Meu estranho amor escrita por Eduardo Marais


Capítulo 2
A troca acontece


Notas iniciais do capítulo

Johnathon Schaech como o policial.



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A gerente é libertada quando o policial entra na agência. Ele levanta os braços e mostra-se sem armas. E naquele momento o rosto do policial sofre uma transformação, quando ele se depara com o meliante desaforado e tranquilo.

— Que porra é essa?? O que está acontecendo aqui?

— Eu precisava de sua atenção e decidi convidá-lo para uma reunião. Onde está a jaqueta que pedi?

O policial exibe a peça em uma das mãos.

— Entregue-a para a moça. – ele aponta para Regina. – Ela está com frio.

Sem hesitar, Regina caminha até o policial e é ajudada a vestir a jaqueta, depois vai sentar-se numa poltrona escolhida por ela. Já que ficaria algumas horas a mais ali dentro, pelo menos iria querer um lugar macio e confortável.

— Certo! O que você quer, além de atrapalhar meu dia? Já atraiu a minha atenção! Pronto, já olhei você!

— Gostaria apenas que você parasse de gritar e ouvisse o que tenho a dizer.

— Você se faz passar por cadeirante, entra numa agência bancária portando uma espingarda, faz reféns e tudo isso porque quer ser ouvido por mim? – o policial continua gritando. – Você sabe quantos carros e policiais foram mobilizados para atender sua brincadeira, cretino?

Regina ora encara o meliante, ora encara o policial. Diante dos tropeços daquele dia, decide que aquele momento deveria ser curtido, aproveitado e futuramente transformado numa crônica.

— Por que você queria que este policial ouvisse você?

Os dois homens admiram-se com a pergunta e olham a mulher com expressão cínica.

— Porque eu me apaixonei pelo ser humano que ele é! E quero explicar que é algo puro, nada sexual, porque eu sou hétero.

O policial bate palmas e começa a rir. Está furioso.

— O cara está a seis meses me perseguindo, está me ridicularizando em meu serviço, provocou uma advertência de meu superior e resume tudo numa paixão! É baixaria demais!

— Por que você se apaixonou por ele?

— Eu me apaixonei pela pessoa dele! Um homem íntegro, respeitoso e humano! – o belo meliante não se mostra alterado. – Fizemos um trabalho juntos e minha alma foi tocada.

O policial cruza os braços diante do peito e vira de costas. Rosna;

— Ah, puta merda!

— Eles negociaram e eu os ajudei num trabalho infiltrado. Fomos viver numa comunidade gay e depois que presenciei a humanidade deste policial, a forma como ele trata as pessoas, fiquei apaixonado e o elegi meu ídolo.

— Conte para ela que foi preso por tráfico de drogas e prostituição! Fale que negociamos porque você é filho de um dos Secretários Municipais!  Fale que você me constrangeu em meu serviço quando me enviou flores, cartões e bombons! – o policial se vira para o rapaz. – Fale também que você nos colocou em risco, quando vendeu drogas no condomínio onde estávamos infiltrados!

Regina volta seus olhos para o meliante e levanta as sobrancelhas, esperando explicações.

— Eu errei, mas ele nem quer ouvir minhas explicações. Então, tento atrair a atenção dele, de alguma forma! Já simulei um suicídio e ele me deixou mergulhado na baía; já bloqueei uma rodovia com um guindaste roubado; já fiz declarações de amor com um outdoor; e agora decidi invadir uma agência bancária. Vai me ouvir, agora?

— Deveria dar uma chance ao seu fã, policial.

— Eu deveria ter me recusado a depor ao seu favor! Deveria ter mentido e mandado você para uma temporada de férias no presídio por tráfico, prostituição e pôr colocar a vida de um agente da lei em risco!

O meliante mostra uma alteração. Ele franze a testa e olha o policial, como se o homem estivesse falando besteira.

— E você acredita que me ajudou com seu depoimento, seu bosta fardado! Eu fui condenado  em regime semiaberto por três meses e tive de pagar para não ser devorado na cadeia! E depois ainda fiquei mais três meses prestando serviço comunitário! Isso é ser beneficiado?

Começando a gargalhar, o policial se larga numa cadeira.

— Você é o bandido e eu sou o mocinho! Então, trate de falar o que você quer e renda-se, porque eu vou fazer um relatório tão mentiroso, que até o final do ano, você não sairá da cadeia! Agora fale!

— Interessante a sua visão maniqueísta da situação. Eu fiz um acordo, respeitei meu acordo e contribui para que você prendesse o serial killer. Em troca, você me manda para a prisão apenas por vender alguns cigarrinhos de maconha?

Sorrindo e interessando-se pela história, Regina olha para o policial emburrado.

— Sacanagem sua, policial. – ela opina. - O cara cumpriu com a parte dele e apenas faturou alguns trocados.

— Você estava lá, senhorita? Acompanhou a tensão de conviver diariamente com alguém que estava vigiando seus passos para tentar o melhor momento de arrancar seu coração e depois costurar seus olhos e todos os orifícios do seu corpo, alegando que estava protegendo a alma da vítima? Não opine, portanto! Fique calada!

— Não seja grosso com ela, estúpido! Por isso está solteiro e dorme sozinho! Quem arriscaria viver com um ouriço na mesma cama?

O policial salta na direção do meliante, mas para quando ele dispara para uma parede.

— Pare com esta palhaçada e entregue esta arma! Você já chamou a minha atenção e não vai ter nada, além disso! Sugiro que atire em mim, porque essa brincadeira já me cansou e vou dar ordem para a invasão! E juro para você, que vou fazer de tudo para manter você longe da sociedade e nem seu pai poderá salvá-lo!

