Do It Like A Man escrita por Bela Barbosa


Capítulo 2
Capítulo II - Mean


Notas iniciais do capítulo

Ooooi, amores! Tudo bem com vocês? Como estão? Enfim, eu gostaria de agradecer a quem comentou no nosso primeiro capítulo, de verdade, alegraram muito meu coraçãozinho de escritora ♥ Por isso, gostaria de pedir que todos os outros que leem essa fic, por favor, comentem ao menos pra eu saber de vocês, ok?
Boa leitura, espero que gostem!



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MÚSICA DO CAPÍTULO

1 mês antes...

O despertador, como sempre, tocou às 4:30 da manhã, que para mim significava hora de levantar. Acordar sem o sol já se espreguiçando no céu era um pouco difícil, mas não algo a ponto de me tirar reclamações. Alguns dias eram mais difíceis do que outros, claro, ninguém quer acordar tão cedo depois de beber com os amigos ou de fazer sexo com o namorado. Mas mesmo assim, era meu compromisso comigo mesma, e por isso nunca houve exceções.

Abri o dia com um suspiro e bati a mão no despertador, cessando, assim, a musiquinha idiota que tocava todos os dias. Chuck se remexeu ao meu lado, grunhindo. Virei-me para ele e o analisei bem. Mesmo que ainda dormindo e com os olhos cheios de remela, ele era um dos homens mais lindos com o qual já tive contato em 23 anos de vida. Tinha os cabelos castanhos, mas bem claros, lisos, e insistentemente bagunçados e rebeldes. As sobrancelhas eram da mesma cor e um tanto grossas, combinando perfeitamente com seus pequenos olhos azuis esverdeados, tão claros que beiravam a transparência. Mas, no momento, seus belos globos oculares estavam escondidos pelo sono. Por fim, seus lábios extremamente finos e nariz que indicava a ascendência judia da família eram o traço final responsável por transformar seu rosto numa obra arrebatadora.

Dei um leve sorriso para comemorar o fato de ter aquele homem inteiro particular e unicamente para mim.

Assim que virei-me para levantar de vez e ir preparar minha primeira refeição, sinto uma mão me agarrar com força pelo pulso e me puxar de volta para a cama, onde caí abruptamente, deitada, de novo ao lado de Chuck. Gemi com o impacto.

— Amor... - A voz matinal tipicamente manhosa de Chuck se fez ouvir - Será que você não pode dar a si mesma um dia de folga? - Perguntou ainda de olhos fechados.

Ri sem muito humor.

— Você sabe que não posso.

Meu namorado bufou e abriu com dificuldade os olhos, que de manhã pareciam mais verdes do que azuis.

— Por favor, D. Fica aqui comigo.

Acariciei sua bochecha e balancei  a cabeça negativamente. Em resposta, Chuck pulou por cima de mim e me impediu de sair dali, colocando uma perna e um braço de cada lado do meu corpo, travando-me na cama.

— Se você quiser - Ele começou, com um dos olhos mais fechado do que o outro, o que eu já sabia que significava uma tentativa, geralmente bem sucedida, de ser sexy -, a gente pode repetir o que fez ontem à noite.

A noite passada havia sido realmente boa. Vinho, risoto, restaurante chique e sexo. Mas minha vida amorosa e meus objetivos pessoais sempre foram coisas bem distintas, assim como a água e o óleo, que nunca se misturam. Chuck sabia muito bem disso.

— Charles, sai de cima de mim - Pedi com certa indiferença, chamando-o pelo nome e não pelo apelido habitual.

— Não foi isso que você disse noite passada... - Chuck, com seu jeito brincalhão de sempre, respondeu.

Nós dois rimos.

Ele sabia pontualmente que as únicas situações em que eu o chamava de Charles aconteciam porque estava irritada, e isso era o suficiente para ele não querer me provocar ainda mais. Se a Dallas em seu estado natural já não era o ser humano mais amorzinho do mundo, imagina ela quando fica puta. Mas ele e seu ar descontraído sempre encontravam a forma perfeita de deixar o clima mais leve.

