Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 8
Capítulo 4 - A Verdade da Mentira (Continuação)


Notas iniciais do capítulo

O que aconteceu a Angie?
O que será que ela escreveu a Gérmen?



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— “Meu Amor,

Sim meu amor…porque te amo apesar de neste momento poderes achar que o meu amor seja tudo menos verdadeiro, ou podes mesmo pensar que não te amo. Mas como te disse ontem, não aguento mais mentiras, enganos, segredos, estou cansada Gérmen. Sei que se guardaste este segredo foi por amor á tua mãe, e por isso vais perceber que ao te deixar o estou a fazer por amor á minha mãe. Não posso deixar o teu pai fazer o que quer, não posso deixá-lo contar a traição do meu pai, não posso deixá-lo contar que essa traição deu fruto e que existe algures uma filha dele. Sim Gérmen estou a sacrificar o nosso amor, a nossa família pela minha mãe; mas não consigo pensar no que ela irá sentir, se souber de tudo. Sei que talvez aches que estou a ser egoísta, mas não posso deixar de pensar no que irá a minha mãe sofrer se o teu pai…não, ela não iria aguentar. Se tu nunca contaste e escondeste toda esta história foi também por amor á tua mãe, e de certa forma por amor a Maria e respeito pela minha mãe, por isso sei que no fundo vais perceber o porquê desta minha decisão. No passado também eu sofri para proteger a minha mãe, e por isso farei tudo para que ela não sofra. Gérmen a minha mãe é a pessoa mais importante para mim, depois da morte de Maria e do meu pai, com o afastamento de Vilu nós só nos tínhamos uma á outra e de certa forma unimo-nos ainda mais. Entrega por favor a carta a Vilu, não lhe conto toda esta história de segredos e mentiras apenas porque não quero que ela sofra e porque deves ser tu a contar, não eu. Na carta apenas lhe peço perdão por me afastar de novo, de levar Clara mas que toda esta situação do teu pai me deixou abalada e que preciso de tempo para pensar. Espero que me possas perdoar…que me possas perdoar e compreender. Nunca te afastarei da Clarita, assim que conseguir acalmar a minha alma, e consiga instalar-me eu aviso para que a possas ver. Não te esqueças nunca que nós te amamos, muito. Amo-te Gérmen…da tua Angie.”

— Gérmen? Que se passou? O que e que a Angie diz? Para onde e que ela foi, porque se foi embora?

— Ela foi-se embora. Foi-se embora com Clara. - Gérmen estava em choque, ele não podia acreditar que ela se fora embora...os seus receios estavam certos...e agora? O que e que ele ia fazer?

— Mas Gérmen tem calma e explica-te melhor, foi-se embora porquê?

— Por causa do meu pai. Ele…ele…Ramalho por favor sai, tenho que fazer um telefonema importante…sozinho.

Ramalho embora não percebendo nada do que se passava, fez o que ele mandava, e foi a correr contar a Olga o que se passava: Angie tinha-se ido embora com Clara, esta como sempre começou nos seus exageros melodramáticos, mas no fundo quer ela quer Ramalho sabiam que tudo o que se estava a passar tinha “dedo” de José .

Entretanto Angie estava parada junto de casa de Pablo pensando se deveria ou não ir ter com ele quando o viu a sair de casa com Brenda. De repente ao vê-los tão enamorados lembra-se de Gérmen, como o amava e como já sentia saudades; mas ela não podia fazer nada, ela não podia deixar José contar toda aquela história a Angélica, não a sua mãe não iria aguentar. Como reagiria se soubesse? Ela própria se sentia um caco, como se lhe tivessem tirado o chão e tivesse caido num abismo, apesar de sempre ter amado o seu pai os últimos anos foram muito difíceis para Angie, o pai simplesmente se esquecera de si, ela fez de tudo para o fazer feliz, para de certa forma o animar depois da morte de Maria. Mas nada do que ela fizesse o satisfazia, ela cantava, tocava…mas Miguel chegara-lhe mesmo a gritar dizendo-lhe que não queria mais que ela cantasse ou tocasse, deixou de lhe pagar as aulas no Estúdio e valeu-lhe nessa altura Angélica que foi falar com António e que concedeu a Angie uma bolsa de estudo e assim sem que o seu pai soubesse ela continuava o seu sonho. Tentou por diversas vezes encontrar Violetta, para que ao menos o pai conseguisse recuperar alguma alegria, e quando tinham alguma pista ele parecia sempre outro mas assim que deixavam de saber dela, Miguel voltava para o mesmo buraco, e parecia que de cada vez que isso acontecia ele ficava mais sombrio, mais triste mais dentro do seu mundo. Estava ela a pensar nisto tudo quando Clara começa a chorar, Angie tenta acalmá-la, mas parece que Clara sentia quando ela não estava bem, quando estava ansiosa, preocupada…e foi nessa altura que Pablo se deu conta que ela estava ali, olhando para Brenda e depois de novo para Angie.

