Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 6
Potter e Weasley




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SCORPIUS

 

Respirei fundo, parando de chofre no meio do corredor do trem.

As cenas recentes ainda passavam por meus olhos. Papai e mamãe se despedindo, pedindo para que eu me comportasse. O olhar significativo de papai, que remetia á sugestão que me fizera na mansão. Nosso último aceno, antes que o túnel engolisse a derradeira visão dos meus pais.

Sentia a ansiedade voltar a me acossar, como uma borboleta debatendo-se em meu estômago.

Passando ao meu lado, no corredor, duas distantes silhuetas louras acenavam para mim, animadamente. O sol batia sobre seus rostos, iluminando dois sorrisos bobos.

Repentinamente, recordei-me de minutos atrás, antes da partida... dos lábios da mamãe formando o meu nome. Mas não pude perceber o que ela quis dizer. 

Talvez fosse pressentimento de mãe, como dizia vovó. 

Mães eram como leoas defendendo suas crias, e em vantagem, possuíam um sentido tal aguçado quanto o olfato dos cães. 

Comparação estranha, tinha que admitir. 

Notei que eu parecia um verdadeiro idiota, parado no meio do trem, e que as pessoas me lançavam olhares discretos. Uma garota loira, meio enojada, arqueou a sobrancelha como se eu fosse um trapo. 

Muito pelo contrário, trajava um terno branco aberto - visivelmente tal como minha pele - complementando meu penteado para trás, coberto de gel - que por sinal, era uma bela invenção dos trouxas. 

Adentrei uma cabine, a qual estava totalmente lotada, cujos passageiros me encararam soltando risadinhas. 

E eu não fazia idéia do por que. 

Recuei, voltando a procurar outro vagão. Entretanto, continuei andando, e nenhuma maldita cabine estava vazia.

Á uma distância de mais ou menos dez pés daquela outra cabine, um vento gelado atingiu meus pulmões.

Assim, já cansado e furioso, adentrei sem pedir licença para os que a ocupavam. 

Senti os passageiros me mirarem, assustados pela tamanha brutalidade com que desloquei a porta do vagão, mas não retribui o olhar. 

Contudo, o ar gelado recobriu meu pulmão novamente, me fazendo tossir ligeiro. Finalmente, forçado pela curiosidade me virei para encará-los. 

Ambos com os olhos tão arregalados quanto o de uma coruja, o me fez rir.

Quase de imediato, a garota ruiva, mais próxima de mim, desfez a expressão assustada, adquirindo rubores por toda sua face, num óbvio estouro de irritação.

— Quem você pensa que é garoto? Pode chegar aqui, invadir nosso vagão no maior desrespeito, e largar-se nele como se fosse o dono.

Incrédulo, sufoquei uma risadinha, o que não a ajudou a se acalmar.

 - Ah – bufou - ainda por cima ri da nossa cara. Aposto que é mais um daqueles garotinhos esnobes e folgados - a garota mal pausou enquanto falava, e terminou seu discurso ofegante, cruzando os braços. 

Ela me era familiar. Extremamente familiar, para ser mais franco. Seus trejeitos, a forma como arqueava a sobrancelha orgulhosamente.

Não fisicamente, mas podia dizer que a moça do jornal e ela eram bem parecidas. 

Porém, seu físico era total distinto. Ela possuía cabelos flamejantes, da cor do fogo. Sua pele era esbranquiçada, com sardas espalhadas em suas bochechas. Seus olhos eram como pérolas azuis, extremamente sagazes. 

Apesar de a garota ser orgulhosa e meio chatinha, tinha uma aura diferente. Não sabia explicar. 

O outro garoto permanecia com os olhos arregalados, sem mencionar nenhuma palavra. Seus lábios abriam e fechavam, mas não emitiam nenhum som. Ele tinha fios escuros e rebeldes, como se não os penteasse á um bom tempo. Seus olhos me lembravam folhas e gramas, tal como a semelhança da cor. 

Voltei a estudar a garota ruiva. Sua expressão parecia ter se exibido mais sutilmente doce. 

— Com licença, mas já pensou em ser mais educada? – tentei ser o mais diplomático possível, apesar da minha voz sair estranhamente defensiva - para sua informação, achei engraçada a maneira como arregalaram os olhos, e me desculpa se vossa alteza precisa que eu beije seus pés para poder me sentar e admirar a paisagem.

 A garota pareceu não ter ouvido. Nesse momento, ela estava concentrada na paisagem, tão delicada quanto um quadro feito à mão. 

— Desculpe, o que disse? - sua voz destelhou, de uma forma cinicamente irritante. 

Ela realmente fingiu não ter ouvido. 

— Nada - revirei os olhos.

Ah, sim, Scorpius. Primeiro contato com seus futuros colegas e já arranjou um desafeto, desdenhou minha mente.

Um silêncio prorrogou sobre nós, como uma névoa, caindo ao chão aos poucos. 

— Hum... eu sou Alvo. Alvo Potter - o garoto decidiu quebrar a barreira, esticando a mão.

Surpreso, eu não hesitei em apertá-la. 

Então aquele era o vagão ao qual meu pai se referira.

— Rose. Rose Weasley - a garota primeiramente balbuciou algo intangível, ainda sem me encarar, e voltou a murmurar seu nome. 
Weasley. Potter.

