Violetta - O Recomeço escrita por Clarinesinha


Capítulo 6
Capítulo 3 - A Visita Inesperada (Continuação)


Notas iniciais do capítulo

E agora...que vai fazer José??
Continuação do capitulo anterior...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700241/chapter/6

Enquanto isso, Angélica levara José para sua casa; seria uma conversa difícil por isso não havia local melhor que em sua casa onde podiam falar á vontade e sem interrupções. Angélica entra para a sala e José segue-a, olhando para todas as fotografias reconhece em algumas Maria e Violeta, noutras a própria Angélica e Miguel, e de repente fixa-se numa de Angie com Violetta. Mas o que faria uma fotografia de Violetta com aquela "empregada" em casa de Angelica? E porque e que Violetta tiraria uma foto com ela? Perguntava-se ele a si mesmo, Olga já não era propriamente uma empregada ela já fazia parte da família, ela cuidara de Vilu depois da morte de Maria, ajudara Gérmen em tudo...mas aquela "rapariga" era...uma estranha.

— Esta casa é tua? E estas fotografias? Porque é que estão cá fotografias de Violetta com aquela empregada, a que me abriu a porta em casa do Gérmen?

— Esta casa não é bem minha…mas sim eu vivo cá. E já te respondo a todas as perguntas, a conversa vai ser longa por isso senta-te por favor.

José assim fez e Angélica começa por lhe contar como durante todos os anos em que Gérmen esteve no estrangeiro, tentando fugir do passado, quer ela quer Angeles os procuraram incansavelmente; que sempre ele fugia no momento exacto em que elas os encontravam; em como Gérmen voltou para Buenos Aires porque Angélica os tinha encontrado em Madrid. Como Angeles por acidente acabou por ser contratada por Gérmen para ser perceptora de Violetta, em como esta aproveitou essa oportunidade para estar mais próxima dela sem que Gérmen soubesse quem ela era na verdade, dando assim a hipótese a Angeles de a conhecer, de estar junto de Violetta.

 - Ela mentiu a Gérmen e a Violetta? Ela não tinha esse direito, ela devia ter tido quem era.

— Ela não mentiu, ela foi apanhada de surpresa por Gérmen...atrapalhou-se e acabou por…ela não mentiu, omitiu.

— Omitiu?! Que era a tia de Violetta? Ela mentiu, e não tinha esse direito.

— José, e Gérmen? Tinha o direito de nos afastar da vida de Violetta?

— Ele estava a sofrer…a morte de Maria foi dura para ele.

— Todos nós sofremos com a morte de Maria. Era minha filha, e Gérmen afastou-me da minha neta, da única coisa que me ligava á minha filha.

— Tinhas que agradecer ao teu “marido”, foi Miguel que a matou, foi ele que a obrigou a ir aquele concerto, ele só via a fama, o prestígio, o dinheiro. Ele não pensou na nossa neta, em Violetta que precisava da mãe. Ele, António e o raio da música...

— Não posso estar a ouvir bem, não podes estar-me a dizer isto José...

— Digo sim, porque é a verdade. Foi Miguel que tentando fugir de algo matou a vossa filha. A tua filha.

— O Miguel quis cancelar o espetáculo, foi Maria que não quis. Ela amava o que fazia, e Gérmen sempre soube no fundo que ela jamais desistiria da música. Era a sua vida: a musica, Gérmen e Vilu.

— Ela desistiu de Gérmen e de Violetta no momento em que decidiu ir fazer aquele concerto… abandonou-os, trocou-os pela...pela...

— José, Maria nunca desistiu, nem abandonou Gérmen e muito menos Violetta. A música era parte dela, e o teu filho conhecia o suficiente de Maria para saber disso quando se casou com ela.

— Ela desistiu sim. Maria traiu a Gérmen e a Violetta com a música. Como tu um dia me traíste, como Miguel me traiu.

— Eu nunca te traí José, nem o Miguel. Não podemos evitar por quem nos apaixonamos principalmente quando somos jovens

— Traíram sim. Quando ele sabendo que eu gostava de ti se aproveitou, e tu...tu escolheste-o a ele.

— José, mas eu não te amava a ti…eu amava o Miguel, nós nunca te quisemos magoar.

— Talvez tu não, mas o Miguel, ele traiu-me sim e por duas vezes. – Angélica ficou algo séria, mas continuou a conversa tentando abstrair-se do que José acabara de dizer sobre Miguel o ter traído duas vezes.

