Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 33
Volta à Mansão




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Não existe nada de completamente errado no mundo. Mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia.”

 

— Paulo Coelho

 

—-------------O--------------



 

SCORPIUS




Assim que a carroça estacionou-se diante dos portões da mansão, acompanhei minha amiga muro adentro, mantendo minha varinha em riste.

Rose estava retraída, conforme avançávamos dentro do jardim da casa de veraneio. Seus olhos rutilavam, aparentando inquietação diante de nosso retorno à propriedade.

— Ei – falei – está tudo bem.

— Havia alguém naquela noite – sua voz estava abafada – se lembra, Scorpius? - ela pareceu repentinamente amedrontada - e se essa pessoa reaparecer aqui? E se não conseguirmos retornar dessa vez? Não temos mais nada da Poção da Sorte!

Segurei sua mão trêmula, dando um meio sorriso.

— Olha, nós escapamos uma vez… e, caso isso aconteça, faremos isso de novo. Vai ficar tudo bem, Rose.

Ela pareceu mais calma, embora ainda ostentasse uma expressão contraída de preocupação. Contribuamos a andar, subindo pela varanda, até adentrarmos outra vez no imenso casarão.

A presença de Rose parecia afetar todo o local de uma maneira absolutamente incomum.

Sentia uma aura estranha ao nosso redor, não necessariamente hostil, mas definitivamente profunda. Era como se, de alguma forma, a casa de veraneio parecesse exultante de tê-la de volta em seu interior.

— O que quer ver primeiro? - indaguei – o que ainda não procuramos por aqui?

Rose hesitou.

— Eu… não sei – murmurou – vi o diário de Becky… mas nada mais… havia me chamado a atenção. O que… - vincou a testa – você se lembra… de alguma coisa suspeita? Uma lembrança… do que vimos ano passado?

Baixei a cabeça, pensativo. Deveria haver alguma característica nos acontecimentos recentes que pudesse ajudar em nossa procura por respostas.

— Eu não... – pisquei – só me lembro do dragão do meu sonho… estávamos a procura de informações sobre o aparecimento dele perto da mansão, lembra?

— Sim – ela ofegou – podemos tentar encontrar algo sobre dragões…?

— Não sei se seria de real ajuda – admiti – mas não custa tentar…

Ela assentiu, esgueirando-se para dentro de uma das salas do corredor, caminhando silenciosamente pelos móveis do recinto.

— Sabe... - comentou, olhando ao redor, mexendo distraidamente sobre a prateleira de uma das lareiras – tudo isso… aquela pessoa encapuzada… os sonhos… tudo… - disse num sussurro – de alguma forma… sinto que há uma conexão com tudo que anda ocorrendo. E acho… que tem algo a ver comigo. Mas eu… não consigo entender o que…

Não era novidade nenhuma que Rose era uma garota realmente fantástica. Sendo assim, eu não tinha dificuldade em considerar a possibilidade dela estar envolvida em algo realmente extraordinário, considerando o quanto era uma menina especial.

Porém, eu igualmente não conseguia associar o que tudo aquilo podia ter em comum com ela. E isso era extremamente frustrante.

— Se acalme… tenho certeza que descobriremos – falei – e, quando tudo isso acabar… talvez seus pais finalmente possam se abrir com você.

Parei de falar repentinamente, focalizando um símbolo na parede ao lado da lareira.

A estrela de cinco pontas, no interior de uma esfera.

O Pentagrama.

— Esse símbolo utra vez… - sacudi a cabeça.

Um laivo de compreensão brilhou nos olhos de Rose.

— O Pentagrama… - ofegou – Scorpius… aquele livro que você me entregou no ano passado… falava sobre esse símbolo – ela balançou a cabeça – não é possível…

— O que?

Ela me encarou, estática.

— Dizia… ser a marca dos Wiccas.

Pisquei, perplexo, finalmente relembrando o que havia aprendido sobre a lenda dos Wiccas – os bruxos de poder elemental.

— Wiccas…? - arquejei – acha… que…?

— Não faço ideia – observou a marca feita à faca – talvez seja só uma tentativa de decoração… não pode ser, não é? Wiccas… são apenas uma lenda. Dizem que jamais existiram. Bruxos de poder imenso… se algo assim existisse, nosso mundo já teria sido destruído...

De fato. Até onde eu sabia, aquilo era para ser apenas um mito.

Mas tudo parecia provar o contrário.

A inundação na masmorra da Sonserina, que havia ocorrido em nosso primeiro ano. Aquilo havia sido de uma dimensão impressionante, grande demais para ser conjurada por um símplex feitiço. Havia sido uma manifestação misteriosa, ocorrida praticamente do nada.

