Gênese: A Saga da Rosa - Temporada I escrita por FireboltVioleta


Capítulo 25
Amizade




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Não são os grandes planos que dão certo; são os pequenos detalhes.”

— Stephen Kanitz

 

—-----------o--------------



SCORPIUS



Sempre havia admirado o talento de mamãe de ajeitar minhas vestes de modo impecável. Devia ser uma habilidade nata conseguir transformar minha lapela amarrotada num detalhe elegante e chamativo de minhas roupas.

— Mais um ano – ela suspirou, sorrindo, tomando meu rosto nos braços – olhe só para você, querido…

Vi seus olhos brilharem de emoção. Senti-me sem graça, porém contente, ao ver o orgulho em sua expressão.

— Pare, mamãe – brinquei, envergonhado – é só meu segundo ano na escola.

— Você adula demais esse garoto, Tori – revirei os olhos quando papai entrou no meu quarto, risonho – sua mãe tem razão, Scorpy – seu tom tornou-se mais sério – é um grande passo. A chance de novas oportunidades. Não subestime isso, filho.

— Está bem – dei de ombros, derrotado – mas não precisam ficar tão preocupados.

— Verdade, meu anjo – mamãe gracejou – ele já é um homenzinho, Draco. Não seja tão rigoroso com o garoto.

Os dois se entreolharam significativamente, e eu sabia muito bem o por que.

Depois do que havia acontecido com meu pai, durante os anos escolares que passaram em Hogwarts, ambos queriam espelhar tudo que não haviam conseguido aproveitar em minha vida e futuro. Desejavam que eu tivesse todas as chances que haviam perdido.

Ainda assim, achava exagerada a forma como demonstravam isso. Era como se todos os objetivos deles estivessem diretamente voltados para mim. E eu não queria que meus pais vivessem minha vida, enquanto esqueciam de si mesmos.

— Eu vou ficar bem – repliquei, tentando tranquilizá-los – não se preocupem tanto comigo.

— Não se preocupar! – ri quando mamãe bateu as mãos na cintura em gesto de exasperação – vá tomar seu café, garoto. Antes que eu puxe suas orelhas ao invés da lapela.

Achando graça, adiantei-me, saindo do quarto e indo em direção às escadarias.

Ainda podia ouvir a gargalhada afetuosa de minha mãe, enquanto descia na direção do salão de jantar.





As despedidas, naturalmente, não foram fáceis. Não era o tipo de coisa que você podia simplesmente se acostumar, afinal de contas.

Porém, ao contrário do ano anterior, houve um inusitado, aflito e repentino abraço da parte de papai.

— Nossa – disse, surpreso.

— Cuide-se, filho – ouvi-o dizer, ainda me abraçando – e tome cuidado.

Antes dele se afastar, ergui o olhar, franzindo o cenho.

— Pai…

— O que foi, Scorpy?

Pisquei, inseguro.

— O senhor… acredita que foi uma boa ideia…  - hesitei – acha que fiz bem… em fazer amizade com a Rose e Alvo?

Percebi que mamãe nos olhou, igualmente tensa.

Papai ergueu as sobrancelhas, parecendo sinceramente desarmado com minha pergunta. Segurando meu ombro, inclinou a cabeça para o lado.

— Eles são legais com você?

— Sim – falei, sem rodeios.

— E você se sente feliz ao lado deles?

— Claro.

Vi-o sorrir, finalmente me soltando.

— Então fez a escolha certa, filho.

Aliviado, dei um último abraço nele, tranquilizado com sua convicção. O fato dele aprovar meu relacionamento com meus amigos aparentou tirar um peso enorme dos meus ombros.

Não que eu duvidasse da veracidade da amizade que tinha com Rose e Alvo. Isso nunca. Mas já havia me pegado pensando como a minha presença ao lado deles era vista pelos demais. Temia que, por minha causa, meus amigos tivessem qualquer tipo de problema.

Sendo assim, o que papai dissera havia me deixado mais confiante de que estava fazendo o certo. Amigos como eles não eram algo do qual se devia abrir mão…

Era exatamente o que eu faria. Continuaria a ser amigo deles. Não importava o quanto custasse.

O trem apitou, fazendo sua última convocação aos alunos que ainda estavam na plataforma. Já com minhas coisas embarcadas, terminei de me despedir dos meus pais, correndo para a entrada da locomotiva.

— Cuide-se, querido! - gritou mamãe, acenando para mim.