— Não gosto que fales assim de Miguel; e verdade ele tinha os seus defeitos, e não eram poucos, eu tenho perfeita noção disso, mas eu amava-o. Depois tu também tens uns tantos defeitos.

— Esquece, esquece…a questão aqui é que vocês as duas enganaram Gérmen e Violetta.

— Não, nós não enganámos ninguém. Angeles apenas aproveitou um engano de Gérmen para se aproximar de Vilu e conhecê-la sem que Gérmen desaparecesse de novo com ela.

— E ainda colocas as culpas em Gérmen…quando foi a tua filha que se disfarçou e enganou os dois…

— Não a culpa não foi só de Gérmen, e na verdade não foi o mais certo. Quando eu soube o que se estava a passar também achei errado, mas a realidade é que se Angie dissesse quem era Gérmen teria fugido de novo.

— Pelo menos sabes que não foi correto, que enganaram o meu filho e que enganaram Violetta...mas não fizeste nada...

— Eu própria depois de Violetta ficar a saber quem éramos tentei que elas contassem tudo; mas a nossa neta pediu-me que não o fizesse. Ela tinha medo que Gérmen nos afastasse dela de novo.

— E tu cedeste a um delírio de uma menina…a um capricho?

— Não era capricho, era receio de ser afastada da sua família, de uma Avó e de uma tia que nunca soubera que existiam.

Angélica começa assim a contar como se reencontraram com Violleta; como ela começou a estudar música, primeiro piano com Beto e depois porque percebeu o que faria feliz inscreveu-se no Estúdio e começou a estudar canto e dança e fizera imensos amigos que a adoram e respeitam; em como tanto se parecia com Maria: a sua voz, a sua presença em palco, a sua força e dedicação tudo tão parecido a mãe; como escondera tudo do pai com a ajuda de Angie e mais tarde ate de Ramalho e de Olga que apenas a queriam ver feliz.

— O Ramalho e a Olga também participaram nesta conspiração contra Gérmen...mas afinal todos o enganaram.

— Porque sabes muito bem que  Gérmen a ia proibir. E depois Vilu teve medo de o magoar, ela sabia que o pai não gostava que  ela cantasse por causa de Maria...e foi adiando ate que um dia rebentou.

Conta-lhe então do concurso da Youmix que Vilu ganhou e em como Gérmen se inteirou de tudo. Que nesse mesmo dia Gérmen decidira viajar de novo...mas que graças a Angie ele acabou por perceber o enorme talento que Vilu tinha e que ela apenas era feliz a cantar, e que neste momento a apoia na sua vocação. Contou-lhe também que foi graças a Gérmen que o Estúdio não fechou as portas depois de António ter morrido, que ele ajudara na compra do edifício, e se envolvera na gestão do mesmo. Por fim chegava á parte do casamento de Angeles com Gérmen, ela sabia que seria o mais difícil de contar e nem sabia bem como iniciar essa parte da conversa, mas também sabia que José iria ter muita dificuldade em aceitar.

— Já entendi, vocês conseguiram aproximar-se de Violetta, fazer com que ela seguisse os passos da mãe, apesar de todo o esforço que Gérmen fez para o evitar.

— José tens que a ouvir. Garanto-te que assim que a ouvires deixas de pensar assim…por favor dá-lhe uma oportunidade como o teu filho fez.

— Nunca, e agora que eu estou cá isso vai acabar. Vocês entraram na vida de Gérmen e de Violetta e pensam que podem alterar tudo…

— José, ela tem a música na alma, nasceu com ela. Não vais conseguir que ela o deixe de fazer.

— Sim, sim sempre a mesma história. Foi assim que o Miguel convenceu Maria a ir naquela viagem: o talento, a vocação...e deu no que deu.

— José, agora quem está a magoar alguém és tu, a mim. Fui eu que perdi uma filha, o meu marido, perdi anos de crescimento da minha neta.

— Tudo por causa da maldita música…e agora estás a dizer-me que a minha neta está a seguir os passos da mãe.

— José…a música não teve nada a ver com a morte de Maria, e depois Violetta, a nossa neta, é feliz a cantar...

