Sons escrita por SobPoesia


Capítulo 12
Primeiro Strike.




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Tomei um banho, deixando Chip a minha espera. Coloquei uma blusa sem mangas, uma larga calça com joelhos rasgados e um all star surrado.

Saí do banheiro ainda com meus longos cabelos negros molhados. Gostava quando eles secavam em cima do meu skate na ida a lanchonete, eles ficavam lisos e longe do meu rosto.

Chip suspirou ao ouvir a porta. Estava deitado em minha cama, completamente largado, como se a casa fosse dele. Saí do banheiro, ele se sentou, coloquei o telefone ao seu lado na cama.

—Onde ficam as suas calcinhas? Eu procurei no quarto inteiro... – Ele sorriu.

—Chip... – Bufei e ele abriu ainda mais seu sorriso, quis entrar na brincadeira – Você procurou no closet? É a única gaveta com coisas. Mas, se você quiser cheirar as sujas, elas ficam no banheiro. – Sentei-me ao lado dele.

—Posso ir lá agora? – Ele segurou minha mão.

Aquilo não foi desconfortável, fora apenas algo natural.

—O hospital ligou. – Levantei-me.

—Steve?

—Não, meu outro amigo que está internado. – Virei-me para ele, que fechou o cenho – Sim, Steve. Ele já está recebendo visitas e quer que eu vá vê-lo hoje. – Entrei em meu closet, buscando meu skate.

—Quando?

—As 14. Vou almoçar com vocês e sigo para lá, então volto e passo o resto do dia na pista. Amanhã, vamos todos os garotos. – O achei, então saí do closet o carregando.

Chip assentiu e se levantou.

Descemos a escada, ele pegou seu skate no pé da mesma. Porém, assim que abrimos a porta, ouvi a voz da minha mãe na cozinha.

—Francesca? – Ela me chamou.

—Fuja. – Virei-me para Chip.

—Estarei nos arbustos. – Ele saiu, com dois skates na mão e um olhar assustado.

Fui até a cozinha. As sobrancelhas juntas e a respiração calma nunca significavam algo bom.

Em um passado, ela gritava comigo, me dava lições de moral e me colocava de castigo, tudo isso de forma constante. Depois de quase dois anos fugindo, escondendo e mentindo, aquela calma expressão de quem está perto de perder a cabeça sumiu. Nós havíamos nos perdido em meio ao fato de que eu havia me perdido.

Agora, era diferente. Eu realmente fui atingida pelo olhar desapontado que não via há muito tempo. Queria fazer algo para ser melhor para ela, mas não abriria mão do que me fazia bem, decisões que já havia tomado antes daquela conversa.

—Tinha um garoto lá em cima? – Ela parou, segurando na cintura, com os olhos fundo aos meus.

Não consegui responder, apenas assenti e ela continuou:

—Frankie, você está me dizendo que tinha um garoto trancado no seu quarto com você, enquanto você claramente tomava banho?

—Eu não sabia dessa regra muito específica nesta casa. – Brinquei.

—Você não conhece as regras desta casa, até porque, nunca se importou com ela a ponto de prestar atenção no que estava sendo passado para você. – Sua voz ficou aguda e a cada palavra, mais alta.

—Talvez, se eu tivesse um voto de confiança e paciência da sua parte, aprenderia todas elas, mostraria que me importo. – Dei um passo para trás.

Não queria uma discussão e não suportava ser gritada.

Eu era uma pessoa diferente e, dentro daquela semana, já havia provado aquilo. Fui a todos os dias do meu julgamento, aparecendo sempre no horário certo. Cumpri com a obrigação de ir a todas as aulas e de ir ao meu serviço comunitário. Tinha, até mesmo, jantado com a minha família pela primeira vez desde que meu pai havia morrido.

Se aquilo não era bom o suficiente, eu não sabia o que era.

Fui consumida pelo sentimento de que, não importava quais mudanças eu mostrasse, ela sempre veria a antiga Frankie.

Aquele sentimento, foi o que, atualmente, eu chamo de Primeiro Strike. O primeiro passo de uma série de três que trouxeram consequências enormes na minha vida.

—Você nunca me deu motivos para te dar um voto de confiança, Francesca, para acreditar nessas palavras. Quer realmente que eu deposite coisas novas em cima de você na semana do seu julgamento por um acidente de carro que quase matou diversas pessoas? Eu não posso fazer isso. – Seus gritos apenas confirmaram o que já estava dentro da minha mente.

—Então você não terá esses motivos, mamãe.

Meu tom ríspido, de voz baixa antecipou a minha saída. Simples assim, virei as costas e saí daquela casa, batendo a porta com força. Não era uma conversa da qual eu realmente queria participar.

—Dava pra ouvir vocês duas daqui. – Chip se levantou dos 3 pequenos degraus assim que saí, meio que em um pulo assustado.

—Você não teria cigarros? – Sorri, respirando fundo.

—Sim...

Sua grande mão esquerda entrou em sua jaqueta, tirando um maço preto com um isqueiro amarelo dentro. Coloquei a mão ali mesmo e puxei, um cigarro branco e o fogo, acendendo-o. Guarde o pequeno aparato dentro do maço, joguei meu skate três degraus abaixo e pulei em cima dele.

Ouvi uma boa risada curta e oca atrás de mim, vinda do meu novo companheiro. Mas o melhor som do mundo ainda era o ranger de dentes da mamãe através da janela da cozinha.

Não esperei, por nada. Coloquei meu pé no chão e me impulsionei até subir a rua, com as rodas raspando ao chão, soltando aquele barulho árido e seco, que amava tanto.

O vento jogou meus cabelos para trás, a fumaça entrava em meus pulmões, o sol batia em meu rosto. Toda a liberdade que haviam tirado de mim, voltava a pulsar em minhas veias, me dando uma dor de cabeça e uma leve tontura prazerosa. Aquele era o único lugar ao qual pertencia, com o mundo abaixo dos meus pés e em alta velocidade. Eu era Frankie, e amava isso.


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