— Mas aquele é o carro de Angie? O que é que ela está a fazer por aqui?

— Não sei, vamos até lá?

Angie, naquela altura já não sabia se tinha feito bem em ter ficado ali, talvez não fosse o melhor falar com Pablo, o que lhe ia dizer? Saí de casa porque Gérmen me mentiu!? E ela não lhe tinha mentido também? Gérmen nunca soube o que ela sofrera após a morte de Maria? Gérmen nunca soubera o que acontecera no dia em que o pai morreu, o que ele lhe dissera antes de desfalecer nos seus braços. Esse era um episódio que Angie nunca contara a ninguém: como o encontrou, o que o pai lhe dissera antes de morrer, o que sofreu ao ouvir o pai dizer aquelas palavras de quase "desprezo". Angie teria a idade que Violetta tinha agora, lembra-se que ficou meses, sem dizer uma palavra, todos os médicos diziam o mesmo a Angélica: ela sofrera um trauma e seria uma questão de paciência até ela sair desse estado. Tinha sido uma época muito difícil para Angelica que a via abatida, metida para ela, sem querer sair de casa e o que mais lhe custava era o facto de não conseguir tirar Angie daquela abatia, daquela depressão. Mas também para Angie não tinha sido fácil, ela tinha todo aquele peso das palavras que Miguel lhe dissera sobre os seus ombros, e embora quisesse desfazer-se dele não podia contá-lo a ninguém. Mas  com o passar do tempo e com a ajuda da música e de António e Pablo ela conseguiu superar todo aquele episódio da sua vida, mas nunca ninguém soubera o que acontecera naquele dia em que o pai morrera, e com o tempo ela própria se esqueceu; não, ela nunca esquecera aquele dia, apenas tinha colocado toda aquela fase bem fundo nas suas memórias. Como podia ela esquecer a imagem do pai nos seus últimos minutos de vida, o que o pai lhe tinha tido naqueles últimos segundos, como poderia ela esquecer a ferida que ele lhe fizera. Ela amava-o, era seu pai e mesmo depois ela nunca conseguira sentir raiva.

Ela tenta assim por um lado acalmar Clara, e por outro colocar o carro a funcionar. Pablo? Ele conhece-a melhor que ninguém, vai perceber que se passa alguma coisa, que ela não está bem, vai-lhe fazer perguntas que ela não está preparada para responder ela sabe que não vai aguentar, já sente um nó na garganta, como se tivesse um balão dentro dela e que a qualquer momento poderia rebentar, e ela sabe que se olhasse Pablo nos olhos tudo aquilo que sentia, que gritava dentro de si iria rebentar.

— Angie…Angie, Que fazes aqui?

— Pablo…estava a passar…o carro foi-se abaixo…Clara chorou…e…

Á medida que ia falando, ia sentindo que tudo o que ela tinha guardado no seu interior: a dor, a angústia, a desilusão, a raiva, o desespero mas também o amor e as saudades que sentia ja de Gérmen lhe estavam a sufocar, que se não saísse do carro iria ficar sem ar, então decidiu sair do carro…respirando muito apressadamente…com uma necessidade louca de ar, de respirar, de sentir o ar a entrar e a sair de dentro dela…e de repente sentiu que estava a perder as forças que a mantinham em pé; a última coisa que se lembra de pensar foi que se sentia como um castelo na areia que levando com a onda se desfazia; e deixou-se ir naquela onda que a vinha buscar no meio de tantos pensamentos, e assim desmaiou nos braços de Pablo, sentindo-se aquele castelo de areia a ser levado pela onda para um mar muito fundo e escuro.

Enquanto este lhe pegou ao colo, Brenda retirou Clara, que continuava a chorar, do carro e fechou-o e encaminharam-se os dois para casa. Pablo deitou Angie, que continuava desmaiada no sofá, enquanto Brenda tentava acalmar Clara, que chorava sem parar. Depois de algum tempo, Brenda conseguiu finalmente adormecer Clara, deitou-a na sua cama tendo o cuidado de a colocar em segurança e foi ter com Pablo que estava ainda a tentar acordar Angie. Passado um tempo, que pareceu eterno para ambos, Angie acordou, tentando colocar-se de pé sentiu que ainda não tinha forças para muito. Pablo nem teve tempo de lhe perguntar nada, apenas lhe disse que Clara estava no seu quarto a dormir, e assim que ouviu que esta estava bem, ela abraçou-se a Pablo e voltou a libertar toda a sua angústia, toda a sua mágoa. Ao fim de um tempo já mais calma ela agradeceu-lhes e ao mesmo tempo pediu-lhes desculpa, dizendo que não os queria incomodar, em como se pôs a conduzir sem rumo, em como se apercebera onde estava…como ficara com a sensação de ter um nó na garganta, como que se fosse sufocar e não conseguir respirar, e que de repente tinha perdido a noção de tudo.

