Pandora escrita por Yennefer de V


Capítulo 1
Pandora


Notas iniciais do capítulo

Aê pessoal õ/ acho que com esse plot finalizo minha "saga" da terceira geração. FINALMENTE escrevi algo mega, hiper, blaster feliz.

Eu sei que o estilo de narração é super diferente, mas deem uma chance. O livro da Marian Keyes é MUITO legal assim.



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Conferi o endereço novamente. Vilarejo de Ottery St. Catchpole. Correto! Avistei a casa... Bem, não era realmente uma casa. Era mais um amontoado de andares que foram colocados um em cima do outro segundo uma ordem caótica de necessidade. Esse caos arquitetônico é chamado de A Toca.

Era feita de pedras acinzentadas e tijolos barrentos e contei pelo menos cinco chaminés no telhado vermelho, cada um apontando para um lado variado, de tamanhos variados também. Tinha um jardim consideravelmente grande e mal cuidado cheio de criaturinhas engraçadas, pequenas e verdes, que corriam por lá dando risinhos maléficos, entrando e saindo de buracos. O jardim era a coisa mais catastrófica de toda a casa, já que tinha um matagal, arbustos, grama, terra e uma colina a frente, além de arvores que cercavam toda a construção.

Verifiquei a população atual da casa e me desapontei. Apenas um casal de idosos morava lá. Só que, como fui informada, era noite de natal e eles sempre recebiam muitas pessoas como convidadas, o que tornava minha chance grande e próspera.

Alegrei-me com a possibilidade, porque faltava apenas um dia! Fui avisada com pouca antecedência. Resolvi correr para a casa, já que queria conhecê-los o mais rápido possível.

[...]

Entrei pelo térreo, como os seres humanos geralmente fazem. Queria me acostumar logo! Encontrei uma cozinha que estava sendo utilizada com toda a força. Dei de cara com uma senhora roliça, que usava a varinha com destreza no aposento. Seus cabelos já estavam acinzentados e seus olhos eram castanhos. Ela vestia um avental verde e vermelho e olhava para um livro de receitas, mas eu pude perceber que ela só o conferia. Já sabia as receitas de cor e salteado. Sua vibração estava extasiada. Ela tinha ficado muito solitária depois que os... Sete filhos? Caramba! Como eu ia dizendo, depois que os sete filhos mudaram de lá.

Enquanto a senhora Weasley trabalhava com afinco na ceia de natal, fiz meus cálculos. Se cada um dos sete filhos tivesse seu próprio par, eu estava totalmente encrencada em descobrir quem seriam os dois que me receberiam.

Uma mulher negra de cabelos lisos, porém frisados, presos num rabo-de-cavalo entrou na cozinha. Ela era alta e se ofereceu para ajudar a sogra. Ela era seguida por uma espécie de sombra... Acho que a palavra certa é “luto”. Não entendi o motivo do luto, já que a imagem pela qual ela se sentia tão triste era idêntica a do seu marido, um tal de Jorge Weasley. E ele não estava morto, percebi. Estavam casados e tinham dois filhos que entravam e saiam da mente de Angelina, a mulher negra. Um deles se chamava Fred e o nome a deixava muito melancólica. A mais nova se chamava Roxanne.

Eu não conseguia acreditar! Aquela senhora tinha filhos adultos e netos adultos, em idades de terem filhos também!

No meio dessa bagunça, como é que eu ia encontrá-los a tempo?! Eu ia ser mais uma neta da senhora Weasley ou uma bisneta?

[...]

Logo, mais pessoas começaram a ajudar a senhora Weasley. Conheci Jorge, que também mantinha o luto da mulher, por um rapaz idêntico a ele. No entanto, a imagem do rapaz era bem mais jovem. Com uma tristeza repentina, percebi que o jovem era irmão gêmeo do Jorge e tinha morrido assassinado. Como fiquei triste perto da Angelina, ela desatou a chorar e me arrependi amargamente por isso. Não podia ter confundido suas energias dessa forma, principalmente quando ela e Jorge faziam tanto esforço para se alegrar.

Fui para o quintal infestado de gnomos para me afastar do casal.