— Não, vocês as duas conseguiram dar a volta a Gérmen fizeram com que ele aceitasse tudo…

— José, Gérmen é bem crescidinho para se deixar influenciar…ele apenas percebeu o que fazia Vilu feliz…

— Não, ele nunca iria permitir…

— Gérmen percebeu que a música nasceu com a Vilu, é algo natural nela… e ninguém pode contrariar a sua natureza.

— Não, depois do que ele lutou para que Violetta não seguisse os mesmos passos da mãe…

— Ele lutou? Ou foste tu que sempre lhe fizeste a cabeça? José, tu no fundo sabes que foste tu que fizeste com que Gérmen se afastasse e nos levasse a Violetta.

— Não Angélica, eu apenas lhe abri os olhos para evitar que acontecesse a Violeta o que aconteceu a Maria.

— O que aconteceu foi um acidente: foi horrível, doloroso para todos.

— Para todos...não foi doloroso e horrível para Gérmen e para Violetta.

— Achas que eu não sofri, o Miguel, a Angeles. Todos nós perdemos alguém importante na nossa vida: uma esposa, uma mãe, uma irmã, uma filha...não me digas que nós não sofremos todos. Depois mais cedo ou mais tarde os olhos de Gérmen iriam abrir de novo.

— Abrir os olhos, como assim? O que queres dizer com isso?

— Ele iria perceber que Violetta tem o mesmo dom de Maria, está-lhe no sangue não o pode evitar.

— O mesmo dom, ou a mesma triste sina?

— José! Não podes estar a falar a sério…Maria tinha um dom e Vilu também nasceu com ele...

— Não posso! Posso sim, sempre foi uma triste sina, a carreira da tua filha sempre foi uma desgraça na vida de Gérmen.

— Gérmen nunca algum dia pensou isso da carreira de Maria, ele adorava ouvi-la cantar.

— No início acredito que sim, que Gérmen não se opusesse Maria encantava com a sua voz mas depois de Violetta nascer...

— E depois o teu filho também estudou música no Estúdio em Sevilha. Não percebo porque falas da música dessa forma, como algo ruim….

— Em relação a Gérmen e à música felizmente consegui impedir essa maluquice…

— Lembro-me tão bem eles chegaram a cantar e tocar juntos; os serões de Natal cheios de música, de alegria, de risos; as festas de anos cheias de música…

— Risos, Alegria…que se transformaram em quê? Em lágrimas e tristeza.

— José por muito que o queiras negar Violetta tem a música a correr-lhe nas veias, ela nasceu com esse dom, e nem tu nem ninguém o podem evitar. Mesmo que tentes não o vais conseguir.

— Posso sim e vou fazê-lo podes ter a certeza que isso vai acabar. E Gérmen nunca o devia ter permitido, não depois do que sofreu com a morte de Maria.

— Mesmo com toda a dor que sentiu na altura da morte de Maria, ele sabia que a música era o que a fazia completa.

— Não Gérmen pensou que depois de terem Violetta ela acabasse por deixar a música…ele disse-mo.

— Talvez, e acredito que Maria o deixasse, mas neste momento não vale a pena estarmos a pensar no que poderia ter acontecido.

— Não, nisso tens razão. Neste momento tenho que pensar no que fazer para remediar o que tu e a tua filha fizeram.

— Por favor, tens que aceitar as coisas como são, e a verdade é que Violetta ama cantar, tal como Maria.

— Sim, sim isso eu depois resolvo mais tarde com Gérmen…mas há uma única coisa que ainda não percebi – e nisso pega na fotografia de Angie com Violetta – esta fotografia?

— A fotografia de Angie e Violetta?

— Angie pelo menos tem nome. E porque é que tens tantas fotos dessa empregada...com Violetta?

E reparou que havia muitas fotográficas onde estavam Violetta e essa tal de Angie: umas sozinhas, outras com Gérmen e outras ainda com Angélica.

— Agora percebo a forma como lhe falaste…claro tu não…José, esta é Angeles, a irmã de Maria, minha filha.

— Esta é Angeles? Mas foi quem me abriu a porta, eu pensei que…então a criança que estava ao colo de Olga, é tua neta? É filha de Angeles?

— Sim é a Clara, e não é «minha» neta… – pensando que não teria outra oportunidade para lhe contar sobre o casamento de Angie com Gérmen, ou falar-lhe de Clara, Angélica não perde tempo - …é «Nossa» neta.

