Lucy & Molly escrita por Yennefer de V


Capítulo 1
As Long As You Love Me


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!

Essa fanfic é mais centrada na Lucy, mas também no relacionamento dela com a Molly.

Esses plots deveriam estar numa short, mas infelizmente eu não vou dar continuidade, então estou transformando em pequenas ones :)

Nem a Alice nem o Frank "existem" na terceira geração de J.K.

Essa fanfic foi feita pra Snake que me pediu mais sobre a Lucy da minha one anterior chamada "Se machuque com mais frequência" (lá tem Molly/Lorcan!) :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698811/chapter/1

Lucy só teve uma sorte em seu nascimento. Um único fragmento de boa vontade dos céus. Ela nasceu teimosa com ótima autoestima.

Assim, quando percebeu que os valores que os pais mantinham eram extremamente adversos ao que queria para sua vida, fugiu de casa. Fez as malas nas férias que antecipavam o período letivo do quinto ano e foi dar umas esmurradas na porta do apartamento da irmã mais velha Molly e da prima Roxanne.

— MOLLY! – desatou a gritar. Não sabia nem se a irmã estava em casa. Ela fazia residência no Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos e seus horários eram os mais malucos possíveis. Já estava se preparando para passar umas boas horas sentada na porta quando Molly a abriu. Sua expressão era a de quem tinha passado dois dias seguidos sem dormir e ia desmaiar de exaustão (em geral essa era a aparência de Molly em seus cinco anos de residência e na época de Hogwarts também).

Lucy sabia que a dedicação e bom empenho nos estudos livraram Molly da perseguição quase abusiva de seus pais. Eles ainda a enchiam de conselhos, ainda a comparavam com todos os primos Weasley possíveis, ainda a incentivavam a melhorar, mas Lucy era o alvo preferido de Percy e Audrey.

(Lucy realmente não entendia o que Molly tinha a melhorar. Ela tinha sido monitora e monitora-chefe. Fez parte do Clube do Slugue. Fez todas as matérias até o sétimo ano com o que Lucy descobriu ser um vira-tempo mais tarde. Conseguiu bolsa de estudos no St. Mungus e morava sozinha desde os dezoito anos de idade. O que Molly tinha a melhorar?).

Lucy arrastou o malão para dentro do apartamento da irmã, ajeitando a alça de uma mochila nos ombros. Molly parecia prestes a desabar no choro. Elas se viam pouco. Molly deu o fora de casa logo que terminou Hogwarts e só via os pais em reuniões de família por educação. Molly dizia que estava sempre ocupada, mas Lucy sabia que ela no máximo respeitava Percy e Audrey.

Lucy os odiava.

As irmãs não se cumprimentaram. Elas se amavam, Lucy sabia disso, mas não eram dadas a afetações (até porque não tinham sido ensinadas). Lucy largou o malão na cozinha de Molly e sentou-se em uma banqueta alta que dava num balcão (eram três banquetas) (era o lugar que Molly e Rox comiam quando estavam em casa).

— Não posso mais ficar na mesma casa que Audrey e Percy. – Lucy anunciou. Tinha saído de madrugada, às pressas, sem usar a Rede de Flu porque Percy e Audrey a prenderam em casa. Sem possibilidade de aparatar, Lucy usou o conhecimento que Alice tinha lhe dado e utilizou o transporte de trouxas.

Molly se antecipou ao pousar os olhos em toda bagagem de Lucy que indicava claramente uma mudança.

Não não não não.— Molly resmungou. – Você não pode ficar aqui.

Lucy deu um bocejo alto como quem não tivesse se importado com os resmungos da irmã. Molly ficou quieta por um tempo. Sentou no malão de Lucy, largado de qualquer jeito no caminho. Avaliou com horror o braço de Lucy que ganhou uma tatuagem desde que as duas tinham se visto pela última vez. Seu braço era fechado até o cotovelo com uma fênix, uma quimera e um Testrálio se envolvendo. Para Lucy, aquilo significava não temer a morte, não temer o perigo e sempre se renovar.

