Se você fechar a porta escrita por Yennefer de V


Capítulo 1
Se você fechar a porta


Notas iniciais do capítulo

Só uma one boba de como Holly e Louis da minha short "Mãe?Eu?!" se conheceram. Não é preciso ler a short pra entender. É Louis/P.O.



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Louis chegou cedo pela Rede de Flu. Sua irmã Dominique o tinha colocado como uma das pessoas autorizadas a chegar pela lareira na Morada Para Animais Fantásticos, lugar em que ele ia trabalhar por um tempo até descobrir o que queria fazer da vida.

Era extremamente difícil descobrir uma profissão para seguir depois de se formar, Louis percebeu.

As luzes da recepção já estavam acesas. Uma jovem saiu de baixo do balcão, os cabelos tão curtos que de costas ela podia se passar por um garoto, os olhos acinzentados, brilhantes e cheios de malicia.

Ela sorriu para Louis de uma forma que o deixou completamente constrangido, como se tivesse imaginando ele sem roupas.

— Louis? – perguntou a jovem. A voz dela era alegre e debochada. – Sou Holly. Trabalho com sua irmã e Lysander. Ela pediu para eu explicar como as coisas funcionam.

Todo o corpo sonolento de Louis se contraiu de nervoso. Ele estendeu a mão e pousou na que Holly ofereceu. Sentiu seu corpo levar um leve choque.

Holly riu da pose dele.

— Você não precisa ter medo de mim.

Louis ficou tremendamente vermelho. Ela era muito invasiva. Sem avisar, estava ao lado dele, carregando um punhado de pergaminhos enrolados e de cores variadas.

— Esses são os prontuários dos animais. – explicou ela já que Louis não falava nada. – Você quer café? Eu chego muito cedo e sempre trago meu café.

Holly saiu do lado dele e entrou na sala administrativa que tinha ao lado da recepção. Depois reapareceu com uma garrafa térmica e uma caneca. Pousou ambas no balcão e abasteceu a caneca.

— Você quer? – tornou a perguntar para o mudo Louis.

— Quero, obrigado. – aceitou Louis, com a voz rouca, como se não a usasse a um mês inteiro.

Ela conjurou outra caneca no ar e os dois passaram a beber. Holly bebia com pressa. Já Louis apenas bebericava.

Holly o fez se sentar em uma das cadeiras de espera da recepção. A Morada era uma clinica para animais feridos. Dominique a tinha aberto com seu namorado Lysander.

— Em cada habitat a gente faz inspeções duas vezes por dia. Uma de manhã e outra à tarde. – explicou Holly, passando a mão pelo pergaminho, usando-o de exemplo. Sem querer passou a mão pela coxa de Louis.

Em vez de ficar sem graça, Holly olhou para ele e riu. Louis se sentiu extremamente constrangido.

— Você é uma graça. – ela riu, cheia de energia para uma manhã.

Louis quis realmente aparatar dali.

— Continue a explicar. – pediu ele perturbado.

— Está bem. – Holly concordou sem tirar a mão da perna dele. – Uma vez por dia também são trocadas as refeições dos habitats. Você pode começar com inspeções no corujal, são as mais fáceis. E pode me observar dar entrada nos animais aqui na recepção.

A respiração dele foi ficando mais ofegante e a imaginação não estava em corujal nenhum.

[...]

Ele não precisava, mas passou a chegar no mesmo horário de Holly, que abria a Morada. Cinco e meia da manhã.

Era novembro, então estava ficando frio. Louis usava uma jaqueta preta e mesmo assim estava tremendo. Holly o levou para conhecer o habitat dos animais marinhos. Era um grande lago transfigurado aos pedaços para o ecossistema de diversos tipos de animais mágicos. Ela o levou para uma parte não utilizada lá na frente e tirou a roupa.

— Você ficou maluca? – gritou Louis, enquanto a seminua Holly dava gargalhadas para ele.

A pele dela era tão pálida. Ele viu cicatrizes nas pernas tortas e magras e nos joelhos estranhos. O sol se abria timidamente no céu, espelhando seu brilho opaco nos olhos acinzentados e animados dela.