O belo meliante sorri e debocha.

— Eu ajudei você, o admiro como ser humano, exaltei você em meu depoimento e recebi seis meses de condenação. Mesmo assim, continuo tendo você como meu ídolo!

— Vou quebrar o seu queixo, seu traficante gigolô barato! Largue essa merda dessa arma e vamos resolver nossas diferenças como dois homens!

— Você quer bater em uma pessoa, apenas porque ela diz que o ama? – Regina provoca ainda mais.

— É melhor a senhorita ficar quieta ou vou prendê-la por cúmplice à invasão do banco!

O meliante encara Regina e entrega a espingarda para ela, que a segura sem hesitar, apenas para ver os dois homens se atracarem numa luta física ridícula. Regina observa a arma e evoca lembranças da maneira como o meliante efetuara os disparos. Manuseia o objeto pesado e consegue engatilhar, efetuando um disparo para o alto.

Naquele momento, os dois homens caem sentados e arregalam seus olhos na direção da loucura cometida pela mulher. Por ela mesma? Naquela situação ridícula, quem seria o mais louco?

— Muito bem, senhores, sugiro que se acomodem no chão e que comecemos uma conversa civilizada. – ela aponta a espingarda para os dois. – Usem a algema do policial e prendam-se um ao outro.

— O quê?!  - os dois gritam ao mesmo tempo.

— Ou vocês se algemam ou eu irei atirar nos dois.

O policial apanha a algema em sua cintura e prende seu pulso ao pulso do meliante. Os dois entreolham-se e depois atentam para a mulher.

— Gosto dos meus meninos bem quietinhos. – ela se levanta a caminha até onde os seguranças haviam deixado seus revólveres. Apanha-os e deposita a espingarda dentro do tubo usado para depositar os guarda-chuvas. Retorna para os dois homens sentados e acomoda-se diante deles. Sorri. – Vamos ser civilizados e aproveitar essa situação para aparar as arestas. – ela gesticula e observa as armas. – Consigo dominar essas armas com mais facilidade, então, sugiro que comecem a falar.

Os dois homens obedecem à ordem e falam ao mesmo tempo, discutindo, agredindo-se e trocando as mais diversas ofensas, cada qual vendendo a sua verdade.

— Vou atirar nos dois. – Regina aguça sua voz e é ouvida. Ela aponta a arma para o meliante. – Quero ouvir você. Por que você foi preso?

— Eu estava vendendo alguns materiais na zona de prostituição e quando precisei de mais dinheiro, fui convidado para substituir um dos michês. Mas na noite em que eu iria começar a trabalhar, fui preso.

— Ah,ah, ah! Trabalhar vendendo drogas e como michê! Economize meu bom senso! – o policial não encara a mulher.

— Meu pai pediu que fizéssemos um acordo e eu ensinei este policial aqui, a trabalhar como um michê, numa comunidade gay. Vivemos os papéis de um casal.

— Mas você viveu bem vivido, criando uma cartela de clientes para suas drogas.

— Não é droga! É maconha!

O policial explode numa gargalhada. Regina não se contém e faz o mesmo. Riem demoradamente e são observados pelo meliante indignado. Maconha não é droga! E o que é então? Tempero para carne assada?

— Tudo bem, moço! Mas por que você acabou preso, se estava ajudando a polícia?

Dando uma ombrada no ombro do policial, o rapaz sorri. Gesticula com a mão algemada e recebe um repuxão.

— Fui traído por este policial. Ele fez um depoimento mentiroso e acabou com seis meses de minha vida. – o homem acha graça. – Mas eu continuo apaixonado pelo meu policial ídolo.

— Você está abusando, está fazendo a polícia gastar recursos, mobilizar profissionais para eventos sem importância, enquanto há outros casos precisando da presença da polícia. – ele gesticula rapidamente e desfere uma cotovelada no nariz do meliante, que grita e protege o rosto.

Regina aponta a arma para os dois homens.

— Use seu rádio e avise ao seu comandante que tudo está sob seu controle. Peça para dispensar quase todos os carros e deixar apenas dois. Diga quem é a pessoa que fez os reféns.

O resultado do relato do policial provoca uma comoção e gargalhadas gerais. Muitas piadas são enviadas pelo rádio e atendendo ao pedido do policial, os carros são dispensados. Apenas dois deles permaneceriam ali por mais duas horas.

— Penso que eu precisava desse desfecho para acalmar meu dia. – comenta Regina.

— Ah, claro! Você vai ficar bem calma, sim! Vai ter bastante tempo para acalmar seu dia, quando estiver numa cela suja e na cadeia. Pensa que vou perdoar essa palhaçada? Vai ser enquadrada como cúmplice de cárcere de um agente da segurança!

— Acha que isso é palhaçada? Eu fui demitida de um cargo no qual trabalhei por doze anos! Quem irá ocupar meu cargo é uma jovem com peitos fartos cheios de silicone e que deve ter levado meu diretor às alturas! Meu carro novo parou e foi levado por um guincho, depois de eu receber multas pelo inconveniente na avenida! – Regina começa a alterar o tom de voz. – Fui comprar o vestido para o jantar de minha irmã e meu cartão estava quebrado! Prendi meu salto num bueiro, quase quebrei meu tornozelo e ainda acabei sendo refém de um gay apaixonado por um policial! E como se isso não bastasse, meu namorado terminou nosso relacionamento por telefone! Terei de ir ao noivado de minha irmã, desacompanhada, desempregada e com vestido já usado em outra festa! Ainda pensam que isso é pouca palhaçada para um dia??


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