As babás da família Grint escrita por Lara Manuela de Souza, Marc Stefan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Sherlock estava eufórico. Depois de meses de tédio vindos de casos extremamente chatos, parecia ter encontrado algo promissor, ao menos interessante o bastante para fazê-lo levantar-se da poltrona.
Na verdade, havia aceitado o primeiro caso que não tivesse a ver com suspeita de traição num relacionamento.
                                                           ♣
                                                    Flashback

— Suspeita de traição? – Perguntara impaciente à mulher que acabara de sentar na cadeira à sua frente. Ela não parecia ter cara de quem queria investigar algo parecido, mas era melhor ser direto e prevenir o tédio acelerando o processo, caso houvesse um cliente com um caso melhor esperando.

Não era o caso.

— Não. – Bem, ela estava demonstrando alguns sinais de nervosismo e secura naquela resposta, então... Certamente estava sendo traída. E não se importava muito com isso, pelo jeito. Tinha um gato, provavelmente, e também não gostava, já que havia várias ranhuras perceptíveis em seu casaco, não era a primeira vez que afastava-o do colo com raiva, pela profundidade.

Suspeita. Não gostava da vida que levava, mas permanecia. “Ok, foco” pensou Sherlock, “Ela ainda não falou muita coisa a respeito do caso. Na verdade só disse uma palavra até agora”.

— É... Bem, Sherlock. Eu casei com um homem há pouco tempo, semanas. E ele tem três filhos. Bem... Ele sempre contrata babás para cuidarem deles, já que... bem, ele não tem tempo. Tampouco a minha pessoa. Mas ando percebendo que todas as babás se suicidaram uma semana depois de se demitirem, pois estavam enlouquecendo. Bem... Holmes, me ajude por favor. Acho que uma das crianças é um demônio – Terminou sussurrando.

— Que bom.

— Oque? – Perguntou a mulher, chocada.

— Nada. –“Só feliz de ter terminado com os bens” Completou em pensamento.
                                                           ♣

— Vamos ser babás? – Indagou ainda perplexo John.

— Sim. Temos que conhecer as tais crianças demoníacas. Ah, como estou NADA entediado! – Berrou pulando de felicidade.

John não estava na mesma situação.

— Desculpa, acho que não vou te acompanhar dessa vez então...
Sherlock o olhou pensativo.

— Porque veio quando chamei? Se veio solucionar casos, John, ser babá será moleza. Quem sabe não pega dicas quando tiver o bebê?

John suspirou uma última vez antes de concordar com um aceno de cabeça.

— John, você é o melhor!

— É, eu sei.
                                                           ♣

— Não eram crianças? – Perguntou John.
Estavam parados na frente da mansão Grint, uma grande construção de tijolos fortes com andares suficientes para ser confundida com um castelo durante a noite, o que era o caso. Tinham acabado de pegar informações sobre as crianças com um vizinho antigo.

— Eram. Não são mais. – Respondeu Sherlock já se desapontando. Provavelmente um jovem psicopata que não gostava de ser tratado como criança e se vingava nas babás a sangue frio, forjando um suicídio. Existiam outras probabilidades, mas se recusava a acreditar em demônios em forma de adolescentes. Pelo menos aquele caso não tinha a ver com traição em relacionamentos. Já estava traumatizado – Só precisamos provar... – Disse para si mesmo.

— O que? – Perguntou John.

— Só vamos fazer nosso trabalho de babás responsáveis. – Disse ignorando-o completamente. - Ok, antes de entrar vamos revisar: Hylla é mais velha, responsável, melancólica pela ausência da mãe e muito solitária. Já podemos descarta-la. É muito provável que seja daquelas que se tranca no quarto ouvindo músicas tristes. Não assassinando vovozinhas. Sendo assim sobram só mais dois: um adolescente rebelde que foge de casa a todo o momento e faz tatuagens, o mais suspeito; ou uma garota de somente quatorze anos esquizofrênica e com HSAM. A que todos dizem ser a pior.

— HSAM?

— É a sigla de Memória Autobiográfica Altamente Superior em inglês, a síndrome da memória infalível. Não se esquece de nada, nem do que comeu no almoço de três anos atrás. Ah, o nome dela é Adrianna. O do garoto é Roger. O sobrenome de todos é Grint, se quer saber.

— Não queria. – Respondeu já enraivecido.

— Preparado? – Sherlock perguntou.