— Não vai me dar nem um beijinho? - Indagou, fazendo seu típico beiço e olhar de cachorrinho que caiu da mudança.

Minha única resposta foi um olhar torto e uma expressão que se traduzia em puro sarcasmo, o que ele pareceu entender bem. Em concessão, Charles saiu de cima de mim e permitiu que eu fosse, finalmente, para a cozinha.

Chegando lá, preparei uma vitamina com ovos crus, beterraba, banana, batata, kiwi e pepino: a combinação perfeita para me fornecer carboidratos, lipídios, proteínas, glicose e água em quantidade suficiente para encarar o dia.

Tomei a vitamina que eu achava, sobretudo, pestilenta e completamente execrável, mas que, graças ao costume e à disciplina, já não me parecia mais tão nojenta e, assim, dei início à minha sequência de exercícios. Primeiro, a caminhada. Na minha cidade, Cambridge, em Massachussets, a maior pista de corrida amadora tinha 15km, e eu os percorria todas as manhãs desde os 15 anos, ida e volta, o que geralmente demorava uma hora e meia. Depois, eu ía até a academia mais próxima de casa e fazia bicicleta por 30 minutos e esteira por mais 30. Para finalizar, preferia os exercícios mais "manuais", digamos assim, e por isso fazia barra, levantamento de peso, flexões e um pouco de boxe. 

Se hoje fosse qualquer dia normal, eu voltaria para casa agora, por volta das 8:00h da manhã, provavelmente iria correndo, acordaria Chuck (e talvez fizéssemos sexo novamente), nós jogaríamos xadrez, talvez até estudássemos antes de almoçar e depois eu visitaria a biblioteca da faculdade para aprender alguma coisa nova. Todavia, hoje não era um dia como qualquer outro. Hoje é o dia em que eu, Chuck e mais um garoto da nossa turma de Direito, Cameron Young, iremos viajar para Chicago, que nada mais é do que praticamente atravessando o país, para passarmos um mês trabalhando como investigadores no Departamento de Polícia da cidade.

Eu não podia estar mais ansiosa para este momento! Especialmente porque ir para Chicago, um dos grandes centros do país, para atuar como policial, era um reconhecimento de todos os meus esforços até o presente para ser, futuramente, uma delegada. Minhas emoções se resumiam a ansiedade, excitação, alegria e curiosidade.

Eu me perguntava como tudo seria assim que chegasse lá, mas uma palavra eu podia dizer desde já sobre como seria toda essa experiência: maravilhosa! Tinha certeza de que, quando chegar lá, serei muito bem recebida por todos os policiais, e devidamente prestigiada por minha disciplina e compromisso com o trabalho.

Tudo bem, admito que por um lado não sou a pessoa mais emotiva das galáxias, mas qual é, todo mundo tem que ter aquele dia pra se permitir sentir mais do que pode. Hoje era o meu dia. Eu chegaria lá, daria o meu melhor, impressionaria a todos com meu comprometimento e, se fizesse as amizades certas – claro que isso não inclui puxar o saco de ninguém, já que eu reconheço meu próprio talento – e tomasse as melhores decisões, quem sabe teria meu cargo efetivado logo após me formar... esse é o sonho! E eu não passava de pensar nele.

— Alguém aceita mas uma barrinha de cereal? – Perguntei amigável assim que descemos do vôo.

Tecnicamente, uma saída fácil, pois, segundo ordens da professora Amanda Clark, a que nos tinha indicado para o serviço em Chicago, o DP (Departamento de Polícia) fazia questão que nós levássemos apenas uma mochila com artigos pessoais, pois eles mesmos liberariam verbas para que nós comprássemos roupas, sapatos e outras coisas que eventualmente pudéssemos precisar. Provavelmente, resoluções para evitar o transporte de qualquer elemento ilícito.

