Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 30
Sensibilidades




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“A gente corre o risco de chorar um pouco quando se deixa cativar.”

 

— Antoine de Saint-Exupéry

 

—-----O------



ROSE


Meu coração saltava contra as costelas, enquanto eu corria desesperadamente para longe do vulto que nos espreitava.

Me certifiquei que Hugo, Scorpius e Alvo me acompanhavam, me afastando para que se adiantassem à frente de mim.

Não tinha coragem de olhar para trás e saber se o intruso estava nos seguindo. Tudo que eu queria era tirá-los dali, antes que algo ruim pudesse acontecer à eles.

Embora o desespero nos consumisse, ainda parecia-me que haviam um resquício do efeito da Poção da Sorte, já que, em vez de sair pela porta de entrada da mansão, viramos em sincronia na direção de um dos cômodos da casa.

Adentramos numa grande sala de estar, onde uma lareira abandonada se encontrava. Ao lado dela –  assustadoramente conveniente – havia um vaso com pó de flú.

Enquanto nos acocorávamos dentro da lareira, com os olhos saltados de tensão, Scorpius agarrou um punhado de pó do vaso, segurando minha mão.

Entendendo o gesto, segurei Alvo, que, por sua vez, agarrou o pulso de Hugo. Agoniada, vi a sombra do visitante se aproximar lentamente da entrada da sala.

— Torre da Grifinória! - exclamou Scorpius, soltando o pó sobre nossos pés.

Ofeguei, vendo chamas esverdeadas erguerem-se espantosamente, nos engolindo em suas labaredas. Fechei os olhos, sentindo meu corpo ser sugado para outra dimensão momentânea. Apertei a mão de Scorpius, trêmula.

Em meio ao engolfamento, senti-o afagar meus dedos de modo tranquilizados. Ainda de olhos fechados, senti minha agonia diminuir ligeiramente.

Por fim, com um baque poeirento, desabamos para fora da lareira do Salão Comunal da Grifinória.

Desequilibrada, caí em cima de Scorpius, guinchando de dor.

— Ai… essa doeu – ele fungou.

Assim que reabriu os olhos, percebeu o que havia praticamente o achatado contra o chão, e soltou uma exclamação mínima de surpresa.

— Desculpa… - ofeguei.

Sentindo meu rosto esquentar, me levantei, dando-lhe a mão para que pudesse se reerguer.

Alvo e Hugo também saíram do chão, espanando a poeira de seus joelhos, absolutamente arquejantes.

— Essa… foi por pouco… - disse Alvo – quem… será que era…?

— Não sei -Scorpius massageou o ombro, sacudindo a cabeça – o que importa… é que não conseguiu nos apanhar…

— Eu sinto muito – choraminguei, arrependida – foi culpa minha… a gente não devia ter…

— Ah, cala a boca, Rosie – Hugo me cortou – claro que precisávamos. Só… não conseguimos… ficar por mais tempo – piscou – ainda podemos voltar…

— Outra vez – declarei, taxativa. Tudo que eu queria agora era que eles pudessem voltar para as masmorras em segurança. Minha cabeça estava cheia demais para discutir aquilo agora – melhor aproveitarem o resto do efeito da poção...

Olhei para o relógio em meu pulso. Já passava da meia-noite.

— Está bem. Amanhã – Alvo assentiu, ainda bambeante de adrenalina – melhor… voltarmos para nosso dormitório…

Retirando a capa de sua mochila, Alvo recobriu a si mesmo e a Scorpius, dirigindo-se até a saída do Salão Comunal da Grifinória, dando-nos um último aceno enquanto abria o quadro da Mulher Gorda.

Assim que a passagem se fechou, eu e Hugo nos entreolhamos, ainda arfantes.

— Eu… não sei o que adiantou – franziu a testa – o que descobrimos…?

Ergui a cabeça, fechando as mãos em punho, encarando o lugar por onde Scorpius e Alvo haviam desaparecido.

— Que mamãe realmente teve uma elfa… – sussurrei.

E, provavelmente, que nossos pais haviam tido um passado bem diferente do que haviam nos contado.





Por sorte, na manhã seguinte, ninguém parecia ter qualquer suspeita sore nossa malfadada incursão para a Casa de Veraneio Heaven. Eu e Hugo havíamos garantido que a lareira de nosso Salão Comunal ficasse limpa e areada como antes, sem deixar vestígio algum de nossa chegada ali.

Para meu alívio ainda maior, tudo aprecia ter corrido bem com a volta de Scorpius e Alvo para os aposentos da Sonserina.