Havia um bando de jovens espalhados por todos os cantos. Comecei pelo casal mais velho. A mulher de lisos cabelos loiros conversava baixinho com um homem de óculos de finos aros e cabelos espetados e azuis. Os dois estavam tentando entrar na mesma sintonia. Eram casados. Victorie e Ted Lupin.

— Sinto medo de que você simplesmente vá embora de casa e deixe apenas um bilhete de novo, Vic. – declarou Ted.

Victorie nem corou.

— Eu precisava daquele tempo. Estávamos afundando em rotina e mesmice. Eu não conseguia me lembrar dos motivos pelos quais eu te amava! – Victorie respondeu, batendo de leve um pé no chão.

Ted olhou para o lado, cansado da mesma briga que parecia durar alguns meses.

— Agora você se lembra?

— Nós podemos tentar Ted. – foi a resposta de Victorie, e novamente seus padrões se dessintonizaram rapidamente

Ted estava com uma magoa que arrastava consigo por muito tempo, sem ser capaz de perdoar. Já Victorie não parecia tentada a pedir perdão, porque tinha deixado a casa deles e foi viajar com a irmã por alguns meses só para espairecer suas decisões. Victorie achou que tinha casado muito jovem e odiava sua profissão. Ted não entendia o que tinha feito de errado no casamento deles. Ele tinha que perceber que havia se acomodado. E Victorie tinha que ser mais clara em sua comunicação.

Eu não sabia se podia melhorar a relação entre eles ou mesmo se havia uma forma de curar-lhes as feridas.

Victorie entrou resmungando que ia ajudar a avó e deixou Ted com seus pensamentos.

Perto dali, sentadas numa mureta de pedras cinza que formava uma divisória circular pelo enorme espaço que era o jardim, estavam duas moças. Uma delas me assustou de início. Além da tatuagem feroz de três animais mágicos se envolvendo (reconheci apenas o dragão e a quimera) no braço, os cabelos claramente pintados de negro totalmente sem vida, ela emitia uma aura agressiva. Seu nome era Lucy. A moça ao seu lado, com a mesma idade, era imensamente dócil e tranquila. Elas conversavam alegremente, como se só as duas conhecessem o próprio idioma. A garota Alice, que tinha um coque mal feito no topo da cabeça e muitas pulseiras no braço, além de um blusão de frio com uma cena cinematográfica de um casal se beijando estampada (não reconheci o filme), deixou sua mão encontrar a da namorada. Imediatamente a Lucy sentiu seu corpo relaxar e gargalhou de algo que a Alice falou.

— Eles me acham genial. – comentou a Alice num tom baixo. – Eu faço pequenos feitiços no set de filmagem, mexo na iluminação, no ângulo das câmeras, nas cores e na transfiguração do cenário porque o budget é muito limitado, às vezes também interfiro na atuação dos atores com feitiços e o produto final é maravilhoso. É apenas um filme independente, sem patrocinadores, mas estão muito empolgados. Você vai ao festival comigo?

Lucy, que de repente estava tão sincronizada com Alice que eu fiquei embasbacada com o amor entre elas, gargalhou de novo, coisa que achei que ela não fizesse. Ela gargalhava duma forma alta e Alice sorria timidamente.

— Claro que vou. Quero aparecer nos jornais de trouxas com você.

— E na internet. – comentou Alice.

— Sim, na internet também. Talvez você ganhe muito dinheiro e nós possamos morar juntas finalmente.

Alice sorriu sinceramente. Ela sonhava com esse dia, mas infelizmente Lucy morava com a irmã, que a sustentava por um breve período e ela ainda morava com os pais. Alice sempre se achou diferente, até perceber que na verdade gostaria de ter uma profissão de trouxas (e apreciava bastante a cultura deles).

Senti-me impotente. Gostaria que fossem elas. Tinha adorado cada pedaço de Alice em Lucy e de Lucy em Alice.

Mas sabia que era biologicamente impossível.

Chateada, segui em frente.

Encontrei seis pessoas trabalhando na montagem de uma pequena tenda e conversando animadamente. A tenda era branca e comportava uma longa mesa e algumas mesinhas com cadeiras que ainda não tinham sido montadas.