— É o quê!? “Nossa” neta? Que conversa e essa...

— Sim, e nossa neta. Angie e Gérmen casaram, faz um ano já. E aquela bebé que Olga tinha ao colo é Clara, a nossa neta.

— Gérmen o quê? - José parecia "doido", ele não poderia crer…Gérmen caíra de novo na mesma "armadilha".

— Gérmen e Angie apaixonaram-se e casaram…e tiveram Clara…ela é nossa neta. Temos duas netas lindas José…e ao fim ao cabo não é isso que é importante…a felicidade dos nossos filhos?

— Não, não…eu não vou permitir...não vou mesmo...

— Eu sei, que deve ser tudo muito estranho, eu própria fiquei contra essa paixão no início. Quando me apercebi que Angie se apaixonara por Gérmen tentei impedir, tentei afastá-la…falei com ela mas...

— Falaste com ele? Tentaste separá-los? Devias ter afastado a tua filha de Gérmen, isso e que devias ter feito.

— E tentei, mas ela disse-me que apesar de o amar ele estava com outra pessoa e que eles nunca iriam ficar juntos.

— E tu acreditaste? E não fizeste nada para os manter separados?

— Sim acreditei, para além disso Angie acabou por se afastar foi viver para França durante algum tempo, eles próprios negaram o que sentiam durante muito tempo.

— Estás-me a dizer que aceitaste esta relação assim? Que não fizeste nada para a impedir? Que estás feliz?

— Sim José estou feliz. Eles amam-se e acima de tudo eu quero a felicidade da minha filha. Quando começaste a tratar Angie como empregada calculei que Gérmen não te tivesse tido nada.

— Não! Tenho que ir falar com Gérmen, ele não pode repetir o mesmo erro. Eu não vou permitir, esse casamento vai acabar hoje.

— José…onde vais?

Mas ele sai a correr, furioso. Angélica ainda pensa em ir atrás dele, mas naquele momento ela pensa em tudo o que José lhe disse: na sua juventude, no amor que tinha por Miguel, na sua tristeza após o acidente de Maria, porque apesar de nunca lhe ter tido nada ela sabia que também ele se culpava pela morte de Maria. No sofrimento que eles tiveram no dia em que souberam que Gérmen fugira com Violetta, na tristeza que Angeles teve ao longo de todos estes anos: a morte da irmã que ela via como uma mãe, o afastamento da sobrinha que ela via como uma irmã; mas sobretudo no desprezo com que o pai a tratava após todas estas fatalidades. Apesar de tentar animá-lo com as suas músicas, Miguel desprezava todas as tentativas que Angie tinha de se reaproximar do pai. Angélica fez o possível para que esta continuasse o seu sonho apesar de saber que ela sofria, tentou falar com Miguel sobre Angie, que ela ainda estava com eles, que necessitava dele e que tentava agradar-lhe com tudo o que conseguia. Mas ele mergulhara num abismo, que nem Angélica conseguia lá chegar, até que um dia chegou ao fim…e nesse dia ela não estava lá, quem estava com Miguel era Angie. Ela tinha na altura a idade de Vilu, e a morte do pai foi muito dura para Angie e foi graças á musica e a Pablo que ela a conseguiu superar.

Quando Gérmen entra no quarto Angie está deitada, ele deita Clara junto dela, e esta instintivamente faz o que todas as mães fazem quando veem o seu bebé...sorriem. Ao ver aquele sorriso Gérmen não pode deixar de sorrir também, o amor que Angie transmite por Clara e por ele naquele sorriso era enorme, e naquele momento ele percebe que nada do que o pai pudesse vir a dizer ou fazer iria alterar o que ele sentia por ela. Ele amava-a, mais do que ele próprio poderia pensar ou sonhar…e Clara era o fruto desse amor imenso que eles sentiam, e que durante tanto tempo ambos o negaram e que afinal era tão óbvio…tão certo.

— Angie…como estás meu amor?

— Melhor agora que estás aqui. Como está Olga? Já percebeste quem era aquele «Homem»?

Gérmen senta-se junto de forma a que esta se recoste nele, e durante algum tempo deixam-se estar assim, aninhados um no outro olhando para Clara que brincava com as mãos de Gérmen

— Olga está com Ramalho, está melhor...e sim já sei quem ele era.

— E então, afinal quem era ele? Com quem é que a minha mãe saiu?