— Tem calma Angie, não nos aborreces nada, mas precisamos de saber o que se passou? Foi Gérmen? O que se passou?

— Não tive escolha Pablo…não tive...não tive mesmo escolha..

— Mas que escolha? Não percebo do que estás a falar?

— Era ele ou a minha mãe…não tive escolha.- E de novo aquela sensação do nó…de ir sufocar, de precisar de respirar.

— A tua mãe? Mas o que se passou com Angélica, zangou-se de novo com Gérmen, foi isso? Por favor Angie não estás a fazer sentido.

E respirando bem fundo Angie começou por lhe contar o regresso de José, de toda a história de desamor entre ele, a mãe e o seu pai. Pablo estava sem palavras, nunca lhe passaria pela cabeça toda aquela história, ele conheceu Miguel, e apesar de sempre o ter achado uma pessoa fria nunca lhe passaria pela cabeça uma história daquelas.

— O Pai de Gérmen e a tua mãe?

— Sim, mas a minha mãe não gostava dele, gostava do meu pai. E por isso o pai de Gérmen nos detesta a todos nós: ao meu pai, a Maria, a mim e acho que até à minha mãe.

— Mas que culpa têm vocês, e Angélica? Não se escolhe de quem se ama…

— Não sei, eu já não sei nada…só sei que tive que escolher…

— Mas escolher o quê?

E depois chegou ao pior, aquela que ainda nem ela tinha conseguido perceber, em como José tinha colocado Gérmen entre a espada e a parede: ou acabava com seu o casamento ou contava a todos o segredo de Miguel e de Rosário. Pablo olhou para ela como que a perguntar de que história estava ela a falar. Respirando de novo bem fundo, ela começou a contar toda a história dos dois: tudo acontecera muito antes de ela ter nascido, Miguel e Rosário envolveram-se numa altura em que supostamente os seus pais estavam separados, pois Angélica não aceitava a forma como Miguel geria a carreira de Maria, que era ainda muito nova: ela achava que Maria deveria ter uma vida o mais normal possível, mas Miguel queria que ela se dedicasse apenas á sua carreira; assim ter amigos, sair com eles nada lhe era permitido. Rosário também nunca tivera um casamento tranquilo ou mesmo de amor com José, pois este sempre amara Angélica, era um casamento basicamente que vivia de aparências. Naquele ano foram os seis, as duas famílias, por acaso passar um fim-de-semana num mesmo hotel em Madrid. Miguel ficou fascinado pela beleza e independência de Rosário, e esta cansada do desprezo de José deixou-se ir por aqueles sentimentos que embora errados a faziam sentir viva, e assim aconteceu, eles envolveram-se, e durante toda aquela estadia viveram uma história de um amor “improvável”. Até que um dia, num daqueles acasos da vida, se encontraram todos num restaurante e quando se aperceberam com quem eram casados ficaram algo surpreendidos e até intimidados, mas resolveram não comentar nada com nenhum dos outros dois; afinal para eles tudo não passava de uma aventura, apenas um bom momento…um amor “fortuito”, de futuro incerto, impossível talvez; pelo menos era o que eles pensavam na altura. Quando voltaram a Buenos Aires, Rosário tentou reencontrar-se com Miguel, uma vez que se apercebera que se apaixonara de verdade por ele, e nada tinha a perder a não ser Gérmen pois sabia que José faria de tudo para ficar com o filho, mas estava disposta a correr esse risco ela queria e merecia ser feliz. Miguel por sua vez e apesar de estar a viver uma fase má no seu casamento com Angélica, não pensava em deixar tudo o que estava a construir á conta do talento de Maria. O que Miguel não contava era que Rosário descobrisse que estava grávida, nessa altura ele decide fazer o correto e acabar com o seu casamento, mas Angélica que apesar do mau momento pelo qual o seu casamento estava a passar amava Miguel , e que apenas sabia da existência de mais alguém na vida dele não se dá como vencida, ela sabe que tem em Maria algo que ele não estava disposto a renunciar, assim diz-lhe que se ele sair de casa pode esquecer Maria. Miguel adorava a filha mas acima de tudo gostava de todos os privilégios que a carreira dela lhe dava e decidiu abandonar Rosário e a criança que ela esperava e ficar com Angélica. Apesar de devastada Rosário não teve outra hipótese senão contar a José tudo o que acontecera, e apesar de querer ficar com a filha, José obrigou-a na altura a resolver o assunto. Rosário foi assim para Espanha de forma a resolver “o problema” como José dizia, apesar de saber o que este queria que ela fizesse ela nunca teria coragem para o fazer, assim conseguiu enganar o marido, dizendo-lhe que resolvera “o problema” mas que ira ficar em Madrid durante mais tempo, assim quando a bebé nasceu ela confiou-a a sua irmã que infelizmente nunca casara e ficara muito feliz por poder tomar conta da sobrinha. Contudo, para Miguel e José o assunto ficara tratado meses atrás.