A jovem que estava na metade de uma escada prendia com toques de varinha vários pisca-piscas com esferas do tamanho de bolas de tênis, que provavelmente na escuridão brilhariam em uma ou mais cores. Ela fazia as bolas levitarem e se grudarem ao teto da tenda em pequenos intervalos.

Ela era parecida com a mulher Victorie, só que tinha algumas cicatrizes pelo corpo, seus cabelos estavam sem brilho e eram de um louro mais escuro. Os olhos azuis tinham uma jovialidade agradável. Era a irmã mais nova de Victorie, chamada Dominique.

Procurei um pouco para saber se ela tinha algum par por ali. Descobri rapidamente um homem de cachos armados e castanhos, usando óculos redondos. Ele só fingia que ajudava. Estava extremamente entretido com outro jovem de mesma altura, que parecia envolto numa névoa. Como se a aparência que tinha não fosse a verdadeira. Concentrei-me por alguns minutos até perceber que os dois eram gêmeos.

O outro estava camuflado por uma espécie de ilusão criada por um feitiço ou uma poção. Sua aparência verdadeira tinha os olhos idênticos ao irmão, mas terminava ai. Ele era careca, pra começo de conversa. Tinha muitas cicatrizes no corpo, inclusive uma na barriga e outra no ombro que lembrava mordidas de um cachorro particularmente grande. Ele era mais forte e tinha os músculos definidos, ao contrário do irmão magro.

Olhei ao redor para definir se o gêmeo forte tinha seu par. Encontrei-a! Era uma moça cheia de energia, com os cabelos ruivos e longos (parecia não cortá-los nunca!), entretida com uma mulher negra, pendurando azevinhos e outros enfeites pela tenda.

Voltei aos gêmeos. O que estava iludido, com a aparência que não era dele, ainda me intrigava. Sua energia era diferente. Ele parecia um ser humano normal, era aventureiro e amava demais seu irmão e aquela moça ruiva, além de manter saudades no peito de uma porção de gente. Mas ele também tinha algo canino no peito, como uma fúria contida, uma vontade primitiva de morder, estraçalhar, uma fome de carne.

Estremeci. Ele era um lobisomem. Seu nome era Lorcan, o gêmeo escondido através de uma forma que não era dele, era um lobisomem. Talvez por isso estivesse se escondendo?

O irmão magro, que falava baixinho com ele, se chamava Lysander, mas adorava quando a sua namorada Dominique o chamava simplesmente de Lys. Tinha algo a ver com uma mania de Dominique gostar do número três em sua vida e o apelido de Lysander ter exatas três letras.

Achei-os um casal extremamente adorável e excêntrico.

— Não tenho escolha. Se eu aparecer o Ministério da Magia vai me prender. – argumentou o lobisomem Lorcan para o irmão. Ele olhou de soslaio para a mulher ruiva, que se chamava Molly. Ela não era exatamente “namorada” de Lorcan, mas eles eram tão cheios de vontade um pelo outro que não havia duvidas de sua atração.

— Você vai ser julgado. – argumentou o Lys, como ele gostava de ser chamado pela Dominique. – Talvez não seja condenado a Azkaban. Ouvi falar de serviços comunitários. E você vai finalmente poder ver nossos pais decentemente.

Lorcan se irritou com o comentário.

— Você acha que não quero vê-los? Principalmente a mamãe? Mas eles vão fazer exatamente como você. Querer que eu me entregue.

— O que a Molly acha disso? – perguntou Lys por curiosidade.

— Que eu tenho que fazer o que me faz feliz porque é o que ela faz.

Lorcan foi sincero. Em momento nenhum Molly, a jovem ruiva, tinha exigido que ele parasse de... Fugir. Lorcan tinha uma profissão inusitada que era caçar animais mágicos que estavam criando problemas para dominá-los ou matá-los. Ele trabalhava para trouxas também, que o achavam um tipo de exorcista ou caçador de monstros mitológicos. Só que isso era trabalho do Ministério da Magia e eles consideravam Lorcan um estorvo. Por isso Lorcan não conseguia “namorar” a Molly nem aparecer em sua verdadeira aparência na festa de natal. Foi assim que ele virou lobisomem, também.