Ela se jogou no lago. Por alguns segundos, Louis ficou sentado, esperando que ela submergisse tremendo de frio. Ele segurou os joelhos com as mãos, sentado num terreno nojento que era um brejo frio e lamacento, resquício de um habitat mais ao lado, adaptado para um Cava-Charco que tinha chegado dois dias antes com problemas digestivos.

Sua calça jeans se molhou toda, mas ele não prestou atenção. Ficou olhando para o lago. Se preparando para ver a cabeça de Holly sair da água com aquele sorriso travesso para ele.

Foi recompensado. A cabeleira negra de Holly apareceu, o riso e a os dentes batendo de frio, as mãos jogando água para o ar.

— Você tem que entrar! – berrou ela lá de dentro.

Louis abraçou mais os joelhos. Ele só acenou com a mão, indicando que não.

— Vamos lá, Lou! Está com medo do frio? Da água?

Louis estava mais com medo do que ela o fazia sentir, mas não respondeu nada.

[...]

Louis a ajudou a recolher as peças de roupa do chão de brejo. Estavam completamente sujas. Holly ficou tremendo, enquanto Louis olhava para ela de canto de olho, sua camiseta básica nas mãos.

Limpar! — ela apontou a varinha para as calças. Imediatamente a peça de roupa se livrou da lamaceira. Holly a vestiu, satisfeita.

Holly estendeu a mão para ele, pedindo a camiseta. Louis estava olhando tão bobamente para a barriga dela, tendo pensamentos muito inapropriados, que não percebeu sua intenção. A mão dela tocou a mão dele, que segurava a camiseta preta.

— Você está tão fria. – soltou Louis num impulso.

Ela levantou a cabeça, os fios curtos molhados, a barriga exposta, o céu se clareando da penumbra da madrugada para uma maravilhosa manhã gélida, os pés descalços no lamaçal.

Louis a fitou, tomado de um desejo maluco, animal, impulsivo. Deixou a camiseta dela cair novamente no chão, puxou-a para si e a beijou. Enrolou seus braços em torno dela, afinal, ela estava tão fria.

[...]

— Você-vai-almoçar-aqui-hoje? – soltou Louis de uma vez para Holly, que o estava evitando há uma semana.

Holly sempre saia para almoçar sozinha. Não era possível almoçar na Morada se os funcionários não levassem a comida. Não havia opção de restaurantes, lanchonetes ou barracas para adquirir o almoço por perto. Dominique e Lysander gostavam de andar até o centro comercial de Ottery St. Catchpole, a cerca de vinte minutos a pé, para almoçar. Louis começou a ir até lá sozinho desde que começou a trabalhar. Não fazia ideia de onde Holly se metia na hora do almoço.

Holly, sem olhar diretamente para ele, enfiando a cabeça embaixo do balcão da recepção, respondeu, sem graça:

— Vou sair.

Louis apoiou uma mão no balcão, observando-a aparecer. Seus cabelos estavam desarrumados pelo mergulho. Havia uma gaiola com uma coruja-buraqueira de asas machucadas e olhos amarelos no balcão, observando, parecendo entender tudo que Louis dizia.

Holly estava terminando de preencher o prontuário da coruja, passando a pena pelos lábios, distraída. Louis ficou com vontade de beijá-la novamente.

— Podemos ir até a vila. – propôs um desesperado Louis.

— Lou, eu tenho namorado. Vou almoçar na casa dele. – soltou Holly sem olhar para ele, mirando o pergaminho.

A expressão de Louis foi de puro choque. Ele se afastou. Primeiro devagar, com duvidas se devia falar alguma coisa. Depois, com a clara indiferença dela, saiu porta afora.

[...]

Ela repetiu o convite dele um mês depois. Louis aceitou claramente surpreso.

Louis a viu morder o sanduíche de forma esfomeada. Ela se lambuzava inteira. O ketchup caiu em sua camiseta, como sempre, de uma cor só (azul) e ela fez uma lambança pior tentando limpar.

