As Vantagens de Ser Um Garoto escrita por Gynger


Capítulo 7
Inferno


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpem a demora! Além de ter ficado sem pc, tive vários problemas familiares que me impossibilitaram de continuar a história. Mas aqui estou, com um capítulo fresquinho e beeeeem quente pra vocês.



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— Wells? – minha voz saiu quase em um sussurro.

Mas Wells não pareceu ouvir, seu olhar estava fixado nos meus seios.

— Mais que porra... – balbuciou erguendo os olhos esbugalhados para os meus.

Ele soltou minha camisa como se ela estivesse infectada por algum vírus mortal e essa reação fez eu me recuperar do choque mais rápido. Com o punho fechado desferi um soco bem no queixo de Wells, que caiu para o lado com o impacto.

Debatendo-me, mordi seu braço para conseguir me livrar dele e sair correndo. Virei uma ruela e depois mais outra, mesmo assim ainda podia ouvi-lo atrás de mim.

Meu corpo doía intensamente enquanto eu corria, o frio parecia castigar cada centímetro do meu corpo, mesmo eu segurando a camisa tão firme contra mim.

— Ou, ou. Aonde pensa que está indo? – alguém prostrou-se diante de mim, barrando meu caminho.

Um grito saiu da minha garganta devido ao susto. Era outro rapaz. Com botinas pretas e roupas de metaleiro. As lágrimas não paravam de escorrer enquanto eu ofegava completamente sem fôlego. Eu estava tão perto. Eu quase consegui escapar, quase.

Enquanto uma mistura de frustração, desespero, medo e ódio tomava conta de mim, rapazes começaram a pingar pelos muros, alinhando-se atrás do metaleiro ridículo.

O barulho irritante do tênis de Wells contra o chão ao parar abruptamente poucos centímetros atrás de mim me fez dar um pulo e virar para o lado, onde eu podia ver os dois. E mesmo assim não havia nada de bom naquilo, nada mudou.

Legal, agora iria ser estupro coletivo. Mais de onde diabos surgiu tanto garoto?

— Crayon? – reconheci a voz de Troy quando este saiu das sombras. – O que está fazendo aqui?

E então reconheci mais um: Twist.

Em pânico, esperei Wells contar a novidade. Esperei ele dizer quem eu era e fazer comigo o que Rowley fez com Celina.

— Espera, vocês o conhecem? – indagou o metaleiro. Os piercings e os olhos pintados de preto lembrava meu irmão. Mas meu irmão jamais faria uma coisa dessas.

— Sim, ele é da nossa escola, Steph. – respondeu Twist, dando uma olhada para Wells que continuava apoiado em seus joelhos recuperando o fôlego. – Que porra você estava fazendo naquela sorveteria, Crayon?

— Como sabe que eu estava na sorveteria? – perguntei, segurando minha camisa ainda mais firme. Estavam me vigiando? Estavam me vigiando desde lá?

— Tínhamos planos praquele estabelecimento. – o tal Steph aproximou-se de mim.

Antes que ele chegasse muito perto, algo me puxou para trás, e foi nesse momento que reconheci o punho de uma arma na cintura dele.

— Ele é da nossa escola. – aquela visão me apavorou o suficiente para não ficar nem surpresa com a atitude de Wells posicionando-se entre mim e Steph, respirando pesado. – Não vai dizer nada, não é, Crayon?

Larry, segura isso. Segura firme. Vai ficar tudo bem. Desde que você aperte o gatilho.

Eu não sabia dizer quantos olhos me observavam. Eu sabia apenas de um par insistia em me encarar, um par que nem naquele mundo existia mais.

— Mas que droga ele estava fazendo na sorveteria, hein? E ainda pulando pela janelinha? – Twist aproximou-se também, ficando ao lado de Steph.

— Crayon, caralho! – Wells me sacudiu, nossa respiração pesada parecia entrar em sintonia.

