Sons escrita por SobPoesia


Capítulo 7
O que você pensa sobre uma garota de 17 anos que nunca beijou?.




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Longos cabelos loiros que iam até perto de sua cintura. Olhos redondos, grandes e castanhos claros. Boca pequena, fina e rosada. Ela era algum tipo de representação da beleza inalcançável, do padrão. Queria matá-la, mas ao mesmo tempo, queria ser ela. Queria...

Talvez eu não pudesse querer aquilo.

Fiquei a observando, enquanto todos entravam na sala. Ela se sentou na primeira carteira, na fileira bem a minha frente, me fazendo parar, fitando cada movimento seu. Lydia se agachou ao seu lado. Conversaram em sinais por pouco tempo. Ambas se levantaram e vieram em minha direção.

Queria pensar em algo, parar de observá-la daquela forma, mas tudo que consegui foi uma grande tela azul em todo o meu cérebro.

Levantei-me. Ela tinha cheiro de morango.

—Essa é a Arizona, ela vai te ensinar libras. – Lydia sorriu.

—Porque ela? – ergui uma das sobrancelhas.

Para ser bem sincera, aquela garota não me parecia do tipo que perderia seu tempo comigo, perderia seu tempo me ensinando libras. Por algum tipo de preconceito formado no ensino médio, ela me parecia o tipo de garota que se importava com garotos e maquiagem.

—Porque sei fazer leitura labial e ainda consigo falar bem. – sua voz soava nasalada e sua língua parecia se embolar um pouco, além de ter falado alto, mas era completamente entendível. – Eu sempre trabalho com vocês, presos do serviço comunitário.

Seu branco sorriso me deixou sem graça. Seu hálito cheirava a chiclete de melancia.

Fiquei meio assustada, não era aquilo que eu estava esperando. Arizona sabia o que eu estava passando e o seu sorriso de simpatia mostrava isso.

Trocamos números de telefones e a aula começou. Estava perdida em meio aos sinais e sons ocos com as bocas, todos se tocavam, passavam bilhetes, mexiam as mãos... Não compreendia nada, foram horas gastas em completo nada.

Quando o último sinal soou, estava desesperada para ir para a minha casa, mas ainda não era hora de fazer aquilo. Era hora de me encontrar com Mandy. Talvez, um pouco da sua falação era exatamente o que eu estava precisando.

Mandy tinha um carro pequeno e antigo, seguindo seu estereótipo indiano. Ela o estacionou bem na frente da saída, não buzinou, eu apenas reconheci o automóvel.

—Boa noite. – ela sorriu, me observando abaixar para entrar ali.

—Boa noite. – suspirei.

—Tão ruim assim? – ela ligou o carro.

—Achei que iria dar conta de passar quase três horas em completo silêncio, mas isso é loucura. Vou perder a cabeça com dias nesse lugar. – dei uma pausa, olhei para ela.

Havia algo em minha cabeça, algo que talvez, só uma conversa com alguém que me conhece há muito tempo – e provavelmente não me julgaria –, me faria sentir melhor.

—O que você acha de uma garota em seus 17 anos que nunca beijou alguém?

Mandy franziu as sobrancelhas, olhou para mim por alguns segundos e voltou a prestar atenção nas ruas, abrindo um sorriso de canto de boca.

—Você tem vergonha de si mesma?

—É uma daquelas coisas esquisitas. Você sempre escuta: "esse tipo de garota", mas nunca para pra pensar que pode ser esse tipo. Eu sou a Frankie, nunca pensei em mim como: "uma garota de 17 anos que nunca beijou alguém". E esse aspecto me engloba.

—Você está realmente mudando.

—Não gosto disso. – apoiei meu cabelo na janela.

Ao encontrar o vidro, meu ferimento doeu, em um choque agudo e gelado que percorreu a minha cabeça. Deveria estar traumatizada, deveria nunca mais querer entrar em um carro, mas estava ali, revendo outros desastres acidentais da minha vida.

Se as mudanças significavam isso, rever e odiar todos os aspectos dos meus 17 anos respirando, meu estado de dormência anterior parecia bem agradável.

—Frankie, você não gosta disso ou não gosta de você? – sua voz soou um pouco mais seria.

A frase ecoou em minha cabeça.

Qual era a resposta verdadeira? Já que a certa, todos nós sabíamos qual era.

Fiquei calada, aquele era um pensamento do qual eu não daria conta de processar dentro de um carro, com outra pessoa indo tomar a merda de um sorvete. Mandy notou o silêncio e continuou, sabendo que não iria conseguir me fazer falar.

—Não acho que tenha algo de errado. Você não tem que beijar alguém para se validar como pessoa.

—Esse não é o problema. Eu não pensava nisso, mas hoje, Nolan disse que os garotos sentem algo por mim. Foi a primeira vez que eu os vi assim, como... Sei lá... Como caras, com testosterona e aparatos sexuais. – me senti como uma garota de 12 anos dizendo aquilo – Então, a Lydia disse que eu estou perdendo algo. Essas coisas me incomodaram. Não sei se me convenceram ou se isso é algo que eu, na verdade, venho sentindo a muito tempo, mas não sabia direito o nome. – não conseguia a olhar, então fiquei focada nas minhas mãos gesticulando.

—Então... Você quer saber o que eu acho, já que eu fiz todas essas coisas. Daí vai saber se está realmente perdendo algo? Se tudo isso são argumentos validos?

—Algo do tipo...

—Que garotos sentem algo por você?

—Que diferença isso faz? – me virei para vê-la, um pouco indignada com aquela pergunta.

—Porque você só vai estar fazendo algo se não estiver com alguém que vai te fazer sentir incrível. É simples. Garotos são perda de tempo se te fazem mal. Se o Brad for esse cara, você não está, porque, Frankie, você é frágil demais para lidar com aquele cara... Já, se Chip for esse cara, você está perdendo muitas coisas. – ela assentiu, sorrindo.

Como ela sabia tanto sobre os meus garotos?

—Não acho que isso também seja um problema. Não é como se eu fosse a garota mais feia do mundo. Sempre vão haver pessoas. Eu quero saber se vale a pena se esforçar por elas.

—Entre todos os corações partidos e prazeres... Você não está perdendo nada. Qualquer pessoa te dirá que quando não estava se envolvendo com ninguém, estava muito mais feliz. Garotos são problemas. E ainda tem as garotas! Por favor, continue ingênua.

As suas expressões mudavam de formas engraçadas.

—Você gosta de garotas?

—Você está julgando, Frankie?

—Não. – sorri.

—Eu tentei, eu gostei. Mas agora não sei muito bem o que fazer com essa informação, sabe? Elas são legais, eu gosto delas. Isso significa que eu deveria tentar namorar alguma? Desistir dos garotos pra sempre? É tudo muito confuso. – ela me olhou nos olhos, procurando algum tipo de reafirmação de que estava tudo bem.

—É tudo muito confuso... – parei e pensei – Mandy, eu sou gostosa?

Ela sorriu. Era a minha forma de dizer que estava tudo bem.

Foi bom sair com ela, ir na sorveteria e falar sobre coisas que não envolviam o acidente. Queria que aquele momento durasse para sempre, mas, logo estava tarde demais e era hora de voltar a minha realidade.


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Notas finais do capítulo

O nome desse capitulo é tão longo que poderia ser uma musica do Fall Out Boy.



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