Sons escrita por SobPoesia


Capítulo 22
Um novo beijo para a lista.




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Eu tinha algum problema, que cada dia parecia ser mais sério.

Minha rotina começou a pesar, mas não lentamente como quando começou a me satisfazer; fora simplesmente da noite para o dia. Os estudos de manhã já não entravam na minha cabeça, eu não era produtiva. As aulas já não faziam mais sentido algum. E Chip perdera a magia de um grande ursinho carinhoso que só me fazia sentir bem.

Queria correr, gritar e fugir, mas nada disso iria realmente me livrar da culpa e desconforto por sentir tudo aquilo.

Queria achar palavras para descrever todo aquele turbilhão de emoções esquisitas que me incomodavam, mas ao final, não havia alguém para ouvi-las.

Porém, em todas as tardes, minha mente seguia para um lugar seguro, indo de encontro aos seus loiros e grossos cabelos e aos finos lábios rosados.

No final daquele cálculo matemático simples, era claro que eu não queria querê-la, muito menos entender o que tudo aquilo significava. Queria querer a minha antiga felicidade, com sábados na pista, uma vida com Chip, uma rápida saída da escola... Mas meus sentimentos não acompanhavam nada daquilo. O que eu sentia não podia ser racionalizado, era só o que eu sentia.

No domingo de manhã tomei um longo banho e um café da manhã demorado. Podia mentir para vocês, mas não para mim, eu estava ganhando tempo.

Subi em meu skate com os cabelos molhados e segui para a sua casa, ainda meio que relutante. A cada esquina, pensava em entrar em uma rua errada, mas algum tipo de magnetismo me puxava até a sua pequena casa.

Demorei muito para enviar a mensagem que dizia que havia chegado, demorei muito para acreditar que estava subindo os degraus e entrando em seu quarto. Coloquei meu skate escorado em sua camiseira com uma dificuldade imensa, pois tremia.

Seus dedos tocaram a maçaneta, mas arrepiaram a minha nuca. A cama balançou, juntamente com a minha intensa vontade de ficar e ir embora.

Pure segurou ambas as minhas mãos e com a sua voz nasalada de língua presa disse:

—Porque está tão nervosa, Frankie?

Sorri, respirei fundo. Fiz que não com a cabeça, então, com um pouco de dificuldade e pequeno vocabulário em libras, disse que era pessoal.

Ela assentiu e soletrou: "você está indo bem".

Mas suas mãos não tomavam a minha atenção. Eu conseguia apenas olhar para as formas que sua boca fazia em cada sinal, ou como ela a comprimia no final de cada frase. Em pouco, ela notou.

—Você quer me beijar. – Ela sorriu, corada.

—Eu não... - Abaixei a cabeça.

—A cabeça, Frankie. Eu não posso te ouvir. – Pure segurou meu queixo, com carinho, levantando meu rosto.

—Talvez eu não queira que ouça. – Suspirei.

—Você gosta da pessoa que está se tornando? – Ela inclinou a cabeça para a direita, como se estivesse realmente atenta aos detalhes.

—Eu não sei se deveria estar. – Engoli a seco.

Não tinha consciência daquelas verdades, elas eram tão novas quanto as minhas emoções.

"Você não precisa da permissão de ninguém para sentir" seus dedos gesticularam aquelas palavras em uma calma dança compreensiva.

"E como você se sente? " A respondi, na mesma língua de sinais difícil que se embolava para sair.

Ela sorriu, delicada. Então tocou minhas pálpebras e as fechou, com tanto cuidado quando podia.

—Isso é mais difícil, pois seus olhos já estão fechados. – Ela brincou, com ternura em sua nasalada voz.

—Por que todo mundo tem um problema com o fato de eu ser asiática? – Sorri.

Em pouco, ela beijou a ponta do meu nariz, então as minhas bochechas, meu queixo e, quando chegou aos meus lábios, eu soube que não estava pronta.

Eu nunca estive pronta para nada disso que havia acontecendo comigo.

Tive um impulso, um choque elétrico que percorreu todo o meu corpo. E eu não tenho desculpas para o que fiz, além desse impulso.

Mas ainda sim, peço desculpas.


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