Miguel e Angélica entretanto, e apesar de todos os problemas conseguiram minimizar a crise no seu casamento, se bem que nunca mais nada fora o mesmo: tinham discussões frequentes e Miguel começara a beber; porém, cerca de um ano depois tiveram também eles mais uma filha - Angeles. Miguel nunca contou a Angélica com quem se envolvera e muito menos que esta engravidara, até porque esta lhe dissera que não iria ter a criança, assim ele achou que não havia necessidade de lhe contar fosse o que fosse. Depois com o nascimento de Angeles, a vida dos dois acabou por voltar a uma aparente normalidade, apesar de no início Miguel se sentir feliz com este nascimento, com este anjo loiro de olhos claros, ele nunca esquecera a filha que supostamente poderia ter tido com Rosário, e com o passar dos anos não conseguia evitar de olhar para Angie e lembrar-se daquela filha que perdera, e talvez de forma inconsciente foi ignorando Angie focando-se na carreira de Maria.

Angie conta ainda que o pai soube mais tarde, ela não sabe como que a filha dele e de Rosário estava viva, e que foi a partir dessa altura que ele começara a ignorá-la, era como que se ela tivesse deixado de existir, e focou como objectivo da sua vida em encontrar esta filha.

Quando Angie acabou de contar toda esta história ficou a olhar para Pablo, que estava extasiado, quase petrificado.

— Não podia continuar lá em casa, a minha mãe nunca poderá saber de toda esta história Pablo…nem sei o que se passaria se ela…

— Iria destruí-la, com certeza.

— Sei que Gérmen não iria ceder, mas também sei que José não cederia…

— E decidiste tu por Gérmen. Angie! Angie!

— Que querias que fizesse? Ou perdia Gérmen, ou perdia a minha mãe.

— Tenho a certeza que Gérmen não te iria colocar nessa situação.

— Gérmen não, mas o pai dele sim.

— Talvez não, talvez Gérmen tivesse uma solução.

— José foi muito claro Pablo, ele deu 24 horas para ele decidir, e sim fui eu que tomei a decisão, mas não tinha outra opção…

— Angie, e o que vais fazer agora? Vais desaparecer? Vais viajar, sumir no mundo com Clara como Gérmen fez com Vilu.

— Não, claro que não. Eu nunca separarei Clara do pai. Mas preciso de tempo, de espaço…neste momento tenho a cabeça às voltas…estou…

— Bem para tua casa não podes ir, a tua mãe vai-te fazer perguntas…mas vais ter que falar com ela, quer dizer ela há-de ir procurar-te…

— Eu sei Pablo…eu deixei-lhe uma carta hoje lá em casa. Não lhe disse muito mas o essencial para ela não ficar muito preocupada.

— Nalgum momento ela terá que saber o porquê de tudo isto.

— Se depender de mim ela nunca irá saber...

— Angie tu não podes guardar isto só para ti…ela vai querer perceber tudo o que se está a passar.

— Neste momento preciso de um sítio para ficar até perceber o que fazer.

— Eu não me queria meter, mas talvez te possa ajudar…

Angie e Pablo olham ambos para Brenda não percebendo como ela poderia ajudar. Esta lembrara-se durante todo aquele tempo em que eles falavam que Angie poderia ficar na casa que fora dela em solteira. Ela não chegara a desfazer-se dela, e estava vazia.

 - É que estive a pensar, tu precisas de um sítio para ficar e eu posso-te ajudar nisso. – E nisto tira um molho de chaves da sua carteira – São as chaves da minha casa de solteira, se quiseres podes ir para lá.

— Brenda a sério que agradeço mas não vos quero incomodar…eu precisava só de falar com um amigo, desabafar.

— Angie por favor aceita, tu precisas de um lugar e de tempo para pensares no que vais fazer.- diz-lhe Pablo.

— Por favor Angie, aceita…fá-lo por Clara. Se não o aceitares vais para onde, um Hotel? Com Clara? Não é o melhor local para te esconderes.

— E a casa de Brenda é o ideal. Ninguém sabe onde é, logo ninguém te vai procurar lá.