Algo que um bruxo Wicca definitivamente poderia conjurar.

— Se lembra da inundação que aconteceu no nosso dormitório o ano passado?

— Sim – Rose emitiu uma risada nervosa, continuando a analisar os objetos ao redor – vocês ficaram morrendo de medo de serem zoados pelo resto da escola. McLaggen parecia um abutre raivoso.

— Verdade – e permiti rir um pouco também – mas isso não vem ao caso – acrescentei, nervoso, todo o vestígio de humor desaparecendo de minha voz – o fato é que, agora… acho que sei quem poderia ter feito aquilo.

Minha amiga parou de futricar, lançando-me um olhar enviesado.

— Ah. Para, Scorpius.

— Não. É sério, Rosie – insisti – não percebe? Quem mais teria produzido algo daquele tamanho? Levaram a manhã toda para extrair a água de lá. Não foi uma magia comum!

Vi-a pousar a mão sobre uma escrivaninha empoeirada, soltando um longo suspiro.

— Wiccas – disse a palavra de modo estrangulado – é absurdo, Scorpy. Não dá simplesmente para acreditar… - franziu o cenho – e que diabos essa casa pode ter a ver com isso?

Eu tinha minhas teorias. Uma mais impossível que a outra.

Mas a mai ridícula – e plausível – era a de que a família de Rose, em algum momento do passado, havia chegado a conhecer – e, pelo visto, ter uma convivência mais que amigável – com um verdadeiro Wicca. Isso explicaria aquelas estranhas associações - que eu lutava para compreender - com a figura daquelas entidades míticas.

— Eu não sei também – confessei, bufando – mas podemos ao menos supor, certo? Enquanto não temos a verdade, podemos teorizar.

— Sim, sim, está bem – Rose ergueu as mãos em gesto de rendição – só enquanto não tivermos as repostas certas – me encarou de maneira séria – e por Deus, Scorpius. Não saio daqui enquanto não as encontrar. Isso eu prometo.

Como se eu não a conhecesse.

Sabia com quem estava lidando, dede o momento em que havia decidido acompanhá-la.

Se havia algo que eu admirava em Rose Weasley, era justamente sua determinação de nunca voltar atrás.







Passamos mais de duas horas averiguando os aposentos da casa, ainda desesperados por qualquer nova pista.

Para minha decepção, não obtivemos nenhum outro resultado.

Rose estava frustradíssima, tremendo de raiva e desapontamento.

Me encolhi quando seu punho girou, socando a superfície de um abajur da mansão, fazendo o objeto se espatifar no chão em vários cacos.

— Rosie…!

Por um momento, pensei ter visto um brilho quase ameaçador no olhar dela.

Contudo, Rose pareceu igualmente chocada com sua reação, balançando veementemente a cabeça, numa tentativa de se recompor.

— Desculpa… - assustado, ouvi um soluço escapar de seus lábios – é que… eu…  estou me sentindo tão perdida…

Minha compaixão falou mais alto, fazendo com que eu fosse até ela, acolhendo-a num abraço.

— Ah, Rosie… - afaguei, sem jeito, a parte de cima de sua cabeça – não fique assim. Nós vamos conseguir… você vai ver.

Ouvi-a resfolegar contra meu ombro, e senti uma dor estranha consumir meu peito, como se algo estivesse cutucando invisivelmente o meu coração.

Não suportava vê-la daquela forma. Era minha única amiga, a única pessoa que parecia me compreender. A única que, contra todas as expectativas, havia gostado de mim pelo que eu era, e não por eu ser um Malfoy.

Eu conseguia, sem dificuldade, tomar suas dores, e compartilhar de sua angústia, como se eu mesmo estivesse tão perdido quanto ela estava.

— Obrigada, Scorpy… obrigada… - Rose ciciou, tremendo em meus braços.

Soltei-a, afagando gentilmente seu ombro.

— Olha… reviramos a casa toda, mas não vimos o resto da propriedade – sugeri – podíamos ir lá fora… ver se há mais algum canto que ainda não vasculhamos…

Vi-a assentir, ainda chorosa, acompanhando-me para fora do cômodo em que estávamos.

Enquanto andávamos, coloquei o braço em suas costas, num gesto de conforto, desejando aflitivamente que ela conseguisse se acalmar novamente.

O jardim estava ainda mais escuro do que eu me lembrava, o que indicava que já era quase de madrugada.

Por alguns segundo, me passou pela cabeça a preocupação sobre como iríamos explicar tudo aquilo, assim que retornássemos à Hogwarts.