Adorei a cumplicidade entre ele e Molly, que era uma medibruxa dedicada que trabalhava demais.

Os pais de Lorcan e Lys eram magizoologistas que estudavam as criaturas mágicas e Lys foi por esse caminho também. Senti que Lorcan não visitava sua mãe (que ele amava demais) com mais freqüência porque tinha vergonha de sua profissão.

Já Lys e a excêntrica Dominique, sua namorada, já moravam juntos. Eles estavam construindo o que chamavam de “Morada De Animais Fantásticos”. Era uma espécie de clinica para animais feridos e tinha também um hotel para deixarem bichinhos mágicos de estimação caso os clientes não pudessem cuidar deles por um tempo. Lys e Dominique estavam tão empolgados!

Mesmo longe um do outro na tenda, eles sempre se espiavam, só para conferir se o outro estava por perto. Molly e Lorcan, Lys e Dominique, eram possibilidades fantásticas.

Lorcan tinha o pequeno problema de ser um fugitivo e Molly de trabalhar demais, mas eu talvez pudesse consertar as coisas entre eles.

O último casal fazendo arrumação na tenda era composto pela mulher negra que estava conversando com Molly. Seu nome era Roxanne e ela exalava uma paz tão grande que fiquei sonolenta. Era calma, sorria para todos e conversava num tom pausado e doce. Ela tinha um ar de pura sabedoria e liderança.

Ao contrário de Dominique, que sempre olhava para o Lys, Roxanne deixava seu namorado em paz, mesmo que ele tivesse convivido muito pouco com os bruxos ao seu redor.

Roxanne, como Molly, era medibruxa, mas era um tanto mais nova. Seu namorado era um homem mais velho e tão bem humorado quanto ela. Seu nome era Henry, e a principio não entendi o que havia de diferente nele. Estava conversando animadamente com os gêmeos, que depois daquela conversa tensa, decidiram enturmá-lo.

Ao vê-lo com os gêmeos, eu percebi que Henry não era mágico. Ele tinha descendência mágica, mas nasceu sem conseguir produzir feitiço nenhum. Aquilo não parecia deixá-lo triste ou irritado. Ele simplesmente usou a escada que Dominique estava pendurando os pisca-piscas anteriormente para amarrar uma faixa enorme escrita “FELIZ NATAL!” em cores berrantes, pintadas pelo que pareciam ser letras de criança.

Na verdade, o tal de Henry fez mais do que os gêmeos, que só estavam enrolando.

— Vocês podiam ajudar! – ele cutucou os gêmeos de cima da escada. – Já que vocês têm gravetos mágicos e tal. – riu.

Lys o achou atrevido, mas riu junto. Lorcan, que estava numa crise interna, não o ouviu direito.

— Vamos mexer nossos gravetos e soltar umas luzinhas, Henry. – prometeu Lys. – Pode descer daí.

Henry suspirou afetadamente.

— Pensei que ia ter que fingir interesse em ajudar me pendurando por ai a tarde toda.

Dito isso, desceu as escadas, encontrando a namorada Roxanne na ponta. Ela parecia ficar ainda mais leve perto de Henry e sua própria magia o circundava, tornando-o num padrão vibracional quase enfeitiçado. Eles trocaram um breve beijo e Roxanne voltou aos enfeites.

Henry e Lysander foram cuidar do som, ambos tentando travar uma conversa amigável. Mas Lys não sabia que era muito fácil conversar com Henry, o que facilitou o começo de diálogo. Lorcan foi mais atrás, ainda em conflito interno.

[...]

Apesar de ter me apaixonado pelos três casais da tenda, eu não tinha garantia nenhuma de que seria um deles. Por isso, continuei minha empreitada pela casa.

Subi uma escada em ziguezague para saber se tinha alguém se escondendo lá pra cima. Ouvi um choro contido de um moço sendo amparado por duas pessoas. Passei pela porta fechada e senti uma súbita sensação de impotência.