Após minha pergunta, ambos, Chuck e Cameron, se entreolharam com feições assustadas e imediatamente negaram minha oferta.

— Dallas, meu amor, você nos enfiou essas barras goela abaixo a viagem inteira. Agora, se eu encontrar uma dessas pela frente sou capaz de broxar.

Cameron riu, ao passo que eu apenas bufei um tanto frustrada. Ao longo dos anos, tinha desenvolvido o péssimo hábito de comer quando ficava nervosa ou ansiosa, o que se encaixava perfeitamente à situação. Além do mais, o que pode ser mais delicioso do que barras cereais ultracalóricas de brigadeiro, não é mesmo?

Ao observar minha reação, Chuck se aproximou com um sorriso sexy desenhado no rosto.

— Vem cá, minha devoradora de barras cereais preferida! – Disse, puxando-me para um abraço que imediatamente repudiei, afastando-me dele num pulo.

— Charles! – Protestei em tom de censura – Você sabe sobre minha política em relação a demonstrações públicas de afeto.

Em resposta, ele apenas suspirou com certo pesar e gesticulou com as mãos que eu seguisse em frente.

— Tanto faz... – Sibilou.

Visivelmente, ele estava chateado, no entanto, o que eu posso fazer? Essas regras são tão íntimas a mim quanto meu próprio meu nome, e violá-las seria muito estranho, especialmente após seis anos de namoro, dentro dos quais Chuck já deveria ter se acostumado a elas.

Ergui os ombros e os sacudi, tendo em mente apenas aquele velho ditado: “Vamo fazer o quê, né?” e continuei caminhando ao lado de Cameron, um pouco atrás de Charles.

— Sério – O garoto loiro que nos acompanhava se pronunciou -, vocês são muito estranhos – Completou ajeitando a mochila em suas costas.

Ri em retorno.

— Você ainda não viu nada, Cam... – Respondi.

Cam. O chamei por esse apelido apenas ali. Não conversávamos muito durante as aulas, mas o que eu sabia dele era que tinha familiares na polícia e geralmente tinha notas empatadas com as minhas em direito penal. Mas, de alguma forma, ele parecia uma pessoa muito boa e confiável, além de esperto. Tinha os olhos azuis e barba feita, muito bem feita, aliás. Nariz fino e sobrancelhas tão amarelas quanto seu cabelo loiro liso que geralmente estava jogado para um lado só como se ele vivesse eternamente no verão, mas nunca grande demais para cobrir seus olhos.

E o aeroporto? Não era nada que eu já não tivesse visto, afinal. Todas as cidades grandes eram iguais, ao menos na minha cabeça. Grandes paredes de concreto, acabamento em vidro e tons cromados, corredores, elevadores e uma enorme pista de pouco. Provavelmente, a cidade em si fosse tão análoga a todas as outras que eu já tinha visto, que a única coisa que me excitava ali e me deixava curiosa sobre o local era a própria delegacia. Não via a hora de chegar lá!

Assim que chegamos ao saguão de desembarque, um homem de cabelos grisalhos e aparência ríspida nos esperava trajando um uniforme azul marinho da polícia de Chicago e uma boina da mesma cor. Lia-se em sua roupa “Perito Ross Grayson”. Não preciso nem dizer que já estavame imaginando usando uma igualzinha aquela, não é? Mas com meu nome e o belo corte feminino das roupas policiais. Eu mal podia esperar por esse dia.... Ademais, ele segurava uma placa que continha escrito “Srta. Brooke, Sr. White & Sr. Young”.

Andamos até ele, os três quase explodindo de ansiedade, e o saudamos com um “Oi!” em uníssono, ao que obtivemos como resposta apenas um seco “Bem-vindos a Chicago”. O perito Grayson era realmente estranho. Se observado de perto, ele parecia ter os olhos praticamente fechados e eu podia jurar que o desenho da sua boca era contornado para baixo e não para cima, como o de todo mundo.