Molly não perguntou o que significava. Por sua postura parecia prestes a deitar no chão e dormir ali mesmo (e talvez quando acordasse Lucy estaria fora do apartamento milagrosamente?).

Lucy avaliou a irmã. Molly tinha cabelos lisos e avermelhados, sem brilho e sem corte. Era cheia de sardas por todo o rosto. Seus olhos cheios de olheiras constantes eram castanho escuros. Ela era alta e magrela (talvez pela falta de alimentação apropriada). Mais de uma vez Molly foi obrigada a tomar poções para lhe apaziguar doenças idiotas de trouxas como anemia. Ou porque seus cabelos estavam caindo de estresse. Ou Poção para Acalmar porque tinha entrado em parafuso e estava com crise de ansiedade.

Molly era muito conhecida na Ala Hospitalar de Hogwarts.

— Qual é Molly. – Lucy finalmente retrucou semicerrando os olhos. – Você nem quer saber o que aconteceu?

Molly não parecia com vontade nenhuma de saber o que tinha acontecido. Ela parecia com vontade de se enroscar num sofá perto de uma lareira e entrar num coma de pelo menos um mês para descansar tudo que não descansara na vida inteira.

— O que aconteceu? – Molly gemeu.

— Audrey e Percy não querem que eu namore a Alice. – retrucou Lucy simplesmente. – Dizem que é “uma fase”.

Lucy decidiu chamar seus pais pelos respectivos nomes uma vez que não os respeitava mais. Molly também não perguntou. Parecia tentada a resolver aquela questão duma vez pra encontrar sua cama.

— Lucy peloamordeMerlin.— desesperou-se Molly. – Eu abençoo seu namoro com Alice Longbottom. Você pode fazer o que quiser. Não me importo. Você só não pode ficar aqui. — esganiçou Molly.

— Pensei que fossemos irmãs. Parceiras. Você deu o fora de lá rapidinho quando fez dezessete. Sabe como é. – concluiu Lucy amarga.

Ela nunca culpou Molly por ter saído de casa. Se ela tivesse uma irmã mais nova e a chance de sair de casa aos dezessete anos, com certeza iria embora.

Mas só tinha quinze e não tinha outra irmã graças a Merlin. Percy e Audrey já tinham feito estrago demais.

— Por favor, Lucy. Aguente mais dois meses até voltar para Hogwarts. Ou viaje pelo mundo na cabeça de um trasgo.

— O quê? – Lucy arqueou as sobrancelhas. Perguntou-se se sua irmã tinha virado dependente química de alguma droga que conseguia ilegalmente no hospital. Molly tinha uma pequena tendência a rebeldia. Lucy sabia do romance secreto que ela mantinha com o fugitivo Lorcan Scamander.

Molly estava ficando tonta de sono.

— São apenas dois meses. – Lucy falou de modo conclusivo.

Os olhos de Molly estavam se fechando e seu corpo pendendo para frente. Lucy achou que ela só concordou para poder ir dormir.

— Está bem. Só não temos nenhum quarto. Nunca tem comida. E não sou babá de ninguém.

Lucy desceu da banqueta e a abraçou.

— Obrigada obrigada obrigada. Eu me viro no sofá.

Molly grunhiu algumas palavras inteligíveis. Lucy foi para a sala de Molly e Roxanne que não tinha divisória com a cozinha, arrastando seu malão. Era um cômodo ridículo com uma lareira (para ligá-las diretamente ao hospital pela Rede de Flu), um sofá de dois lugares e uma poltrona. Também tinha uma escrivaninha e uma estante inutilizadas.

Lucy começou a fazer sua costumeira barulheira e desorganização.

[...]

Alice Longbottom era uma aluna medíocre. E não era culpa de uma péssima visão e pais relapsos ou doenças da cabeça como dislexia ou hiperatividade. Ela simplesmente não era boa com magia.

Isso afundou a jovem em insegurança e autodepreciação por anos. Ter um irmão mais velho que estava na Girifinória (a Casa dos “corajosos e destemidos”) enquanto ela estava na Lufa-Lufa (a Casa do “restante”) também não tinha ajudado em nada.

