Olhávamos o relógio a cada cinco minutos, estávamos pegando algumas coisas e colocando numa mochila grande, só iriamos carregar poucas coisas, o que não era o certo, mais se conseguíssemos pelo menos sair da casa já iria ficar bem mais tranquila.

—Falta menos de uma hora Gê, vamos. - disse para o Jorge que terminando de guardas algumas coisas, pegou e guardou a bolsa num arbusto do lado de fora do quintal e cobrimos com algumas folhas secas e capim.

Arrumamos tudo as pressas para que o John não percebesse o que pegamos. Depois de terminar o almoço eu corro para trocar a roupa que estava suja de terra, pois quando meu pai não estava em casa, eu gostava de brincar de fazer bolinhos de barro, "quem nunca". Tudo pronto nos sentamos no sofá, eu fiquei lendo gibi e Jorge vendo TV, eu estava com 11 anos e já sabia matemática e geografia melhor que o Jorge com 13, ele me pedia ajuda com algumas coisas da escola as vezes. No mural de melhores alunos do colégio, sempre estava meu nome "Bella James Ford, melhor aluna", gostava de ter meu nome lá. Porem era alvo de todos aqueles alunos bagunceiros que não fazem lição e depois querem usar os mais espertos para conseguir nota. E como eu quase nunca dava bola pra esse povo era alvo de xingos e brincadeiras sem graças. Acredita que hoje David, o pestinha da sala ficou chutando minha cadeira o tempo todo... o pior nem foi isso, foi que eu me virei pra reclamar e à professora brigou comigo, isso mesmo "COMIGO" que não fiz nada e só estava me defendendo da brincadeiras idiotas dele. Ah mais isso não ficou assim não, posso ser tímida e quieta, mais meu irmão não... no intervalo eu contei tudo pro Jorge que deu uma lição nele, bom na verdade eu não vi... pois o Jorge levou ele pro banheiro dos meninos, e as meninas não podem entrar, só sei que depois David saio com o cabelo molhado e com cara de quem tinha chorado, depois ele nem olhou mais pra mim. Parece que tinha dado certo.

****

Depois de uns trinta minutos escutamos o carro dele estacionar na garagem, sempre ficávamos com medo, não sabíamos como estaria seu humor nem seu nível de álcool que ele tomava. Ele entra e nos olha com desprezo, estava de olhos vermelhos e cambaleando pelos lados, bom... nível de álcool, altíssimo.

—Fez minha comida Mine? - Sim ele me chamava de Mine quando estava bêbado, mais não era "Mine" de miniatura ou algo que representasse meu tamanho, "Mine" era o apelido que ele dava para Jasmine, minha mãe, Jorge dizia que talvez seja por que eu me parecia muito com ela. _ Te fiz uma pergunta, não vai responder? - ele engrossa a voz, saio do meu transe e aceno rápido com a cabeça. _ Essas crianças não tem língua - fala indo para cozinha. Terminando de comer voltou para sala:

—Saíam, quero deitar. - disse pegando o controle da mão do Jorge e trocando de canal. _Vão pro quarto e não me incomodem até o jantar. - fomos as presas pra evitar que ele jogasse algo em nos, subimos para o quarto do Jorge e me deitei em sua cama me encolhendo ainda assustada, ele vem e se senta ao meu lado.

—Fica tranquila pequena, hoje agente se livra dessa agonia. - diz ele com um leve sorriso.

— Mais Gê...e se der errado? e se ele nos achar ou algo do tipo? ele irá nos matar. - disse com a voz trêmula.

—Temos que tentar Bel, não aguento mais ver você apanhar. não aguento ficar nesse tormento. - diz ele mexendo em meus cabelos.

— Nem eu... - suspiro agoniada, o frio no meu estomago era terrível e me deixava enjoada. _ Está bem, assim que ele dormir?