Larry, volta aqui! Eu não vou te machucar, droga!

— Fugindo. – respondi, entre uma respiração e outra.

Wells virou-se para mim, nervoso.

— De quem? – perguntou, engolindo em seco.

Eu via aqueles olhos castanhos de perto quase todos os dias, sempre cheios de cólera e sede de sangue. Aqueles fios pretos e aquele rosto pálido e simétrico como uma criatura sem vida mandada direto do inferno. Mas era a primeira vez que eu via aquelas pupilas dilatadas e marejadas, primeira vez que eu via aquele cabelo para cima por conta do vento na hora da corrida, primeira vez que eu via aquele rosto tomado por puro pavor.

— Da escola, do meu tio – respondi, meus olhos sem conseguir se desviar dos de Wells. – e principalmente da polícia.

Ao ouvir a palavra “polícia” todos eles, inclusive Wells(que me soltou na hora), se afastaram de mim.

— Mais que porra... – xingou Troy. Como eles começaram a se olhar discutir entre si, eu peguei a deixa pra sair correndo.

Enquanto virava a esquina de uma ruela ouvi Wells dizer “Deixa, a gente lida com ele na escola...”.

Não foi difícil reencontrar a sorveteria. Contornei o estabelecimento e corri até o carro.

— Larry? – meu tio me analisou assim que entrei. – O que aconteceu?

— Achei que seria legal correr até aqui. – respondi, recuperando o fôlego. – Desculpe a demora, podemos ir? – tentei não parecer desesperada.

Cheguei no dormitório com o coração na mão e os rins eu já não sabia mais aonde havia ido parar. Agora não só Rowley sabia como Wells também. A dupla infernal. O quanto minha sorte poderia piorar?

A porta do meu quarto estava semiaberta e quando entrei encontrei o pivô da minha atual aflição dormindo profundamente. Como diabos ele conseguia dormir?

Peguei meu pijama e meu kit primeiros socorros antes de entrar no banheiro.

Foi absurdamente doloroso trocar os curativos que a Dra. Cara fez em mim. Eu não conseguia parar de tremer, era medo e adrenalina. Sem falar naquela pancada que Wells me dera ao me derrubar, eu tinha a impressão que algum órgão interno havia se rompido e eu estava tendo hemorragia interna de tanto que aquilo doía. Vai ver era aquilo mesmo. Vai ver era assim que eu iria encontrar meu fim.

Após tomar meus antibióticos e mais uma pílula para dormir - eu sabia que não iria me acalmar assim tão fácil- e sair do banheiro me deparei com Rowley me encarando intensamente. Seu rosto estava branco como se visse um fantasma. Por um segundo achei que ele ia vomitar de novo, mas ele segurou bem.

— Então... – comecei desajeitada e trêmula, no entanto fui interrompida por um barulho vindo da garganta de Rowley enquanto ele tropeçava para a lixeira.

Cruzei os braços, assistindo à cena do grande Rowley desabando sobre uma lixeirinha de quarto e vomitando suas tripas. Será que mais tarde ele me faria pagar por aquilo?

Retirando a carta de Kelly de dentro do casaco, a enfiei em um livro qualquer antes de me virar para Rowley.

— Quer que eu chame o senhor Gray? – ofereci. Mas de alguma forma minha voz parecia incitar ainda mais o estômago dele.

Guardei meu uniforme no guarda-roupa e escalei a beliche. Deitada ali, passei a noite inteira pensando nos meninos da sorveteria enquanto ouvia o colega da cama abaixo passar mal.

Aqueles garotos queriam assaltar a sorveteria. E como me viram pular a janelinha mandaram Wells me seguir para descobrir quem eu era. Iriam machucar o velhinho. Iriam me machucar. Entretanto, a única imagem que ficava realmente fixa em minha mente era o cabo da arma do metaleiro.

