K Y L E

Olhar para ela daquele jeito está me matando. Não acredito que a encontrei tão bêbada desse jeito. Com certeza a culpa é minha. Ainda vou conseguir destruí-la, mesmo que não seja minha intenção.
Me aproximo rapidamente dela para vestir a blusa. Seu corpo todo está arrepiado e sua boca está com uma coloração arroxeada. Talvez eu não devesse ter lhe dado um banho frio. Mas era necessário.
Pego uma escova de cabelo em cima da pia e tiro a toalha de sua cabeça. Os grandes fios do cabelo da Alice caem desgrenhados e eu os penteio com cuidado para trás, para que eu não acabe puxando nenhum nó. Fazer isso me lembra de minha mãe. Ela sempre deixava eu pentear os cabelos dela quando ela os lavava.
Olho para o rosto da minha boneca e sinto meu coração partido quando vejo que ela ainda está com leves tremores por causa do frio. Sua boca está entreaberta e seus olhos fechados. Suas mãos estão juntas como se estivesse orando, mas ela está apenas tentando esquentar suas mãos.
Deixo a escova de cabelo em qualquer lugar e a pego no colo novamente. Sua cabeça tomba para trás e seus olhos se fecham novamente. Saio com ela do banheiro e a levo até seu quarto. Algo não está normal. Sua cama está completamente desarrumada. Eu a deito nos lençois  brancos desarrumados e a observo se encolher. Me dou conta de que esqueci de colocar uma calcinha nela. Geralmente eu as tiro. Tal pensamento faz com que eu observe a curva de suas coxas, atrás do joelho e descendo pela panturrilha até o calcanhar. É incrível como minha menina é uma perdição. Quase não posso culpar Matt por querê-la. Não tem como não querê-la, não tem como não imaginar como suas curvas são maravilhosas e como ela é quente. Como ela aperta os olhos e arranha minhas costas enquanto está gozando, como ela geme meu nome tão docemente me levando ao êxtase.
Sinto a calça começando a de apertar na frente e desvio o olhar da minha menina inocente. Tenho que deixá-la descansar. Foi essa a recomendação do médico afinal. Ela nem deveria ter tomado nada com álcool.
Olho para as minhas roupas molhadas. Não me importo em tirar a calça, apenas o suéter.
Saio do quarto e fecho a porta parcialmente. A televisão está ligada e passando algum filme de suspense. Olho ao lado do sofá e vejo uma taça jogada no tapete junto com uma garrafa de vinho vazia. Abaixo-me para pegar e paro para olhar a vista que ela tem dali. O céu já está escuro há um tempo. Por quanto tempo ela esteve apagada?
Vou para a pequena cozinha, separada da sala apenas por um balcão de granito e coloco a taça na pia junto com a garrafa vazia. Abro a geladeira e sorrio ao ver uma tigela enorme de frutas guardada ali. Pego uma maçã verde e dou uma mordida. Volto para a sala, meus pés descalços deixando marcas passageiras no carpete de madeira. Sento-me no sofá ao lado da janela. Eu a amo pra caralho. Se Matt tentar alguma coisa, não vou pensar duas vezes em lhe bater novamente. A história não ia se repetir. Não com a Alice.
Vê-la chorando daquele jeito me fazia querer pegá-la e calá-la com um beijo e levar ela para a cama. Fazer ela esquecer de tudo e apenas lembrar do meu nome e de que eu sou dela e ela é minha. Suspiro e encosto a cabeça no encosto do sofá, fecho meus olhos e apenas fico escutando o diálogo do filme em um volume baixo.