Arregalei os olhos assim que ele nos deu as costas. Era um homem assustador, mas de uma forma cômica. Meus companheiros riram tanto quanto eu à medida que o seguíamos pelo estacionamento, até uma viatura policial na qual nós três nos alojamos no banco de trás.

Está acontecendo!, eu pensava, estou dentro de uma viatura oficial da polícia de Chicago!. E mesmo com Chuck ainda bravo sem falar diretamente comigo, eu não pude conter um sorriso que nasceu no meu rosto e cresceu até se estender por minhas bochechas.

Durante todo o trajeto, tudo em que eu conseguia pensar era percorrer aquelas ruas dirigindo um carro daqueles, ou patrulhando algum bairro, tendo minha própria licença para portar armas (cá entre nós, eu mal podia esperar para começar minhas aulas de tiro!)  e até mesmo já pensava em como seria fazer uma perseguição naquela imensa cidade.

Tive bastante tempo para ficar sozinha com meus pensamentos, uma vez que Ross Grayson fazia o tipo caladão e Chuck e Cam conversavam apenas entre sim. Sempre que Cameron tentava me puxar para o assunto, meu namorado arrumava um jeito de desconversar. Aparentemente, eu estava recebendo o famoso tratamento do silêncio. Não que eu fosse do tipo que se importava muito.

Não muito tempo depois, paramos em frente à tão esperada delegacia de Chicago. O prédio se revelava enorme, composto por quatro andares largos e altos todos de cor cinza externamente, com janelas retangulares de vidros bem distribuídas por toda sua extensão. Bem na entrada, ostentavam-se as bandeiras dos Estados Unidos e do estado de Illinóis. Havia também diversas viaturas (tanto carros quanto motos) estacionadas em frente ao edifício, com vários outros policiais trocando ideias naquelas imediações. Exatamente como eu tinha sonhado.

— Escutem, novatos – A voz rude do Sr. Grayson se fez ouvir -, só a garota desce.

O quê? Todos franzimos o cenho em coro e nos olhamos, indagando internamente a razão daquele aviso.

— Um pessoal da patrulha requisitou os meninos em outra parte da cidade e disseram para deixar apenas a Srta. Brooke por aqui. Então, moça, essa é sua parada – Anunciou o policial.

Meu jeito curioso e proativo teve de se conter naquele momento. Parte de ser um policial, especialmente não efetivado se resume a obedecer ordens, e eu não podia querer quebrar essa regra justo no primeiro dia enquanto ainda não tinha feito nada para ganhar credibilidade.

Então, apenas assenti e desci do carro. Chuck ainda parecia com raiva, por isso, apenas acenei com a mão para os dois e recebi um “tchau” em resposta apenas de Cameron. De certo, eu e o moreno do carro nos resolveríamos mais tarde, quando eles voltassem.

Deixei o carro e os observei sumir por uma curva qualquer. Em seguida, encarei o enorme prédio no qual ficava a delegacia cheia de expectativas. Respirei fundo, sem conseguir conter um enorme sorriso.

Por um instante, perguntei a mim mesma qual a razão de eu ter descido sozinha ali. Após considerar muitas razões, decidi me ater à mais plausível de todas: provavelmente, o setor de inteligência havia analisado minha ficha e visto que meu desempenho e atividades extracurriculares eram superiores em quantidade e qualidade em relação às grades dos meninos. Por isso, eles deviam ter reservado a primeira noite para me fazer uma proposta diferente daquela que fariam aos meninos. Eu sabia, sabia que aqui meus feitos teriam o devido valor!

Antes mesmo que eu desse o primeiro passo para dentro da delegacia, um policial aproximou-se de mim com os braços cruzados e um sorriso maroto em seus lábios.

— Boa noite. Você é a... Srta. Brooke? – Indagou coçando o próprio queixo.

