Os escolhidos para Neashville escrita por Jennifer Ferreira


Capítulo 2
Rua das flores


Notas iniciais do capítulo

A partir desse capítulo a história será narrada pelos personagens.



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"Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que nossos olhos
nos podem dar
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver."

anônimo

Morar afastada dos centros urbanos é difícil nos dias de hoje, é pra lá que mandam toda a comida que o povoamento de Green Wire produz e a água captada de Glosmaree não chega aos interiores. Os mais pobres do sistema são os que mais produzem, e os que menos recebem recursos.
Daqui uns dias será o conselho de seleção de jovens para Neashville e a chance perfeita da minha família sair dos interiores de Force.
Todo domingo depois das três da tarde é liberada para as horas de folga, mas para os mais pobres sempre falta dinheiro para comprar água e comida, então esse é o momento de trabalho extra. Durante a semana temos sete horas para descanso e duas horas alimentação, o restante das horas nós trabalhamos.
Tínhamos alguma reserva de recursos, e minhas irmãs Daliva e Manika Hall se dispuseram para trabalhar nesse dia na refinaria, decidi então ir ao rio.
É quase irônico passar um rio nas cidades mais pobres, pois o rio é totalmente tóxico. Quase tudo na natureza ficou destruído e envenenado, minha vontade era de entrar nas águas que pareciam limpas, mas minha pele se queimaria no mesmo instante.
Levei meu caderno de desenho e algumas amêndoas para lanche e fiquei sentada na pedra onde logo abaixo a água do rio fluía. O barulho da água acalma e a brisa do vento era refrescante. Deitada na pedra, fechei os olhos e me perdia em devaneios. Até que escutei passos.

– Seus olhos e cabelo são negros até na luz do dia, o que neste caso é uma coisa linda, a pele pálida não é muito convidativa, mas os lábios são rosados e tem uma beleza que só pode ser comparada as mulheres que viveram antes das guerras. - disse Sam num tom melódico, o meu melhor amigo.
– Minha beleza não se compara nem com as garotas das capitalinas, certamente foligem no rosto é a última tendência. - falei ironicamente. - O que faz aqui, Sam? - Perguntei.
Sam Salloy era filho único, pelo menos era agora. Na infância um homem rico levou sua irmã Sue, uma menina ruiva e gordinha pelo o que eu me recordava. No momento era só ele para ajudar seus pais, um casal de idosos.
– Quis tirar um dia pra mim, não faço isso faz tempo. - acomodou-se ao meu lado. - Acho que tivemos a mesma ideia, não é mesmo? - perguntou despretensioso.
– Sam, acha que tenho chances no conselho? - olhei para o rio, no momento em que perguntei.
– Nina, vou ser sincero. Às chances não estão ao seu favor, mas deve tentar. Sua família vai melhorar de vida se conseguir sair daqui. - Sam sempre me chamava assim, e isso me confortava em qualquer que fosse a situação.
– É tudo que precisava ouvir. - digiri um sorriso nervoso à ele.

Sam me abraçou e ficamos assim até o sol ir completamente embora. A presença dele me acalmara, exatamente o mesmo efeito que o rio tem sobre mim.
Nunca saímos dessa amizade, talvez fosse por medo da perda ou pelo simples conforto de ter a amizade um do outro. A vida era difícil o bastante para pensar em relacionamento com o Sam.
Quando a noite fria caiu seguimos até nossas casas, ele mora ao lado da minha. Nossas casas são confortáveis e existem todo um aparato tecnológico que Force dispõe aos seus cidadãos. O problema maior era a escassez da água e a comida que são mais caras do que nossos salários.
Me despedi de Sam com um beijo na bochecha e segui até a minha casa. No quarto pequeno desfaleci de sono na cama, não queria pensar como seriam os próximos dias até o dia do conselho.


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