O rapaz estava numa cama que há um tempo não era usada. Ele tinha grandes olhos verdes e cabelos pretos. Ao seu lado estava uma mulher mais velha, ruiva, de olhos castanhos, com porte de atleta. Do outro lado, estava um homem com óculos, de olhos também verdes e cabelos muito parecidos aos do jovem. O casal mais velho eram seus pais. Gina e Harry Potter. O jovem chorando no meio se chamava Alvo.

— Não quero que ele fique sozinho. – o jovem confidenciou. – A família dele é fria.

Percebi, pela troca de olhares entre Gina e Harry, que eles entendiam a situação. Cheguei mais perto de Alvo para entender o que estava acontecendo.

Oh não! Alvo tinha um namorado loiro, da mesma idade que ele, chamado Escórpio. Eles começaram o namoro timidamente, como uma amizade e estavam no último ano em Hogwarts. Mas infelizmente a mãe de Escórpio tinha falecido e Alvo não o queria deixar sozinho na mansão que ele morava com o pai.

O problema era que o pai de Escórpio e toda a família d’A Toca nunca tinha se dado muito bem para ele ser convidado para o natal.

Gina disse algo com o olhar para Harry, que se recusava a aceitar. Finalmente, o marido cedeu.

— Você pode chamar o Malfoy, Alvo. Eu não quero que ninguém passe uma noite de natal em luto em uma mansão fria. Especialmente se essa pessoa fará parte da nossa família.

Os grandes olhos de Alvo, idênticos aos do pai, agradeceram silenciosamente.

— Não vai atrapalhar a festa?

Gina apertou o braço do filho.

— Sempre tem espaço pra mais gente n’A Toca. – e sorriu.

Alvo agradeceu aos pais, procurando um pergaminho para enviar uma coruja ao namorado.

Embora eu estivesse ansiosa para ver a relação entre Alvo e Escórpio, eu também sabia que era biologicamente impossível. Preparei-me para sair do quarto, quando um rapaz mais velho que Alvo entrou, seguido de uma adolescente.

— Tudo OK? – perguntou. Ele tinha cabelos propositalmente desarrumados e olhos castanhos como os de Gina. Era o filho mais velho dos dois, Tiago Sirius. Um olhar de preocupação mirava o irmão Alvo, por mais que algo dentro dele gritasse que era difícil aceitar a família Malfoy.

— Vou convidar Draco para vir também. – Alvo informou em tom de desafio.

Normalmente, percebi que isso geraria uma discussão entre os irmãos. Mas Escórpio tinha acabado de perder a mãe e até Tiago Sirius sabia o limite de encrencar com o irmão mais novo.

— Que bom. Espero que ajude. – ele declarou, virando o corpo, sem conseguir dar mais nenhuma palavra de conforto, fazendo uma promessa para si mesmo de “se comportar” com os Malfoy em luto.

A garota que estava atrás dele puxou o corpo para ele passar. Era uma jovem de cabelos acastanhados, às vezes vermelhos e tinha os olhos de Tiago Sirius, também castanhos. Ela tinha duas covinhas no rosto e era baixa, porém possuía uma doçura ingênua que a envolvia que gostei dela de imediato.

Lily Luna, a caçula dos dois, abraçou Alvo, consolando-o. Percebi que ela se dava bem tanto com Alvo como com Tiago. Ela era uma jovem de fácil convívio. Harry e Gina deixaram o quarto, enquanto Lily consolava o irmão, o casal indo pedir uma coruja para a senhora Weasley.

Deixei os dois sozinhos, para não atrapalhar Alvo em sua melhora de espírito. Fui até a sala, cômodo que passei no térreo sem entrar, para encontrar uma moça cuja vibração era de puro conhecimento, objetiva e altruísta.

Ela tinha cabelos avermelhados e cachos volumosos, olhos analíticos, uma postura firme e o tom de voz claro e o vocabulário extremamente amplo. Bebericava de uma caneca. Seu nome era Rosa. Ela discutia animadamente com um homem mais velho dono de uma feia cicatriz no rosto. O nome dele era Gui Weasley. O marido da senhora Weasley, o senhor Weasley, cujos cabelos estavam ralos e só a barriga era saliente, também os acompanhava.

Victorie estava atenta à conversa, mas sem ouvir direito. Seus pensamentos estavam em seu casamento com Ted. Sua mãe, uma mulher maravilhosamente bonita, também loira, cuja aura não era somente humana, mas parte veela também, o que a tornava sedutora e corajosa, chegou ao seu lado e começaram a conversar.

