Coven escrita por Artur Mota


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

aqui está o começo de uma nova história que estou trabalhando há algum tempo. Tentarei postar com o máximo de frequência possível!



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Prólogo

Há poder no sangue.

Esse precioso líquido vermelho que flui dentro de cada um de nós, seu movimento sussurrante carrega a vida para todos os órgãos, irrigando-os com vitalidade.

Por ele vários já ascenderam ao poder, muitos mataram e vários se uniram.

Essa simples palavra já foi a causa de tantas catástrofes, tanta miséria...

Mas o Coven diz que ele é um livro. A verdade faz parte dele, tanto quanto as hemoglobinas, o plasma e todo o resto.

Para as bruxas, o sangue deve ser celebrado, e sua história, respeitada.

Para Celta, ele estava prestes a lhe contar uma história que não queria ouvir....

23 de Setembro de 3120, ano do Dragão.

Uma jovem de quinze anos anda de um lado a outro de seus aposentos, o som de suas botas de couro ecoando entre as paredes de pedra.

— Você precisa relaxar Celta. – Resmungou outro jovem que estava lendo um tomo em sua cama. – Eles disseram que iriam lhe buscar onze horas, então eles virão onze horas.

Celta ignorou o conselho do irmão. Será que as pessoas não entendiam que quando estamos nervosos o pior tipo de ajuda é mandar se acalmar?

“ As emoções devem ser sentidas, o sua repressão desencadeia os mais diversos distúrbios e complicações. Repressão pode envenenar tão bem quanto uma serpente”

“Ótimo, agora estou recitando Ernest Galt mentalmente.”

Pensar no proeminente bruxo do séc. XXVIII não a ajudaria nesse momento.

— E se nossa Linhagem não for boa o bastante? – Perguntou aflita. – Não ligo se não houver nenhuma profecia, nenhum agente mutagênico alfa, poderosa Helene, não ligo nem se eu não for uma beta! –  Falou em rápida sucessão. – Mas , por favor, quero apenas ser admitida, Finn!

O jovem leitor revirou os olhos, e fechou seu material de leitura.

—  Celta, você é simplesmente a melhor aprendiz de toda Castel. Tira as melhores notas, realizou todos os feitiços da lista básica de encantamentos, e alguns da avançada.

— Você sabe muito bem o que eu quero dizer. – falou a impaciente aprendiz. – Muitos mais talentosos que eu falharam no exame da linhagem.

— Isso tem um pouco de verdade, mas você sabe que....

— Como você pode estar tão calmo? –interrompeu a irmã. – Sabe o que fazem com pessoas como nós quando não somos admitidos em nenhum coven.

O jovem respirou fundo. Claro que sabia. A verdade sobre as injustiças da vida, é que elas não são resolvidas por que ninguém as percebe, e sim porque muitos não se importam. Daniel sabia muito bem o que aconteceria com os dois.

— Só estou calmo, porque é você quem vai passar por isso. – Brincou o irmão, bagunçando os cabelos cor de fogo, iguais aos seus.

— Não bagunça o meu cabelo! – ralhou a irmã, mas o sorriso em seu rosto retirava qualquer tom de censura. – Tudo por causa de uns malditos minutos.

Como ambos eram gêmeos, o que nasceu primeiro era quem teria que passar pelo exame da Linhagem. Celta não podia deixar de sentir um pouco de raiva daquilo.

A jovem terminou de ajeitar os seus cachos no penteado anterior a atitude imprudente do seu irmão. Ele não sabia que ela tinha que impressionar os líderes?

— Como estou? – Perguntou, nervosa, ao seu irmão, que encarou ela por alguns segundos, com se pensasse seriamente no assunto.

— Nossa! você está quase perto de ser considerada um ser humano. – A irmã lhe deu um soco  no braço, enquanto ambos riam. – Ainda fico impressionado como você consegue ficar bonita com o uniforme daqui. – falou, se desculpando. – Não precisa se preocupar, passará uma boa primeira impressão.

— Só você pra dizer isso mesmo. – Falou, abraçando o imão.

Então, os dois ouviram o primeiro badalar das onze horas.

            Celta separou-se do irmão, e observou ansiosamente a porta.

O segundo badalar ressoou.

Era agora que ela saberia se todos aqueles anos valeram a pena.