— Angie por favor aceita, não te oferecia se não quisesse. A única coisa que teremos que arranjar é uma cama para Clara.

— Obrigada, a sério obrigada. Nem sei o que vos dizer…

— Nada, não tens que dizer nada. Afinal para quem servem os amigos?

— O Pablo tem razão, depois tenho a certeza que tudo se vai resolver mais depressa do que pensas.

— Tenho algumas dúvidas sobre isso do rápido…

— Tenho a certeza que os três juntos iremos arranjar uma solução, afinal três cabeças funcionam melhor do que apenas uma…- e com esta frase Pablo consegue arrancar um sorriso de Angie, se bem que também ele duvidava que arranjariam uma solução rápida…mas conseguira fazer com que Angie sorrisse e se esquecesse nem que por apenas um segundo de tudo o que a preocupava. Angie sentiu-se melhor depois de desabafar com Pablo, apesar de duvidar que arranjariam uma solução para toda esta confusão. Mas era bom sentir que não estava sozinha e que podia contar com os amigos.

— Agradeço-vos do fundo do coração, é bom saber que tenho amigos como vocês.

Angie estava sem conseguir dizer muito mais, Pablo era sem dúvida mais que um amigo, sempre fora como um irmão, por isso ela sempre pensara que o que eles tinham tido no passado nunca poderia ter dado certo. Apesar de tudo continuaram bons amigos, cúmplices, enfim irmãos. Pablo deu-lhe um abraço, pegou nas suas coisas e saiu para o Estúdio…uma vez que como director e professor não podia faltar, deixando-a com Brenda, que de uma forma algo inesperada se transformara também ela numa amiga.

Em casa, Gérmen tenta desesperado falar com a Mãe, ele sabe que se há alguém que pode solucionar tudo isto é ela: primeiro porque o segredo é dela, e depois porque apenas ela sabe como parar José. Mas apesar de ligar para todos os locais que possivelmente a mãe poderia estar não a encontra, e o desespero, o medo, a angústia começam aos poucos a apoderar-se dele.

— Mas ela não lhe disse onde ia?

— Não, já lhe disse que não.

— Nem a que horas chegava, ela não lhe disse nada?

— Não já lhe disse, não disse nada.

— Eu não acredito nisto – e de repente lembra-se...– E a minha tia está?

— A Dona Mercedes está sim, quer falar com ela?

— Sim, sim pode ser. Passe-lhe o telefone por favor e rápido.

Enquanto a empregada passava e não passava a chamada, Ramalho entra no escritório. Gérmen faz-lhe sinal para que ele se sente e continua á espera.

— Sim, quem fala? – Diz uma voz feminina do outro lado do telefone.

— Tia Mercedes? E o Gérmen. Preciso falar com a mamã com alguma urgência, sabe onde ela está?

— Gérmen…meu querido como estás? E Violetta deve estar tão crescida?

— Sim tia está uma jovenzinha…mas e a mamã, sabe onde está?

— E Clara? A tua mãe mostrou-me uma foto, é tão linda…

— Sim tia, sim. E a mamã, onde está?

— A tua mamã, ela saiu...deve ter ido...ao ginásio...se não me engano. Deve ter o telemóvel desligado como sempre.

— Tia, eu preciso de falar com ela, é urgente. Por favor assim que ela chegar peça-lhe para ela me ligar. Por favor.

— Está bem meu querido, mas eu não te posso ajudar? Não sei, não queres desabafar com a tua tia preferida?

— Não tia, só a Mamã mesmo. Obrigada e Adeus.

— Adeus meu querido.

E desligando o telefone, olhou para Ramalho que estava á espera que este lhe contasse o que se tinha passado. Se bem que Gérmen não devesse contar, Ramalho era o seu único e mais fiel amigo, assim sentiu que lhe devia uma justificação, para alem de que lhe iria fazer bem desabafar com alguém. Contou-lhe toda a conversa com o pai, o segredo da família, e a chantagem. Ramalho ouviu e engoliu em seco cada palavra que Gérmen ia dizendo. No fim a única coisa que conseguiu dizer foi “Meu Deus”.

— Só tens isso para me dizer?

— Desculpa Gérmen, mas não sei mais o que te dizer.

— És uma grande ajuda Ramalho…uma grande ajuda...

— Desculpa Gérmen, a sério mas…E que vais fazer: em relação ao teu pai, mas principalmente em relação a Angie?

— Em relação ao meu pai já o fiz, ou tentei fazer…

— Falar com a tua mãe?

— Não propriamente falar, vou pedir que venha a Buenos Aires e fale com o meu pai, se alguém o pode convencer a não revelar nada é ela.

— E Angie? Não vais atrás dela?

— Não, Ramalho. Não vou, por muito que me custe não o fazer.

— Não vais tentar que ela volte? Porquê?

