Ao entrar  naquela arena, junto de seus irmãos juramentados da Guarda Real, Sor Gerold não tinha pretensões para competir nas justas, estava ali somente para proteger a família real. O torneio em comemoração ao dia do nome da Rainha Rhaella Targaryen não era grande mas havia um bom número de cavaleiros que iriam competir, vindos dos mais diversos cantos de Westeros.

— Um belo dia, devo admitir — Arthur Dayne disse enquanto caminhavam por entre os cavaleiros que arrumavam seus cavalos ou ajustavam suas armaduras extremamente polidas.

— Sim, os deuses resolveram agraciar a Rainha com esse belo dia — Gerold respondeu o amigo antes de continuarem sua caminhada. As armaduras reluziam sob o sol daquela falsa primavera, os mantos alvos se arrastavam pelo o chão.

— O príncipe me chama — Arthur anunciou de forma repentina e a figura imponente de Rhaegar Targaryen entrou no campo de visão deles. Gerold acenou para o príncipe dragão e o mesmo retribuiu o aceno com um sorriso amigável, eram todos amigos.

— Eu o alcanço, Dayne — Arthur assentiu e foi de encontro ao príncipe. Gerold recomeçou a caminhar, de forma mais lenta, mas logo estacou quando a viu. Aquela figura pequena e frágil, envolta em tecidos rendados de tons diversos de azul e sorrisos. O cabelo dourado-escuro estava preso em um coque, deixando os olhos claros amostra. Gerold não soube quanto tempo a ficou encarando mas quando deu por si, a jovem donzela o encarava curiosa. Se recompôs rapidamente e após fazer uma leve mesura para a donzela que ainda o encarava, se afastou rapidamente.

Seu coração palpitava forte contra o seu peito, nunca havia sentido tal coisa antes. Porque estava agindo daquela maneira por uma garota que teria idade para ser sua irmã mais nova? Mas ela era tão encantadora, era como se a Donzela estivesse entre os reles mortais que eram. Se inscreveu de última hora no torneio, nunca poderia a cortejar mas pelo menos a coroaria sua rainha do amor e da beleza. O sorteio havia sido feito, enfrentaria dois cavaleiros nortenhos, um vindo do Vale e outro da Campina.

— Ei Touro Branco — Oswell Whent se aproximava sorridente, o mesmo já pronto para sua primeira justa. — Vai competir também?

— Sim, resolvi de última hora.

— Se ganhar, quem irá coroar como sua rainha? Sei que Arthur e Barristan vão tentar coroar Ashara.

— Tenho alguém em mente — Sorriu brevemente com a lembrança da donzela. — E você?

— Verei na hora, isso se alguém não me derrubar antes — Ouviram o som de uma corneta soar ao fundo. — Bom, está na hora, boa sorte meu amigo.

— Igualmente, meu amigo.

Se separaram, Oswell iria competir primeiro contra um cavaleiro vindo do Oeste. Oswell se saiu bem derrubando o jovem Lannister, logo era a vez de Arthur e por conseguinte Barristan. Ambos foram bem derrubando seus adversários, logo era sua vez. Montou seu cavalo e foi para a arena, o nortenho já o esperava. Havia sido rápido, logo o Manderly estava no chão, o outro nortenho e o rapaz vindo do Vale tiveram o mesmo destino.

O torneio teve uma pausa no início da tarde para que os cavaleiros restantes pudessem descansar um pouco e tratar dos seus ferimentos. Enquanto descansava, Gerold avistou a jovem donzela caminhando por entre as tendas, acompanhada de duas damas de companhia. Viu ali uma oportunidade que não poderia ser desperdiçada.

— Senhoritas — As cumprimentou com uma reverência respeitosa. As duas damas de companhia começaram a rir baixinho, encantadas com a figura de Gerold, mas a donzela loira as repreendeu com um olhar desaprovador.

— Boa tarde, Sor — A voz era delicada, musical mas firme, uma bela combinação.

— Posso escolta-la de volta a arena?

— Seria uma honra, Sor Hightower — Começaram a andar juntos, em um silêncio agradável.

— Estou em desvantagem, sabe meu nome mas não sei o seu.

— É Sansa, Sansa Grimm.

— Sansa... — Gerold repetiu o nome uma vez e milhares mentalmente. Era tão bonito, combinava com ela. — Um belo nome nortenho para uma garota sulista.

— Minha avó veio do Norte — Sansa explicou com um sorriso enquanto afastava algumas mechas douradas do rosto. — Minha única herança desse pedaço de Westeros que nunca conheci — A corneta soou pela a segunda vez naquele dia, as lutas iriam recomeçar. Parados na orla da arena, Gerold e Sansa se encaravam com leves sorrisos estampados nos lábios. — É aqui que me despeço, espero que ganhe.