O terceiro badalar ressoou.

Ela devia aquilo para Irving, Melissa, Joanna, Daniel, e todos aqueles que lhes ajudaram tanto.

O décimo badalar ressoou.

Não havia mais tempo para dúvidas. A garota olhou para seu irmão, que lhe deu um sorriso de incentivo.

E então, a mais temida badalada ressoou acompanhada de três batidas fortes na porta de seus aposentos. Celta apressou-se em abrir a porta, e foi recebida pela imagem de um homem alto e pálido vestido de negro.

— Celta Lilith? – Perguntou o homem, não conseguindo evitar o pequeno tom de desprezo que ocupou sua voz ao mencionar o sobrenome utilizado para bastardos, órfãos e qualquer outro marginalizado sem Linhagem definida.

— Sim. – Disse, desejando ter soado confiante e falhando miseravelmente.

— Presumo que o senhor seja o gêmeo? – Finn confirmou. –ótimo, agora, a menos que coloque um vestido, e crie seios, saia do dormitório feminino.

— Como quiser , senhor. – Murmurou o jovem, revirando os olhos. O homem, então, voltou sua atenção à Celta.

— Siga-me. A Primeira a aguarda. – dito isto, o soturno homem lhe deu as costas, e saiu para o corredor.

—Boa sorte! – Falou Finn para Celta, que murmurou um agradecimento antes de partir.

Nunca antes o som de seus passos pareceu tão alto. Cada pisada era como um martelo de um juiz invisível, que ordenava incansavelmente que todos se calassem para ouvir seu veredicto.

A Escola preparatória de Bruxos de Caste’al’limia (lar da magia na tradução da língua antiga) , ou apenas Castel, como todos a chamam, era um lugar enorme.

Possuía incontáveis torres, salas, câmaras, laboratórios...

“ Passou-se mais de dois séculos desde sua construção e apenas o primeiro Bruxo que ergueu o primeiro muro, e o ultimo que construiu a ultima janela poderá lhe dizer onde Castel começa e onde ela acaba”

Este era um ditado repetido por gerações para aqueles que andaram entre os infinitos corredores daquela construção, que ocupava toda a parte norte da cidade Alchemia.

E a nervosa Celta parava diante a enorme porta de madeira escurecida que guardava todo o Conselho dos Covens; cinco dos mais poderosos bruxos conhecidos na modernidade, e Senhores e Senhoras dos Covens.

E também era a única coisa que a separava da verdade.

O soturno homem pálido fez um rápido gesto com a mão, e as pesadas portas começaram a se abrir.

A escuridão recebeu a aprendiz.

Apenas uma suave canção provava que havia algo por de trás daquele manto sombrio.

— Você sabe o que fazer? – Perguntou entediado o acompanhante de Celta, que confirmou com um aceno. – Então aqui começa sua jornada jovem bruxa. Se pro nosso bem ou para nosso mal, apenas o tempo dirá.

Dito essas palavras de praxe, Celta murmurou uma rápida palavra de ativação, e sua mão brilhou como uma grande lanterna.  A jovem ficou satisfeita ao ver que a intensidade de seu feitiço quase cegou aquele homem desagradável.

E ela deu o primeiro passo em direção a sua verdade.

Logo que entrou, ouviu as portas se fecharem atrás de si. E a canção ficou mais forte.

Seu feitiço lumi era potente, mas mesmo ele conseguiu abrir apenas um fino rasgo em meio a toda a escuridão.

Celta andou, guiando-se apenas pela intensidade da melodia lenta e ancestral que parecia vir de algum lugar do centro da sala. Agora a canção parecia estar vindo de dentro da sua cabeça de tão alta que estava.

Então, a Bruxa do Sangue surgiu em meio a uma coluna de fogo rubro.

A mulher de cabelos grisalhos e olhos cobertos por uma faixa de seda vermelha havia rasgado a escuridão, e agora pequenas tochas se acendiam, revelando os outros cinco bruxos mascarados. Cada um representando um coven, e o Conselho.

Celta nunca teve tanto medo em sua vida.

A Bruxa do Sangue farejou o ar, e virou sua cabeça em minha direção.