Sacudindo minha mão na direção dela, continuei andando, adentrando no vagão do trem que já se locomovia.

Estava ansioso para rever Alvo e Rose. Comecei a procurá-los pelos corredores, tentando reconhecer suas vozes em meio aos alunos que se acotovelavam pelas melhores cabines.

— Ei! Scorpius!

Reconheci a silhueta alta de Peter Wayne entre os demais alunos. Animado, fui até ele, cumprimentando-o com um aperto de mão.

— Oi, Peter!

— Bem-vindo de volta – sorriu, satisfeito – como foram as férias?

— Boas… sem novidades – respondi, distraído – você viu Alvo e Rose por aí?

— Ah – ele assentiu – estão no último vagão. Não conseguiram escolher bons lugares  - coçou o queixo – você não viu a Sophia McAdams por aí, não é?

— Não – vinquei a testa, humorado – o que quer com ela?

Peter ficou avermelhado.

— Ahn.. nada – foi impossível não ouvir seu pigarreio envergonhado – acho… que vou averiguar as outras… cabines…

Ele recuou, quase que fugindo de mim, parecendo dar graças aos céus por sumir em meio aos estudantes. Sufoquei uma risadinha.

Como orientado por Peter, segui caminho até a última cabine do Expresso de Hogwarts, no encalço dos meus dois melhores amigos.

Quando cheguei lá, quase dei um encontrão com a pessoa que havia acabado de abrir a porta.

— Ah! - um grande sorriso cortou seu rosto – Scorpius!

Rose me abraçou alegremente. Retribuí, mais que contente em finalmente encontrá-la.

— EI. Você vai me enforcar – disse de brincadeira, ao que Rose riu, me puxando para dentro – onde estavam? Não encontrei vocês na plataforma…

O sorriso de Rose vacilou.

— Ahn… - entramos na cabine, enquanto Alvo se levantava, me dando um abraço apertado de boas-vindas – é uma... longa história.

Foi quando percebi que havia uma terceira pessoa presente na cabine.

Reprimi a vontade de me boquiabrir.

— Senhora Potter?

A mãe de Hugo me sorriu, apertando minha mão.

— Bom te ver de novo, Scorpius.

Vi Rose se acocorar ao lado da tia, me deixando ainda mais confuso. O que Ginevra Weasley estava fazendo no Expresso de Hogwarts?

— Bom ver a senhora também – engrolei, ainda atordoado.

Gina pareceu ler minha expressão, soltando um muxoxo de diversão.

— Ah… não se preocupe, garoto. Só fui designada para ficar de escolta no trem até a chegada de vocês em Hogwarts – inspirou profundamente – novas diretrizes do Ministério da Magia.

— Novas diretrizes? - ainda estava sem entender nada.

— Mamãe nos explicando agorinha mesmo – comentou Alvo – a vice-ministra assumiu um projeto que designa um auror para cada evento ou transição entre a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e o Ministério da Magia…. Ou entre a escola e Londres. Questão de segurança – virou-se para a mãe – é tudo que sabemos.

— É tudo que eu sei – corrigiu Gina – não nos forneceram maiores detalhes até agora.

— Vice-ministra? - indaguei – agora temos uma vice-ministra?

— Sim – Rose ostentava uma expressão mista de satisfação e estranhamento – ela foi empossada na semana passada. Mas só divulgarão amplamente amanhã.

Não precisei de mais nenhuma dica para chegar à minha conclusão.

— Hermione Weasley – disse - acertei?

— Na mosca – vi Alvo sacudir a cabeça – titia agora é braço-direito de Kingsley. Como se só ser ela mesma já não fosse impressionante o bastante.

Ri baixinho. Com a mãe de Rose no poder, ao lado do próprio ministro da Magia, toda aquela suposta necessidade de aurores escoltando o trem parecia uma enorme piada. Aquela mulher já devia causar temor em qualquer bruxo das Trevas simplesmente pelo ato de respirar.

— Também acho desnecessário – a senhora Potter sacudiu os braços, lendo minha mente – mas digamos que minha cunhada não seja exatamente o tipo de pessoa fácil de dissuadir.

— Nem brinca, tia – Rose gargalhou – é mais fácil a gente começar a Terceira Guerra Bruxa do que fazer mamãe desistir dos planos dela.

— E por que acha que estou aqui, Rosie? - brincou Gina – bem… - ergueu-se, indo até a porta da cabine – vou caminhar um pouco por aí. Tomem um tempinho para colocarem as novidades em dia.

