Darkness escrita por Cárla


Capítulo 4
Capítulo IV (Edward)


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, estava alguns problemas!
KYAAAAAAAAAAA uma recomendação, obrigaaaaaaaaada ♥
Obrigada pelos comentários ♥



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Acordei em um lugar fétido e escuro. Não conseguia raciocinar normalmente e sentia que poderia perder os sentidos a qualquer momento. Um cheiro forte de drogas invadiu minhas narinas, era um odor semelhante do qual eu sentia quando inspecionava o porão da minha antiga casa, meus tios provavelmente usavam algum tipo de entorpecente. Alguma enfermeira havia me drogado para que eu desmaiasse daquela maneira? Nada me vinha em mente.

Estava deitada em uma pequena maca infantil, mesmo sendo consideravelmente pequena de tamanho meus pés ultrapassavam o tecido, ou melhor, o papel higiênico que haviam enrolado em alguns ferros para que fizessem uma maca improvisada. Visto de fora esse sanatório era tão belo. Quem via pensava que era um lugar decente, mas ao estar prostrada naquela cama improvisada, notei que nada aqui poderia ser considerado belo.

Um forte cheiro de urina invadiu meu interior, assim pude ouvir um som de alguém tentando abrir uma porta que estava adjacente à maca em que eu estava deitada. Fechei os olhos fortemente para fingir que ainda estava dormindo, mas logo senti uma mão gélida tocando meu corpo, como que analisando se eu estava acordada.

—Querida? Está acordada? – Uma voz familiar feminina indagava. Abri os olhos lentamente para me certificar de que não oferecia perigo, como alguma médica louca ou uma enfermeira comparsa daquele doutor imundo.

Assim que pude ver o rosto, identifiquei como sendo aquela enfermeira que havia me carregado até o médico, Rosalie. Ela não aparentava oferecer algum perigo, apesar de sentir que de alguma forma os olhos dela brilhavam de... Inveja? De mim? Ou talvez fosse apenas impressão minha. Não, não podia ser apenas uma teoria. Após muito conviver com as criaturas negras, aprendi a ser sensitiva o suficiente para desvendar as expressões das pessoas. Ás vezes conseguia até enxergar a alma delas, e essa mulher não me inspirava confiança.

—Tem que tomar seu remédio. – Respondeu simplesmente. Logo após apenas me entregou uma pílula azulada e saiu daquele quarto imundo, deixando-me sozinha sem nem ao menos conseguir me levantar, haviam me drogado de certeza.

Ou aquela enfermeira não trabalhava direito, ou aquele “hospital” não se preocupava se os pacientes tomavam os remédios regularmente ou não. De qualquer forma, levantei-me e joguei aquela pílula em uma pequena planta morta que havia no quarto, não iriam me drogar novamente.

Entrei pela porta cujo odor estava impregnado no possível cômodo em que ela deixava, surpreendendo-me com a sujeira do local. Era um pequeno banheiro que possuía uma lâmpada fraquíssima no teto, um penico minúsculo e vazando excreções, e por último uma pia parcialmente corroída pela força do tempo. O piso era de uma madeira velha e que possivelmente havia sido gravemente devorado por cupins, apesar de ainda estar reforçado o suficiente para que eu conseguisse andar pelo local.

Quase vomitei ao notar que a enfermeira havia deixado um pequeno papel higiênico desgastado para que eu fizesse minhas necessidades naquele penico imundo. Preferia excretar no chão a encostar meu corpo em um objeto que me daria uma infecção em questão de segundos. Tapei meu nariz com dois dedos fortemente, o cheiro estava realmente me causando repulsa e vomitar naquele local não o tornaria mais limpo.

Resolvi sair daquele “banheiro”, e para a minha surpresa eu não havia notado que o próprio quarto estava em situação pior. Urina jazia no piso emadeirado, alguns insetos competiam por um pequeno pedaço de doce apodrecido em um canto, a lâmpada enfraquecida era consumida por teias de aranha e, para completar, tudo que havia ali era aquela maca improvisada, a planta morta e uma pequena mesinha contendo uma prancheta, nada mais que isso. Algo me dizia que dali em diante eu viveria como uma moradora de rua, mas ao menos não seria mais violentada.