Espera, não me era estranho.

Naturalmente, o sobrenome de Alvo era impossível de confundir. Só podia ser um dos filhos de Harry Potter.

Quanto á Rose... eu já ouvira algo sobre a família dela. O pai dela era auror no Ministério da Magia. Se não me enganava, sua mãe também possuía um cargo de respeito por lá. 

Mas algo me dizia que eu conhecia seus pais mais do que imaginava.

Foi quando me lembrei.

Ronald Weasley. Hermione Weasley.

Dois dos Três.

Minha nossa.

Não me admirava que a garota ruiva fosse a impetuosidade em pessoa. Ela era praticamente filha de duas das maiores lendas dos últimos anos.

Os dois eram primos.

Minha voz baixou uma oitava quando resolvi falar outra vez.

— Scorpius Malfoy. 

Com a simples menção do nome da minha família, Alvo encarou Rose, como se estivessem conversando por telepatia.

Após alguns minutos, voltei a contemplar a paisagem. Ouvi alguns cochichos algo como “ei, ele um Malfoy, não devíamos..”, mas não prestei atenção no resto. 

Minutos depois, os dois ainda pareciam limitar-se e atrever-se a me lançarem um ou outro olhar. Como se eu fosse um alienígena do mal. 

Papai uma vez me dissera que era comum uma mulher velhinha passar com o carrinho das tentações – vulgo preenchido por os mais diversos doces - atraindo olhares, e dando muita água na boca.

E nesse momento, poder-se-ia imaginar uma criança babando por doces, como se nunca tivesse provado um. Pois é, esta criança era eu. 

Não pestanejei em comprar uma boa quantia de sapos de chocolate. Meu Merlim, como aquilo era bom.

O garoto Potter, pareceu ter mais interesse em Feijõezinhos de Todos os Sabores. Já Weasley se mantinha suspirante, olhando para o teto.

Entreguei alguns galeões a mulher, que partiu cantarolando algo dos anos oitenta. 

— Hum.. Malfoy...? Gostaria de provar um? - Alvo me ofereceu, demonstrando nervosismo, coçando a nuca.

Despreparado para tal gentileza, dei de ombros, apanhando qualquer um do pacote. 

A garota ruiva meteu um cutucão no braço dele, que grunhiu de dor. 

Voltei a me concentrar no meu feijãozinho, que tocou em minha língua. Analisei sua textura e gosto desagradável, quase o cuspindo na hora.

— Eca! É vômito! - endureci meu rosto, formando uma careta. 

Ambos se entreolharam. Por fim, não agüentando, nós rimos em conjunto.

Alias, era a primeira vez que eu via uma faísca de felicidade sair por aquela garota.

— Sua vez, Rosinha! - Alvo sorriu, malicioso. 

O rosto de Rose transpareceu uma hesitação, mas a garota, esbanjando uma expressão orgulhosa, disfarçou o nervoso e apanhou um dos feijões, colocando-o na boca.

Tornou a experimentar o curioso gosto. Sua expressão pareceu tão aprazível, que pude deduzir que o sabor não era ruim. 

Ela mastigava o doce tranquilamente, vindo a suspirar quando desceu pela sua garganta. 

— Algodão doce! - ela sorriu, convencida. 

Alvo resmungou - era sua vez. Mergulhou um com tamanha agilidade na boca, que temi que engasgasse, e prendeu a respiração. Rose começou a cutucá-lo, vendo o ficar repentinamente vermelho. 

 - É muito ruim.. eca! - ele cuspiu o resto, e Rose ficou com nojo, levantando as pernas como uma bailarina para cima do assento.

— O seu deve ser de ovo podre! – ela guinchou.
Novamente rimos do acontecido.

E no resto da viagem, agimos como se nada tivesse acontecido de ruim entre nós.

Sorri, espantado.

Há poucos minutos, podia jurar que a garota ruiva poderia ter se tornado um dos prováveis tormentos ao qual teria de suportar em Hogwarts.

Mas, afinal, Rose parecia ter se soltado, junto ao seu primo Alvo. Os dois realmente eram pessoas legais, depois que os conhecíamos melhor.

Comecei a deduzir que tínhamos aprendido um bocado de coisas equivocadas sobre o sobrenome de nossas famílias.

Queria perguntar mais sobre eles, mas recebemos o aviso de que estávamos nos aproximando de Hogwarts, e que devíamos vestir nossos uniformes.

Esperava que ocorresse tudo bem no embarque dos barcos.

Mas, mais do que isso – pensei, me despedindo de Alvo e Rose, prometendo que voltaria á encontrá-los, á tempo do desembarque – esperava poder ver aqueles dois muitas vezes mais.

Pronto, papai. Estou fazendo amizades. Pensei, animado. Acho que é mais do que eu podia esperar.

Eu tinha razão. Aquilo fora mais do que eu esperava.

Não sabia ainda, mas o garoto de cabelos rebeldes e a menina ruiva se tornariam os amigos que eu sempre me esforçara em ter.

Mas isso também significaria algo mais, do qual eu nunca poderia ter me dado conta.

 Que eu estava me envolvendo num futuro bem mais extraordinário do que eu jamais sonharia.

 

 


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