Assim que ela saiu, fechando a porta atrás de si, ouvi Rose soltar um suspiro exasperado.

— Mamãe está maluca – cruzou os braços – uma auror no trem? - sacudiu os dedos juntos num gesto indignado – e alguém da família, ainda por cima? O que as pessoas dirão?

— Que sua mamãe é superprotetora? - zoou Alvo, recebendo uma acotovelada nada delicada da prima – brincadeirinha, Rose.

— Mas é esquisito – confessei.

Rose ergueu uma sobrancelha petulante.

— Coloca na lista de coisas esquisitas que andam acontecendo, Scorpy.

— Qual é, Rosie – sentei-me, fitando-a de modo taxativo – já disse que iremos atrás de respostas. Agora desencana – arrisquei mudar de assunto – e os eu irmão? É o primeiro ano dele em Hogwarts, não é?

— Sim – ela não parecia tão animada com isso quanto antes – ele está bem ansioso. Acha que não vai fazer amigos.

— Bobagem. Se eu, com um Malfoy, consegui fazer amigos, Hugo também consegue – lhe assegurei, sorrindo – afinal, ele é filho da vice-ministra da Magia. Vai ser praticamente uma celebridade!

— Tem razão, Scorpius – ela pareceu mais tranquila – está com meus primos mais novos no primeiro vagão. Deram sorte na hora de entrar.

— Também… com aquele tamanho minúsculo deles, passar pelas pernas dos outros é coisa fácil – taxou Alvo, brincalhão – relaxa. Vamos vê-los quando desembarcarmos.

— Papai disse para eu ficar de olho nele – achei graça quando Rose mostrou a língua – já não tenho com o que me preocupar? Agora também vou ter que bancar a babá?

— Você é muito maldosa com ele, Rosie – replicou Alvo – Hugo é esquentadinho, mas é um garoto legal – pareceu pensar por um momento – aliás… por que não contamos pra ele sobre tudo o que aconteceu ano passado?

— Para ele contar tudo para meus pais? - Rose careteou – não. Obrigada.

—Fala sério, Rosie – ralhei – ele é seu irmão. Merece saber! Por que não confia nele?

Ela retraiu-se, demonstrando uma absurda insegurança.

— Eu confio nele, Scorpy. Confio em todos vocês – abraçou o próprio corpo – mas eu tenho medo. Tenho medo de descobrir onde tudo isso levará. De que as dimensões do que anda acontecendo sejam maiores do que eu pensava. Não quero envolver meu irmão nisso – olhou para nós dois – já fiz mal em colocar vocês nessa confusão.

Sacudi a cabeça.

— Fez mal? - dei risada – Rosie… era tudo que eu mais querida! Fazer parte de algo grande… ajudar alguém… sentir que eu estou aqui para um plano maior! - segurei-lhe a mão – eu não trocaria essa oportunidade por nada desse mundo.

Por um momento, senti uma quentura absurda na palma da minha mão. Imaginei ser do calor dos dedos de Rose.

Mas não era. Ele irradiou-se até meu rosto.

Um indescritível rubor.

Aparentando o mesmo constrangimento que eu, Rose soltou-me a mão, baixando a cabeça.

— Obrigada, Scorpius…

Alvo olhou de mim para Rose, e dela de volta para mim, esboçando uma expressão que beirava ao humor psicótico.

— Ainda tem um bom pedaço até chegarmos ao castelo – ele me fitou com algo que eu só podia descrever como uma olhadela de escárnio – por que não vê se a bruxa dos doces está chegando? Estou morrendo de fome.

Evidentemente agarrando a oportunidade de desviar o olhar, Rose saltou para fora do banco, colocando metade do corpo para fora da cabine, inclinada feito um pêndulo sobre a fechadura.

Meu amigo me encarou, reprimindo o riso. E eu, desnorteado, ainda sentia o meu coração pulando dentro do peito, como se tivesse acabado de sofre uma queda repentina.

O que estava acontecendo comigo? O que diabos havia sido aquilo?

Por um longo tempo, eu não compreenderia o que havia se iniciado ali. Algo pequeno, instigante. Porém, tal qual semente de sequoia, cresceu aos poucos, atingindo um tamanho descomunal.

Embalado pelo sacolejar do trem, sonolento, ainda tentando ignorar as estranhas expressões de Alvo, senti meus olhos se fecharem aos poucos.

E então, por fim, adormeci num longo cochilo, do qual só acordaria quando chegasse à escola.

O que seria daquele ano?