— Não, não vou. Primeiro porque a percebo Ramalho, eu percebo a razão de ela se ter ido embora. E depois porque não sei onde ela está.

— Estás a dizer que não te chateia que ela se tenha ido embora com Clara?

— Não te vou dizer que não esteja magoado, mas percebo-a ela está a proteger Angélica, como eu fiz estes anos todos com a minha mãe. Nunca devia ter escondido nada disto, nem de Maria, nem de Angélica, muito menos de Angie…mas a verdade é que para mim era um assunto resolvido.

— Como resolvido?

— Desde aquela altura que eu nunca mais soube mais nada dessa filha…dessa minha...irmã...pensei que tudo estava no passado.

— Sim, eu percebo. E Clara? Que vais fazer em relação a Clara?

— Clara está com Angie, e sei que embora longe de mim ela está bem, e que seja como for que isto acabe, Angie não a vai afastar de mim.

— E Violetta? Ela vai-te fazer perguntas.

— Violetta. – E mostra a carta de Angie para Vilu – Ela vai saber que Angie saiu de casa até porque a saída de Angie e Clara é algo que não posso propriamente esconder.

— Angie não lhe contou o “porquê” de se ter ido embora, ou contou?

— Não, ela não escreveu nada. Nem sei bem porquê, depois de me dizer que estava farta de mentiras.

— Talvez para a proteger, ou porque acha que deves ser tu a contar-lhe.

— Sim, mas acho que até preferia que ela tivesse contado tudo. Angie tem razão as mentiras têm que acabar. - de repente toca o telefone - Mamã?

Ramalho sai, pois aquela é uma conversa que Gérmen deve ter sozinho. Este começa então a contar á mãe o que se passou com o pai: como o pai apareceu do nada inteirando-se de tudo o que aconteceu nos últimos anos, que ficara furioso e que acabou por lhe fazer chantagem para acabar de certa forma acabar com o seu casamento com Angie: ou acabava o seu casamento ou iria contar a Angélica a traição de Miguel com ela, e que havia uma filha desse relacionamento.

Depois contou-lhe que Angie ouvira por acaso a conversa, e ficara a saber de tudo: da traição do pai e da existência de Luzia; que tinha saído de casa com Clara para que José não contasse nada a Angélica e esta não sofresse.

Como de certa forma Angie estava a repetir o que ele fizera anos atrás: proteger a sua mãe como ele também o fizera com ela. Ele não censurava por tentar proteger a mãe, porque de certa forma ele também o fizera por muitos anos, que precisava que a mãe viesse a Buenos Aires para de certa forma impedir o pai de continuar com esta ideia maluca de contar a Angélica…

— Mamã, por favor tens que me ajudar.

— Ajudar-te? Como é que queres que faça isso, tu conheces o teu pai muito melhor que eu, sabes bem como ele é…o que posso eu fazer?

— Sim por isso mesmo, porque o conheço sei que só tu podes convence-lo...mamã, por favor só tu podes conseguir demovê-lo desta loucura.

— Eu, Gérmen! Não, se ele quer contar que conte...por mim tanto me faz.

— Mamã, eu vou perder a mulher que amo; já para não falar em Vilu. Como é que achas que ela vai reagir, vai-me odiar, e com razão mamã eu voltei a mentir-lhe, a guardar-lhe segredos.

— E pensas que eu não estou farta deste segredo. Gérmen, eu perdi o crescimento da minha filha, da tua irmã…da vossa irmã.

— Mamã, e por causa de uma mentira vossa eu vou perder a minha família… Angie tem razão em estar chateada, eu estou chateado com tudo isto, e Vilu…nem quero pensar, ela vai ficar arrasada.

— Gérmen eu até te consigo perceber, mas eu não vou a Buenos Aires. Desculpa mas resolve tu o assunto, contem o que tiverem que contar. A mentira acabou, há anos... pelo menos para mim.

— Mamã, tu tens estado com ela...tens estado com Luzia? Sabes onde ela está?

— Sim, sempre estive porque é que achas que sempre vivi em Espanha? Foi a forma que arranjei para estar perto dela sem que o teu pai desconfiasse.

— Mas nunca me disseste nada, porquê?

— Nunca te contei nada para que não tivesses que mentir mais. Sabias que ela mora em Sevilha, ela até já vos conhece: a ti, a Angie e a Vilu.

— A nós? Como?

— Ela vive em Sevilha…O Show de Vilu no ano passado…

— O Show do ano passado, claro…tu foste? Porque não disseste nada, se nós soubéssemos talvez nada disto tivesse a passar.

— No final de um espectáculo? Achas mesmo que seria o melhor momento, chegar ao pé de Angie e apresentar Luzia?