— Era…a tua mãe saiu daqui com o meu pai.

— Com o teu pai!

— Sim…

— Espera…ele pensou que eu era…ele não sabia de nada pois não. Sobre o nosso reencontro com Vilu, o nosso casamento, o nascimento de Clara. Claro, a minha mãe percebeu logo…

— Sim a tua mãe deve ter percebido que ele não sabia de nada. Eu tentei encontrá-lo para lhe contar, mas não consegui estava sempre a viajar em negócios…

— Gérmen tu disseste-me que falarias com os teus pais, para que não houvesse problemas...sabes bem como e que a minha mãe reagiu no principio, tu prometeste-me que...

— Eu sei, e Angie eu tentei falar a sério. Falei com a minha mãe, contei-lhe tudo, mas o meu pai, não o consegui descobrir, e confesso-te que depois acabei por me esquecer.

— Gérmen, ele estava furioso e nem sabia do nosso casamento, ele estava furioso só porque viu a minha mãe cá em casa, eu nem quero pensar quando...

— Desculpa-me, sei que prometemos não mentir, e eu não menti, a verdade é que me esqueci, e depois falar com o meu pai é…bem é complicado…muito complicado.

— Por muito complicado que seja, agora vais ter que falar com ele.

— Sim eu sei. E sei que devia ter tentado ligar-lhe mais vezes. Agora vai ser...uma conversa difícil.

— Mas vais ter que o fazer. O que não percebo é o que foi a minha mãe fazer com ele? Depois do que ele lhe disse...

— Não sei, acho que isso só ela te poderá responder. Mas talvez tenha sido a forma que ela arranjou de evitar alguma confusão maior. Depois tu estavas tão nervosa, a Clara estava a chorar, a Olga naquele estado...

— Mas a forma como a minha mãe falou com ele…foi estranha.

— A tua mãe conhece o meu pai...- Angie fez-lhe uma cara como que a dizer que era obvio que ela o conhecia, afinal fora o sogro de Maria...-  muito melhor do que possas pensar.

Gérmen conta-lhe toda a história de Angélica, Miguel e José. Angie estava incrédula, ela nunca ouvira nada sobre tudo aquilo que Gérmen lhe contava, parecia algo tirado de um romance: os melhores amigos que se apaixonam pela mesma rapariga. Toda esta história tinha ficado esquecida no passado, até porque nenhum dos dois procurara fazer as pazes, mas Maria e Gérmen conheceram-se e tudo veio de novo á memória. Nem José nem Miguel aceitaram o envolvimento de Maria com Gérmen e bem tentaram demove-los e separa-los, mas o amor deles era mais forte e tiveram também a ajuda das suas mães que achavam toda aquela “guerra” infantil. Aos poucos Maria conseguira falar com seu pai e fazê-lo ver que nada a poderia separar de Gérmen, Angélica também ia tentando que este mudasse de opinião, e aos poucos Miguel começou a aceitar o namoro, até porque via a sua filha feliz e isso bastava-lhe no fim de contas. Mas José nunca aceitou, ele estava com tanto rancor, ressentimento, mágoa de tudo o que tinha sucedido no passado que não conseguia ultrapassar esses sentimentos e aceitar o amor dos dois, apesar de ver o seu filho tão feliz. Angie nem sabia o que pensar, a sua mãe fora amada por dois amigos e anos mais tarde os filhos destes apaixonavam-se também, era surpreendente como a história das suas famílias estavam tão ligadas. Como tantos anos mais tarde, tudo se podia repetir, mas qual seria o final desta vez? Ela sabia que Gérmen a amava, e havia Clara; mas seria Gérmen capaz de ir contra o pai de novo? Seriam eles capazes de enfrentar tudo o que vinha aí?

 - O teu pai nunca irá aceitar o nosso casamento? - pergunta Angie.

— Não te vou mentir, vão ser dias difíceis. O facto de Violetta estar a seguir os passos de Maria também não vai ajudar.

— Ele também não queria que ela seguisse os passos de Maria, como tu?

— Bem, na verdade o meu pai nunca aceitou o meu casamento com Maria, e muito menos carreira que ela tinha.

— Porquê? Tu sempre o aceitaste…pelo menos do que me lembro.