Ser filha do professor de Herbologia piorava tudo. Enquanto todos os alunos não tinham a vigilância dos pais durante a estadia em Hogwarts, Alice sempre se deparava com um Neville Longbottom preocupado.

Alice também não tinha amigos. Ela se achava inferior demais para ser amada por qualquer um. A fama de seu pai a perseguia.

Ela era mediana em matérias que não exigiam tanto da varinha como Adivinhação e Estudos dos Trouxas. As outras matérias em que não eram necessárias magia (História da Magia, Runas Antigas, Aritmância, Poções, Herbologia e Trato das Criaturas Mágicas) exigiam muita concentração e boa memória. Qualidades que Alice também não tinha.

Alice Longbottom era uma pessoa desprezível. Também não era boa no quadribol. Seu irmão Frank era batedor da Grifinória. Alice era a sombra dos Longbottom.

Quem a salvou desses pensamentos ridículos foi Rosa Weasley.

— Você está lendo Orgulho e Preconceito? – Alice foi abordada na beira do lago durante um jogo de quadribol da Grifinória contra Lufa-Lufa. Odiava ver o bom desempenho do irmão.

Alice elevou os olhos do livro trouxa. Depois de perceber como era boa na matéria Estudos dos Trouxas, ela mergulhou em sua cultura. Alice seria uma ótima trouxa. Ninguém em Hogwarts parecia achar isso interessante.

A garota parada à sua frente era com certeza uma Weasley. Tinhas cabelos ruivos e encaracolados cheios, com cachos rebeldes que se armavam para cima. Os olhos eram castanhos. Tinha uma pinta no nariz. Usava as cores da Corvinal no uniforme. Era novembro, então ambas estavam bem agasalhadas. A própria Alice estava sentada em cima de um toco de madeira para não congelar o traseiro. Ela também usava luvas. A Weasley à sua frente usava um suéter com um telefone bordado?!

Aparentemente a pessoa que o fizera não tinha sido muito bem sucedida. O telefone estava torto e distorcido. Mas Alice reconheceria telefones e apetrechos trouxas mais rápido do que reconheceria o latim na maioria dos feitiços.

— Então? – tornou a perguntar a menina do telefone bordado. Ela tinha um sorriso sincero no rosto.

Alice não estava acostumada a conversar com pessoas de sua idade.

— V-v-você conhece Jane Austen? – perguntou, se preparando para um deboche.

A Weasley assentiu com a cabeça.

— Eu sou a favor de um melhor relacionamento dos bruxos com trouxas. Por uma política de inclusão dos abortos em nossa sociedade também. Por isso acho bom ter uma ideia geral. Sou Rosa Weasley. – terminou de falar a garota Rosa, esticando sua mão enluvada.

Alice tirou uma mão do livro e a estendeu para Rosa.

— Você também não acha que os trouxas merecem um melhor relacionamento conosco? – perguntou Rosa, sentando ao lado de Alice no toco da arvore, as duas muito próximas.

Pra falar a verdade, Alice nunca tinha pensado em relacionamentos de bruxos com trouxas ou de ninguém com ninguém. Alice nem tinha amigos para entender de qualquer relacionamento que fosse.

Ao longo do tempo, Rosa entendeu isso. Rosa entendeu o motivo de Alice conhecer tanto sobre os trouxas e se sentir melhor no mundo deles do que no mundo bruxo. Rosa era do mesmo ano de Alice, o quarto ano, mas estava na Corvinal.

Alice aos poucos melhorou o modo de ver a si mesma como uma pessoa simplesmente diferente das expectativas da maioria do mundo.

Isso fez toda a diferença em sua vida.

[...]

Lucy só gostava do natal porque via sua irmã Molly. Em geral não encontrava amizade entre os primos Weasley.

Era o natal de seu quarto ano em Hogwarts e ela tinha brigado feio com Percy e Audrey porque queria fazer uma tatuagem no braço.

