20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 6
Capítulo 5




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/700178/chapter/6

“Agora a turma está completa! Chegou o japonês e o ex-gorducho, podemos começar as brincadeiras!”

“Paulo Guerra, sossega pelo amor de Deus.” Alicia repreendeu o marido pela milionésima vez no dia. “Senhor, ele está pior que o Lucas hoje.”

“O Mário também está cheio de graça.” Riu Marcelina, dando pedacinhos de pão para a filha. “Sabe como é? Eles se encontram e voltam a ser crianças.”

“Eu gosto, sabe? De lembrar de quando a gente era criança.” Valéria sorriu para as amigas. “Mas isso é ainda melhor. Quando, com nove anos, a gente ia imaginar esse cenário? Um reencontro com cinco crianças.”

“Valéria virou mãezona mesmo, né?” Riu Margarida, comendo um prato cheio de salada. “Mas eles são realmente as coisinhas mais fofas do mundo.”

“Obrigada.” Alicia, Carmen, Marcelina e Valéria agradeceram, fazendo as amigas rirem.

“Eu preciso afirmar, novamente, minha surpresa por ter sido a Alicia a primeira a ter filhos. E mais, teve dois.” Comentou Maria Joaquina, causando risos. A morena deu de ombros, meio sem graça.

“Ninguém ficou mais surpresa do que eu, né?”

“E estão planejando mais um? Se não, é melhor fechar a fábrica para não correr o risco de ter mais um.” Alicia lançou um olhar cético para Bibi ao ouvi-la dizer isso.

“Arranja alguém disposto a procriar com você e aí você pode vir opinar na vida minha e do meu marido.” Disparou ácida, e Marcelina segurou sua mão.

“Calma, cunhadinha, calma.” Pediu a Guerra caçula.

“É que eu odeio quando falam disso, tá bom? Eu e o Paulo não estávamos casados e nem tínhamos planos para isso, mas o Lucas aconteceu e mudou tudo. Nós não pensávamos em outros filhos, muito menos tão cedo, mas a Isis aconteceu. Mas isso não quer dizer que somos irresponsáveis ou que meus filhos são fardos, nem nada assim.” Alicia levantou irritada, pegando a filha da cadeira ao seu lado e sumindo para o interior da casa.

“Marce, eu juro que não falei por mal.” Bibi estava um pouco assustada, assim como as amigas.

“Eu sei, Bibi, e ela também. Mas a Ali tá meio cansada, sabe? Os pais dela falam muita besteira para ela, mesmo adorando o Lucas e a Isis. Ela sempre bateu tanto de frente com eles que eles esperavam que ela fosse se tornar, sei lá, a presidente do Brasil. E depois que o Lucas nasceu e ela largou o curso de pilotagem, ela voltou e terminou a faculdade. Mas ela engravidou da Isis logo depois, e ela e o Paulo acharam melhor ela ficar em casa até os dois crescerem um pouco, para não deixar as crianças na mão dos outros.” Explicou a cunhada.

“Mas essa é uma escolha dela, ela já é adulta. O que os pais dela têm a ver com isso?” Reclamou Laura.

“Os pais infelizmente continuam a se meter na nossa vida, mesmo depois que nós crescemos.” Suspirou Valéria, encarando Davi rindo com os meninos.

“Eu to me sentindo péssima, gente, eu vou falar com a Ali.” Bibi levantou, mas Marcelina fez sinal que ela sentasse.

“Agora não adianta, Bibi, se acalma. A Ali precisa explodir um pouco, e a melhor pessoa nessa hora é o Paulo.” A mulher se virou para o sobrinho, que brincava com Leo e Sara. “Lucas, meu anjo... Pede para o papai vir aqui, por favor.”

No interior da casa de Carmen e Daniel, Alicia realmente extravasa, mas não de forma explosiva. Ela sentou no sofá, abraçou Isis com força e começou a chorar, alto e descontrolada. A pequena, mesmo que um pouco assustada, ficou agarradinha no peito da mãe, deixando que ela a usasse como ursinho de pelúcia.

“Alicia?” Paulo se ajoelhou à sua frente, e a esposa abriu os olhos, o encarando penalizada. “Deixa a Marce levar a Isis para fora? E nós conversamos?”

Demorou um pouco, mas a mulher soltou a filha, que foi em silêncio para os braços da tia, logo sumindo pelo corredor. Paulo ficou ajoelhado no chão mais alguns minutos, apenas acariciando a mão de Alicia com seu polegar, esperando que ela se acalmasse.

“Quer falar sobre o que aconteceu?” Perguntou ele, ao que ela negou.

“Eu to meio descontrolada hoje, Paulo, só isso.”

“Descontrolada você é desde que eu te conheci, minha linda. Mas eu acho que essa situação toda está mexendo muito com você, e eu me preocupo que você guarde tudo para você.” Ele sentou ao seu lado, preocupado. “Vai continuar negando que aquele desenho mexeu com você?”