— Ele não gostava do teu pai, e tudo o que fosse ligado ao teu pai era como “veneno”. Quando conheci a tua irmã ele fez-me a vida num inferno, ele sempre achou que o teu pai só via a fama e o dinheiro que a carreira da tua irmã lhe dava. Mas eu sabia que Maria amava o que fazia, e que se fosse necessário colocaria o teu pai no lugar.

— Sim não havia ninguém como Maria para colocar o meu pai a fazer o que não queria, nem a minha mãe o conseguia tão depressa como ela.

 - Depois quando a tua irmã morreu, eu perdi o rumo, e bem reagi como reagi…

— Quando nos afastaste de Vilu: culpando-nos a nós e ao meu pai.

— Eu nunca poderei recuar no tempo e dar-vos o que vos tirei a ti, á tua mãe e também a Vilu. Sei que errei que nunca o devia ter feito...mas na altura deixei-me levar pelo que sentia…

— Gérmen...- e dando-lhe um beijo suave na mão dele acrescentou - Eu sei, hoje sei que o fizeste para proteger Vilu…

— No meio de toda a dor que estava a sentir…deixei-me levar também pela amargura do meu pai. Sei que fiz mal, mas na altura senti que era a única forma de proteger Violetta.

— Já te disse que percebo...tu quiseste proteger Violetta, e proteger-te a ti...podes parar de sofrer por isso; ate porque nós já te perdoamos: eu, Vilu e até a minha mãe...à sua maneira.

— Bem nessa altura o que mais me consumia era o facto de a música ter sido o motivo pela qual a tua irmã teve o acidente. Assim impedi que Vilu tivesse contacto com ela…

— Mas ela nasceu para cantar, está-lhe no sangue. Ela nunca poderia ir contra o que ela é.

— Eu sei, e demorei muito tempo para me aperceber disso, foi preciso tu abrires-me os olhos para o ver e principalmente para o sentir: sentir que a minha filha é feliz a cantar, e que ama o que faz tal como Maria.

— Gérmen, o que é que o teu pai vai fazer quando souber de tudo: o nosso casamente, o facto de Vilu ter seguido os passos de Maria; isto se já não souber porque a minha mãe deve ter-lhe contado alguma coisa.

— Não te preocupes, já te disse. Nós já passamos por tanto para estar juntos…e vamos lutar juntos contra isto.

— Sim isso é verdade. – E começam a lembrar-se de todas as mulheres que passaram pela vida de Gérmen: Jade, Esmeralda, Jade de novo, Priscila e Jade...

— Eu amo-te, a ti e a Clarita, e nada nem ninguém nos vai afastar um do outro…- e beija-a na testa como que a tentar sossega-la.

— Juras? - Pergunta uma Angie algo insegura.

— Juro. - Responde Gérmen, dando-lhe um beijo na testa como que a tranquiliza toda aquela ansiedade.

— Amo-te Gérmen…nunca te esqueças...Amo-te.

— Eu também te amo…e a ti também princesa – virando-se para Clara que continuava a brincar ora com a mão de Gérmen, ora com a sua própria mão.

Enquanto Gérmen e Angie se mantinham no quarto, Vilu na sala conta a Leon resumidamente a relação que tinha com o seu Avô e como também este sempre a proibira de fazer qualquer referência á mãe ou á música. Hoje tudo lhe fazia muito mais sentido, se bem que ela nunca percebera toda esta raiva do avô para com Maria, a música e a família da mãe...de onde viria todo aquele ódio, havia alguma coisa que não lhe estavam a contar, que lhe estavam a esconder.

— Hoje percebo muitas coisas que se passavam e que na altura apenas me pareciam estranhas.

— Como assim estranhas? Vilu ele não te deixava falar da tua mãe, era um bocado mais que estranho, não?

— Sim tens razão, hoje eu vejo isso. Mas naquela altura eu pensava que era para não magoar o papá, ele ficava tão triste quando eu falava na mamã.

— E a música? Não podias cantar por causa da tua mãe? Não há mais qualquer coisa...

— Sim, acho que sim. O avô nunca gostou que a mamã tivesse a carreira de cantora. Ele...bem vamos dizer que a relação dele com a música era muito desafinada e não me perguntes porquê...eu não sei.

E aproveitando que estavam sozinhos acabam por dar largas ao seu amor. De repente tocam á porta Vilu vai abrir, uma vez que Olga continua a descansar, quando abre depara-se com o avô. Violetta sabe que o ele vem arranjar problemas, que nunca irá aceitar nada do que se passou: o casamento do pai com Angie, a sua carreira na música, o seu namoro com Leon e nem mesmo o nascimento de Clara...