Lucy se dava bem (não era “melhor amiga”) com Roxanne, já que em geral Rox se dava bem com todo mundo. Ela tinha ganhado bolsa no St. Mungus exatamente como Molly e as duas dividiam um apartamento desde que Roxanne se formou no ano anterior. Isso aliviava um pouco a situação financeira de Molly, que Lucy sabia, era pesada. Molly não gostava de depender dos pais. Porque, caso pedisse dinheiro a eles, teria que dar satisfações.

E isso era o inferno na Terra.

Lucy se desvencilhou dos parentes o quanto antes, todos apinhados n’A Toca, enquanto a tarde de natal se transformava em noite. Havia muito barulho, risadas, discussões acaloradas e conversas.

Tiago Potter, Fred e Ted Lupin estavam rebatendo balaços uns nos outros numa colina mais acima do quintal cheio de gnomos. Ted tinha se casado há pouco tempo com Victorie. Ela os assistia e dava boas gargalhadas, enquanto Louis e Hugo treinavam um pouco mais além, sem balaços, ainda desajeitados no uso de vassouras.

Dominique não ia passar o natal com eles. Ela tinha se formado em Hogwarts e viajava sem parar desde então, encontrando esporadicamente seu namorado Lysander (o irmão gêmeo do fugitivo Lorcan Scamander).

Lily Luna e Roxanne estavam em uma conversa profunda sobre alguma coisa entediante, que envolvia vários ingredientes difíceis de conseguir. Roxanne se perguntou, baixinho, sem saber que Lucy estava ouvindo, se Lorcan não podia trazer na próxima vez que visitasse Molly.

Alvo Severo estava na difícil missão de apresentar o namorado Escórpio aos pais. Harry parecia sinceramente entretido. Gina, no entanto, ainda não parecia convencida da “escolha romântica” de Alvo pela cena.

Bem como Alvo, Rosa também trouxera uma convidada para o natal da família. Mas Lucy sabia que Alice Longbottom não era namorada de Rosa, como era o caso de Alvo e Escórpio.

Alice Longbottom era uma jovem de cabelos castanhos presos num coque mal feito, olhos negros e melancólicos e uma boca em formato de coração.  Ela usava no braço pulseiras multicoloridas e um colar com pingente que Lucy não conseguiu identificar o desenho. Seu blusão de frio tinha uma toca e os dizeres Coldplay. Lucy não fazia ideia do que raios seria um Coldplay, mas não teve tempo de pensar muito no assunto. Rosa a apresentou para Alice sem enrolação quando percebeu que ela estava olhando.

— Oi. – disse a Alice, num tom de quem preferia estar dentro de um buraco a ser apresentada a alguém com uma vibração tão agressiva como Lucy.

— ‘zer. – soltou Lucy sem interesse.

Lucy não soube exatamente o motivo de Rosa ter deixado as duas a sós. Talvez Rosa já soubesse de antemão que elas eram destinadas uma a outra, ou alguém simplesmente a tinha chamado de dentro d’A Toca, ou ela ficou com muita vontade de ir ao banheiro.

Lucy não se lembrava.

Ela se lembrava de estar em um muro baixo feito de pedras cinzentas com Alice ao seu lado, as pernas de ambas se encostando, alguns gnomos ridículos tentando alcançar os tênis delas que se balançavam no ar.

Alice estava extremamente sem graça, como se o mero esforço de conversar com outro sem humano lhe tirasse toda energia. Lucy olhava para ela com curiosidade.

— O que é Coldplay?

— Uma banda britânica de trouxas. – respondeu Alice com a voz baixa.

— Ah. – soltou Lucy. – É por isso que você é amiga da Rosa? Toda a campanha para trouxas e bruxos se darem bem e tal?

Alice olhou para ela e balançou negativamente a cabeça.

— Eu só não sou boa em me encaixar.

Lucy viu os olhos dela baixarem para os gnomos atrevidos. Ela estava fazendo um enorme esforço para não chorar. Lucy não estava entendendo. Alice parecia fragilizada. Lucy não deixava a característica de “não se encaixar” a fazer chorar, a não ser de nervoso, quando esmurrava coisas, mas sempre longe das pessoas.

— Você vai chorar? – perguntou Lucy horrorizada.