A saída do quarto estava aberta, para a minha surpresa. Suspirei de alívio quando me deparei com uma enorme sala branca, possuindo alguns brinquedos de pano aqui e ali e uma TV antiga que transmitia canais em preto e branco. Não havia muitas coisas naquele local, mas pelo menos não estava impregnado nenhum odor fétido. Ao contrario do que eu imaginava, havia apenas um rapaz robusto em uma cadeira de rodas ao invés de estar lotado de pacientes visto que a sala era enorme. Aproximei-me dele como quem não queria nada. Ele aparentava estar calmo enquanto assistia um canal ruim que só transmitia barulhos estranhos.

—Olá. – Cumprimentei, estava levemente tímida. Depois da morte dos meus pais, fiquei nove anos sem algum contato social, apenas era molestada por meus tios e nunca pude conversar decentemente com alguém. Minha voz chegava a ser um pouco falha e eu pausava diversas vezes enquanto pronunciava alguma frase.

Ele se virou tão repentinamente para mim que tive um sobressalto. Seus olhos castanho-esverdeados fitavam-me com curiosidade.

—Olá garotinha. – Respondeu com um sorriso tímido. O rapaz era muito magro, porém robusto. Suas roupas levemente empoeiradas e rasgadas, além de possuir uma coleira em seu pescoço, algo que atiçou minha curiosidade. Ele aparentava ser gentil e por isso teria minha confiança.

—O que o senhor está assistindo? – Perguntei mais para distração. Iniciei uma conversa e agora teria que arranjar um assunto. Apesar de aparentar ser um rapaz razoavelmente jovem, sua expressão era de alguém mais velho e eu não queria faltar com educação.

—O senhor está no céu! Tenho apenas vinte e cinco anos, pode me chamar de Edward. – Enunciou. Outra surpresa, eu daria no mínimo trinta anos para aquele rapaz, estava certamente desgastado e maltratado pelo tempo. Sua voz era lenta, porém simpática.

—Certo... Então, Edward... O que te trouxe aqui? – Interroguei. Estava a fim de conversar, interagir, socializar. Há muito tempo não sabia o que era uma amizade. Para falar a verdade, desde que nasci. Meu único amigo é Jacob, e eu nem mesmo sabia onde ele estava.

—Talvez o mesmo que você. – Revelou. Minha curiosidade apenas aumentou ainda mais.

—Seus tios te deixaram aqui? – Perguntei inocentemente.

—Não, mas também fui deixado aqui injustamente. – Disse – Como sei disso? Ora, a maioria que está aqui foi assim. – Continuou ao notar minha surpresa.

—Por que está em uma cadeira de rodas? – Perguntei. Olhava disfarçadamente para aquele objeto mal feito que apenas servia para sustentar Edward, mas aparentemente nem circulava sem a ajuda de alguma enfermeira.

—Porque não consigo andar...? – Disparou ironicamente. Apesar de estar sendo grosso, notei o tom de brincadeira e decidi não me irritar com algumas palavras. – É uma longa história... E não conto para estranhos. – Completou. Aparentemente ele havia adorado destruir minha esperança de ouvir uma história.

—Está bem, vou comer algo. – Inventei alguma desculpa. Assim que me preparei para ir para algum outro canto, senti uma de suas mãos quentes segurar meu pulso, virando-me para fitá-lo novamente.

—Desculpa, não quis te magoar. – Declarou. De alguma forma ele era sensitivo como eu. Havia percebido minha melancolia, por mais que levemente fraca visto que meus sentimentos eram quase nulos.

—Tudo bem. – Respondi simplesmente. Minha expressão era grotescamente vazia. Eu não sorria, quase não piscava, não mexia um músculo para demonstrar algo, e isso deve tê-lo surpreendido.

—Posso te contar minha história se me revelar a sua. – Propôs. Seus dentes brancos estavam à mostra, única parte de seu corpo que aparentava estar devidamente higienizado. – Podemos ir ao refeitório comer algo enquanto falamos. – Completou.

Apenas concordei com um aceno e o ajudei a se locomover com aquela cadeira de rodas inútil, ela realmente apenas servia para sustentá-lo. Andávamos na direção a qual ele me indicava, enquanto eu contava um pouco da minha situação, ocultando algumas partes mais íntimas.

—Meus tios me deixaram aqui após planejarem o genocídio da minha família. Eu tinha apenas oito anos quando tudo começou – Revelei resumidamente. Torcia para que ele não quisesse saber mais que apenas isso.

Edward não aparentava estar surpreso, apesar de carregar uma expressão pesada de ódio, como quem sentisse repulsa de meus tios sem ao menos conhecê-los.

—Como puderam? Você era apenas uma criança! Por que fizeram isso? – Indagou. Sua expressão alternava entre ódio e desgosto.

