Extraterrestre escrita por SobPoesia


Capítulo 10
Beijo de Primo.




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Andamos os três calmamente pelos corredores próximos à passagem da qual havia conseguido oxigênio.

—Isso não vai dar certo. – suspirei.

Na verdade, não queria que aquilo funcionasse.

A vida na nave era calma e pacata. Não estava procurando por grandes aventuras. Minha mente buscava a quietude rotineira da vida antes da ruiva chegar ali.

—Vai dar certo. – Caleb parou.

Seguimos as duas até o seu lado. Uma alavanca vermelha e grande estava ali, a sua frente.

—É só puxar? – América estendeu a mão.

—Em tese, sim. Nos livros se fala algo sobre um caminho até a próxima alavanca se acender e na terceira vai soar algum sinal ou alarme e você tem que correr muito e não ser pega. – segurei a sua outra mão, sem tocar as nossas palmas, para não viajarmos para longe dali.

—Vamos ficar bem. – ela encheu os pulmões.

—Nos encontramos em seu quarto. – Caleb tocou seu ombro.

Estávamos todos juntos, naquela espécie de abraço. Beijei a ruiva em sua bochecha e sussurrei: "eu queria aquele beijo".

Se tudo desse errado, precisava dizer aquilo.

Tomei a mão do asiático e seguimos labirinto adentro, indo em direção à sala de oxigênio. Entramos em uma a frente da qual queríamos.

Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para América, pedindo que ela começasse. Logo, um chiado encheu os corredores da nave, então dois grandes estalos se seguiram.

—Está funcionando. – Caleb sorriu.

Seu rosto arredondado estava vermelho e feliz, de uma forma que veria até se ele estivesse de costas.

—Bom... Não é sempre que se tenta separar a nave por umas alavancas velhas. Estamos fazendo história aqui. – sorri.

Ouvimos várias pessoas passando pelo corredor, e, então, silêncio.

—Vamos. – segurei a sua mão.

Abrimos a porta e o corredor estava vazio, calmo.

Passei o cartão sobre a porta, que se abriu. Entramos rapidamente ali. Logo, notamos a presença de um técnico, com várias ferramentas, sentado ao chão, bem a nossa frente.

Parei a frente da porta, virada para dentro, bem à frente do local de passar o cartão. Então, joguei o mesmo para Caleb, que já estava na outra saída, me observando com olhos atentos. O asiático entrou na sala rápido, se trancando ali.

—Meu parceiro vai chegar aqui a qualquer momento. – o técnico suspirou, segurando ambas de suas pernas.

Usava uma máscara e um uniforme verde-escuro. Tinha grandes e fundos óculos quadrados e não era muito velho.

—Tudo já estará resolvido até lá. – sorri.

—Vocês dois acham que são tão heroicos... Com seus pais ricos e poderosos. Caleb não é tão inteligente quanto eu! E, se até agora eu não consegui resolver o problema que a sua rebelde causou, ele não vai. – os olhos irritados do técnico me prenderam.

Senti-me atacada, por todas as razões distintas apresentadas ali. Não éramos ricos, muito menos poderosos; não nos achávamos heróis; Caleb era o garoto mais inteligente de todo o nosso sistema; e, acima de tudo, América não havia feito aquilo.

Queria enfrentá-lo, utilizando toda a minha pouca força física, mas não iria.

Respirei fundo.

—Ok. – sorri.

Bati os dedos na porta, já estava impaciente com toda a nossa pequena aventura. Segurar-me para não atacá-lo era o máximo de esforço que conseguiria fazer.

Contei até 30 em minha mente.

—Eu concertei! – Caleb gritou, de dentro da outra cabine, então a porta se abriu.

—Como? – o técnico levantou-se, aparentemente interessado.

O asiático falou algumas coisas mecânicas, com palavras difíceis e cálculos matemáticos. Ouvi a palavra cabo, reator, eletricidade e fonte de energia algumas 20 vezes. Várias coisas das quais eu não tinha a menor ideia do que significavam. O técnico não disse nada a respeito de toda a resposta de meu irmão, apenas retirou a máscara e respirou fundo.

Estávamos a salvo. Ou toda a população da nave, já que eu estava respirando normalmente sem aquela máquina grande estar ligada.

Saímos pela porta e seguimos até o quarto de América. Não havia porque avisar a nossa família, que não havia nos avisado do perigo. Apenas a calmaria de saber que tudo estava resolvido, que todos estariam bem era o suficiente.

Chegando ao dormitório, fui parada.

Caleb segurou meu braço, com delicadeza e força. Ainda estávamos longe do quarto da ruiva. Apoiei-me na parede, cruzei os braços e olhei fundo em seus pequenos olhos.

—Espere. – sua respiração estava ofegante.

—O que aconteceu?

—Isso tudo pode ser uma alucinação por falta de oxigênio. Ou uma coragem que veio da adrenalina... Eu quero algo! – o segurei, fazendo-o dar uma pausa e respirar fundo – Eu sei que você não quer nada comigo, entendo isso, respeito isso. Mas eu também quero algo e tenho o direito de, ao menos, pedir. Não vou deixar que todo esse sentimento passe sem que nada aconteça. – suas mãos tremiam e ele as olhava.

—O que você quer, Caleb?

—O que ela teve.

Não havia como negar a estranheza daquele pedido, mas resolvi não pensar a respeito daquilo. Na verdade, resolvi não pensar a respeito de nada relacionado ao pedido. Em minha cabeça, naquele momento, era uma decisão simples. Meu irmão estava me pedindo algo, algo que não iria me ferir ou significar nada, não havia escolhas, era tudo uma questão de aceitar.

Abaixei, me inclinando para frente. Ele era mais baixo que eu, e isso era necessário. Suas mãos enrolaram em meus cabelos enrolados, ele deu alguns passos para frente. Em segundos, nossos lábios estavam se tocando.

Em si, o beijo fora bom. O que, sinceramente, era algo que não esperava vindo dele. Foi, em tese, melhor do que o que havia recebido de América. Ainda sim, eu havia acabado de beijar meu irmão e aquela fora a sensação que guardaria comigo.

Quando nossos corpos se descolaram, sorri e mordi meu lábio inferior. Caleb foi para trás e abaixou a cabeça.

—Foi bom. – desencostei da parede.

—Pelo seu tom de voz, tem um "mas" vindo. – ele começou a andar.

—Eu beijei meu irmão. – ri e fui atrás dele.

—Para ser bem sincero, acho que eu também senti isso. Não foi algo... Quente. – ele sorriu e levantou a cabeça, e eu ri – Foi um daqueles beijos babados de criança.

—Daqueles que você troca com seus primos. – brinquei.

Ele riu, e eu senti que tudo estava bem.


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