Se Alice não fosse chorar, por Lucy ter perguntado, ela chorou. Lágrimas transparentes e discretas desceram por seu rosto. Ela continuava com o rosto abaixado, mas Lucy soube que tinha feito besteira.

— Me desculpe. – pediu, sem saber pelo que estava se desculpando.

Lucy era introspectiva só para não ter que ficar fazendo estardalhaço sobre seus problemas com Audrey e Percy para os outros. Ela gostava de gritar bastante em casa. No geral, com outras pessoas, ela simplesmente calava a boca e se fingia de tonta, porque já tinha problemas o suficiente. E raramente pedia ajuda, a não ser para pessoas que amava. Lucy nunca achou que tinha que se explicar ou se desculpar por nada.

Até ter “feito” Alice chorar.

Ela não tentou consolar a colega com toques. Ficou com cara de paisagem, enquanto Alice terminava sua mágoa sem consolo.

— Eu não sei o que fiz pra te chatear. – resmungou Lucy, se irritando. Ela quase desceu da mureta e deixou Alice para trás.

Alice elevou os olhos inchados e um pouco vermelhos.

— Você não fez nada. – explicou Alice, em tom de voz baixo. – Eu não estou acostumada a ter amigos, a conversar.

A sinceridade da fraqueza dela atingiu Lucy como patas de um hipogrifo enfurecido. Lucy nunca nunca nunca se exporia dessa maneira. Talvez só com Molly.

— Não sei se posso ser sua amiga, não sou boa com isso também. – respondeu Lucy. – Mas podemos conversar.

Alice soltou um riso pelo nariz, chorosa.

[...]

— Então você vive feito trouxa? – perguntou Lucy pela décima vez quando já era quase onze da noite. À meia noite o natal badalaria n’A Toca. Ela tinha contrabandeado Whisky De Fogo dos adultos para o antigo quarto de Gina e passado a chave na porta. Alice, que nunca tinha bebido nada com álcool, estava tontinha e risonha.

— Sim. Eu tenho uma televisão na nossa casa lá no Caldeirão Furado. Também tentei usar um celular, mas lembrei que não tenho para quem ligar. – ela puxou do bolso do blusão uma espécie de telinha encapada. Depois encaixou um fio no objeto e enfiou uma das pontas na orelha de Lucy, desprevenida.

— Ei! – Lucy reclamou.

— É Coldplay. – explicou Alice, e Lucy ouviu o som direto na sua orelha, como se fosse um rádio particular. - Lights will guide you home and ignite your bones and I will try to fix you ... — começou a cantarolar uma bêbada Alice, risonha, sem perceber que estava totalmente fora do ritmo e que tinha uma voz terrível para cantar.

Lucy achou graça. Ficou ouvindo o diabos do Coldplay, tomando Whisky De Fogo moderadamente, se perguntando o que era televisão, celular ou aquele fio enfiado na sua orelha.

[...]

— Alice. – Lucy chamou baixinho, porque Alice tinha pegado no sono em seu ombro. – É meia-noite. É natal.

Alice abriu os olhos, ainda zonza. O celular estava caído em seu colo, bem como os fones.

— Vamos ver os fogos. – Lucy chamou. – Vou te apresentar a Molly, minha irmã. Ela já deve ter chegado.

Alice estava com a visão um pouco embaraçada. Sentia-se esquisita, como se a vida tivesse mais leve. Ficou eufórica com a possibilidade de ver fogos explodindo no céu, em todas as cores possíveis.

— Você vai ficar perto de mim? – perguntou para Lucy.

Lucy ficou sem graça. Não estava tão alterada como Alice. Mas a perspectiva parecia fazê-la feliz.

— Vou. – prometeu Lucy.

Alice pegou sua mão antes de descerem.

[...]

Alice ficou sem graça de esbarrar em Lucy no castelo de Hogwarts. Lembrava-se vagamente das memórias do natal. Soube que Lucy levou uma tremenda bronca por ter bebido (e embebedado Alice) com Whisky De Fogo. Ela e Rosa eram amigas, mas elas não andavam juntas. Rosa tinha seus próprios amigos na Corvinal.

