20 anos depois - A salvação da Escola Mundial escrita por W P Kiria


Capítulo 14
Capítulo 11




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Ninguém sabia o que havia acontecido a seguir com precisão. Só sabiam que todos acabaram o dia no hospital, se sentindo ainda piores do que na hora do almoço.

Jaime ficou com os bombeiros, enquanto Daniel entrava com Carmen no carro e Mário assumia a direção. Alicia colocou as crianças no carro e saiu no encalço deles, enquanto Paulo e Marcelina tentavam encontrar Jorge.

“Nós precisamos falar com os nossos pais.” Cirilo avisou, mas Maria Joaquina ainda estava em choque. “Amor.”

“Eu vou com ela para o hospital, Cirilo, tenta encontrar os pais de vocês.” Pediu Valéria, pegando a chave do carro. “Caramba, a Sara.”

“Deixa que eu cuido dela, Val. Acho que o hospital já vai estar bem tenso com o Lucas e o Leo, eu fico com a Sara.” Prometeu Davi, animado em ficar um pouco com a filha.

“Tudo bem, eu pego ela mais tarde.” Só uma situação como aquela faria Valéria concordar com tal proposta, sem reclamar. “Qualquer coisa me liga, está bem?”

No apartamento dos Rabinovich, Sara estava desenhando na mesa de centro. Hannah estava sentada ao seu lado, as duas conversando animadas. Rebeca se escorava na porta da cozinha, pensativa.

“O que está pensando, querida?” Perguntou Isaac, parando ao seu lado.

“A Sara se parece muito com o Davi. E com minha mãe. É uma criança tão doce.” Suspirou a mulher, admirada.

“Rebeca, nós fizemos uma escolha.”

“Ela tem nosso sangue, Isaac, o sangue judeu. E o Davi a ama, não é? Ele gostaria de ter ela por perto, conosco.”

“Ele nunca a tiraria da Valéria, sabe disso.” E só o que ela pôde fazer foi concordar. “Você pensa nela com frequência, não?”

“Ela é nossa neta, Isaac, não sou tão insensível assim.” Rosnou a esposa, fazendo-o suspirar. “Se deixarmos que o Davi a assuma, ele vai voltar para a Valéria.”

“Nosso filho não romperia o compromisso dele, Rebeca, mas não tenho certeza de que Hannah aceitaria começar a vida com um homem já tão impuro.” Lembrou Isaac, e ouviram a porta. “Davi?”

“Oi, pai, voltei.” O rapaz entrou, e todos se espantaram.

“Tio Davi, oce tá todo sujo.” Sara comentou, vendo a fuligem pelo rosto do homem.

“Conseguiram controlar o incêndio?” Perguntou Rebeca, indo até o filho e começando a analisá-lo.

“Sara, que tal você ir até o meu quarto? Eu tenho vários lápis coloridos.” Propôs o judeu, indicando uma das portas do corredor. A pequena concordou e saiu correndo, deixando os adultos para trás. “O incêndio foi controlado, mas a Carmen... Bom, ela parece estar abortando.”

“Como assim?” Hannah perguntou, ainda sentada no chão.

“Ela entrou correndo na escola, desesperada para que o incêndio não chegasse às salas de aula. Nós a ajudamos, conseguimos controlar as chamas, mas aparentemente isso não fez bem a ela. Ela começou a sangrar muito e o pessoal foi com ela para o hospital. A Maria está em choque, e a Valéria está com ela. E eu me dispus a ficar com a Sara enquanto isso.” Explicou Davi, encarando os pais de forma séria.

“Ah, que ótimo. Digo, não pela sua amiga, mas pela Sara. Ela é uma graça.” Explicou a jovem, e Davi sorriu. “Será que a mãe ligaria se ela fosse ao parque? Ela estava me falando que era o que iam fazer hoje.”

“Hã, acho que não. Na verdade, seria muito legal se pudéssemos levar ela depois do almoço.” Concordou o jovem judeu, e os pais se entreolharam, com espanto. “Desculpa, na correria não nos apresentamos direito. Eu sou o Davi.”

“Eu sei. Eu sou a Hannah, muito prazer.” Apertaram as mãos, sorrindo.

“Vou ver o que a Sara está fazendo no meu quarto. Quer vir junto?”

“Claro.”

Os dois saíram pelo corredor conversando, Davi com as mãos cruzadas nas costas. De onde estavam, os pais pensavam que talvez as coisas se ajeitassem melhor do que eles esperavam.

~*~

No hospital, Alicia e Mário estavam sentados na cafeteria. Lucas e Leo comiam duas coxinhas, enquanto Isis e Olívia dormiam no colo dos pais. Ainda esperavam notícias de Carmen, que estava do lado de dentro com Daniel.

“Hey, eles chegaram.” Valéria e Majo vieram acompanhadas de Paulo, Marcelina, Jorge e Margarida. Os irmãos Guerra foram até os conjugues, lhes dando um selinho e puxando uma cadeira.

“Alguma notícia?” Perguntou Margarida, recebendo um aceno negativo.

“Ela não devia ter entrado no incêndio.” Suspirou Maria Joaquina, massageando as têmporas.

“Mas você também teve um princípio de aborto quando estava grávida do Lucas, não é, Ali?” Perguntou Valéria, recebendo um aceno afirmativo da amiga, que abraçou o filho com um dos braços. “O bebê pode resistir também.”

“Meu maninho foi bora, tia. Ele voltou po céu.” Leo disse ainda encarando seu lanche, os olhinhos cheios de água.