Ao verem aquele movimento, mais uns 11 ou 12 policiais se aproximaram dele, cercando-me. Juntei as sobrancelhas, achando tal recepção um pouco estranha, mas sem uma opinião muito formada.

— Sim – Respondi sem demonstrar o desconforto -, sou eu mesma. Tem alguém do Comando de Inteligência esperando por mim aí? – Perguntei apontando para o prédio.

O policial que, conforme eu havia visto em seu uniforme, chamava-se John Dax, cresceu o sorriso no rosto.

— Na verdade... nós estamos esperando por você – Afirmou e cutucou os que estavam mais perto de si.

Comprimi os lábios ainda desconfiada, mas resolvi dar um crédito a eles, afinal, eram policiais. Deviam ser nobres como todos os outros que eu já havia conhecido.

Dax fez sinal para que eu o seguisse, e assim o fiz, sendo escoltada por todos os outros homens. Infelizmente, não entramos na delegacia pela porta principal, mas demos a volta pelo quarteirão todo ocupado pelo estabelecimento e fomos parar nos fundos do mesmo, de frente para um monstruoso portão de metal que deveria ter entre 8 e 10 metros. Era gigante mesmo, e o material parecia tão resistente que poderia sobreviver a um apocalipse nuclear. Nos aproximamos dele e, surpreendentemente, nem com meu pescoço virado em sua inclinação total eu conseguia enxergar o fim do grande portão. Dax deu duas fortes batidas nele e então um sentinela que jazia numa torre, a qual eu ainda não havia notado, mas ficava no topo daquela entrada, disparou algum comando que abria o portão. Assim, entrei lá acompanhada por todos aqueles oficiais sinceramente esperando que houvesse uma espécie de festa de boas-vindas para mim e os meninos ali, uma alternativa que não parecia de muita credibilidade, para dizer a verdade.

Me deparei com um enorme pátio completamente livre: não havia carros, nem caminhões, nem motos, nem sequer jarros com flores ou uma enorme mesa com um bolo, como minha cabeça boba quis pensar. Era apenas um vasto e remoto espaço feito todo de cimento com alguns arames ao redor e paredes ásperas que delimitavam o ambiente. Reparei que as altas paredes estavam repletas de reforços de segurança além de dezenas de câmeras espalhadas. Deduzi, então, que aquele era o espaço para o banho de sol dos presos. Me perguntei o que estávamos fazendo ali e decidi verbalizar, pois caminhar sem rumo atrás de uns 13 caras era algo que me incomodava um bocado.

— O que viemos fazer aqui? – Indaguei, provocando risadinhas entre alguns dos policiais.

Enfim, eles todos se dispuseram como que numa roda em volta de mim, deixando-me bem de frente para John Dax, um homem asiático, magro e de porte magro, que sorria de modo um tanto maquiavélico. Ele cruzou os braços, encarando minhas sobrancelhas arqueadas.

 - Tire sua roupa, Brooke – Ele ordenou.

De imediato, meus olhos se arregalaram e minha boca abriu-se formando um perfeito número zero de pura perplexidade.

— Você não pode estar falando sério – Repliquei alternando olhares entre ele e os outros homens da roda.

Para minha infelicidade, nenhum deles riu ou sequer mudou a postura, do contrário, permaneceram todos quietos e com seriedade.

— Não é brincadeira – Tornou a falar – Tire sua roupa. Agora.

— E se eu não quiser? – Devolvi, já sentindo o rosto arder de raiva.

Dax deu alguns passos em minha direção, carregava um olhar tão desafiador quanto o meu.

— Tire. Sua. Roupa.

— Não – Repeti, seca.

— Vamos lá, Brooke, coopere.... – Começou ele, relaxando a postura e caminhando por perto de seus homens – Nós somos policiais, não estupradores. Não vamos te machucar, desde que faça como pedimos.