— Talvez tenhas razão, eu já nem sei o que digo…

— A ideia era apenas ver Violetta, ela não a conhecia e eu também nunca a tinha ouvido cantar assim ao vivo.

— E que achaste de Vilu? Tem a voz de Maria não tem?

— Sim está cada vez mais parecida com Maria, e está tão grande nem acredito no que cresceu.

— Sim por vezes quando a escuto cantar se fecho os olhos parece que estou a ouvir Maria cantar.

— Vilu é muito parecida com Maria, no palco brilha como ela brilhava.

— E quando de vez em quando me olha com aqueles olhos, os mesmos de Maria.

— Sim ela tem os mesmos olhos…mas o final foi surpreendente e confuso porque vocês são os dois irmãos de Luzia, foi algo…

— Vês, se isso foi confuso para ti, imagina para Angie como foi saber que tem uma irmã que é também minha irmã? Nem quero imaginar como Vilu vai reagir…por favor mamã vem a Buenos Aires.

— Gérmen já te disse que não. Ah! E quando contares a Violetta sobre Luzia podes dizer-lhe que os primitos são fãs. Luzia tem três filhos. Lindos, dois meninos e uma menina

— Primitos? Mamã eu estou com problemas e tu falas-me em primos?! Mamã, por favor. Eu não quero nem posso perder Angie.

— Já te disse que não vou para Buenos Aires, está fora de questão.

— Mas mamã…tu sabes que só tu podes acabar com esta loucura do Pai, por favor não me abandones neste momento.

— Gérmen, desculpa mas tens que ser tu a resolver isso com o teu pai. Dá beijos a Violetta e a Clara por mim.

— Eu não posso dar beijos a Clara mamã…porque ela não está, Angie levou-a…

— Gérmen eu tenho a certeza que ela não te vai proibir de a ver, ela vai-te perdoar, eu sei que sim.

— Mamã, ela não está zangada comigo, ela apenas quer defender Angélica de toda esta história.

— Gérmen está na altura de enfrentares o teu pai. Porque não deixas o teu pai contar tudo, se há uma coisa que Angie tem razão é que as mentiras têm que acabar, já houve muitas entre nós.

— Mamã, eu conheço-a ela nunca irá permitir que contem tudo isto a Angélica. E de certa forma eu percebo-a, eu também escondi toda esta história, não apenas para te proteger a ti mas também para não magoar Maria.

— Meu querido, está na hora de nos confrontarmos com o passado e reconciliar-nos com ele. E não estou a falar só de mim e do teu pai, falo também de Angélica e de Miguel. Agora tenho que ir, combinei ir ao parque com os miúdos.

— Mamã…Eu já te contei como tudo aconteceu, como passamos anos a negar o que sentíamos...e agora vou perde-la porque vocês...

— Não precisas de te justificar Gérmen, se são felizes não vou ser eu que te vou negar isso. E em relação a tua irmã já te disse que por mim o teu pai pode fazer o que quiser.

E assim que diz isto desliga, deixando Gérmen destroçado e angustiado. Ele sabe que neste momento não há nenhuma hipótese do pai contar seja o que for, mas também sabe que se assim é foi porque Angie tomou a decisão de se ir embora. Contudo, e o que mais o estava a despedaçar era saber que quer o pai contasse ou não ele iria perder tudo: Angie, Clara e até talvez a Violetta.

Assim que desliga Rosário vira-se para a Mercedes e suspira, como que a dizer "a mentira acabou". Nisto entra Luzia que ao ver a mãe e a tia com um ar algo estranho: estavam tristes mas ao mesmo tempo preocupadas.

— Mamã o que se passa?

— Nada filha…nada…

— Continuas a mentir muito mal Rosário…

— Mamã…aconteceu alguma coisa? Foi com Gérmen, ou foi Violetta?

— Nada meu amor, eles estão bem...

— Estão bem na medida do possível, depois do que aconteceu...- diz Mercedes, Luzia vira-se de novo para Rosário esperando uma resposta.

—  Não ligues à tua tia...ela está a exagerar...

— A exagerar...se tu chamas o sofrimento do teu filho um exagero...tudo bem...eu chamo outra coisa...

— Mamã o que se passou com Gérmen?

— Nada de muito grave,  não te preocupes. Gérmen ligou-me quer que vá a Buenos Aires. Parece que José lhe fez uma "proposta"...

— Tu chamas uma "proposta"...eu chamo um ultimato indecente e mesquinho até para o José...

— Mercedes chega...não é preciso pisares...eu mantenho o que disse a Gérmen, está na hora de ele enfrentar o pai. Sempre fez o que o pai quis...agora esta a colher o que plantou.

— O teu filho está a sofrer e tu só te preocupas com o que Gérmen fez ou deixou de fazer no passado...