Fui para perto da mulher Rosa, de Gui e do senhor Weasley.

— Estou muito excitada com a criação do departamento. Talvez demore mais do que planejamos inicialmente, mas será uma evolução bastante significativa do ponto de vista da hierarquia na bruxidade.

Fiquei curiosa sobre o assunto de que Rosa falava. Então decidi ser um pouco intrometida na mente dela.

Aparentemente, Rosa sempre lutou por igualdade entre os seres mágicos racionais e os bruxos, por um melhor relacionamento entre bruxos e trouxas e por uma política de inclusão dos abortos na sociedade bruxa, desde que estudava. Atualmente, ela trabalhava na criação de um departamento no Ministério da Magia chamado Cúpula dos Guardiões.

A Cúpula era, resumidamente, uma tentativa de o governo britânico bruxo debater as questões políticas não apenas entre os bruxos. Rosa era a guardiã bruxa da Cúpula. Havia seus colegas de trabalho: Nereiada, a sereiana, Gortun, o duende, Kentau, o centauro, Angelique, a veela e estavam em processo de contratação do guardião lobisomem.

Rosa, aparentemente, mantinha um romance secreto com seu chefe, o que fez ela não convidá-lo para o natal n’A Toca. Infelizmente, não seriam Rosa e seu chefe, a não ser que ele aparecesse de última hora.

— Estamos com muitíssima dificuldade em encontrar um lobisomem com as aptidões, conhecimento e interesse necessários para ser um guardião. – comentou Rosa.

— Eles são seres que sempre viveram marginalizados pelos bruxos. – disse Gui. – Duendes sempre coexistiram conosco. Centauros, sereianos e veelas sempre foram deixados em paz ou pelo menos viveram em seu próprio mundo. Lobisomens não têm uma sociedade própria, ficam vagando entre a licantropia e a parte humana. – ele finalizou.

Apesar de o debate estar fascinante, a tarde já estava terminando e eu precisava conhecer todos os possíveis casais d’A Toca.

Acompanhei uma mulher de cabelos castanhos armados e seu marido ruivo (se entendi bem, Hermione e Rony) darem uma bronca no filho caçula, também ruivo e cheio de sardas, por algo que ele fez junto com o irmão caçula de Victorie e Dominique, um adolescente chamado Louis.

Hugo e Louis eram muito jovens para serem pais, então os descartei.

Havia mais um jovem negro com cabelo afro conversando animadamente com Henry agora. O jovem era batedor de quadribol de um time profissional e chegou mais tarde. Seu nome era Fred, o nome que trazia luto aos corações de Angelina e Jorge.

Entendi imediatamente o motivo pelo qual o Fred II deixava os pais tão saudosos: ele não tinha a aparência física do gêmeo do pai, mas era muito parecido em personalidade. É claro que ele não sabia disso, que deixava os pais de luto, mas ele ria alto, ensinando Henry a desgnomizar o jardim. Ele pegava as criaturas verdes e jogava em cima das moças, que gritavam com ele.

Dominique chegou a pegar a varinha, mas Lys a impediu.

[...]

Dentro da casa, a senhora Weasley, Angelina, Alice, Fleur, o senhor Weasley, Harry e Hermione terminavam os preparativos gastronômicos da ceia. Eles organizavam copos, pratos, talheres, bebidas e tudo o mais necessário para noite.

Fred, Henry, Dominique, Lucy, Tiago, Gina e Carlinhos, o último filho da senhora Weasley que conheci (um homem que com certeza nunca ia se casar porque era casado com sua própria liberdade), preparavam fogos de artifícios, tanto os grandes como alguns menores, que Jorge trouxera de sua loja chamada Gemialidades Weasley.

Eles também enfeitaram um gigantesco pinheiro colocado bem no meio do jardim, decorado com tantos enfeites diferentes, multicoloridos, luzes, fadas mordentes vivas, zonzas e pintadas de dourado que era difícil definir se estava bonito ou era apenas caótica como a própria estrutura d’A Toca.

