Eu estava ali, de novo. Acordando na mesma casa, no mesmo quarto, na mesma cama. Desde que me fizeram voltar a vida, vim morar com minha antiga família, os Dreemurr. Só havia um problema: eles acharam uma pirralha pra cuidar. O nome dela? Frisk. Eu realmente não a suporto. Esse jeito todo de pacifista, esse jeito todo meloso me faz ter náuseas. Claro, eu matei pessoas demais para gostar de alguém que prefere ser ferido do que ferir. Patético. Mas, afinal, por que eu estou pensando nela? Eu a odeio e a acho irritante também. 

— Chara, minha criança? Já acordou? – Toriel pergunta já entrando no quarto. — Venha tomar café, estamos esperando.

— Mãe, eu não sou mais uma criança. Já tenho 19 anos. – Digo, com um tom de intolerância na voz.

— Mas enquanto morar comigo, vai ser minha criança sim. Aliás, você vai ser minha criança pra sempre. – Ela dá uma risada baixa e fecha a porta do quarto.

Levanto-me e estalo as costas, hoje vai ser um longo dia. Abro o armário e separo uma camisa preta, blusa verde e calça jeans marrom. Separo também um cordão dourado com pingente de coração, não muito longo, que ganhei da minha mãe, e por fim, separo minhas botas. Assim que termino de me vestir, saio do quarto e desço as escadas em direção a cozinha, me deparando com um cheiro delicioso de ovos e bacon, junto com uma torta de canela.

— Finalmente acordou, né bobão? – Frisk, sentada em frente a mesa tomando café da manhã, fala me olhando com um olhar sarcástico.

— Não enche. – Digo, revirando os olhos e puxando uma cadeira para me sentar.

— Já vão começar a brigar logo cedo? Melhor pararem por aí ou os dois vão ficar de castigo. – Asgore, lendo seu jornal enquanto toma uma xícara de café, fala em um tom já zangado, nos olhando de uma forma bem séria.

— Foi ele que começou. – Frisk fala com uma expressão chorosa. Sério isso?

— EU? EU COMECEI? 

— SIM, VOCÊ MESMO.

— EI! VOCÊS DOIS! PAREM COM ISSO! – Toriel dá um grito da cozinha. Pra ela gritar desse jeito, ela realmente deve estar zangada.

— ...Tá, desculpa. – Falo, surpreendido com o tom que minha mãe usou.

— Calma, querida. Não queremos acordar o bebê, não é? – Asgore fala pacientemente. Espera, o que?   

— Esperem aí. Que bebê? 

— Íamos fazer uma surpresa, mas melhor contar logo antes que sua mãe enlouqueça. – Asgore fala com um sorriso no rosto. — Vocês vão ter um irmãozinho, então não irritem demais a sua mãe.

— Nossa! Sério? Finalmente vou ter alguém que não seja o Chara pra conversar. – Frisk fala animadamente me olhando de canto.

— Bebês não falam, sua boba. – Falo mais calmamente. Essa notícia realmente me surpreendeu, e também, não quero discutir com a bebêzona da Frisk.

O resto da manhã foi tranquila. Sem discussões ou brigas, acho que esse foi o dia mais tranquilo desde que cheguei aqui. Só espero que nosso futuro irmão ou irmã não seja tão irritante quanto Frisk. Mas, afinal, por que eu estou pensando nela?