“E como você tem certeza disso, meu bem?” Perguntou Marcelina, acariciando o cabelo da criança.

“Eu sei. Só sei.” Ele mordiscou a coxinha, sem animação. Ao seu lado, Lucas fungou, levantando da cadeira e dando a volta na mãe, para poder abraçar Isis. Alicia suspirou, sentindo os olhos molhados, e abraçou os dois filhos.

“O seu braço está bem?” Perguntou Marcelina, vendo o braço do marido enfaixado.

“O médico disse que está, foi superficial, mas mesmo assim talvez fique uma cicatriz.” Explicou o veterinário, encarando o machucado. “Marce, você pode segurar a Oli? Meu braço está doendo.”

“Eu... Eu... Claro. Só um minuto.” Ela abriu a bolsa, tirando o frasquinho de remédio dali. Pegou um comprimido e colocou na boca, virando um gole de água depois. Todos a observavam, a maioria sem entender o que ela fazia. “Dá ela aqui.”

“Você sabe que fez um avanço enorme hoje, vida. Eu to muito orgulhoso de você, e a Oli também.” Prometeu Mário, aninhando a filha no colo da mãe e lhe dando um selinho. “Vai ficar cada vez mais fácil.”

“Alguma notícia do Cirilo, Majo?” Perguntou Paulo, mas a patricinha parecia distante. “Val, ela está bem?”

“Val, ela sofreu algum aborto?” Perguntou Jorge, e essa palavra foi como um gatilho, que gerou lágrimas em Maria Joaquina.

“Cinco. No último aconteceram as complicações que fizeram ela perder o útero.” Explicou a jornalista, enquanto Margarida abraçava a amiga. “Quando o médico diagnosticou o problema no ovário, recomendou que ela engravidasse antes da cirurgia. Mas nenhuma das gravidezes vingou.”

“Paulo, pega a Isis.” Pediu Alicia, passando a filha para o marido. A morena se levantou, indo até a amiga e a abraçando. “Vem, vamos dar uma volta.”

“O que a Alicia vai fazer?” Perguntou Margarida, curiosa.

“Ela não sofreu um aborto, mas chegou perto. Talvez, de todas nós, ela seja a que mais pode entender o que a Majo está sentindo. Mesmo que nenhuma de nós possa.” Explicou Marcelina, o corpo balançando suavemente enquanto ninava a filha. O remédio havia começado a fazer efeito, afinal.

“E quanto a escola?” Perguntou Mário, tentando mudar de assunto.

“Meu pai é do conselho, então já entramos em contato com os advogados. O conselho vai se reunir amanhã, e eu vou estar presente. Como diretora interina, a Carmen deveria estar também, mas não creio que isso acontecera. Então eu, meu pai, e os pais do Cirilo e da Majo vamos ir segurando as pontas.” Explicou Jorge, cansado. “Eu estou estudando o que posso para descobrir o que fazer.”

“E o incêndio?” Perguntou Valéria.

“Falei com o Jaime, e os bombeiros desconfiam do mesmo que a gente: foi criminoso. Alguém provocou o incêndio, ele estava muito redondinho. Parecia feito para ficar apenas no jardim, longe dos prédios.” Contou Paulo.

“Gente, é só eu, ou mais alguém tem alguma lembrança em relação a tudo isso?” Perguntou Marcelina, a testa vincada.

“Tenho essa sensação também, Marce, mas não consigo lembrar de onde.” Concordou Valéria, vendo movimentação no corredor. “Daniel...”

Ao ouvir o nome do pai, Leonardo ergueu a cabeça, pulando da cadeira e correndo até ele. O homem se abaixou, segurando o filho no colo e o abraçando com força. Por cima do ombro do pequeno, viram os olhos dele cheios de lágrimas.

“Meu maninho foi bora, né papai?” Perguntou Leo, a voz triste.

“É só por um tempo, Leo. Logo ele vai voltar, ok? Ainda não era a hora de ele vir.” O pai tentou explicar, caminhando até os amigos. Instintivamente, Mário e Paulo abraçaram os filhos com mais força, o segundo escondendo o rosto no cabelo de Lucas e fazendo uma prece silenciosa.

“A Carmen está sozinha?” Perguntou Valéria, e Daniel negou.

“Eu encontrei a Ali e a Majo no corredor. Elas estão com a Carmen, mas se vocês meninas quiserem ir, acho que seria bom também.” Ele sugeriu, recebendo acenos afirmativos.

Depois que as três mulheres haviam saído, Daniel sentou na mesa, Leo ainda em seu colo. Os quatro homens ficaram em silêncio, enquanto as duas meninas continuavam a dormir e Leo e Lucas apenas observavam suas coxinhas frias.

Com um suspiro, Paulo colocou a mão no ombro de Daniel, que o encarou.

“Nós vamos pegar quem fez isso, cara. E essa pessoa vai se arrepender de ter se metido com os diabinhos do 3º ano, eu te prometo.”


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Notas finais do capítulo

Ok, esse capítulo foi morno, mas precisava de uma ponte entre o anterior e o próximo.
Sei não, mas os pais do Davi estão com cara de que vão aprontar hm*
E Majo... Ah, a bichinha tá sofrendo, fico até na bad :/ E mais ainda quando lembro quantas pessoas conhecidas estão em situações iguais ou bem parecidas com as dela. É triste concluir que essas coisas ruins são tão comuns na vida das pessoas!
Digam o que acharam do capítulo, se gostaram! E logo tem mais, e o próximo terá uma revelação BEM impactante, que inclusive alterou a sequência dos capítulos bônus! Aguardem.
Até o próximo!
Abraços!



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