A senhora Weasley estava triste então fui até perto dela. Ela estava temendo que um dos seus filhos, um chamado Percy, teimoso que só ele, não chegasse com a esposa Audrey. Fiquei triste por ela também.

[...]

Percy e Audrey apareceram rapidamente, ficaram por meia hora e foram embora. Fiquei animada por isso (embora não devesse) porque percebi que Lucy e Alice deixariam a festa caso os dois ficassem por mais tempo.

Quando anoiteceu, por volta das dez horas, o barulho e a algazarra n’A Toca me fizeram ficar confusa e ansiosa. Era tanta empolgação e vibrações destoantes juntas que eu não conseguia fixar minha própria estabilidade.

Os dois Malfoys apareceram e foram recebidos educadamente. Escórpio parecia claramente grato por não ter sido deixado na mansão com seus avós e seu pai (ele seria o único jovem por lá) que abraçou Alvo de uma forma muito terna.

Infelizmente, o luto era muito recente e Alvo compartilhava sua tristeza, então ambos me deixaram pior do que eu já estava. Tive que me afastar.

Sem querer, parei perto de Ted e Victorie que comiam sobremesa e tomavam hidromel encostados no muro de pedra circundante do quintal. O silencio era incomodo.

— O que vamos fazer? – perguntou Ted. – Nos divorciar?

Eu odiava casais se separando. Porque isso significava uma família a menos para criar alguém com amor. Quis ir embora dali, mas não consegui desgrudar enquanto não ouvi a resposta de Victorie.

— Já disse que podemos tentar Ted. Quem está cheio de rancor é você. Não posso voltar para casa e ser atacada todos os dias com acusações. Pra que viver assim? Para sermos infelizes?

Ted pousou o prato na mureta, a torta pela metade. Os talheres caíram no chão, mas ele não se importou.

— Você ficou com alguém? – ele perguntou diretamente.

Uma risada triste saiu da boca de Victorie.

— É a sua preocupação? Não fiquei com ninguém. Estava apenas... Descansando.

Um peso do tamanho de uma casa pareceu ter sido tirado dos ombros de Ted. Ele deu dois passos até Victorie e colocou os ombros nos dela.

— Então me conte... Como foi sua viagem?

O olhar triste de Victorie adquiriu um brilho esperançoso.

Eram eles! Estavam fazendo as pazes! Era o casal mais provável, já estavam casados, já...

Calma! Decidi não me empolgar cedo demais.

Deixei ambos em sua sincronização e passei por outras pessoas. Já estava bastante ansiosa e cheia de expectativas. Sentia-me chacoalhada. Primeiro o luto de Escórpio, depois Ted e Vic. Precisava de um tempo. Decidi procurar Roxanne que seria uma boa opção para me equilibrar.

Roxanne tinha desaparecido... Henry também! Seriam eles? Já estavam... Fiquei nervosa. Tontinha.

Estava vibrando tão alto que Lily Luna sentiu minha presença.

— Oi. – chamou a garota no quintal. – De onde você veio? É um fantasma?

Oras! Eu, uma fantasma!

Claro que não!

Disparei de perto dela antes que ela fosse mais inconveniente. Dei de cara com Jorge, sozinho, na colina. Sua esposa gritava por ele junto com a senhora Weasley.

Jorge estava chorando pela morte do irmão gêmeo novamente.

— Me deixem sozinho, por favor. – pediu ele e senti que ele já tinha pedido isso uma porção de vezes ao longo dos anos.

Fiquei zonza. Era tudo muito forte, tudo de uma vez. Eu não conseguia descobrir. Tinha até meia-noite! O que aconteceria se eu não descobrisse? Perderia a oportunidade?

Talvez eu nunca descobrisse porque, na palavra humana, acho que a melhor descrição do que aconteceu comigo foi que “desmaiei”.

[...]

Um ano depois

— Ela é tão... – tentou Dominique sem conseguir formular um elogio para a bebê. Dominique estava se provando bem pouco maternal.

— Ela é uma graça. – completou Roxanne com a visita da amiga.