Ambos chegaram bem em nossa aula compartilhada de Estudo das Criaturas Mágicas, fazendo um quarteto conosco para a atividade proposta pelo professor Hagrid.

— Agora que estou pensando… - Scorpius titubeou, inclinando-se para alimentar o filhote de hipogrifo que estávamos cuidando – e a carruagem da escola? Será que ela vai voltar sozinha para cá?

— Quem liga? - bufou Hugo – o que importa é que ninguém vai suspeitar o por que dela estar ali. Voltamos vivos. Isso é o mais importante.

Ele deu um pulo de susto quando o bebê hipogrifo se jogou em cima dele, piando animadamente. Nós três seguramos o riso, vendo-o se debater no chão.

— Olha só… não sabia que hipogrifos gostavam de comer lesmas.

Contraí os punhos antes mesmo de virar a cabeça, confirmando que Astrid McLaggen havia acabado de se aproximar de nosso grupo, com Thomas ladeando-a imperiosamente.

— Por acaso você não tem um bebê hipogrifo pra cuidar, McLaggen? - sibilei, fuzilando-a com o olhar.- ou cuidar da vida dos outros é mais a sua praia?

Astrid ergueu a sobrancelha, abrindo um sorriso que mais aprecia um esgar.

— Sabe, Weasley… - seus olhos se anuviaram ameaçadoramente – eu ainda não me esqueci do que você fez o ano passado… - ela se aproximou, ficando de frente para mim – e pode ter certeza de que isso não vai ficar barato.

O filhote piou alto atrás de nós. Senti Hugo, Scorpius e Alvo tentarem se interpôr entre nós duas, mas ergui a mão, pedindo que esperassem.

— Eu não fiz nada – resmunguei.

— Claro que não – riu desdenhosamente – eu já vi muitas aberrações. Mas você, Weasley, conseguiu ser a pior de todas elas!

Ela bateu as mãos contra meu peito, empurrando-me.

Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa para revidar, porém, fui afastada por um borrão marrom surgido do nada, que caiu feito um raio em cima de Astrid.

— Ahhhhhhh!

Espantada, vi o pequeno hipogrifo chilrear violentamente para ela, imobilizando-a contra o chão com suas patinhas afiadas.

— Você errou, Astrid – Hugo ajeitou o suéter, irônico, encarando a garota estirada no chão – está vendo só? Os hipogrifos realmente não gostam de lesmas. E acho que ele achou uma.

Tive que morder a língua para não rir, enquanto Hagrid vinha até nós, tentando tirar o animal de cima de uma McLaggen enfurecida.

— Não, Tempestade! - ralhou com o bebê, puxando-o para seus braços – saia de cima dela!

Paralisado de espanto, Clifford sacudiu a cabeça, ajudando Astrid a se levantar, enquanto Hagrid amarrava Tempestade numa das coleiras do picadeiro do lago. Parecia envergonhado – ahn… já que terminaram a atividade… estão dispensados. Já podem ir...

Olhando humorada para os garotos, dei as costas, me afastando de Astrid e Thomas, assobiando e puxando Hugo e Scorpius comigo, enquanto Alvo morria de rir atrás de nós.

— Você viu a cara da bruaca? - gargalhou ele, sacudindo a cabeça – eu teria dado tudo para tirar uma foto! Foi hilário!

— Fiquem quietos. Tenho que mentalizar essa cena o resto do dia – Scorpius riu, em divertida concordância – o que dizer desse hipogrifo que mal conhecemos, mas que eu já considero horrores?

— Preciso de um desse pra ser nosso cão de guarda – brinquei, fazendo-os rirem outra vez.

Hugo fungou.

— Pena que isso só vai deixar Astrid ainda mais revoltada com a gente – fez uma careta, temeroso. Havia esquecido que não estava acostumado com as represálias de McLaggen – já não temos problemas demais sem uma abutre fofoqueira atrás da gente?

— O que ela pode fazer? Só irritar a gente – Alvo deu de ombros – temos nossos pais, Hugo. Ninguém seria louco de atacar o filho de uma das funcionárias mais importantes do Ministério da Magia.

Torci o nariz. Quando se tratava de Astrid, eu tinha minhas dúvidas. Mas resolvi não deixar meu irmão ainda mais inseguro consigo mesmo.

— Tem razão – sorri, afagando suas costas – e depois… você tem a gente, maninho.

— Valeu – ele sorriu de volta, antes de erguer uma sobrancelha paranoica na direção de Scorpius – se você me der um beijo, eu soco a tua cara, Malfoy.