— Avô! - José entra sem se quer esperar que o convidem.

— Violetta! Linda como sempre, e como tu cresceste.

— Olá Avô…obrigado acho eu...

— O teu pai está, preciso falar com ele, tenho que lhe fazer ver o erro que ele cometeu.

— O papá está no quarto…mas não estou a perceber avô, de que erro estás a falar?

— E tu minha menina também vamos ter que falar…

— Queres falar comigo, o que foi que fiz?

— Sabes bem do que estou a falar, resolveste afrontar o teu pai.

— Afrontar o papá? Avô a sério não estou a perceber do que estás a falar.

— Sabes sim, eu soube pela tua avó: cantar, dançar! Sabias que estavas proibida? Tu sabes que sempre te protegemos desse…desse vício.

— Ah! Já sabes. Avô eu posso explicar…e que...

— Sim já sei, e não quero explicações. Esta vergonha vai acabar de vez agora; ai vai, vai.

— Mas o papá já não se importa, ele até me ajuda a compor…e depois eu já não estou a estudar música, eu agora dou aulas de música.

— TU O QUÊ? A culpa toda deve ser de Angeles, foi ela que te colocou essas ideias malucas na cabeça e enganou o teu pai também; mas vou ter uma conversa com o teu pai, isto acaba hoje. Dar aulas de música...tu...nem pensar...

— Avô, não podes falar assim de Angie. E depois nem que o papá me amarrasse eu iria deixar de ser quem sou: “Cantar é o que eu sou”...

— “Cantar é o que sou”, de onde tiraste essa frase? Foi ela...de certeza foi ela que te disse uma barbaridade dessas...

— Ela...estás a falar de Angie? Não, enganas-te não foi ela e não gosto que fales assim de Angie. Esta frase era da mamã...- José fica algo confuso, mas Vilu logo acrescenta...- Li no seu Diário.

— Claro mais uma coisa que de certeza Angeles te deu para te dar a volta à cabeça…Mas isto não fica assim, não fica não...

— Avô, Angie não fez nada. E depois tu e o papá também me mentiram durante mais de 10 anos.

— Violetta!

— O quê? Não me mentiram sobre  eu ter uma outra avó, uma tia? Sobre o facto de haver coisas da mamã escondidas nesta casa?

— Tu nunca me falaste assim! Mas isto vai mudar, ai vai, vai. O teu pai nunca devia ter voltado para Buenos Aires, para esta casa. Eu sempre lhe disse que era uma má ideia voltarem para cá.

— Só porque te estou a dizer as verdades...Avô por favor, nós somos felizes, somos a família que nunca tive…por favor não destruas tudo, não destruas a minha família.

— Deixa de me responder e vai buscar o teu pai. - e de repente dá-se conta da presença de Leon, que esteve junto de Vilu sem dizer nada.-  E este, quem é?

— É Leon, o meu namorado – e vendo a cara do avô acrescentou - Sim, sim tenho namorado...

— Violetta estou a tentar falar contigo a bem. És capaz de ir chamar o teu pai? Eu vou andando para o escritório; e esse menino é melhor ir-se embora.

— Avô…

— Vilu...- Leon tenta acalmar as coisas antes que algum deles diga algo que não queira...- É melhor fazeres o que o teu avô te está a pedir. Eu vou levar as partituras ao Pablo, ligo-te mais tarde.

— Mas Leon...- mas este com um olhar determinado faz-lhe ver que e melhor naquele momento não levantar mais ondas...- Esta bem, falamos mais tarde. Falas com o Pablo, quando der eu vou ao Estúdio.

— Está descansada eu falo com o Pablo. Até logo...Amo-te…

— Violetta! É preciso ir eu buscar o teu Pai…- diz José encaminhando-se para o escritório.

— Avô, por favor...- e virando-se para Leon de novo...- Eu também te amo…ligas-me depois? – Leon acena e despedem-se com um beijo.