— Uma nova criança começa sua jornada. Uma irmã que se juntará ou não aos grandes e aos justos. – A mulher fez uma pausa. – Você está pronta para entrar na encruzilhada, jovem iniciada?

— Sim. – Respondeu Celta com a voz mais insegura do que ela gostaria que tivesse soado.

A mulher abriu um sorriso em seu rosto enrugado, revelando dentes que pareciam afiados como navalhas.

— Aproxime-se, pois agora escutarei a canção que seu sangue guarda.

Era agora. Celta esperou esse momento durante todos os seus dez anos como aprendiz. Finalmente descobriria se traria orgulho para aqueles a quem devia tanto, ou se mostraria que todos os seus esforços foram desperdiçados. A jovem se aproximou da bruxa mais velha.

— Revele seu nome. – ordenou.

— Celta Lilith. – A garota conseguiu ouvir alguns murmúrios pó parte dos cinco mascarados, e um leve descontentamento da Bruxa do Sangue, ao ouvir a marca dos bastardos e órfãos.

— me dê o seu braço. – Disse estendendo sua mão encarquilhada. A aprendiz deixou se braço ser enlaçado pelas frias mãos daquela mulher, que com uma adaga rasgou a manga do manto, e do vestido que compunham o uniforme das aprendizes, revelando sua pele branca.

A voz da bruxa começou a entoar um cântico rápido e embaralhado, enquanto abria um fino corte horizontal no pulso da jovem, trilhando  um caminho vermelho. O sangue pingou daquela ferida até uma bacia de cristal  cheia pela metade de água, tingindo-a de rubi.

Celta ignorou a dor, e rapidamente pressionou seu ferimento para estancar o sangue, quando a bruxa indicou que podia fazê-lo. Era proibido fechar aquele ferimento com magia, pois, ele seria uma marca de seu triunfo, ou de sua derrota.

Logo o cântico cessou, e rapidamente  a Bruxa de sangue sorveu o conteúdo da bacia.

Um minuto passou sem nada acontecer, a mulher apenas ficou de olhos fechados. Os bruxos dos covens murmuravam entre si.Celta não podia se conter de tanto nervosismo.

O que aquilo significava? Que ela não era boa o bastante? Que havia falhado?

Então a Bruxa gritou. Um grito alto e gutural que forçou todos a taparem bem os ouvido com as mãos para amenizar os danos a audição.  Logo em seguida, a bruxa caiu de joelhos no chão e imediatamente toda a escuridão na sala desapareceu, revelando o amplo aposento de mármore negro. Celta apagou seu lumi.

Rapidamente um bruxo mascarado saiu do pequeno grupo e encaminhou-se até a mulher caída no chão, logo em seguida o homem virou-se para a aprendiz, enfurecido.

— O que fez com ela sua escória?! – berrou o homem.

— Eu... eu não fiz nada! – Tentou explicar Celta, mas antes que prosseguisse, a bruxa levantou-se.

— Isso é impossível!- Falou para que todos a ouvissem. – a Canção que ouvi... ninguém escuta  há muito, muito tempo.

— O que isso significa? – Perguntou Celta ansiosa.

A Bruxa do Sangue riu.

— Ela ainda tem medo de falhar.... – comentou se contorcendo de tanto rir. Ela empurrou o mascarado para o lado e aproximou-se de mim, mas indicou que todos os outros deveriam escutar suas próximas palavras.

— Minha jovem, o Sangue me contou. Você é de uma linhagem tão antiga e poderosa quanto o próprio Império.

Várias conversas sussurradas irromperam no salão. Celta mal podia se conter de tanta felicidade. Depois de tantos esses anos, ela havia conseguido! Mal podia esperar para contar ao seu irmão e aos outros.

— E não é só isso. – Emendou, sussurrando em seu ouvido, para que apenas a  garota escutasse. – Você é uma descendente direta da Linhagem de Athena Dracul Al’Letinin , uma Dragão da noite.

Sabem, algumas verdades têm um peso maior que outras. Umas são como um pequeno seixo jogado na correnteza dos eventos. Outras são um imponente meteoro caindo na  superfície de um lago, abrindo uma cratera em seu interior que sugará toda a água para seu interior.

Para o azar ou para a sorte, Celta ouviu a tão temida e aguardada verdade. E não sabia sobre o que pensar a respeito daquela canção – meteoro.


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