Alvo me mataria por ter roubado sua Capa da Invisibilidade – isso era certo.

Mas temia que, talvez, fôssemos descobertos por um dos professores. E, caso isso acontecesse, estaríamos decididamente encrencados.

Apesar de tudo, não me incomodava saber que seria por uma boa causa. Contanto que Rose pudesse finalmente esclarecer tudo que a angustiava, valeria muito a pena.

Depois de alguns minutos enredando-nos nos fundos da propriedade, finalmente encontrados algo que não tínhamos visto antes.

Rose piscou, erguendo o pergaminho com a planta da casa – a única coisa útil que havíamos encontrado no interior do imóvel.

— Isso não está na planta da propriedade – ela parecia intrigada – mas parece… ter sido construída há anos…

Por fora, a construção lembrava muito o gigantesco domo de uma mesquita, feito completamente de tijolos de pedras escuras.

Havia uma única entrada – uma porta cinza escura, sem maçaneta, aparentemente impossível de ser aberta do lado exterior.

— Como vamos entrar?

Rose aproximou-se, tateando na porta, muito provavelmente à procura de alguma chave ou alavanca de acesso.

Houve uma exclamação mínima de surpresa quando, de supetão, a porta retraiu-se com um guincho para o interior da parede esquerda, abrindo-nos a passagem para dentro do complexo.

— Como você fez isso? - arquejei, espantado.

Pela expressão pasma dela, Rose sabia a resposta tanto quanto eu.

— Não tenho nenhuma ideia – seu tom era contido – anda… vamos entrar.

Segui-a para o interior da redoma, apertando a base da varinha, ladeando Rose de perto. Apertei os olhos, tentando ver algo em meio à penumbra.

Sobressaltei-me, vendo archotes - até então inexistentes à vista – acenderem-se sem prévio aviso, enfim lançando uma luminosidade etérea sobre o recinto da redoma.

— Olha esse lugar.

Senti meu queixo despencar, e meus olhos esgazearem.

Ao contrário de seu modesto – ainda que curioso – exterior, a redoma era nada menos que majestosa por dentro. Vários archotes de formas draconianas, um amplo saguão de mármore negro, e várias pilastras com tigelas de pedra ao fundo. Todo o conjunto inspirava uma profunda sensação de reverência e solenidade à qualquer observador.

Não tive mais nenhuma dúvida sobre a quem aquele lugar pertencia.

Gritante, imponente e inconfundível, o Pentagrama se erguia sore uma estátua prateada, quase que dando as boas-vindas aos seus dois maravilhados recém-chegados.

— Não pode… não pode ser… - balbuciou Rose, incrédula.

— Mas é, minha cara, jovem.

Nos retraímos automaticamente, virando-nos de modo aterrorizado na direção da voz. Ergui a varinha, sentindo o coração saltar dentro do peito, puxando Rose para trás num impulso protetor.

— Quem está aí? - vociferei, embora estivesse tremendo de medo.

Uma sombra destacou-se da escuridão de um dos cantos da redoma, aproximando-se de nós dois, ostentando um sinistro e deliciado sorriso no rosto.

Era parrudo, de olhos escuros e sem vida. Assemelhava-se muito a um espantalho que fora condenado à fingir ter alguma humanidade.

— Sou Rashid, meu rapaz. O enviado de minha mestra… - o som de sua voz causou-me arrepios na espinha – e você, garoto, está no meu caminho.

Recuei vários passos, segurando só braços de Rose atrás de mim.

— Scorpius! - ela lamuriou-se, confusa e angustiada.

— Fique longe dela!

Minha exclamação saiu trêmula de medo, mas cumpriu seu papel de se impor contra o bruxo, já que Rashid ergueu uma sobrancelha, inclinando a cabeça para o lado como um menino curioso.

— É corajoso, garoto. Muito corajoso. E tão… altruísta – suspirou, levantando suavemente a própria varinha – pena que está do lado errado desta guerra.

Antes que eu pudesse reagir, uma dor lancinante atingiu minha cabeça, fazendo-me prostrar de encontro ao chão.

Rose gritou.

— SCORPY!

Senti meu corpo se contrair, convulsivo, como se todas as minhas funções vitais estivessem se desfazendo.

Comecei a perder os sentidos, me debatendo inutilmente, engolindo aos poucos a realidade de que seria tudo em vão.

Antes de ser engolido pela inconsciência, ainda pude ouvir as últimas palavras do Comensal.

— Finalmente a sós, minha pequena Wicca…




























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