Nós quatro rimos, continuando a caminhar de volta ao castelo.





Deslizei os dedos pela fotografia, admirando os olhos enormes, esgazeados e alegres da elfa doméstica.

Eu não entendia. Ela parecia tão… doce. E, dado o modo como mamãe a abraçava, era evidente que havia existido uma relação muito carinhosa entre as duas. Por que minha mãe jamais havia sequer citado o nome de Becky?

Cardei-a de volta em meu baú, pensativa.

— Você anda ficando tão quieta…

Virei a cabeça, erguendo o olhar para Yoko Thomas.

— Ah – dei uma risadinha sem graça – sério? Eu… não percebi.

Faria um ano desde a morte do pai de Yoko. Embora o pesar parecesse ter diminuído, era evidente o quanto ela ainda sentia saudade de Dino.

Yoko acocorou-se ao meu lado no chão, recostando a cabeça na cama.

— Sim – respondeu – desde que recebeu os presentes de Natal no ano passado. Fica… reflexiva… do nada – ela soltou um risinho – está tudo bem?

— Estou – respondi no mesmo momento, tentando não entrar em detalhes – e você?

Vi-a baixar os olhos em direção ao piso do dormitório.

— Na mesma – resumiu, sucinta.

Senti algo estranho pressionando meu peito. Uma sensação estranha, que se resvalava por meu corpo de um jeito curioso.

Quando vi, estava abraçando Yoko.

— Nossa – senti meu ombro tremer com sua risada perplexa – por que isso?

— Não sei… - disse, humorada – achei que você estava precisando.

Talvez eu também estivesse necessitando de um daqueles, no fim das contas.

Ela gracejou de novo, retribuindo o abraço.

— Obrigada.

Assim que a soltei, ficamos alguns minutos em silêncio, encarando o teto do dormitório.

— Yoko… - eu sussurrei repentinamente.

— Não – virei a cabeça para ela – ainda não… descobriram nada – recuou as pernas de encontro ao corpo, abraçando os próprios joelhos – sua mãe… tem ajudado até hoje nas investigações – balançou a cabeça desoladamente – mas não… há suspeitos – lamentou-se – vão arquivar o caso. E dizer que foi por causa… externa.

— Droga – ofeguei – eu… sinto muito, Yoko.

— Não… tudo bem – alegou, mesmo que fosse evidente que não estava – papai… sempre gostou disso. Da aventura. Do perigo. De lutar para proteger quem amava. Ele se foi… fazendo o que mais amava – suspirou, dando um sorriso lacrimoso – acho que é mais do que muitas pessoas poderiam querer.

Me senti mal por Yoko. Ela não merecia ter passado por tudo aquilo.

Porém, me senti ainda pior por saber que, de alguma forma, a mãe dela nos culpava pelo que havia acontecido. Era doloroso ver o quanto Cho parecia nos odiar agora, quando tudo que sua filha mais queria era uma amiga por perto.

— Eu… posso fazer algo para… ajudar?

— Ahn? Não… - fungou, deitando a cabeça nos braços – não há anda que alguém possa fazer. E não culpo os medibruxos… mal acharam qualquer ferimento no corpo dele. Alguns sangramentos internos, e só. Impossível saber o que aconteceu.

Pousei a mão sobre seu ombro, afagando-o. Ela soltou um gracejo lamentoso, voltando a fitar a redoma do dormitório.

— Rosie?

— Sim?

— Obrigada… de verdade.

Meu coração pareceu ficar um pouquinho mais leve, vendo a gratidão que brilhava nos olhos de Thomas.

Eu podia não ter como amenizar sua dor, mas podia fazer o máximo para apoiá-la naqueles momentos tão sofridos. Isso diminuiria aquela sensação incômoda em meu peito, e desviaria minha mente das dúvidas que teimavam em me incomodar.

Depois que ela saiu do dormitório, ainda fiquei algum tempo naquele canto, tentando ruminar tudo o que havia visto na mansão.

E se eu estivesse fazendo tudo errado? E se de fato eu deveria esperar a hora certa para ir atrás de respostas? E se – no fim de tudo – eu nem deveria saber de nada?

O pior de tudo aquilo era que algo simplesmente gritada dentro de mim. Algo desconhecido, que tentava me avisar de que as coisas não eram como eu imaginava ser.

Eu não sabia se ouvia a esta força interna… ou se ouvia minha própria consciência. Já não sabia mais o que fazer.

E algo me indicava que as coisas estavam prestes a piorar.


























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