CAPÍTULO 3

Assim que chegamos em casa mamãe foi correndo pra cozinha dizendo que se não começasse logo a cozinhar não teríamos a janta pronta antes da meia noite. O que é estranho já que eram apenas oito horas.

Enquanto isso eu e minha irmã ficamos sentadas no sofá, cada uma em seu próprio mundo, perdidas dentro de nossos pensamentos.

—Angel, posso te perguntar alguma coisa?

—Claro – Respondi confusa – Por que não poderia?

—O que houve entre você e o Thomas?

—Nada, por quê?

Não gosto de mentir pra ela, mas não quero entrar em detalhes. E se ela também concordar com Thomas? Meu Deus, eu não saberia o que fazer, iria ficar arrasada. E se ela começasse a me odiar? Eu estaria perdida, pois não conseguiria viver sabendo que minha irmã me odeia por algo que eu não fiz.

—Hey! Anjo? O que houve? Por que esta chorando?

Merda de sensibilidade!

—Eu não estou chorando – Tentei contestar, mas minha voz saiu embargada.

—Serio Angel! Me fale agora o que aquele imbecil fez.

—Ele não...

—Angel!

—Ok – Suspiro – Ele achou que eu estava o traindo com o Pablo.

—Sério? Ele realmente não te conhece maninha, mas não precisa chorar por isso né?

—Não é por isso Luna.

—Então por quê?

Não respondi. Era doloroso demais pensar que, assim que ela se tocasse, poderia começar a me odiar eternamente.

—Você pensou que eu te odiaria não foi? – Assenti – Meu Deus Angel! Eu nunca.  Nunca seria capaz disso. Não quero que você pense isso de mim novamente ok?

Concordei e ela me puxou para um abraço que foi interrompido pelo meu telefone tocando. Então, sem dizer nada, me afastei e estiquei-me em direção à mesinha de centro.

—Alô?

—Posso saber por que a senhorita não me ligou?

—Por acaso o senhor sabe que eu não quero pagar uma conta de telefone muito alta?

—Ok, tanto faz, mas como é a Espanha?

—Não conhecemos muito ainda, mas o pouco que vimos é lindo. Juro que levo algo pra você Erick.

—Acho bom mesmo viu? Mas falando sério agora. Por que você esta com essa voz de choro heim?

—Deve ser porque eu estava chorando?

—Isso eu percebi, porém eu quero saber o motivo.

—Thomas ele...

—Nem termine essa frase. Ele falou que você o traiu com o noivo da sua irmã.

—Como...

—É a cara dele. Não precisa chorar Angel, ele é um idiota.

—É você já disse isso antes.

—Então deu de drama ok? Bom, tenho que ir se cuida.

***

Durante o jantar mamãe e Luna ficavam trocando olhares o tempo todo, o que ocasionou em clima bastante tenso e sempre que eu tentava puxar algum assunto ninguém me respondia, o que me deixou um pouco irritada.

Terminei de comer e fui lavar a louça, já que fui a ultima a sair da mesa. Estava terminando de secar os pratos quando Luna vem falar comigo.

—Angel gostaria de falar com você sobre o Erick.

—O que tem ele? – Perguntei sem tirar os olhos do pano.

—Ele faz parte da família.

—Isso eu sei né querida, te falo isso desde pequena.

—Não! Você não me entendeu. O que eu quis dizer é...

—Luna venha aqui agora! – Grita minha mãe.

Com o susto que levei acabei deixando o prato que secava cair no chão, fazendo com que ele quebrasse em milhões de pedaços e, um deles, acabou fazendo um pequeno corte em meu pé. Resmungando comecei a juntar os cacos torcendo pra não me cortar mais.

Assim que levantei dei de ombros ao ver que Luna não estava mais do meu lado e fui em direção ao quarto onde vou ficar nesses próximos meses. Estava quase abrindo a porta quando escuto vozes no quarto atrás de mim.

—Você precisa falar com ela.

—Falar o que Luna? Não tenho nada a dizer.

—A senhora a enganou a vida toda! Precisa contar a verdade.

Me aproximei lentamente e abri um pouco a porta deixando-a entre aberta.

—Já chega! Eu não irei contar, pelo menos não agora.

—E pretende contar quando?

—Assim que o Erick souber também.

Ouvi minha irmã dar risada.

—Espero que saiba que se for depender daquele lá o Erick nunca vai saber.

O que o Erick tem haver com isso?

—Não vamos falar dele, por favor, minha filha.

—Tudo bem, mas não demore a contar que o Eduardo não é o pai da Angel.  Ela não merece isso.

Eu ouvi direito? Minha irmã acabou de falar que a pessoa que eu sempre chamei de pai não é meu pai verdadeiro? Não, não pode ser.

Dei um passo para trás com a notícia e acabei tropeçando no tapete, o que chamou a atenção das duas para mim.

—Angel!

Corri em direção à sala peguei a minha bolsa e calcei minha sapatilha que estava num canto escondido.

—Meu anjo volte aqui.

—Me deixe em paz Luna.

Sai do apartamento sem deixar ela se explicar, desci os dois lances de escadas ao mesmo tempo em que ouvia minha irmã me chamando. Assim que boto o pé na rua vejo um taxi parado e não penso duas vezes em entrar no mesmo.

—Me leve ao Hotel Le Concorde — O taxista assentiu e ligou o carro.

Por mais que eu esteja chateada com Thomas ele é a minha ultima salvação, tenho certeza que ele não ficará chateado comigo e que iremos nos acertar fazendo com que tudo volte a ser exatamente como era antes.

Quando o taxi finalmente chegou paguei o motorista e desci dando de cara com uma porta de vidro, me aproximo mais e consigo ver Thomas de costas o que me da certo alivio em saber que não precisarei fazer tanto esforço para convencê-lo a me deixar subir para seu quarto. Porém toda essa sensação vai embora quando vejo braços finos envolver seu pescoço.

Abro a enorme porta do hotel a tempo de ver Thomas erguer uma loira e prensa-la contra a bancada num maior amasso.

Fico encarando eles até que a mulher loira abre os olhos e me vê.

—Pois não? Posso ajuda-la?— Pergunta com a maior cara de pau.

Thomas se vira e, quando me vê, arregala os olhos.

—Angel eu...

—Acabou Thomas, acabou. E, por favor, não me procure nunca mais – Digo com a voz fraca devido às lágrimas que insistiam em cair contra a minha vontade.