Violetta encaminha-se então para as escadas e subindo até ao quarto de Gérmen e de Angie, sente que algo muito grave está prestes a acontecer. Ela não sabe bem o quê, mas e como se sentisse que tudo pelo qual ela lutou vai ser destruído. Como não sabe se Clara está a dormir, bate muito ao de leve e abre a porta muito devagar. Quando a vê, Gérmen manda-a entrar sem fazer barulho pois Angie estava a  dormir, e Clara ao contrário do que ela pensara estava acordada, deitada junto de Gérmen.

— Papá…desculpa, mas o Avô está cá. Chegou há pouco…e...

— Está cá? Ca em casa?

— Sim, está no escritório, quer falar contigo. Está furioso, nunca o vi assim.

— Está assim tão furioso? Mas ele disse-te alguma coisa?

— Sim papá. Para além de me ter chamado mentirosa, caprichosa, insolente, bem não por estas palavras mas deu a entender. Acho que nunca o vi assim, nem quando tinha aquelas discussões com a Avó Rosário…

— Bom, é melhor ir ter com ele...antes que ele suba.

Vilu está preocupada, ela sabe que o avô consegue tudo o que quer, e neste momento ele quer acabar com o casamento do pai e de Angie. Ela nem quer acreditar, estavam tão felizes os quatro; finalmente ela tinha uma família, finalmente conseguira o que sempre sonhara um lugar onde pudesse sentir-se em casa, que fosse o seu lar. Tinha uma família com o pai, com Angie e com Clara. A Angie, a sua Angie...era muito mais que a sua tia, era a sua melhor amiga, sua irmã...era uma mãe, aquela que Vilu nunca tivera durante tantos anos. E era tudo tão perfeito, quem mais do que Angie para ser a sua "Mãe". E agora chegava o avô e tudo o que ela um dia sonhara estava-se a desmoronar a sua volta como um castelo de cartas que com a brisa é derrubado. Gérmen percebeu a preocupação de Vilu…e percebia bem porque ele próprio o estava.

— Não estejas com essa cara...- diz-lhe Gérmen percebendo toda a sua preocupação na sua expressão...- O teu avô ladra mas não morde.

— Tens a certeza...- e depois de se abraçarem os dois...- Papá, diga o que o avô dizer tu não vais deixar a Angie pois não? Tu não podes, papá...

— Vilu, deixa de pensar nessas coisas...claro que não vou deixar a Angie. Nós os quatro somos uma família.

— Papá, é que acho…acho que o Avô vai tentar separar-vos. Não deixes por favor…eu não quero perder a “minha” família…

— Não te preocupes. Nada do que o teu Avô me diga nos vai separar.

— Mas papá…

— Vilu, não te preocupes. E agora deixa-me ir falar com o teu avô, sabes que ele gosta pouco de esperar.

— Papá…

— Vilu preciso que tomes conta da tua irmã, Angie precisa de dormir e eu preciso de ir falar com o teu avô.

— Sim, vai...eu levo Clara para o meu quarto para que Angie descanse.

— Obrigado meu amor.

Dando-lhe um beijo na testa, Gérmen sai do quarto. Vilu pega em Clara e segue para o seu quarto, deitando-a na sua cama vai-lhe dizendo que irá protegê-la de tudo e que não vão separar a sua família. Começa a pensar no Avô, que apesar de todos os defeitos e resmunguices ela aprendera a amar durante todos aqueles anos em que pensou ser a única família que tinha; mas apesar de o amar não entendia, não percebia o porquê de todo aquele rancor. Ela sabia que em novo ele gostara da Avó Angélica, mas seria apenas esse o motivo de todo aquele ressentimento. Violetta estava disposta a ir contra ele para defender a “sua família”, para defender Angie e Clara.

Gérmen desce as escadas, pensando na conversa que vai ter com o pai, apesar de tudo, ele sabe que o pai tem alguma razão, ele devia ter tentado ligar-lhe mais vezes para contar sobre tudo o que acontecera ao longo dos últimos anos. Porém ele sabia que a conversa iria ser sobre muito mais: o regresso de Angélica e de Angie na vida de Violetta; o facto de esta estar a seguir os mesmos passos de Maria; o seu casamento com Angie e o nascimento de Clara. Tanta coisa que ele ocultou, não por receio ou para evitar discussões, apenas porque a vida foi andando e ele acabou por se esquecer, por deixar passar. Respirou fundo e entrou no escritório.

— Gérmen…acho que temos muito que conversar...

— Papá. Sim penso que temos muito que conversar...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem...por favor...



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Violetta - O Recomeço" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.