Enquanto Morgan e James se olhavam surpresos com o que tinham acabado de ouvir, Hugo aproveitou para caçoar do primo.

 -Há! Mal começou o ano e você já se meteu em confusão, James? Boa sorte com a diretorinha!

Neste momento, um carrinho de serviço de bordo passou voando pelo corredor e, por onde passava derramava pelo chão algo que lembrava as contas de um colar colorido. Os quatro olharam em direção a porta e Hugo notou que as contas eram do tamanho das sementes de mandrágoras, mas grande parte delas era de um brilhante tom de rosa chiclete. Algo despertou em sua mente: Feijãozinhos de todos os sabores!

Logo atrás do carrinho voador vinha uma senhora trajando um velho e rasgado vestido vermelho, meias brancas tão altas que um jogador de futebol poderia tranquilamente usá-las e um tênis que talvez meu tataravô tenha adquirido aos 12 anos. Ela estava com os braços para cima, correndo como se sua vida dependesse disso:

—SEGUREM ESSE CARRINHO! SEGUREM ESSE CARRINHO! EU DOU DOCES GRÁTIS, MAS SEGUREM ESSE CARRINHO!

Assim que os berros daquela mulher foram ficando mais distantes, Hugo e James se entreolharam enquanto raciocinavam: ``doces`` e ``grátis`` na mesma frase, não havia discussão, iriam atrás!

Os dois estavam se levantando para correr quando uns quatro alunos do primeiro ano passaram correndo e gritando ‘`queremos os doces!``, ``vamos pegar o carrinho``, mas suas capas eram tão cumpridas que fazia com que tropeçassem uns nos outros e se estabanassem pelo corredor. James e Hugo não perderam tempo. Desataram a correr atrás do voador carrinho de doces. Com pernas longas demais para seus 14 anos e a agilidade de um nato jogador de Quadribol, James rapidamente alcançou as crianças. A mulher de vermelho estava logo à sua frente e com a proximidade ele conseguiu notar mais alguns detalhes: o vestido não estava rasgado. A parte da frente era curta e a parte de trás mais cumprida, os cabelos loiros eram emaranhados e por isso ele havia achado que ela era velha. James estava quase alcançando o ombro dela, quando sentiu algo segurar o seu pé. Tropeçando, caiu de cara no chão, mas levantou a cabeça a tempo de ver os já conhecidos cabelos escuros e brilhantes passarem por ele. Morgan corria de um jeito estranho, parecia estar... Machucada.

Ela ultrapassou a vendedora de doces, chegou bem perto do carrinho, colocou a mão direita na parte metálica e o parou, mas não antes que batesse em alguém e estranhamente, mesmo com o carrinho parado, Morgan continuou a correr.

Enquanto a dona do carrinho exausta, se encostava na parede do trem, os alunos atrás de James riam dando tampinhas uns nos outros e logo seus dinheiros estavam em mãos para comprar todos os doces que pudessem pagar. Dolorido por causa da queda, James levantou-se do chão, passou pela mulher de vermelho, pelo carrinho, pela horda de alunos e se deparou com a pior coisa que poderia imaginar: Morgan estava debruçada encima de uma mulher caída no chão.

Ela era velha, trajava vestes pretas como as de uma freira e suas mãos, ao lado de seu corpo, eram enrugadas, mas adornadas por um único e enorme anel dourado. Quando Morgan se afastou, James conseguiu ver: era a diretora McGonagall.

Na dúvida se deveria sair correndo, colocar toda a culpa em Morgan ou ajudar a diretora a se levantar, James ficou imóvel e antes mesmo que pudesse tomar uma decisão, ouviu a voz fraca e abafada pelo som dos alunos que começaram a surgir para ver o que estava acontecendo, dizer:

—Srta. Adele? Sr. Potter?

Apreensiva com a diretora, Morgan concordou com a cabeça. McGonagall sentou-se, passou a mão no galo que se formara em sua testa e recompondo a postura dura e decidida, completou:

 -Na minha sala. AGORA.

...

Havia se passado vários minutos que James e Morgan aguardavam a diretora no gabinete. Sentados em poltronas de couro branco, Morgan não parava de mexer os pés, emitindo um som estranho cada vez que o solado de seu tênis tocava o solo do tapete bege que cobria o chão da sala. Não queria admitir: mas estava com medo de McGonagall. A sala era pequena, mais ou menos do tamanho de duas cabines, havia prateleiras com livros de todas as cores, organizados por tamanho.  As prateleiras contornavam uma metade da sala, e no centro havia uma mesa de madeira, com uma cadeira detalhada na parte de trás. Em cima da mesa havia tudo: uma mandrágora (aquelas plantas que gritam e te fazer desmaiar), papéis, cartas, livros abertos e carimbos. Morgan estava tão concentrada numa ficha na mesa da diretora, que não percebeu que James olhava para ela.

—Ela te chamou de Adele?

Com os olhos pensativos, como se não estivesse notado que ele estava na sala, Morgan olhou para James.

—É, meu nome do meio. Morgan Adele Lancaster Riddle.

James riu, criando várias piadas em sua cabeça.

 -Ah, é? Então manda um Hello aí.

Ela olhou para ele com o olhar confuso como se ele tivesse dito algo muito bizarro. Ele ria e balançando-se para frente e para trás:

 -Morgan. Qual a senha do wifi? – Com isso, James se acabou de rir, engasgando na própria risada. Ela encarava-o como fosse louco. Enquanto o menino ria, Morgan foi para trás da mesa da diretora, pegou a ficha que anteriormente estava olhando e aproximando a foto anexa da ficha, imediatamente reconheceu o rosto: era seu irmão Regulus.

Logo abaixo da foto, constava:

Nome: Regulus Lancastter Riddle. 

Parentesco: Sobrinho de Tom Riddle, filho de Astória Riddle.

Idade: 17 anos.

 Sangue: -O.

 Estado Civil: Solteiro.

 Escolaridade: Hogwarts, porém estudou em casa por seis anos.

Série: sexto ano.

Habilidades: Incrivelmente bom em duelos. Inteligente. Gosta de ler. Ofdioglota.

Personalidade: Frio. Rancoroso, nunca perdoa. Vingativo. Persuasivo, fez com que um aluno se jogar em um rio em busca de um livro que havia deixado cair. É avarador, e tem uma Horcrux.

Assustada demais para continuar a leitura, Morgan parou de ler. Seu irmão? Uma horcrux? James já havia se levantado da cadeira, e estava lendo a ficha com a garota. Completamente assustada, ela deu dois passos para trás. Seu irmão havia feito uma Horcrux? Terminando de ler, James olhou alarmado para a garota, como se ela também tivesse feito algo horrível. E, naquele momento, McGonagall escolheu como perfeito e entrou na sala, se deparando com uma Morgan pálida e em pé, e um James com uma ficha de um aluno em suas mãos.