Olhei para os outros lados. Mesmo que com o portão ainda aberto, não via uma única alma viva ali que pudesse fazer o mínimo esforço de me ajudar. Talvez, se eu estivesse à sós com Dax, levasse vantagem na hora de escapar. Contudo, eram 13 contra uma. Eu não tinha chance com mais de uma dúzia de policiais armados e treinados ao meu redor. Chutei o chão de ódio e bufei em seguida, enquanto ainda recebia olhares perversos de todos eles. Dax ainda me rodeava, esperando mesmo que eu tirasse a roupa.

Meus sentimentos estavam confusos à essa altura, pois eu sabia que tentar correr até o portão seria quase inútil, bem como tentar enfrentar todos eles sem arma alguma, o que me deixava com um misto de raiva, resignação e incapacidade que estavam me levando â loucura. Não poder fazer nada estava me matando.

Ainda assim, decidi tentar a primeira opção: correr até o portão e escapar correndo. Para meu descontentamento, ao primeiro sinal de movimento brusco, alguns deles se juntaram na direção que eu dei a entender que iria e fizeram uma parede humana, responsável não apenas por barrar minha saída, como também me derrubar de costas no chão.

— Ai! – Exclamei devido à colisão.

Dax e os outros riam. Sem mais tempo para passar vergonha, me levantei com a pior expressão de ódio que podia fazer e encarei o alfa daqueles policiais idiotas, mordendo a língua para tentar aliviar o estresse.

— Você não tem como fugir daqui, princesa— Ao ouvir aquelas palavras saírem de sua boca, meu sexto sentido de tragédias avisou que, dali em diante, esse apelido estava reservado à mim.

— Não me chame desse jeito – Grunhi entredentes.

Dax riu, desdenhoso.

 – E, porque não se comportou, George – Chamou um dos seus pau-mandados, que virou seu rosto para ele no mesmo segundo -, vá buscar o castigo.

Impaciente, abri os braços e desmanchei minhas feições na mais pura representação de choque e atonicidade.

— Qual é, castigo? Vocês são policiais, não um grupo de veteranos babacas da faculdade! – Protestei.

— Você está em minoria aqui, princesinha – Ele provocou – Não está numa posição muito boa para criticar.

Caminhou até mim e eu tinha certeza de que aqueles que nos observavam de fora não conseguiam se decidir sobre quem tinha mais ira no olhar e um belo nariz levantado por puro orgulho. Ambos tínhamos olhares desafiadores um para o outro.

— Anda – Dax apressou -, tira a roupa.

Mordi os lábios com tanta força que não muitos segundos depois, o gosto salgado do sangue se fez presente em minha língua e eu engoli em seco. De fato, não estava numa posição que me permitia decidir muita coisa. E isso acabava comigo. No entanto, para dar um fim de vez nisso, tomei uma decisão de 5 segundos da qual sabia que me arrependeria mais tarde.

— Ok – Rosnei.

Andei um pouco para trás, me centralizando na roda daqueles machos imbecis e lhes concedi seu pedido. Primeiro, joguei a mochila no chão, ainda com meu olhar focado em Dax e preenchido por um orgulho totalmente ferido acompanhado de seguidas atitudes forçadas. Esse bastardo ainda me paga, pensei.

Depois, retirei minha blusa, o que causou uma certa movimentação entre aqueles homens e alguns cochichos que eram inaudíveis. Joguei-a no chão com o mais autêntico ódio, deixando à mostra meu abdômen e os seios cobertos por um sutiã preto com detalhes em renda. Antes de retirar a calça, me abaixei e desatei os nós dos tênis, lançando-os para longe com meus próprios pés. Só então, desafivelei o cinto e, ainda indignada, desabotoei a calça, retirando-a visivelmente contrariada. Com os pés, a empurrei para longe e pus as mãos na cintura, ignorando os comentários idiotas que ouvia por minha calcinha também ser de renda e a lingerie, em si, formar um conjunto sexy.

