Estou sem fôlego, as cortinas estão caindo
Minha mente está nublada, como eu suspiro para o ar
Me pergunto se eu errei hoje

Há quatro anos eu pensei em enviar uma carta a uma pessoa que nunca me notaria. Mas foi aí que eu percebi, ela nunca me notaria. Então, não a enviei.

xx

                          Cheguei em casa uma hora antes do esperado e me deparei com meus pais, tios, primos, amigos e até gente que eu nunca vi na minha vida correndo de um lado para o outro com diversas coisas na mão. Salgadinhos, doces e até mesmo balões.

                         - Isso tudo é para mim? – Perguntei a mim mesma, mas ao que parece minha mãe ouviu.

                         - Claro filha, você chegou muito cedo, era para ser uma surpresa, mas tudo bem. Aproveita que está aqui e me ajuda a encher esses balões.

                         - Você está fazendo uma festa para mim e eu sou escravizada na preparação dela?

                         - Oh Diana, deixe disso, vamos, os convidados estão para chegar.

                         - Como assim? Mas e esse povo todo que tá aqui?

                         Infelizmente eu fui ignorada, não sei como, minha mãe já estava na cozinha.

                         Conforme dito, algum tempo depois chegaram os convidados, mais pessoas que eu não conhecia. Eu não via lógica naquilo. Para que fazer uma festa de despedida para uma pessoa de vinte e um anos que ainda mora com os pais?

                         - Eu vou sentir sua falta. – Disse que Rafael fazendo com que meus devaneios fossem embora.

                         - Eu também vou, mas relaxe, a gente vai sempre se falar. Ou você quebrou seu celular de novo?

                         - Ainda não. – Ele falou sorrindo, eu gostava de vê-lo sorrir, principalmente sorrindo para mim.

                         Rafael era quase que meu namorado, digo quase porque pouca gente sabe disso. Mas não é preciso que os outros saibam para sermos namorados, claro, o caso era que eu ainda não me sentia completamente dele, minha mente devaneava as vezes em outras coisas, outro mundo, um mundo onde coisas impossíveis acontecem. Nós havíamos nos conhecido há um ano. O sorriso dele era encantador, capaz de fazer qualquer pessoa perto se sentir pelo menos um pouco feliz. E foi por esse sorriso que eu me apaixonei, eu tenho mania de me apaixonar por sorrisos.

                         Ele era uma boa pessoa, apesar de eu saber pouco de sua vida, pois ele era muito fechado em relação a isso, me contava pouquíssimas coisas.

                         Nós saímos e ficamos conversando no jardim. Porém não pude ficar lá por muito tempo, tinha que cumprimentar meus amigos, familiares e aquelas tais pessoas que eu nem conhecia.

                         Ele também não poderia ficar muito tempo, tinha um emprego de meio período.  Assim, nos despedimos apenas com um abraço. Eu sou tímida, não consigo fazer muita coisa quando há pessoas por perto. Isso irritava um pouco Rafael, mas ele teve de se acostumar.

                         Voltando para dentro de minha casa, fui direto a Leandra, minha melhor, e provavelmente, única amiga - de verdade-.

                         - Oi. – Eu disse

                         - Oi.

                         Nada mais, nenhuma palavra precisava ser dita. Abraçamo-nos. Eu conseguia entender ela sem uma única palavra, assim como ela me entendia. Comecei a chorar, não resisti, sempre fui muito sentimental, não sei se aguentaria tudo aquilo sem ela.

                         Ela já havia ido um ano antes. Foi horrível passar um ano com ela distante, a gente tentava se falar por Skype toda semana, mas a vida dela era tão ocupada.

                         Leandra sempre ajudou quando eu precisei, sempre estava lá, quando mais ninguém estava. E naquele abraço eu lembrei de tudo que nós passamos juntas. E foi isso que me doeu mais.

                                                                    xx

                         Depois de cumprimentar todos que pude, eu parti em direção ao meu quarto. Percebi no meio do caminho que não havia comida nada, mas eu não tinha estômago para aquilo naquele momento.

                         Eu estou bem, eu estou bem. Eu não estou bem, eu não estou bem.

                         Entrei no quarto e me deparei mergulhada em lágrimas. Eu sentia saudade de algo que nem havia acontecido ainda. Sentia falta da minha família, dos meus amigos. Como eu iria aguentar tudo aquilo sem eles? Acho que a ficha só foi cair neste momento.

                         Como o tempo pode ter passado tão rápido? Ontem mesmo faltavam seis meses, hoje faltam... Dez? Não. Faltam cinco dias!

                         Não consigo acreditar até agora, eu ganhei uma bolsa para fazer intercambio por um ano na Coreia do Sul!