Carta a Juliana escrita por Madu Oms


Capítulo 1
Capítulo único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/699091/chapter/1

Querida Juliana,

Faz um dia desde que recebi uma ligação da sua mãe no meio da madrugada (sua madrugada, minha noite). Antes mesmo de atender, eu já sabia que alguma coisa estava muito errada – sua mãe nunca se daria ao trabalho fazer uma ligação quando poderia simplesmente me mandar uma mensagem, ou pedir para você mandar. Atendi com as mãos tremendo e já estava chorando antes de ouvir o que ela tinha para falar.

A Ju foi atropelada. Motorista bêbado. Ela está internada, você pode vir pra cá?

Não lembro o que eu respondi, ou se sequer respondi algo. Dona Suzana, entre lágrimas, me disse algo sobre você estar em coma e ela não saber se teriam como reverter o caso. Sua mãe, que sempre foi tão positiva, estava me chamando para dizer adeus à minha melhor amiga. Não é exagero dizer que meu mundo desabou completamente.

Você sempre foi minha melhor amiga. Desde o fatídico dia em que eu caí do balanço no parquinho da escola, aos 7 anos de idade, e você foi me ajudar a limpar a areia da meia-calça, não consegui enxergar mais ninguém tomando esse seu posto. Todas as vezes que eu chorei, você limpou minhas lágrimas; quando eu fiquei com raiva, você me acalmou; quando minha alegria superava os limites físicos, era com você que eu compartilhava. Sempre, sempre que eu precisei você esteve ao meu lado. E eu queria muito ter estado contigo no dia em que tudo aconteceu.

Quando nos separamos no aeroporto, há quase dois anos, nos prometemos que nada nem ninguém conseguiria nos afastar. Mesmo estando em países diferentes, frequentando lugares estranhos, saindo com amigos que falam outras línguas e namorando caras que a outra não conhece, nossa amizade permaneceria firme e forte enquanto vivêssemos. E eu sinto que essa promessa nunca falhou, mesmo que esteja correndo risco agora.

Queria te dizer que eu te amo mais que tudo. Que você é mais do que minha amiga, é minha irmã. É minha família. É parte de quem eu sou. E se nem as sete horas de distância conseguiram abalar nosso laço, um motorista desonesto e embriagado também não vai conseguir. As coisas estão difíceis para mim, mas eu juro que na primeira oportunidade vou pular dentro de um avião e chegar o mais rápido possível no Brasil, para poder te abraçar (mesmo que você não sinta) e fazer o hospital ficar muito pequeno para o nosso amor (mesmo que você não esteja conseguindo retribuir).

Estamos no meio do semestre, e meus pais não podem bancar a viagem no momento. Eles não querem me mandar sozinha. Minha mãe disse que está fazendo uma forcinha extra no trabalho e que, talvez, semana que vem dê certo. Quero que você saiba que desde que eu recebi a ligação, ontem, estou rezando sem parar para que dê tempo. Não de te ver antes de você partir, mas de você acordar e ler essa carta antes de me ver, para que tenha uma pequena ideia do tanto que eu te amo. Eu sei que seu caso é grave e que seus pais estão perdendo a fé e não é sem razão, mas eu sou obrigada a acreditar que não é o pior que nos aguarda. Eu, como sua melhor amiga, tenho sempre que esperar pelo melhor, até quando parece que não vai dar.

Acorde logo, por favor. Eu não consigo conceber um mundo no qual você não vive.

Com amor,

Sarah.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!