— Mercedes... Sabes que sempre fui contra o Gérmen afastar Vilu da família de Maria, não estava certo...mas ele preferiu ouvir o pai...

— Gérmen errou sim, mas também se arrependeu. E depois tu como ninguém sabes bem como é o José, tu mais que ninguém conheces aquele homem: manipulador, cheio de ódio...

— Mas Gérmen tem que crescer...tem que começar a…

— O que Gérmen precisa é de ti, precisa da mãe...Será que o consegues ser para ele o que és para Luzia?

— Não estás a ser justa. Sempre tentei ajudar Gérmen e fazer-lhe ver o erro que ele cometera...

— Chega...parem por favor. Expliquem-me de uma vez  o que aconteceu.

— O José quer contar tudo sobre ti, a todos...

— Ele não quer contar querida...ele ameaçou contar tudo caso Gérmen não acabasse o seu casamento com Angie...Ele chantageou o próprio filho...deu-lhe 24 horas para decidir.

— Mercedes! Parece que Angie ouviu a conversa entre Gérmen e o pai e descobriu tudo; e para evitar que Angelica descubra alguma coisa resolveu ser ela a sair de casa...levando Clara com ela.

— E Gérmen quer que vás a Buenos Aires para o ajudares? Mas o que é que tu podes fazer?

— A tua mãe tem um poder mágico de conseguir evitar que o José faça o que quer e bem lhe apetece...não me perguntes como...

— Então tu vais certo? Mamã tens que ir, o Gérmen precisa de ti.

— O Gérmen precisa de resolver as coisas sozinho e enfrentar o pai.

— Sabes que o problema de Gérmen não é esse...sabes bem que não é. E se queres a minha opinião devias ir ajuda-lo. - diz mercedes.

— Qual e o problema tia, expliquem-me por favor...mamã?

— O problema não é propriamente o casamento de Gérmen com Angie...o problema de José vem de trás...do passado.

E Rosário conta a Luzia toda a história de Miguel, José e Angélica, do trio amoroso entre os três. Do que aconteceu quando Gérmen conheceu Maria, em como José se opôs àquele relacionamento por um ódio que já não mais fazia sentido. Mais tarde quando Maria teve o acidente acabando por morrer, aproveitando o desespero de Gérmen conseguiu afastar Violetta de Angélica e de Angie, como de certa forma o foi manipulando ao longo desse tempo.

— Mamã tens que ir ajudá-los. Por favor, se não o fizeres eles vão acabar por se separar e sofrer.

— Mas Luzia a decisão de sair foi de Angie. O que vou eu lá fazer? Vocês acham mesmo que ela vai querer falar comigo?

— Mamã...Gérmen é teu filho também e precisa de ti. E Angie também é minha irmã não quero que ela sofra mais.

— Mas tua achas que ela vai falar comigo…eu sou...

— É provável que ela não queira falar contigo, mas Gérmen precisa do teu apoio e se passar por tentar falar com Angie então deves fazê-lo.

— Está bem, tens razão eu vou tentar ajudar o Gérmen. Mas vai ser à minha maneira...sem mais mentiras, sem mais segredos. E a Angie vai ter que...

— Se já vais com essa atitude não vejo como é que essa conversa vai resultar...já vais a exigir, a reclamar isto e aquilo.

— A tia tem razão, não podes ir com essa atitude. Lembra-te que para a Angie também toda esta história não é fácil.

— Têm razão...as duas...sim desta vez até eu te dou razão Mercedes.  Mas não posso deixar que se continue com está mentira. Tu também tens direito de estar com os teus irmãos e com as tuas sobrinhas.

— Eu sei mamã, mas temos que respeitar o tempo de Angie para assimilar tudo isto. E obrigada por os ires ajudar.

E abraçam-se as duas. Rosário decide não dizer nada a Gérmen sobre a sua ida, irá de surpresa. Luzia fica feliz porque talvez pela primeira vez terá a hipótese de conhecer os irmãos, ou pelo menos de conhecer Gérmen; ela sabe que a relação com Angie vai ser mais difícil de construir: ela é a filha da traição do pai...e ela sabe que é algo complicado de ultrapassar. Por isso ela insistiu para que Rosário o fosse tentar ajudar, talvez assim fosse mais fácil ela e Angie terem uma espécie de relação de irmãs.

De qualquer forma uma coisa era certa toda a sua vida iria mudar, não iria mais ser uma estranha, uma desconhecida na vida dos irmãos.


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Notas finais do capítulo

Onde estará Angie é que todos eles se perguntam?
Será que Pablo consegue esconder onde está Angie? Logo ele que não gosta de mentiras?
Será que Rosário, a mãe de Gérmen pode fazer a diferença?



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