Meu estranho amor escrita por Eduardo Marais


Capítulo 7
Domingo pede cachimbo




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Era manhã quando Regina chega em seu apartamento acompanhada por Killian. Já trazem o café da manhã comprado em uma padaria na esquina próxima dali.

— Agora, estou começando a sentir sono. – Killian vai para a cozinha e começa a preparar os ingredientes para fazer café fresco.

— Tome um banho e durma aí mesmo. Tem roupas no armário e podem substituir as suas.

— Por que você guarda roupas de homem em sua casa?

Regina se larga no sofá e tira os sapatos.

— Nunca se sabe quando irei precisar. – ela se levanta a caminha para um cômodo com prateleiras, onde ela organizava seus pares de sapatos, suas bolsas e acessórios. Para diante de um painel e fica olhando várias fotos de um casal sorridente, tendo uma praia como cenário.

Esquece-se do tempo, admirando um passado que havia pensado poder ser seu futuro. Mas o presente dissera o contrário.

— Uma caneca com café fresquinho. – Killian lhe entrega a caneca e observa o painel com as fotografias presas por alfinetes cabeçudos. – Pelo visto não somente os alfinetes são cabeçudos. Jogue isso fora!

— Não posso. Por meses eu nutri o sonho de reencontrar aquele homem. Cheguei a sonhar com um casamento tradicional e uma linda festa em nosso rancho.

— Tão tradicional quanto ao noivado de Mary?

Regina suspira. Estava triste e quando estamos tristes não queremos ser contrariados. Amua.

— Foram semanas tão lindas! Ele estava o tempo todo comigo! Como eu poderia imaginar que havia alguém esperando por ele na capital? Ele me desestabilizou, Killian!

— Mas agora você sabe que ele é noivo de Mary e que a ama tanto, que estava disposto a assumir um filho de outro cara. Ponto final!

— Em meus sentimentos por David, jamais haverá ponto final. Sempre haverá reticências.

— O cara praticamente chamou você de vadia. Disse que não se importava com sua paixão. E você ainda fica suspirando por um babaca, assim?

— Ele não é um babaca! Você é um babaca!

Ele bebe um gole do café e apoia o ombro no batente da porta.

— Posso ser um babaca, mas não vivo do passado. Olhe para frente e esqueça-se da sua demissão, do seu carro importado, do seu cartão ilimitado quebrado, das férias na praia e escreva seu futuro. Amor de praia não sobe a serra.

Regina acaricia as fotos como se elas pudessem sentir seus toques.

— Você me diz para me esquecer do passado e dedica todos os minutos do seu dia, para infernizar a vida de Amintas, pelo depoimento dele. 

— Ele me fez mal, Regina! O depoimento dele, fez com que eu fosse condenado por seis meses! Cana! Prisão! Xilindró! Algemas! Uniforme!

— E por qual motivo ele fez esse depoimento?

Killian cobre os olhos com a mão livre. “E agora, José”?

— Porque eu deveria estar em minha vigilância e controlar os movimentos dos suspeitos, enquanto Amintas fazia outras partes da investigação. Mas eu deixei meu posto e fui vender uns produtos numa festa que estava acontecendo no andar de baixo, na casa de uma dragqueen.

— E?

— O assassino percebeu que era a chance, porque já havia enviado os mesmos tipos de bilhetes, enviados aos mortos e que Amintas estava sozinho. Deixei Amintas sozinho contra o Predador.

— Continue.

— Um vizinho estava passando no corredor e o cachorrinho latiu furioso pela confusão dentro do apartamento. Resumindo: Amintas foi salvo por um cachorrinho poodle, o assassino foi imobilizado pelos passageiros da Arca de Noé, e eu fui punido por uma atitude que não deveria ter acontecido.

— Mesmo reconhecendo seu erro, ainda insiste em prejudicar Amintas, por algo que aconteceu há mais de seis meses?

— E você também quer prejudicar sua irmã, por algo que aconteceu há mais de seis meses. Então, ambos precisamos deixar o passado onde ele deve estar: no passado.

— Mas o passado nos trouxe aqui, Killian!

— Sim! Ele nos trouxe e nos despejou da caçamba, com um chute no traseiro. – ele aponta para o painel. – Livre-se disso, antes que magoe Mary de maneira irrecuperável.

Regina derruba os ombros, entrega a caneca para o homem e vai apanhar uma echarpe grande. Cobre o painel, escondendo as fotografias, prendendo o tecido com os alfinetes.

— Vamos dormir...

Naquela segunda feira, seria o primeiro dia sem ter de acordar cedo e organizar-se para ir para a redação da revista. Regina liga para sua advogada e pede para que cuide dos trâmites de sua demissão e seus direitos trabalhistas.

Agir como alguém desempregado não era algo que conhecia. Sempre que mudava de emprego, era para algo melhor e por vontade própria. Mas ser demitida? Teria de recorrer ao auxílio desemprego? Ela acha graça na piada infame.