Pandora Scamander (em homenagem a avó de Lorcan, mãe de Luna) fitava-os com seus olhos imensamente verdes. Dominique não cometeu pecado nenhum ao não saber elogiar a criança. Pandora tinha a mesma cara gordinha da maioria dos recém-nascidos, com pequenas dobras no pescoço. Estava vestida de verde. Molly não era muito boa com bebês também (estava aprendendo).

Lys, no entanto, estava absolutamente encantado com a sobrinha, e pegou-a do carrinho mágico, que não tinha rodas e levitava, para seu colo, um sorriso bobo estampado no rosto.

Dominique observou a cena horrorizada. Todo seu corpo ficou alerta. Ela e Lys tinham aberto há pouco tempo a Morada De Animais Fantásticos e estavam entalados até o pescoço de trabalho. Mesmo assim, eles estavam seguindo o curso de casais normais. Já moravam juntos e trabalhavam juntos. Só faltava Lys querer um bebê.

 Dominique foi pegar algo bem forte para tomar na cozinha. Aquela Máquina de Bebidas idiota não jorrava nada com álcool! Encheu uma caneca enorme com cerveja amanteigada e ficou observando o desastre que era seu namorado querer se tornar pai.

Henry e Roxanne também estavam entusiasmados. Mas, ao contrário de Lys e Dominique, eles falavam abertamente um com o outro sobre formar uma família. Rox ia terminar sua residência em medibruxaria e Henry trabalhava com alguma coisa relacionada a personal training. Também entendia de ioga, Pilates e massagem. A única pessoa que entendia o significado dessas coisas eram Roxanne, que aprendeu com ele e Alice, que entendia de tudo trouxa.

Henry pegou Pandora no colo e ele e Roxanne ficaram ninando-a. Lucy e Alice não pareciam muito interessadas na maternidade também, talvez porque fossem muito jovens.

Alice finalmente tinha sido contratada por um estúdio famoso para ser assistente de direção dum filme de época. Todo mundo a parabenizou e não entendeu bulhufas.

Lucy descobriu seu talento para transfiguração de interiores. Ela ainda trabalhava como artista, mas ganhava muito mais dinheiro transfigurando imóveis velhos e seus respectivos cômodos. Alice chamou de design de interiores. Ninguém entendeu de novo, mas Lucy ajudou bastante na construção da Morada De Animais Fantásticos e abriu uma pequena empresa. Finalmente conseguiram se mudar para um quarto e cozinha pequenos no Beco Diagonal, para ficarem perto da família Longbottom.

Molly saiu do banho com cara de descansada. Finalmente, ela confidenciou para Lucy e Rox, estava conseguindo descansar! Estava de licença maternidade, tinha um bebê em mãos, mas conseguia descansar.

Roxanne gargalhou quando Molly lhe contou e Henry gargalhou também quando Rox lhe contou.

Lorcan não conseguiu mais fugir do Ministério da Magia já que agora era pai. Foi julgado, passou três meses em Azkaban (que não utilizava mais dementadores) e foi solto. Rosa o indicou para o posto de guardião lobisomem na Cúpula e ele estava se saindo particularmente bem. Finalmente passou umas boas semanas na casa dos pais com uma Molly grávida. Luna e Rolf Scamander ficaram muito felizes.

Percy e Audrey conheceram a pequena Pandora, mas Molly ia fazer de tudo para que os dois não se impusessem na vida da filha daquele jeito opressor.

Molly quis se mudar com a Pandora e o (ainda) namorado Lorcan, mas Roxanne foi totalmente contra. Lorcan, Molly e Pandora moravam com Roxanne, porque ela era apaixonada pela afilhada. Henry foi o padrinho.

Ted e Victorie voltaram a morar no Chalé das Conchas. Victorie estava pulando de profissão em profissão para se estabilizar de novo. Ted a estava apoiando e começou a viajar com ela pelo menos uma vez por mês.

A senhora Weasley estava imensamente feliz pela chegada da primeira bisneta.


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Notas finais do capítulo

POSTADA!

Não tenho mais plots pendentes sobre essa minha visão geral da terceira geração. Se vier, escreverei, mas todos os que eu tinha escrevi :)

O que acharam da Pandora? E da narração da fic? E do pessoal tudo feliz e suas respectivas vidas?



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