Quando finalmente consegui dormir, sonhei com Kelly. Sonhei que meu irmão entrava em seu porão juunto com Kyle, e ambos abriam a porta. Mas só eu sabia onde estava a chave da porta. Como foi que descobriram?

Acordar de um sonho ruim já havia se tornado rotina. Abracei meus joelhos. O sol ainda não havia chegado e a imagem de Kyle abrindo a porta não saía da minha cabeça. Fiz uma prece silenciosa: quando o sol viesse, a lembrança do meu pesadelo iria embora.

Depois de alguns minutos me balançando na cama, ainda bem grogue pelos remédios, notei que a beliche inteira se movia. Parei de me mexer imediatamente, não queria acordar Rowley. A não ser que ele já estivesse acordado...

Cautelosamente me apoiei na borda da minha cama para espiar a de baixo. O que, para meu espanto, estava vazia.

Olhei em volta, tudo perfeitamente no lugar. Nem um fio fora e nem sinal do meu colega de quarto. O mais interessante era que aquilo me preocupava. Preocupada com Rowley? Não. Preocupada com o que ele podia fazer fora da minha vista. O que ele poderia tramar.

Desci da beliche como um gato suspeito e caminhei sorrateiramente até o banheiro. Empurrei a porta de vagar e espiei cuidadosamente o lado de dentro. Escuro e vazio.

Engoli em seco. Aquilo não era nem de longe um bom sinal. Nervosa, fui até o guarda-roupa e tomei mais antibioticos, antialergicos e uma pílula para dormir. Eu sabia que misturar tanto remédio não era  legal. Mas o que mais eu poderia esperar de uma sexta feira como essa? Se eu acordasse tarde no dia seguinte ou se simplesmente não acordasse, não faria diferença nenhuma.

Antes de voltar para a cama, notei que a parte do guarda-roupa de Rowley estava aberta. Um pouco trêmula, me aproximei dela. Havia alguma coisa ali, estranha e fora do lugar. Eu podia sentir... Era quase como se houvesse algo vivo.

Antes que a minha mão chegasse a tocar a madeira eu recuei e apressei-me para subir a beliche. O que quer que Rowley escondia, eu não fazia a menor questão de descobrir.

Talvez fosse pela mistura de remédios ou por tomá-los duas vezes em um espaço curto de tempo, só sei que apaguei mais rápido do que esperava.

Eu podia apostar que não levei mais de dois segundos adormecida assim que um barulho de sirene começou a ecoar por todo o quarto. Só fui me dar conta que era o alarme de incêndio quando meu cérebro começou a registrar a fumaça e aquele calor infernal.

Não tive sucesso ao tentar me levantar. Minha visão estava turva e meu corpo pesado por conta dos remédios. O quarto completamente preto por conta da fumaça. O pânico me paralisava. Chorando, tentei novamente me mover. Depois de muito esforço, consegui rolar pela beliche e fui direto de costas ao chão, livrando-me de todo o ar em meus pulmões e me fazendo gritar de dor. Entretanto, a dor e a adrenalina apenas me deram forças para me arrastar até a porta.

— Socorro! — gritei, minha voz não saindo mais do que um engasgo em meio á tosse. Minha garganta e meus pulmões queimavam como se eu estivesse engolindo e respirando fogo.

A porta estava trancada. O que mais eu esperava? Era óbvio que estava trancada. A minha sorte sempre arranjava um jeito de se superar. E pensar que, dessa vez, eu poderia dizer que a minha vida era literalmente um inferno.

A frustração era tamanha que nem cabia no peito. Na verdade, nada cabia no peito já que eu estava sufocando. Mas antes de perder a consciência, enquanto assistia o teto coberto pela fumaça girar completamente embaçado pelo calor e disforme, tive um breve segundo de lucidez.

Então era isso que Rowley estava fazendo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do capítulo? Quem vocês acham que colocou fogo na escola? E quem acham que vai salvar nossa azarada Larry?
Comentem !



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