“É claro que mexeu, Paulo, tudo isso mexeu. Ser pilota não era o sonho da minha vida, mas eu fiquei frustrada. Me sinto um lixo dizendo isso, mas eu me sinto frustrada por ter tido que largar uma carreira incrível porque engravidei. Me irrita que nada na nossa vida foi como planejado, e que as pessoas insistem em jogar isso na minha cara. O Lucas fez o favor de mostrar o desenho para a minha mãe, e ela fiou um terço de uma hora. Então eu estou sim, irritada e frustrada, e me sentindo péssima por isso.” Ela explodiu em um choro ainda mais forte, repleto de soluços.

“Calma, amor, calma.” Paulo a puxou para seus braços, deixando que ela se enterrasse e se protegesse ali. “Você não precisa se culpar por se sentir assim.”

“Como não, Paulo? Eu to frustrada por coisas que aconteceram por causa dos nossos filhos. É o mesmo que concordar com todo mundo.”

“E por que você liga para todo mundo? Ali, você sempre foi a pessoa mais desencanada, cabeça para frente, que eu conheci. Você nunca ligou para opiniões, por que ligar agora?”

“Porque agora essas opiniões envolvem os meus filhos, e eu não suporto isso.”

“E isso só prova que você é uma mãe excelente. Ali, a Bibi não falou nada por mal, você não precisava se armar assim, mas você quis proteger as crianças de opiniões maldosas que nós sabemos que existem. Eu sei que a nossa vida não foi nada como planejada, mas eu gosto de como ela é.”

“Você sabe que eu também amo a nossa vida, amor, mas... Eu tenho medo de isso um dia pesar neles, especialmente no Lucas. Ele ainda é tão novo para entender, mas e quando ficar maior? E quando descobrir que nós só nos casamos porque eu fiquei grávida? Ou que você fechou a loja? Que eu larguei o curso de pilotagem?” Alicia estava nervosa e bastante sensível. “Eu sei que a Bibi não falou por mal, mas existem tantas pessoas falando as mesmas coisas, fazendo as mesmas insinuações. E se algum dia isso machucar o Lucas?”

“E o que nós podemos fazer, Ali? Proibir ele de falar com as pessoas? Elas vão falar, sempre. Os próprios amiguinhos dele vão falar quando forem maiores, tenha certeza. O que nos cabe é fazer ele entender que nada disso é verdade.”

“Mas eu me sinto um monstro por às vezes sentir que é.” Ela jogou a cabeça para trás, caindo deitada no sofá. Paulo a encarou, cansado.

“Você acha que eu não, Alicia? Você acha que, quando eu estou na porta de uma sala de aula recheada de pestinhas que não dão a mínima para matemática, eu me sinto feliz? É claro que não. Eu me lembro da loja de traquinagens, de como era divertido ver essas mesmas crianças comprando coisas para pregar peças nos professores e nos amigos. E então, eu lembro que tenho dois filhos, que precisam de escola, plano de saúde e comida na mesa, e entro naquela sala com um sorriso no rosto e um quilo de paciência no bolso.” Ela baixou os olhos ao ouvir aquilo, e o homem segurou sua mão. “Você sabe que eu vou me repreender para sempre por não ter me protegido direito naquela noite, por ter antecipado tudo. Nós podíamos ter vivido nossos sonhos e começar nossa vida agora, com calma, mas não foi o que aconteceu. E não tem mais nada que possamos fazer, Ali. O Lucas e a Isis podem ter sido acidentes, mas nenhuma loja ou qualquer outra coisa nesse mundo foi mais amada, sonhada e desejada por mim do que eles dois, durante os noves meses que estiveram na sua barriga.”

“Você sabe que eu sinto saudade disso? De ter eles aqui dentro, quietinhos e protegidos do mundo.” Ela suspirou, segurando a mão dele com mais força. “Eu surtei legal, não é?”

“Não mais que o normal, ninguém ficou surpreso. Até o fim da noite a Valéria vai ter um surto, a Maria Joaquina vai brigar com alguém, só que dessa vez provavelmente vai ser o Cirilo. Ah, e acho que o japonês e a Bibi vão ter um revival.” Os dois riram das constatações. “Agora vamos? Acho que o Lucas está bastante preocupado com você a essa altura.”

“Claro, é melhor.” Os dois se levantaram, e Alicia puxou o marido para um abraço. “Obrigada, peste.”

“Sempre as ordens, marrenta.” Ele riu, beijando-a com carinho. “Te amo.”

“Te amo mais.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oi gente, mais um capítulo postado!
Bom, eu escrevi um capítulo bônus contando a história de Paulicia na fic, da formatura até a morte da diretora Olívia, e ele deu APENAS 12 páginas. Alguém gostaria de ler? Se sim, posto ele amanhã!
Bom, vocês pediram mais Ciriquina (que vai começar a se desenvolver mais no capítulo que vem), além de Marce e Mário, e Carmen e Dani. Logo, logo tem mais deles, prometo!
E claro, vai começar a história em torno da salvação da escola.
Nos vemos em breve!
Abraços!
WPKiria



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "20 anos depois - A salvação da Escola Mundial" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.