Anatomia de um amor imortal escrita por Eduardo Marais
— Eu peço desculpas por não ter avisado que viria à sua casa...
— A casa não é minha Regina. Eu a aluguei, porque a minha casa fica em Bucareste.
Regina abre caminho usando a força de seu corpo e entra na casa. Vira-se para a parenta.
— Minha mãe me confirmou que você é uma habilidosa como ela e como minha irmã...
— E como você, Regina. Por que se isenta disso?
Olhando para os lados, Regina vê o velho Lenine surgir carregando uma bandeja com xícaras fumegantes. O chá estava cheirando muito bem e sua fome dava boas vindas aos biscoitos sobre a pequena gamela.
— Você é uma notável também, Condessa?
Reynina acha graça na definição da jovem.
— Notável? Não. Apenas detenho algumas habilidades incomuns, assim como todas as mulheres de nossa família. – ela gesticula e convida a jovem para alimentar-se. – Apenas não uso meus conhecimentos sem que haja um excelente motivo para isso.
— Poderia curar-se.
— Isso não. Não temos forças contra a força da velha senhora com foice na mão. Quando ela se aproxima, ela se aproxima.
— Seja sincera comigo, Reyninna. O que você realmente quer conosco?
Encostando-se no espaldar do sofá, a mulher cruza as pernas e apoias suas mãos sobre os joelhos.
— Quero apenas conviver com quem tem o meu sangue. E depois que eu morrer, quero deixá-los bem amparados. – ela dá de ombros. – Apenas isso.
Ainda cansada e incomodada pela agitação dos últimos dias, Regina suspira e pisca pesadamente. Queria apenas relaxar.
— Eu sei que vi você na noite da rebelião naquele presídio. Não me diga que estou louca, porque sei que você esteve lá. E o saldo de corpos mutilados, confirma isso.
— Vai escrever isso em seu relatório, minha querida? Minha tia habilidosa invadiu o presídio e usou uma espada para matar bandidos rebelados.
— Quero saber por que fez isso?
Retirando a longa madeixa amarela que lhe traía a aristocracia, Reynina sorri amável.
— Porque a pessoa que mais amo neste mundo, estava lá dentro e poderia perder a vida. Eu jamais me perdoaria, sabendo que poderia ficar sem a pessoa que preenche o meu coração e a minha vida sem cores. Não viajei de tão longe, e nem esperei tanto tempo, apenas para vez a razão de minha existência, fenecer diante de meus olhos.
Flashback...
“Quando Vlades retornava de suas batalhas ou reuniões, enchia o leito da esposa com flores silvestres e a amava loucamente sobre elas. Reynina era o seu raio de sol e sua luz da lua; era sua primavera eterna e a fonte de seus sorrisos. Ela era a sua princesa e sua maior preciosidade sob o manto azul do céu. Era muito amor, mas era um amor egoísta que o impedia de dividi-la com o nascimento de um filho.
Vlades, lindo com seus cabelos longos e escuros como as penas de um corvo, era a visão mais que perfeita para começar e terminar o seu dia. Másculo, barbudo e com sua constante expressão de zanga, era estimulante à criação de novos desejos secretos e ousados, sussurrados somente no ouvido dele, na proteção da noite.”
Reyninna pisca várias vezes para espantar as imagens do passado e sorri para a jovem sentada ali à sua frente. Um sentimento de vergonha invade o coração de Regina e ela enrubesce imediatamente. Havia julgado mal a sua parenta distante e desconhecida. A mulher havia provado o seu amor.
Naquela noite, Regina se senta na cama e continua enxugando os cabelos. Ao seu lado, Vladimir observava seus movimentos e não demonstrava estar de acordo com a atitude de Reyninna.
— Quando Cora e você me contaram sobre o segredo da família, eu lutei muito para conseguir entender e aceitar. A condição para que nosso casamento desse certo, era não conviver demonstrações dessas habilidades. Cora me respeitou, você me respeitou, Zelena me respeitou...mas sua parenta quer mesmo me fazer engolir a presença e as habilidades dela.
— Reyninna foi me proteger, Vlad.
— Ela foi cometer crimes e colocar em cheque a nossa credibilidade profissional. Imagine como será, se ela for a todos os nossos trabalhos e mutilar os criminosos!
— Killian e você atiram em criminosos, quando é preciso. Qual é a diferença?
Vladimir ri diante das palavras da esposa.
— Somos atiradores de elite institucionalizados e em último caso, costumamos matar os criminosos. Fizemos isso na rebelião, porque eles iriam queimar os carcereiros vivo. Não me compare a uma bruxa que está morrendo e que ficou desesperada por isso.
— Ela me disse que apenas quis proteger a pessoa que mais ama.
— Peça para que não faça mais isso. Somos treinados para proteger nossos companheiros de farda. – ele sobe na cama e acomoda-se ali. – Caso ela tente mais uma vez, irei denunciá-la. Bruxa ou não, ela vai ser presa.
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