— Vamos logo com isso.

A campainha da mansão Grint soou por um bom tempo até uma criada uniformizada atende-los formalmente sem trocar palavra alguma. Ela os conduziu até uma porta, onde bateu algumas vezes antes de um grande homem abri-la.

Não era muito alto, mas seus músculos compensavam, a largura dos ombros parecia muito maior do que o normal, mas nada estranho demais. Cabelos grisalhos e rugas, estressado, pelo jeito envelhecera antes do tempo. Vestia um smoking preto e uma gravata vermelha. Alguns farelos no terno e gordura brilhante nos dedos indicava que acabara de comer um pão com queijo. Comera ali mesmo, já que não tivera tempo de limpar as mãos ou ter uma refeição mais saudável. Os olhos vermelhos gritavam que esteve acordado a noite toda. É, sem tempo para os filhos.

— Entrem, vamos conversar. – Estendeu a mão antes para Sherlock, que a apertou.

Sentaram-se nas cadeiras que rodeavam uma mesa de madeira e o senhor Grint trocou breves palavras sobre o emprego de babá.

Só garantira que os filhos não saíssem sem companhia, no caso de Roger; que aparecessem em todas as refeições, no caso de Hylla; e que não falassem nada com Adrianna que não fosse estritamente necessário, para não enlouquecer. E claro, não dar ouvidos as lamúrias, ameaças, memórias e teorias bizarras que dissessem. Em troca disso, um salário obeso que John fez questão de aceitar pelos dois, já que Sherlock recusava.

Tudo durou menos de dois minutos, tempo o bastante para Sherlock notar uma protuberância circular sob um monte de papéis. Estavam organizados demais, como se tivessem sido colocados lá de propósito, com a intenção de esconder algo com o que tivesse à mão.

Naquele momento os dois estavam seguindo em silêncio outra criada, que os levava aos adolescentes problemáticos. Seguiram por uma série de corredores, subiram escadas, passando por várias portas fechadas até a criada diminuir a marcha e parar num corredor sem saída. No final havia uma porta aberta onde se via um chão coberto de livros dispostos sem organização alguma. No lado direito e esquerdo portas fechadas, mas desgastadas de uso.

A porta da direita era rachada a partir da tranca, com algumas lascas de madeira caídas no chão. A da esquerda já era mais cuidada.

A criada fez um aceno e já estava indo embora, mas Sherlock tinha que testar antes uma coisa:

— Quais os nomes dos adolescentes?

A criada parou de andar por um momento, mas logo voltou a andar e desapareceu nas sombras sem virar-se sequer para olhar.

— Hã... Tomara que não presenciemos algum ataque esquizofrênico – Manifestou-se John.


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Notas finais do capítulo

Na verdade o capítulo não deveria terminar aqui, mas acho que deveriam pensar um pouco sobre algumas coisas antes de serem explicadas no capítulo seguinte:


Primeira: O que vocês acharam suspeito na senhora Grint? O que a mantinha tendo a vida com um casamento infeliz, adolescentes irritantes e gatos que não tolerava?

Segunda: Vocês acreditam que Adrianna é esquizofrênica? Bem... As memórias dela podem ser perigosas já que são infalíveis. Talvez lembre-se de algo meio improvável e os outros pensem que ela tem alucinações. Ou talvez alguém espalhou esse boato por ela ter visto coisas comprometedoras demais.

Terceira: O que era a protuberância sob os papéis na mesa do Sr. Grint? Lembrem-se do que Sherlock percebeu.O que ele deduziu que o homem estava fazendo? Comendo um pão com queijo, correto? Mas então porque se preocupou justamente NAQUELE momento em esconder algo?

Quarta: No que acham que esse Sr. Grint trabalha para ficar acordado a noite inteira ou não ter tempo nem para ter uma refeição decente? Lembrem-se do salário. Segundo a narração:"[...]um salário obeso que John fez questão de aceitar pelos dois, já que Sherlock recusava."


Por fim perguntas mais lógicas:
* Pelas portas do corredor: Qual é o quarto de quem? Porque?


*O que Sherlock precisava testar perguntando o nome dos adolescentes à criada sendo que ele já sabia a resposta? Pensem nisso: As duas criadas tem algo em comum. Descubra o quê.


Bem, queremos um pouco de interação por parte dos leitores nessa fic! O que não falta é assunto. Mandem suas teorias bizarras!