—Dinheiro. – Disse simplesmente. Minha face sempre estampando algo vazio, não havia um porquê para me fazer de vítima.

Edward gesticulou algo inaudível, possivelmente xingando mentalmente meus tios. Queria poder sentir todo esse ódio, quem sabe assim conseguiria me vingar ao invés de aceitar e morrer mofando em um sanatório qualquer sendo internada como louca.

—Conte-me mais, assim quem sabe você passa um pouco dessa dor para mim. – Pediu. Tudo que eu menos queria naquele momento era pena e piedade, não precisava de pessoas sentindo dó e me ajudando simplesmente porque sou uma “pobre coitada”. Eu podia ser forte o suficiente para aguentar tudo sozinha, estava sendo até exato momento, então poderia continuar.

—Não é necessário, agora quero saber de você. – Desviei do assunto. Estava realmente curiosa para saber um pouco da vida de Edward. Cada pessoa possui uma caixinha de surpresas e eu adoro desvendá-la.

—Certo, mas depois quero saber de tudo... Heim? – Piscou. Aqueles olhos me encantavam de uma maneira estranha, mas isso não chegava nem aos pés de um sentimento, certo?

Havíamos chegado a um refeitório que apesar de simples, era bem arrumado, ao contrário dos quartos e banheiros dos pacientes. Paramos em frente a uma mesa de madeira enorme repleta de todo o tipo de bolo e biscoito, contendo também algumas bebidas naturais em jarras medianas. Tudo ali aparentava ser devidamente caseiro e possuía um cheiro bom apesar de eu duvidar seriamente se aquilo seria comestível.

—Pode pegar. Eles nos envenenam de outra maneira, não com esses bolos deliciosos. – Disse ao notar minha preocupação. Aquele rapaz era estranho, eu não esboçava reação alguma, mas mesmo assim ele parecia adivinhar meus pensamentos e preocupações.

Edward pegou uma grande fatia de bolo de fubá e comeu em uma mastigada só. Como confiava nele, peguei um pequeno biscoito de chocolate e mordi timidamente, comprovando que apesar de estarmos em um lugar ruim, eles se preocupavam em oferecer uma boa alimentação para os pacientes.

—Edward? E a história? – Cobrei. Já havia devorado todos os biscoitos que haviam sobrado em uma travessa, satisfazendo-me facilmente. Joguei-me preguiçosamente em uma cadeira enquanto trazia o rapaz comigo em sua cadeira de rodas.

Estranhei a falta de movimentação naquele refeitório, onde estariam os outros pacientes?

—Eles estão dormindo provavelmente. Acho que só nós dois somos loucos de comer restos em plenas quatro da madrugada. – Disse ignorando completamente minha pergunta. Ou ele lia mentes ou era perceptivo demais e notou meu olhar perdido no refeitório vazio.

—Restos? Como eles recusam essas delicias? – Exclamei. Apalpava meu abdome saliente enquanto me lembrava do gosto daqueles biscoitos. Há muito tempo não comia algo tão gostoso, havia até deixado minha bulimia de lado para aproveitar e me esbaldar naqueles alimentos.

—Você fala como se não comesse há dias. Verdade? – Afirmou. Fitava-me com aqueles olhos intensos, quase lendo minha alma.

—Sim. Meus tios me davam apenas alguns restos de um líquido pegajoso. Não sabia o que era aquilo, mas tomava. – Declarei. Apesar de ser um desabafo, eu continuava com minha expressão vazia de sempre.

—Entendo, por isso está tão magra. – Exclamou. Seus olhos percorriam meu corpo. Por um curto período de tempo, senti-me corar, e me repreendi por isso. – Os médicos já te deram um diagnostico? – Mudou de assunto repentinamente.

—Não. Só acordei em um quarto imundo, cheguei ontem... Ou... Não sei quanto tempo dormi. – Desabafei. Se haviam me drogado provavelmente fiquei desacordada por dias seguidos.

—Já tentou olhar na prancheta que deixam sob uma mesinha? Escrevem absurdos lá, deveria ler. – Indagou. Edward olhava para o nada com uma expressão pensativa, que segredos ele conhecia?

Fiquei em silêncio por um momento. Seja lá o que estivesse escrito naqueles papeis soltos, eu iria olhar assim que pudesse. Quem sabe assim não descobriria o que estava acontecendo comigo?

Algo me dizia que era um caso grave.

Mas eu não me importava.

Minha vida era repleta de casos graves.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capitulo!



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