Todos os sonhos do mundo escrita por Marcia Litman


Capítulo 12
Capítulo XIII




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Marina andava de um lado para o outro, pensando o que ainda fazia ali, na frente do prédio de Luciana.

Deveria ter pego o carro, dirigido para casa sem olhar para trás. Seria fácil. Ela ainda tinha as chaves nas mãos, podia senti-las ao fechar os dedos ao redor delas. Mas algo a impedia, como uma força que a mantinha ali, naquele lugar, perto dela. Não podia mais ficar longe, por mais que temesse se machucar. O coração já sofria as dores do sentimento que não podia mais negar.

Ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, apertando os lábios. Respirou fundo, pensando em como as coisas tinham acontecido minutos antes, quando apertou a campainha no apartamento de Luciana, dando de cara com uma pessoa que não esperava encontrar ali.

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— Pois não?

A porta tinha acabado de se abrir para Marina e ela esperava encontrar aquele mesmo par de olhos esverdeados. Mas não foi a dona deles quem a atendeu.

— Você é…?

— Sabrina. Nós nos conhecemos numa cafeteria que você estava com a Luciana.

A memória de Marina clareou num piscar de olhos e ela sentiu a mente girar de leve.

— Claro, eu me lembro.

Havia um sorriso fraco no rosto de Marina; um que estava pronto para se desmanchar.

— Quer falar com a Luciana? Ela ‘tá numa ligação com alguém da editora, sobre o lançamento sábado…

— Não, não se preocupe — Marina levantou a mão aberta, afastando-se dois passos. — Só… diga que eu estive aqui e que depois nos falamos.

Então Marina saiu, antes de dar espaço para que a outra dissesse alguma outra coisa.

.::.

Diante da lembrança, Marina resolveu que era hora de colocar logo a chave na porta do carro e abri-lo, para que ela pudesse ir embora de uma vez. Assim que ela destrancou o carro, ouviu seu nome dito por uma voz familiar. Ela se virou para Luciana, sendo incapaz de recebê-la com o sorriso de sempre.

— Ei — Luciana parou diante de Marina, ofegante por ter vindo correndo. — Você ia embora sem falar comigo?

Marina apertou a chave na mão.

— ‘Tá muito tarde e eu não deveria te incomodar

Luciana deu de ombros, um sorriso culpado.

— Nada, você sabe que eu não durmo cedo. — O sorriso de Luciana desmanchou e ela franziu o cenho. — ‘Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa?

— Não, nada, só… preciso mesmo ir pra casa.

Marina se virou de costas para Luciana, com a intenção firme de abrir o carro. Colocou a chave na maçaneta, mas parou a sentir a mão da amiga sobre a sua. Os olhares se encontraram.

— O que foi? Diz.

Marina umedeceu os lábios e deixou a chave pendurada na porta do carro, ficando de frente para Luciana.

— Você não me disse que tinha voltado com ela.

— Porque não voltei.

Marina fechou os olhos, respirou fundo e os abriu novamente.

— Lu, ela ‘tá no seu apartamento.

— Isso não significa nada. Ela não significa mais nada pra mim.

— E ela precisava vir ao seu apartamento pra dizer isso?

Luciana colocou um fio de cabelo rebelde para trás.

— Algumas coisas dela ficaram no apartamento e eu disse pra ela vir buscar.

Marina esfregou o rosto.

— Ok, ‘tá tudo errado. Não sei porque ‘tô pedindo algum tipo de satisfação e porque você está me falando isso tudo. Se você quer voltar com ela, a decisão pertence apenas a vocês. Eu só… preciso mesmo ir.

Ela entrou no carro, fechando a porta rapidamente, como se houvesse um prazo de validade para que conseguisse fazê-lo. Luciana bateu no vidro e Marina abriu.

— Você virá no sábado, não é?

Havia um tom de súplica na voz de Luciana.

— Eu… não sei, preciso ver. Tchau.

Marina deu a partida e saiu assim que pôde.

.::.

— Ainda bem que você veio comigo, Cláudia.

Luciana olhou para a amiga, que dirigia o carro que as levava direto para a livraria onde aconteceria o evento de lançamento.

— De nada. Só não sei porque você não pediu à Marina.

Luciana olhou para fora do carro, vendo o movimento da rua e suspirando.

— Ela não vem.

Cláudia franziu o cenho.

— Como assim, ela não vem?

— Achei que você soubesse.

Luciana voltou os olhos para Cláudia.

— Não, ela não me disse nada, mas faz uns três dias que não consigo falar com ela — Cláudia se inclinou para frente e então voltou a se encostar-se no assento do motorista. — Escuta, ela te disse que não viria?

Luciana deu de ombros.

— Não, mas também não deu certeza de que ia estar lá. Na verdade… também não falo com ela há três dias.

Cláudia parou no sinal vermelho.

— Aconteceu alguma coisa?

— Eu… não sei bem o que dizer, é que… bem, minha ex ‘tava em casa quando ela veio naquele dia que você me mandou aquela mensagem. Acho que ela não gostou de ver a Sabrina ali. Sim, eu entendo, ela me fez sofrer muito e a Marina não achava bom que a gente voltasse.

— E vocês voltaram?

— Não!

Cláudia olhou para Luciana com o canto dos olhos, voltando a prestar a atenção no sinal, que ficou verde.

— Ok, entendi a ênfase.

— Desculpa, ‘tô bem tensa.

— Percebi.

Luciana tentou respirar devagar.

— Não tem nenhuma possibilidade de voltar com a Sabrina.

Cláudia assentiu.

— E ontem você deu o ponto final em tudo com ela?

— Sim.

— Disse isso pra Marina?

— Não acho que ela tenha acreditado.

Cláudia apertou o volante.

— Bem, não se preocupe com isso, ok? Vou te levar ao seu evento e resolver isso.

Luciana gostava da firmeza com que Cláudia dizia as coisas, como se tivesse poderes mágicos. Mesmo que achasse que, para aquela situação, não tinha magia que resolvesse.

.::.

Havia sobre uma mesa alguns copos de água e alguns exemplares de seu livro. Luciana contemplou aquele espaço, sorrindo.

— Tem bastante gente já, não é?

A moça da editora estava ao seu lado.

— Nossa divulgação é boa. Vai ter mais gente.

Luciana assentiu.

— O que eu faço agora? Só sei escrever e revisar, isso tudo é novo pra mim.

A moça sorriu.

— Sente-se, sorria, autografe. Mas, acima de tudo, divirta-se, porque é seu dia.

— Certo.

Luciana andou na direção da mesa, com a palavra “diversão” reverberando na mente. Ela não acreditava que conseguiria se divertir com toda a tensão que tinha em seu corpo, nem com a ausência de Marina no lançamento. Mas faria seu melhor. Ela abriu um dos copos descartáveis de água, bebendo todo o seu conteúdo. Quanto terminou, ainda tremia. Isso ia ser difícil. Um funcionário da editora se aproximou:

— Pronta?

— Não, mas vamos começar.

Ele acenou, pedindo que as pessoas que já tinham o livro nas mãos viessem para receber o autógrafo. Luciana sorriu, pegou o livro da primeira pessoa da fila, conversou um pouco e escreveu a mensagem. Ok, ela podia fazer isso, não era tão complicado assim.

Alguns livros depois, mais pessoas entraram na livraria. Entre elas, Luciana viu Marina.


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