— Eu não tenho medo de vocês – Declarei em voz alta, fazendo-os pararem – É, é isso mesmo – Reforcei, dando um giro para olhar bem nos olhos de cada um –, eu não tenho medo de nenhum de vocês.

Tentava sugar, do fundo das minhas forças, o resto de dignidade que eu tinha, pois sentia que ela toda havia sido arrancada do meu corpo junto às minhas roupas e jogada para o lado da mesma forma. Ao menos, eles me encaravam com seriedade.

— Podem fazer o que quiserem: me mandar tirar a roupa, até ficar pelada, porque eu sou uma mulher e vocês sabem disso, esse é meu corpo e eu não tenho vergonha dele. Vocês não vão me intimidar.

Quando, finalmente, eu conseguia me sentir menos constrangida mediante àquela situação, a bendita lei de Murphy resolve aplicar-se à minha vida. Ouço passos caminhando na minha direção, e, quando finalmente me viro para olhar o que eram, percebo que já é tarde demais: o tal George chega com um enorme balde d’água e sem que eu tivesse tempo para proferir uma única palavra, ele lança sobre mim o recipiente de água fria na frente de todos ali, o tal castigo que Dax havia pedido.

Prontamente, todos os outros homens que estavam ali gargalharam alto da minha deplorável situação. De calcinha e sutiã, toda molhada, congelada até a sola do pé e mais desmoralizada do que jamais estive em toda a minha vida. Naquele instante, eu só consegui abrir a boca em choque e não dava conta de fazer mais nada além de olhar irresoluta para aqueles terríveis homens que me cercavam.

Com a mão, pus a franja do cabelo para trás da orelha e continuei a observá-los, rindo de mim como se fosse um animal de circo. Eu não ia mais me permitir ser humilhada a tal ponto. Possessa por uma raiva como eu acho que nunca senti antes, caminhei em passos grosseiros até chegar em Dax, que parecia se divertir como num show de stand up e lhe dei um forte soco com a mão mais pesada que pude, o que gerou um barulho alto de impacto, fazendo com que os outros cessassem os risos e nos fitassem estarrecidos.

— Já chega! – Berrei com autoridade, ofegante por causa da adrenalina.

Ele levou sua mão ao nariz, onde eu lhe tinha acertado e de onde fluía uma fina cascata de sangue devido ao golpe e, em seguida, sua expressão transformou-se numa careta que me mirava como se eu fosse uma inimiga do Estado.

O policial, furioso, agarrou meu pulso com força e me puxou para perto dele, como se eu fosse uma boneca de pano. De certa forma, comparada à sua força, eu realmente me senti como uma. O maldito me levou para tão perto de si que seu nariz recém quebrado quase encostou no meu. Entretanto, eu ainda o encarava sem medo algum.

— Você não tem ideia do que acabou de...

— Dax, para! Solta ela! – Uma voz masculina de autor desconhecido se fez ouvir do outro lado do pátio.

Logo, me toquei que não era a voz de alguém da roda, e tanto eu quanto Dax nos viramos para olhar. Os outros policiais também pareciam igualmente surpresos, pois tornaram-se para a direção de onde o grito havia vindo e abriram caminho para que, quem quer que fosse, pudesse passar.

Assim que o caminho se fez livre, eu pude enxergar um outro policial caminhando em nossa direção, na verdade, correndo, e pelo visto para me socorrer. Ele tinha uns bons 15cm a mais do que eu – uns 5 a mais do que Dax -, cabelos loiros claros e lisos, penteados para cima, o que evidenciava os traços de seu rosto, que tinha o formato oval, mas com o maxilar um tanto quadrado e mais saliente que o resto de sua face. Sua barba por fazer ressaltava os belos traços que carregava. E os lábios dele, de uma espessura perfeita, estavam ofegando, mas seus olhos azuis de um tom muito forte agora me encaravam como se estivessem transmitindo paz e não cansaço. Um belo homem num sexy uniforme de policial.

— Você está bem? Eles te machucaram? – O loiro perguntou, ao que eu apenas respondi acenando positivamente com a cabeça.