Vamos procurar algo para passar o tempo? Ler? Não. Jogar vídeo game? Não. Ligar para alguma amiga e contar a novidade? Não. Dormir um pouco mais? Sim! O som da campainha de seu celular soa e ela observa o nome de Mary no visor. Ah, não! Já vivera uma enxurrada de Mary em pouco tempo!

Depois do banho, Regina decide organizar seus sapatos, bolsas e acessórios. Olha tudo aquilo e sente-se enjoada e desanimada para uma atividade sem interesse. Bom, Killian poderia tornar aquilo mais animado e teria alguém para conversar.

— Nossa! Para que tantos sapatos? – ele fala quando entra no cômodo agora iluminado pela janela aberta. Apanha um par de botas. – Quando você usou este daqui?

— Não sei.

— Aposto que se lembra quando usou essas sandálias! Como se equilibra em cima disso?

— Não sei para as duas perguntas. Mas você vai querer o histórico de todos os pares?

— Estive pensando a caminho daqui: dê um upgrade em sua vida, livre-se do passado e isso inclui a maioria dos objetos daqui. Faça um leilão e reverta a grana para alguma ONG que realmente seja séria! Conheço uma ótima e minhas doações não surtem tanto efeito!

— Isso aqui pode parecer muito, mas não será suficiente para arrecadar muito dinheiro.

Killian levanta as sobrancelhas e sorri.

— Eu posso incrementar o leilão! Aproveito a oportunidade e...

— Drogas não, Killian!

— Eu iria dizer que poderia aproveitar a oportunidade e pedir doações para as esposas dos políticos, conhecidos de meu pai. Para alguma coisa, elas devem servir!

Regina se emociona por alguns segundos e decide embarcar na brincadeira. Faria algo útil e ocuparia suas horas, para não pensar em David.

— E onde poderíamos realizar esse leilão?

— Há um lugar perfeito...

Cerca de duas semanas depois, num pátio de estacionamento no centro da cidade. a movimentação é intensa e animada com a feira de adoções de cães e gatos, além do leilão que aconteceria naquela mesma tarde. Brincadeiras para crianças e atrações para os adultos, estavam marcando aquela festividade aberta a quem estivesse disposto a colaborar com uma ONG que recolhia animais de ruas ou vítimas de maus tratos.

— Boa tarde a todos nossos amigos que vieram à nossa feira e que contribuíram para uma vida melhor aos nossos amiguinhos peludos! – Killian fala ao microfone, sendo ovacionado. – Gostaria que vocês aplaudissem a nossa idealizadora do evento, a belíssima Regina Mills e seu sorriso avassalador!

Feliz pelo excelente resultado do evento, Regina não disfarça a alegria e acena para quem a estava aplaudindo.

— Agradecemos às famílias que adotaram mais um ou dois membros para comerem os cadarços de seus sapatos, destruírem suas almofadas, esconderem seus chinelos e depois pedirem amor, com seus olhinhos apaixonados! Os que ainda não foram adotados receberão melhorias em nosso abrigo e poderemos contratar mais alguns profissionais, além de mantermos a nossa bela veterinária...aliás, estou pensando em me mudar para uma das células, somente para ser cuidado pela Dra. Swan...

Mais aplausos e risadas. Era um momento festivo e Regina se sentia realizada e percebida.

— Precisamos agradecer ao Comandante Kane, que autorizou o uso de seu estacionamento e ainda forneceu colírio para nossos olhos, com seu grupo de policiais...e ainda uniformizados e uniformizadas! – Killian mantém seu sorriso cativante. – Eu fiz uma lista de cantores para acompanhar a banda de policiais, mas todos os nomes que sugeri...já estavam fora do plano terrestre. Sugeri até o Willy Nelson, mas me disseram que ele também...

As pessoas começam a rir e a negarem com gestos. O homem ainda estava vivo e bem vivo!

— O homem ainda tá vivo? – ele olha para a banda e os músicos confirmam. – Mas ninguém me avisa! Certo, então, vou pedir que nossa festa seja encerrada com a voz de uma pessoa, que me ofereceu em poucos meses, todo o respeito e confiança que nunca recebi em toda minha vida. Quero que ouçam o nosso policial Amintas Rochut, cantando uma das mais belas músicas que já ouvi! Eu o ouvi cantando uma vez e adorei! Mas penso que ele precisa de incentivo, porque está tímido!

Envergonhado e sem ter sido avisado da surpresa, Amintas é empurrado para o palco e um violão surge do nada, sendo colocado em seus braços. Ele pede ajuda para Regina, mas ela pula como uma garotinha e o incentiva a continuar.

— Você está falando de “You Made It Right” de Ozark Mountain Daredevils? – Amintas sorri e aceita o violão. – De fato é muito linda mesmo! Eu vou cantar para você, Regina Mills!

Minha nossa! Estão todos olhando para mim? Acho que meu rosto está pegando fogo! Por que todos estão com esses sorrisos bobos? Por que as pessoas são alcoviteiras? Que prazer mórbido em formar casais!


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