— Irei lhe coroar minha rainha se a vitória for minha.

— Me honra com tal coisa. Deve ter donzelas bem mais bonitas para coroar como sua Rainha, até mesmo a Rainha e a princesa.

— Nenhuma delas se chama Sansa Grimm.

Sansa corou furiosamente ao ouvir Gerold falar aquilo mas sorriu timidamente. Separaram-se e do meio da multidão, Sansa viu Gerold justar contra Sor Barristan Selmy, O Ousado. Foi algo acirrado, doze lanças foram quebradas antes de Gerold ser coroado vencedor daquele torneio. E o Touro Branco cumpriu sua promessa, elegeu Sansa sua Rainha do amor e da beleza.

Naquela noite, enquanto todos comemoravam o resultado do torneio em um suntuoso banquete, Gerold e Sansa trocavam beijos escondidos em meio das pilastras da Fortaleza Vermelha. Nunca passariam disso, Gerold nunca iria quebrar seu voto da Guarda Real e Sansa logo iria se casar, Lord Grimm já procurava um marido para sua única filha.

Gerold estava se destruindo em nome daquele amor impossível e proibido.

—♕—

Dois anos havia se passado desde aquele torneio, Gerold nunca mais vira sua Lady Sansa, nunca a esquecera, nunca a deixara de amar. Se viu perdido em lembranças quando adentrou a arena que iria sediar o Torneio de Harrenhal, oferecido por Lord Whent em homenagem a sua filha. Ao passar por entre as tendas e cavaleiros, ele a viu novamente. Bela como outrora, o vestido azul-escuro apenas realçava sua beleza. Duas coisas chamaram a atenção de Gerold: a primeira era a tristeza estampada nos olhos azuis-esverdeados de Sansa, a segunda era a enorme barriga de grávida que ostentava.

Como se tivesse sido chamada, Sansa se virou e fitou as orbes claras em Gerold. Abriu um sorriso cheio de saudades, já fazia dois anos que não via seu Touro Branco. Se desvencilhou de suas damas de companhia risonhas e se aproximou de Gerold em passos hesitantes.

— Sor Gerold.

— Lady Sansa.

Se cumprimentavam de forma polida mas o amor entre eles estava lá, tendo que ser ocultado. Ele era um membro da Guarda Real e ela era casada com um nobre de Volantis, esperava seu herdeiro para breve.

— Vai competir?

— Irei — Ambos caminhavam na direção da Arena, Gerold auxiliava Sansa pois a barriga atrapalhava seu equilíbrio. — Seu...hã...marido está aqui?

— Stefan? Não, ele não suporta torneios. Vim sozinha, aproveitei para visitar meu pai no caminho.

— Alegro-me em saber.

— Em que Stefan não suporta torneios ou que vim sozinha?

— A segunda opção, não terei problemas em a coroar minha rainha novamente.

— Faria isso novamente, Gerold?

— Quantas vezes eu pudesse, Sansa.

Ele bem que tentou mas fora derrotado, não se importou pois fora ovacionado de forma animada por Sansa, isso fazia tudo valer a pena. Rhaegar havia ganhado o torneio e havia coroado Lyanna Stark, e não sua esposa Elia, como sua Rainha do amor e da beleza. Gerold sabia que isso seria tido como afronta em diferente níveis.

Ele, no entanto, não julgou Rhaegar quando esse fugiu na calada da noite com a garota Stark na garupa do cavalo, o entendia de certa forma pois faria o mesmo com Sansa se pudesse. O acompanhou, Arthur e Oswell foram com eles, os três foram encarregados de fazer a segurança da garota e do filhote de dragão que ela carregava no ventre.

Os meses que se seguiram foram de agonia intensa para todos, Gerold sempre se pegava pensando em Sansa, se ela estava bem protegida da guerra, se havia dado a luz e sobrevivido. Graças a Arthur, soube que Sansa estava bem e quase dando a luz seu segundo filho, tivera uma menina no ano retrasado. Se tudo fosse diferente e ele fosse um simples cavaleiro, aquelas crianças seriam suas.

O fim da guerra havia trazido incontáveis perdas e mortes, a sua e de Sansa incluso. Gerold morreu em uma manhã abafada ao tentar impedir Ned Stark de ver sua irmã. Morreu destruído, com o coração em pedaços por não ter sua Lady Sansa por perto. Sansa morreu no mesmo dia ao dar a luz um menino natimorto. Morreu quebrada por não poder viver seu grande amor. Ambos estavam livres agora de compromissos e votos, podiam se amar sem julgamentos. Morreram destruídos mas de certa forma, livres.