John Dax largou meu pulso e abriu um enorme sorriso, como se o policial que acabara de chegar fosse seu velho amigo.

— Qual é, Ed, nós estávamos só nos divertindo um pouco... não tem nada de mais – O asiático justificou.

O outro balançou a cabeça em descrédito enquanto seus olhos se reviravam.

— Você chama isso de diversão? – Indagou, retoricamente, e em seguida, desviou seu olhar para os outros homens ali reunidos – Vocês todos deveriam estar em patrulha hoje à noite, seus incompetentes! – Esbravejou.

— Vamos lá, Ed, não fizemos nada com a garota! É só um trote de boas-vindas – Dax ainda tentou, mas o loiro estava visivelmente insatisfeito.

Tão insatisfeito que puxou o sorridente John pelo colarinho da camisa e o puxou, suspendendo-o alguns poucos milímetros do chão. A cara dele agora era de pânico.

— Eu sou seu superior, você me deve respeito! – Exasperou, fazendo com que Dax e os outros estremecessem de pavor – É Graham pra você. Estamos entendidos?

O desesperado asiático balançou a cabeça positivamente diversas vezes por causa de todo o seu temor, então abriu a boca e disse:

— Sim, senhor.

Ed rosnou um “ótimo” e o soltou em seguida. Assim como um alarme de incêndio, Graham, ao liberar Dax, fez com que todos circulassem e voltassem aos seus respectivos lugares, que definitivamente não era ali cometendo tais atrocidades comigo. Eu observava aqueles homens se dissipando e sinceramente não me lembro de ter poupado um único palavrão dos que eu conhecia quanto eles tomaram certa distância.

Após tanto praguejar, lembrei que tinha alguém a quem devia meus agradecimentos. Virei-me para ele, que me fitava rindo, como se tivesse achado graça na série de palavrões que eu acabara de proferir.

Se eu queria ajuda? Não, eu não queria. Eu podia ter sentido um turbilhão de sensações naquela câmara dos horrores, mas medo não foi uma delas. Eu não temia o que pudesse acontecer e tinha plena certeza de que, por pior que fosse, eu daria a volta por cima. Mas estando em tamanha desvantagem de número, ficava um pouco complicado de me defender da idiotice daqueles policiais.

Por isso, por mais que meu espírito arrogante me dissesse para falar algo do tipo “Eu não precisava de você aqui”, afinal, eu sabia que a sessão de humilhações acabaria mais cedo ou mais tarde, me senti na obrigação de agradecer àquele policial em específico, pois ele havia adiantado o fim das afrontas.

Fitei o interior de seus olhos azulados, que já me direcionavam um olhar doce de solidariedade e compreensão.

— Obrigada.

O loiro balançou a cabeça, exibindo um sorriso adorável em resposta enquanto retirava a boina azul marinho que usava sobre a cabeça, adereço que por sinal, lhe dava um charme a mais.

— Vamos lá, eu vou te levar pra dentro e a gente arruma algo pra você vestir – Convidou-me estendendo uma de suas mãos.

Sorri em agradecimento e o segui, no entanto, sem pegar em sua mão. Talvez porque eu estivesse constrangida pela situação ou simplesmente porque não era muito chegada a contatos físicos de primeira.

Mas, no intuito de não parecer grossa ou rude após o que ele havia feito por mim, me aproximei dele para dizer algo.

— Dallas Brooke - Me apresentei.

Ele voltou seus olhos para os meus e deu um sorriso torto, mas ou mesmo tempo, muito charmoso.

— Edward Graham - Falou.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? O que querem que aconteça no próximo capítulo? Deixem suas sugestões e críticas, ok? Como vcs acham que é o policial gato? Hahaha cada fim de capítulo vai ter muitas perguntas, se acostumem, seus lindosss! O que acharam da Dallas? Me digam pra eu poder agradar a todos ♥



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