— Desculpe por aquele dia no lago. – pediu Louis.

Holly fez um gesto exasperado.

— Esqueça. Já passou.

Para Louis não tinha passado. Para Louis não ia passar nunca. Em seus sonhos mais eróticos, em seus desejos mais íntimos, na voz de Holly, no corpo dela se jogando no lago. Não ia passar nunca nunca nunca.

Louis assentiu com a cabeça e mordeu o seu sanduíche devagar. Estavam em um das cadeiras de praça da feira de Ottery St. Catchpole. Compraram lanches e sucos numa lanchonete. Ficaram ouvindo o barulho das aves no ar. As ondas se quebrando abaixo do cais. Os olhos de Holly se concentravam na escadaria larga e colorida que levava até a praia, que tinha um porto cheio de barcos.

Ainda estava frio e Holly usava um cardigan cinzento como seus olhos. Louis queria tocá-la. Queria colocar os dedos na perna dela como ela tinha feito no primeiro dia. Queria passar as mãos pelos fios negros dela.

— Como está seu namorado? – perguntou Louis em tom de quem não quer nada.

— Acabamos. – Holly deu de ombros.

Louis jogou o copo de suco, ainda cheio, numa lata de lixo perto deles. Sua mão, agora livre, deslizou até a perna de Holly. Ela não o parou.

[...]

Louis estava entocado na sala administrativa. Estava enlouquecendo. Aquela mulher o enlouquecia. Ele não conseguia trabalhar direito. Não conseguia dormir direito. Achou que estava obcecado. Nem sua namoradinha de Hogwarts, nem lembrava o sobrenome dela, o fez se sentir assim.

Holly aparecia nos habitats que ele estava, no pátio perto da cerejeira quando ele estava descansando, saltitava pela recepção, sua voz falando de animais, prontuários, inspeções, altas, sua gargalhada escandalosa, seus modos grosseiros e suas frases cínicas. Ela o estava enlouquecendo.

Para dar razão a ele, a porta da sala se abriu. Era Holly, cujo sorriso se iluminou ao vê-lo sentado no sofá. Ele não soube o que fazer como sempre acontecia quando Holly aparecia de repente.

— Vim buscar café. – explicou ela, pulando as pernas dele estiradas do sofá para chegar a um dos armários de funcionários. Ela o abriu, tirou uma mochila toda pintada e cheia de broches de lá de dentro e pegou sua garrafa térmica. Tomou sem a caneca.

Depois guardou a mochila e trancou o armário.

Louis se levantou, dificultando a passagem dela de volta à porta. Ele era pelo menos uma cabeça mais alto que ela. Ela chegava ao seu peito de tão baixa.

— Holly. – Louis começou, a voz estranha, como sua voz ficava cada vez que ia dizer algo que não queria dizer.

As sobrancelhas de Holly se arquearam em confusão e ela deu um sorriso de lado, torto, deixando uma covinha aparecer em seu rosto.

— Você está me enlouquecendo. – concluiu Louis. – Eu estou apaixonado por você, pelo amor de Merlin, pare de aparecer na minha frente desse jeito, eu fico tonto, não consigo dormir, penso em você sem roupa se jogando no lago, quero desembaraçar seus cabelos, você está me enlouquecendo, me deixando louco, Holly.

O sorriso iluminado de Holly se formou no rosto dela, o mesmo que ela tinha dado no lago depois de sair da água gelada.

— Diga alguma coisa. – pediu desesperado.

Holly continuou a rir.

— Diga alguma coisa!

Holly enlaçou os braços no pescoço dele, mas ela era tão ridiculamente pequena que seus lábios não se tocaram. Louis teve que se abaixar e finalmente a beijou. Suas mãos encontraram as costas dela, mas ele percebeu que Holly continuava rindo, mesmo beijando-o.

— Você pode parar de rir de mim, por favor? – gemeu ele.

— Se você fechar a porta. – Holly respondeu, rindo abertamente dele, de sua confusão, de sua timidez e do esforço que ele fazia para não parecer um idiota completo.


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Notas finais do capítulo

♥ ~~



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