Estranhos - One Shot escrita por Shizimuzo Yamakura


Capítulo 1
Estranhos


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/699327/chapter/1

" Quando eu era pequena, meu pai sempre ia me buscar na escola. Eu estudava no período da tarde, então sempre que nós íamos pra casa, as ruas já estavam escuras. Eu sempre andava de mãos dadas com meu pai, eu tinha medo de me perder e ele jamais me achar novamente, eu me lembro que sempre passávamos na frente de um beco, onde um vendedor ambulante nos oferecia balas, chicletes e afins, meu pai recusava, e em seguida, me dizia para tomar cuidado com estranhos. Como eu era pequena, nunca dei muita atenção. Era sempre a mesma coisa, eu não via porque ter medo em alguém que oferecia uma bala de 10 centavos.
 Eu me lembro como se fosse ontem, quando eu estava no meu quarto, assistindo desenhos, quando meu pai me entregou um pequeno livro, sua capa era de couro, suas folhas eram tão brancas quanto o pelo de um coelho, com uma fitinha dourada. Na parte frontal, estáva escrito ''Diário''. Eu não sabia o que era aquilo, e pedi pro meu pai me explicar. Ele me explicou, calmamente, que aquilo serviria para eu escrever meus segredos, confissões, e, obviamente, escrever sobre meu dia. Após sua explicação, eu não perdi tempo e escrevi tudo que tinha acontecido comigo aquele dia. Escrevi sobre como tinha sido a aula, o que havia aprendido, a volta pra casa com meu pai, incluí até o aviso sobre estranhos. Todo dia, após ter um tempo só meu, eu pegava meu diário e desabafava. Eu também adorava escrever, nas últimas folhas, meus melhores momentos com meu pai, eu sempre colocava minhas lembranças mais felizes lá.
 Eu me lembro bem, que quando eu estava estressada, eu lia minhas memórias de dias felizes, e aos poucos me acalmava. Eu considerei aquele diário, por um bom tempo, como meu melhor amigo. Eu sempre fui meio tímida, então fazer amizades não era meu forte. Diferente de uma pessoa normal, aquele diário me entendia, as vezes parecia até que ele me respondia com conselhos. Muitas pessoas me chamavam de esquisita, diziam que eu devia procurar ajuda médica e etc. Para elas, eu nunca dei muita atenção, sempre anotava seus nomes em uma folha separada, para lembrar delas, caso precisassem de um favor meu. Isso nunca veio a acontecer, mas ao menos, eu estava precavida quanto à isso.
 Minha vida era boa, eu tinha tudo que queria, meu pai me levava ao cinema, de vez em quando em peças de teatros, nós íamos para galerias de arte aos sábados, enfim, nossa vida era excelente. Mas tudo mudou numa fátidica sexta-feira. Eu acordei cedo, e meu pai estava sentado na sala, com o controle da tv na mão, assistindo uma tela chuviscando. Eu achei aquilo muito estranho e fui falar com ele, e, do nada ele levantou e agiu como se nada tivesse acontecido. Eu tinha só uns 9 anos, então, talvez, pensou que eu não ia perceber (O que não aconteceu). Avançando um pouco no dia, ele não foi me buscar no meu horário de saída, na verdade, se minha escola não soubesse meu endereço, eu provavelmente iria passar a noite lá. Eu tive sorte que minha Diretora estava de bom humor, e me levou pra casa. Chegando lá, eu vi novamente a cena do meu pai assistindo à Tv chuviscando. Eu passei de fininho e entrei no meu quarto, peguei meu diário, mas dessa vez, não escrevi nada. Algo dentro de mim dizia para não escrever, então eu decidi ''ouvir'' essa voz. Eu saí do quarto, sentei na frente do meu pai e fiquei o encarando por alguns minutos, ele parecia estar em estado vegetativo, após alguns minutos, eu tomei coragem e falei com ele. Perguntei o que estava acontecendo, e ele, bem lentamente, respondeu que estava tudo bem. Eu podia ser só uma criança, mas eu sabia que tinha alguma coisa errada ali, ele parecia ser outra pessoa, como se alguém estivesse tomando conta do seu corpo. Enquanto eu imaginava o que podia estar acontecendo com ele, ele me perguntou que dia era.
 Eu me lembro de achar aquilo muito estranho, meu pai nunca havia me perguntado aquilo antes. Quando eu respondi que era sexta-feira, ele me disse que havia comprado um presente para mim, e que estava no meu quarto, em cima da minha escrivaninha. Eu fui conferir, e chegando lá, só estava o meu diário. Eu o peguei e levei para o meu pai, pra garantir se era aquilo mesmo. Ele me confirmou, e disse que comprou de um homem em um beco, dizendo que era o Diário mais mágico que ele encontraria na cidade inteiro. Depois disso, ele começou a berrar, perguntando sobre coisas que aconteceram há anos. Em certo momento, ele pegou um vaso e bateu com ele na parede, deixando vários cacos no chão. Um vizinho começou a bater na porta, e meu pai, ficava cada vez mais histérico. Eu estava no meu quarto, debaixo da minha cama. Como eu estava com muito medo, eu realmente me lembro de poucas coisas. O que eu lembro "melhor", é de ouvir a sirene da polícia, e de ver meu pai sendo algemado. Aquilo doeu muito pra mim, meu pai era, junto com meu diário, meu melhor amigo. Ele acabou indo para um hospicío, e minha tia assumiu minha guarda. Depois disso, minha infância nunca mais foi a mesma.
 Hoje, eu tenho 21 anos, meu pai faleceu há tempos, e depois que eu fiz 18 anos, minha tia me largou. Essa semana, eu tive que ir para minha antiga escola, a mesma que eu ia quando era pequena, e na volta, eu passei pelo mesmo beco de sempre. Dessa vez, havia um homem sentado, e encapuzado. Eu o encarei por alguns segundos, quando ele disse, em uma voz trêmula, que eu não deveria ter voltado. Não tive tempo de perguntar de onde ele me conhecia, ele só me disse que queria seu diário de volta. Eu disse que não podia ajudá-lo, pois não sabia onde encontrar seu diário. Levantando calmamente, ele disse que sabia onde encontrá-lo, e era na minha bolsa. Ele disse que era um diário mágico, que removia as memórias das pessoas que o liam. Ele ainda me deu um exemplo, que se eu escrevesse sobre uma viagem, a primeira pessoa que esteve na viagem, lesse o diário, perderia instantâneamente as memórias da viagem, exceto se fosse a pessoa que lesse, fosse a mesma que escreveu.
 Quando ele me disse isso, eu entrei em choque, e lhe disse sobre meu pai. Ele disse que não ligava, e que só queria seu diário de volta. Eu disse que não iria lhe devolver, então, com a agilidade de um puma e a força de um urso, ele me atacou, me derrubando, e levando minha bolsa. Hoje, eu estou escrevendo isso, para alertar à todos, o que meu pai sempre me dizia quando eu era pequena, "Cuidado com os estranhos." "


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estranhos - One Shot" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.