

Um carro para diante da casa e atrai a atenção do homem. Observando, vê uma mulher sair do banco do motorista e fechar a porta atrás de si, com movimentos delicados e firmes. A distância e a escuridão da noite, mesmo com as luzes artificiais, impedia parcialmente a identificação da mulher.

— Saudade produz delírio? – ele murmura de si para si.

Não. Não produz delírio, mas produz a mais deliciosa sensação quando ela é sanada pelo reencontro na volta de quem um dia se foi.

Ele se levanta e não se contém com a histeria ao receber o presente mais desejado que havia pedido ao Bom Velhinho natalino. Como se fosse um adolescente, Vladimir corre na direção da visitante e sem hesitar um só segundos, a toma em seus braços como se daquele abraço fosse depender a respiração para mantê-lo vivo.

Eles choram e choram muito, abraçados como se algum monstro saído da terra fosse roubá-los um dos outro.

— Eu imploro seu perdão, meu amor! – ela beija muitas e muitas vezes os lábios dele. – Mas eu não poderia abandoná-la à míngua!

— Eu não esperaria você mais tempo, Regina! Eu iria atrás de você e a traria de volta, ou morreria tentando!

Ela segura o rosto dele entre as mãos.

— Agradeço aos Céus por você não ter hesitado em sair daquela casa naquela noite e nem ter retornado depois. Fico feliz que tenha entendido tudo o que lhe falei.

Vladimir sorri e a beija ainda mais.

— Quando me disse que naquele dia, a Fada do Carvalho não a transformaria numa menina de verdade, confirmei que deveria recuar e atender as ordens da minha Capitã. A estratégia era sua e eu tinha de respeitá-la como sempre respeitei o seu comando. Sofri muito e chorei como se fosse uma criança, mas eu entendi cada uma das palavras!

— Você não é covarde, nem provinciano e nem medíocre...você é o meu amor, a minha vida, a minha estrela e sempre será.

— Um dia, eu duvidei de você...pensei que havia me abandonado...por isso permiti que Reyninna se aproximasse de mim. Eu desejei que ela me convertesse, apenas para destruí-la.

— Ainda bem que não houve a transformação ou eu seria obrigada a caçar os dois. – ela sorri e beija mais vezes os lábios do marido. – Eu a caçaria por ter roubado você de mim...e caçaria você por torturá-la.

Vladimir abaixa a cabeça e fica pensativo por alguns instantes. Depois encara a esposa.

— Ela está morta? Você a matou?

— Fiz o que era decente fazer, Vlad. Não a veremos mais.

— Venha, está frio aqui fora. Nossa família está lá dentro e precisa ficar em seus braços.

Abraçados, o casal entra na casa e provoca as mais diversas reações de todos ali presentes.


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