Eu não sabia. Mas tinha consciência de uma coisa.

Aquele seria o ano em que tudo mudaria.




















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SCORPIUS



Sempre havia admirado o talento de mamãe de ajeitar minhas vestes de modo impecável. Devia ser uma habilidade nata conseguir transformar minha lapela amarrotada num detalhe elegante e chamativo de minhas roupas.

— Mais um ano – ela suspirou, sorrindo, tomando meu rosto nos braços – olhe só para você, querido…

Vi seus olhos brilharem de emoção. Senti-me sem graça, porém contente, ao ver o orgulho em sua expressão.

— Pare, mamãe – brinquei, envergonhado – é só meu segundo ano na escola.

— Você adula demais esse garoto, Tori – revirei os olhos quando papai entrou no meu quarto, risonho – sua mãe tem razão, Scorpy – seu tom tornou-se mais sério – é um grande passo. A chance de novas oportunidades. Não subestime isso, filho.

— Está bem – dei de ombros, derrotado – mas não precisam ficar tão preocupados.

— Verdade, meu anjo – mamãe gracejou – ele já é um homenzinho, Draco. Não seja tão rigoroso com o garoto.

Os dois se entreolharam significativamente, e eu sabia muito bem o por que.

Depois do que havia acontecido com meu pai, durante os anos escolares que passaram em Hogwarts, ambos queriam espelhar tudo que não haviam conseguido aproveitar em minha vida e futuro. Desejavam que eu tivesse todas as chances que haviam perdido.

Ainda assim, achava exagerada a forma como demonstravam isso. Era como se todos os objetivos deles estivessem diretamente voltados para mim. E eu não queria que meus pais vivessem minha vida, enquanto esqueciam de si mesmos.

— Eu vou ficar bem – repliquei, tentando tranquilizá-los – não se preocupem tanto comigo.

— Não se preocupar! – ri quando mamãe bateu as mãos na cintura em gesto de exasperação – vá tomar seu café, garoto. Antes que eu puxe suas orelhas ao invés da lapela.

Achando graça, adiantei-me, saindo do quarto e indo em direção às escadarias.

Ainda podia ouvir a gargalhada afetuosa de minha mãe, enquanto descia na direção do salão de jantar.





As despedidas, naturalmente, não foram fáceis. Não era o tipo de coisa que você podia simplesmente se acostumar, afinal de contas.

Porém, ao contrário do ano anterior, houve um inusitado, aflito e repentino abraço da parte de papai.

— Nossa – disse, surpreso.

— Cuide-se, filho – ouvi-o dizer, ainda me abraçando – e tome cuidado.

Antes dele se afastar, ergui o olhar, franzindo o cenho.

— Pai…

— O que foi, Scorpy?

Pisquei, inseguro.

— O senhor… acredita que foi uma boa ideia…  - hesitei – acha que fiz bem… em fazer amizade com a Rose e Alvo?

Percebi que mamãe nos olhou, igualmente tensa.

Papai ergueu as sobrancelhas, parecendo sinceramente desarmado com minha pergunta. Segurando meu ombro, inclinou a cabeça para o lado.

— Eles são legais com você?

— Sim – falei, sem rodeios.

— E você se sente feliz ao lado deles?

— Claro.

Vi-o sorrir, finalmente me soltando.

— Então fez a escolha certa, filho.

Aliviado, dei um último abraço nele, tranquilizado com sua convicção. O fato dele aprovar meu relacionamento com meus amigos aparentou tirar um peso enorme dos meus ombros.

Não que eu duvidasse da veracidade da amizade que tinha com Rose e Alvo. Isso nunca. Mas já havia me pegado pensando como a minha presença ao lado deles era vista pelos demais. Temia que, por minha causa, meus amigos tivessem qualquer tipo de problema.

Sendo assim, o que papai dissera havia me deixado mais confiante de que estava fazendo o certo. Amigos como eles não eram algo do qual se devia abrir mão…

Era exatamente o que eu faria. Continuaria a ser amigo deles. Não importava o quanto custasse.

O trem apitou, fazendo sua última convocação aos alunos que ainda estavam na plataforma. Já com minhas coisas embarcadas, terminei de me despedir dos meus pais, correndo para a entrada da locomotiva.

— Cuide-se, querido! - gritou mamãe, acenando para mim.

Sacudindo minha mão na direção dela, continuei andando, adentrando no vagão do trem que já se locomovia.