— Assim que ele dormir. - diz ele sorrindo _ Descansa quando chegar a hora te acordo. - ele me cobre e beija minha testa. fecho os olhos e logo pego no sono talvez seja pelo enjoo constante.

***

— Bel...pequena, acorda. está na hora. - Acordei com Jorge me chamando baixo, levanto meio sonolenta e ele me põe um casaco na minhas costas. _ Poe ta frio lá fora. _ Demoro um pouco pra me ligar que já estava acordada, olho pela janela e vejo que já estava escuro, olho o relógio 00h10, ele demorou pra ir deitar? Coloco o casaco e saímos de fininho evitando qualquer barulho, ele pega a bolsa no arbusto e corremos até o portão. Morávamos em uma chácara grande até, então corremos um pouco ate o muro da frente já que John era o único que tinha a chave e por isso iriamos ter que pular o muro mesmo, não era tão alto, então dava pra passar.

Como era baixinha Jorge me ajuda a pular o muro, assim que caio do outro lado me vem uma ótima sensação, era como se um enorme peso estivesse saindo de meus ombros, mais foi uma sensação que durou pouco tempo...

Enquanto via Jorge terminar de pular alguém pega em meus cabelos puxando forte para trás dou um grito assustada e Jorge olha para trás rápido perdendo o controle e caindo sentado no gramado.

— Vocês acharam mesmo que iriam conseguir fugir de mim? Acha que eu não ouvi vocês conversando? - diz John aos berros ainda puxando meus cabelos com grande força para trás, estava tão desesperada que a minha única ação foi colocar a mão sobre a dele na tentativa falha dele me soltar.

— Solta ela. - grita o Jorge com os olhos voltados para mim percebia que ele estava tão desesperado quanto eu, porem ele tentava manter a feição nervosa.

— Você quer que eu a solte? - Ele levanta meus cabelos para cima me puxando fazendo eu resmungar e começar a chorar de dor ficando na ponta dos pés. _ Cala a boca Bella! - agora ele sabe que sou eu né?. _ E você, se quiser que eu a solte venha pega-la. - Percebo que na outra mão John tinha um pedaço de cano preto, sabia que se Jorge se aproximasse ele iria apanhar com aquilo, tento dizer a ele pra não vir mais não consigo a tempo. Ele vem sem hesitar, John o pega me soltando fazendo eu cair de joelhos com as mãos na cabeça.

Mesmo com a cabeça doendo me levanto enquanto escutava meu irmão gritando e o barulho do cano batendo em seu corpo, tento ir ate ele, John se vira pra me bater com aquilo também, porem Jorge entra na minha frente tomando a pancada bem no quadril... vejo ele se ajoelhar no chão e começo a gritar chorando e pedindo por amor a Deus que ele parasse, John para... ele fica em silencio e só o que dava pra escutar era meus choros e os gemidos abafados de dor do meu irmão.

***

Naquela noite dormimos naquele maldito armário da sala de novo, aquele lugar frio e cheio de bichos assustadores. Jorge estava sentado em um dos cantos ainda todo ferido.

— Gê... me desculpe, não devia ter plantado essa ideia idiota de fugir... Olha o que eu fiz com você... mil desculpas.

—Não foi culpa sua pequena. - ele alisa meus cabelos com aquele sorriso que sempre me trazia calma, me sentei ao seu lado onde ficávamos vendo o desenho que eu havia feito na parede de uma linda paisagem com o sol.

—Nunca vamos sair daqui né gê?. - disse sentada ao seu lado com os olhos marejados.

— Vamos sim pequena, juntos...- diz ele sorrindo para mim e limpando meus olhos.

— Sempre juntos. - sorri meio de lado e em seguida deitando em seu ombro. Me imaginava naquele lugar do desenho, era meu único conforto, preferia isso do que pensar que estava naquele armário. Odiava ele.

— Você ainda vai ser feliz, eu prometo.

Feliz... é tudo que eu mais quero... minha felicidade tem que chegar, John não pode me trancar pra sempre.