Estava ansioso para rever Alvo e Rose. Comecei a procurá-los pelos corredores, tentando reconhecer suas vozes em meio aos alunos que se acotovelavam pelas melhores cabines.

— Ei! Scorpius!

Reconheci a silhueta alta de Peter Wayne entre os demais alunos. Animado, fui até ele, cumprimentando-o com um aperto de mão.

— Oi, Peter!

— Bem-vindo de volta – sorriu, satisfeito – como foram as férias?

— Boas… sem novidades – respondi, distraído – você viu Alvo e Rose por aí?

— Ah – ele assentiu – estão no último vagão. Não conseguiram escolher bons lugares  - coçou o queixo – você não viu a Sophia McAdams por aí, não é?

— Não – vinquei a testa, humorado – o que quer com ela?

Peter ficou avermelhado.

— Ahn.. nada – foi impossível não ouvir seu pigarreio envergonhado – acho… que vou averiguar as outras… cabines…

Ele recuou, quase que fugindo de mim, parecendo dar graças aos céus por sumir em meio aos estudantes. Sufoquei uma risadinha.

Como orientado por Peter, segui caminho até a última cabine do Expresso de Hogwarts, no encalço dos meus dois melhores amigos.

Quando cheguei lá, quase dei um encontrão com a pessoa que havia acabado de abrir a porta.

— Ah! - um grande sorriso cortou seu rosto – Scorpius!

Rose me abraçou alegremente. Retribuí, mais que contente em finalmente encontrá-la.

— EI. Você vai me enforcar – disse de brincadeira, ao que Rose riu, me puxando para dentro – onde estavam? Não encontrei vocês na plataforma…

O sorriso de Rose vacilou.

— Ahn… - entramos na cabine, enquanto Alvo se levantava, me dando um abraço apertado de boas-vindas – é uma... longa história.

Foi quando percebi que havia uma terceira pessoa presente na cabine.

Reprimi a vontade de me boquiabrir.

— Senhora Potter?

A mãe de Hugo me sorriu, apertando minha mão.

— Bom te ver de novo, Scorpius.

Vi Rose se acocorar ao lado da tia, me deixando ainda mais confuso. O que Ginevra Weasley estava fazendo no Expresso de Hogwarts?

— Bom ver a senhora também – engrolei, ainda atordoado.

Gina pareceu ler minha expressão, soltando um muxoxo de diversão.

— Ah… não se preocupe, garoto. Só fui designada para ficar de escolta no trem até a chegada de vocês em Hogwarts – inspirou profundamente – novas diretrizes do Ministério da Magia.

— Novas diretrizes? - ainda estava sem entender nada.

— Mamãe nos explicando agorinha mesmo – comentou Alvo – a vice-ministra assumiu um projeto que designa um auror para cada evento ou transição entre a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts e o Ministério da Magia…. Ou entre a escola e Londres. Questão de segurança – virou-se para a mãe – é tudo que sabemos.

— É tudo que eu sei – corrigiu Gina – não nos forneceram maiores detalhes até agora.

— Vice-ministra? - indaguei – agora temos uma vice-ministra?

— Sim – Rose ostentava uma expressão mista de satisfação e estranhamento – ela foi empossada na semana passada. Mas só divulgarão amplamente amanhã.

Não precisei de mais nenhuma dica para chegar à minha conclusão.

— Hermione Weasley – disse - acertei?

— Na mosca – vi Alvo sacudir a cabeça – titia agora é braço-direito de Kingsley. Como se só ser ela mesma já não fosse impressionante o bastante.

Ri baixinho. Com a mãe de Rose no poder, ao lado do próprio ministro da Magia, toda aquela suposta necessidade de aurores escoltando o trem parecia uma enorme piada. Aquela mulher já devia causar temor em qualquer bruxo das Trevas simplesmente pelo ato de respirar.

— Também acho desnecessário – a senhora Potter sacudiu os braços, lendo minha mente – mas digamos que minha cunhada não seja exatamente o tipo de pessoa fácil de dissuadir.

— Nem brinca, tia – Rose gargalhou – é mais fácil a gente começar a Terceira Guerra Bruxa do que fazer mamãe desistir dos planos dela.

— E por que acha que estou aqui, Rosie? - brincou Gina – bem… - ergueu-se, indo até a porta da cabine – vou caminhar um pouco por aí. Tomem um tempinho para colocarem as novidades em dia.

Assim que ela saiu, fechando a porta atrás de si, ouvi Rose soltar um suspiro exasperado.

— Mamãe está maluca – cruzou os braços – uma auror no trem? - sacudiu os dedos juntos num gesto indignado – e alguém da família, ainda por cima? O que as pessoas dirão?

— Que sua mamãe é superprotetora? - zoou Alvo, recebendo uma acotovelada nada delicada da prima – brincadeirinha, Rose.

— Mas é esquisito – confessei.

Rose ergueu uma sobrancelha petulante.

— Coloca na lista de coisas esquisitas que andam acontecendo, Scorpy.

— Qual é, Rosie – sentei-me, fitando-a de modo taxativo – já disse que iremos atrás de respostas. Agora desencana – arrisquei mudar de assunto – e os eu irmão? É o primeiro ano dele em Hogwarts, não é?

— Sim – ela não parecia tão animada com isso quanto antes – ele está bem ansioso. Acha que não vai fazer amigos.

— Bobagem. Se eu, com um Malfoy, consegui fazer amigos, Hugo também consegue – lhe assegurei, sorrindo – afinal, ele é filho da vice-ministra da Magia. Vai ser praticamente uma celebridade!

— Tem razão, Scorpius – ela pareceu mais tranquila – está com meus primos mais novos no primeiro vagão. Deram sorte na hora de entrar.

— Também… com aquele tamanho minúsculo deles, passar pelas pernas dos outros é coisa fácil – taxou Alvo, brincalhão – relaxa. Vamos vê-los quando desembarcarmos.

— Papai disse para eu ficar de olho nele – achei graça quando Rose mostrou a língua – já não tenho com o que me preocupar? Agora também vou ter que bancar a babá?

— Você é muito maldosa com ele, Rosie – replicou Alvo – Hugo é esquentadinho, mas é um garoto legal – pareceu pensar por um momento – aliás… por que não contamos pra ele sobre tudo o que aconteceu ano passado?

— Para ele contar tudo para meus pais? - Rose careteou – não. Obrigada.

—Fala sério, Rosie – ralhei – ele é seu irmão. Merece saber! Por que não confia nele?

Ela retraiu-se, demonstrando uma absurda insegurança.

— Eu confio nele, Scorpy. Confio em todos vocês – abraçou o próprio corpo – mas eu tenho medo. Tenho medo de descobrir onde tudo isso levará. De que as dimensões do que anda acontecendo sejam maiores do que eu pensava. Não quero envolver meu irmão nisso – olhou para nós dois – já fiz mal em colocar vocês nessa confusão.

Sacudi a cabeça.

— Fez mal? - dei risada – Rosie… era tudo que eu mais querida! Fazer parte de algo grande… ajudar alguém… sentir que eu estou aqui para um plano maior! - segurei-lhe a mão – eu não trocaria essa oportunidade por nada desse mundo.

Por um momento, senti uma quentura absurda na palma da minha mão. Imaginei ser do calor dos dedos de Rose.

Mas não era. Ele irradiou-se até meu rosto.

Um indescritível rubor.

Aparentando o mesmo constrangimento que eu, Rose soltou-me a mão, baixando a cabeça.

— Obrigada, Scorpius…

Alvo olhou de mim para Rose, e dela de volta para mim, esboçando uma expressão que beirava ao humor psicótico.

— Ainda tem um bom pedaço até chegarmos ao castelo – ele me fitou com algo que eu só podia descrever como uma olhadela de escárnio – por que não vê se a bruxa dos doces está chegando? Estou morrendo de fome.

Evidentemente agarrando a oportunidade de desviar o olhar, Rose saltou para fora do banco, colocando metade do corpo para fora da cabine, inclinada feito um pêndulo sobre a fechadura.

Meu amigo me encarou, reprimindo o riso. E eu, desnorteado, ainda sentia o meu coração pulando dentro do peito, como se tivesse acabado de sofre uma queda repentina.

O que estava acontecendo comigo? O que diabos havia sido aquilo?

Por um longo tempo, eu não compreenderia o que havia se iniciado ali. Algo pequeno, instigante. Porém, tal qual semente de sequoia, cresceu aos poucos, atingindo um tamanho descomunal.

Embalado pelo sacolejar do trem, sonolento, ainda tentando ignorar as estranhas expressões de Alvo, senti meus olhos se fecharem aos poucos.

E então, por fim, adormeci num longo cochilo, do qual só acordaria quando chegasse à escola.

O que seria daquele ano?

Eu não sabia. Mas tinha consciência de uma coisa.

Aquele seria o ano em que tudo mudaria.




















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