— Ei Alice. – Lucy chamou quando estavam numa fila para Hogsmeade. – Você quer ir comigo?

Lucy usava uma camiseta da banda Os Sereianos. Seu jeans estava rasgado e seus cabelos ruivos eram desidratados e espichados, numa tentativa ruim de pintá-los de roxo.

Alice concordou com a cabeça. A Alice do primeiro, segundo ou terceiro ano teria se perguntado por que Lucy estava interessada em ir com ela. A Alice do quarto ano estava empolgada em ter companhia, mas nervosa ao mesmo tempo.

— Como vão as coisas? – perguntou Lucy.

Alice deu de ombros.

— Estou me aceitando melhor.

Lucy mais uma vez se sentiu acertada por um soco de uma fada mordente no olho pela franqueza dela.

— É muito corajoso da sua parte. – respondeu em tom orgulhoso. – Nunca tive dificuldade para aceitar quem eu sou, mas isso traz conseqüências.

Os grandes olhos enluarados de Alice se abriram em questionamento.

— Que tipo de conseqüências?

— O julgamento das pessoas. Principalmente dos meus pais.

— Meus pais estão felizes que estou feliz. – falou Alice com simplicidade.

— Então você é uma sortuda do caramba.

[...]

— Odiei o gosto de Whisky De Fogo. – confidenciou Alice no Três Vassouras, bebericando cerveja amanteigada. – Me deixou com um jeito engraçado.

— Acho que te ajudou a ser quem você é. Te relaxou de preocupações. – Lucy rebateu.

Alice concordou apenas em pensamento.

[...]

— Eu realmente não consigo dizer “Wingardium Leviosa”. São duas palavras esquisitas demais. Por que não podem ser “comece a levitar”?

— E eu lá sei? – resmungou Lucy em uma das aulas que dava a Alice, que estava tentando melhorar seu desempenho no uso da varinha (Lucy não era muito melhor, mas pelo menos sabia feitiços do primeiro ano).

— Argh. Wingardium Leviosa!— disse Alice de qualquer jeito para o livro que estava à sua frente.

O livro levitou. Foi o primeiro sorriso que Lucy viu estampado no rosto de Alice. Sem planejar, ela se enroscou no pescoço de Lucy como agradecimento, e as duas ficaram abraçadas por muito tempo. Alice respirava alto no ouvido de Lucy. Lucy teve um desejo repentino de beijá-la. Ficou tão sem graça e confusa que murmurou alguma desculpa de que tinha que terminar a aula mais cedo e saiu pela porta da sala vazia que o professor Longbottom disponibilizara para elas.

Alice não soube o que tinha feito de errado.

[...]

Lucy,

Qual o problema com você? Logo VOCÊ vem me perguntar uma besteira dessas? E dai que Alice é uma garota? Parece que não conhece Alvo e Escórpio, que estão muito bem juntos. Não entendo de relacionamentos, não tenho namorado. Mas se eu pudesse, namoraria de bom grado se me apaixonasse por uma garota. Alice é um amor de pessoa pelo pouco que convivi com ela. Você está com medo da reação dos nossos pais? Você sempre se virou muito bem com isso. Tenho que me despedir, meu condão está me bipando para uma emergência no hospital e Roxanne me pediu para lavar o banheiro antes de sair. Onde se arruma tempo para lavar qualquer coisa?

Amor,

Molly

[...]

Alice estava triste. Sentia-se um pouco como nos primeiros anos de Hogwarts. Há umas duas semanas Lucy a vinha ignorando, desmarcou todas as aulas que elas tinham juntas, parou de conversar com ela depois do jantar e de se encontrarem quando tinham tempo vago.

Alice cabulou a aula do quarto tempo e sentou-se na beira do lago que tanto gostava. Não fazia mais frio, então estava no chão, observando a Lula Gigante nadando preguiçosamente lá na frente, enquanto espirrava água e apavorava as pequenas criaturas marinhas à sua volta.

Alice segurava o choro. Alguém lhe tocou o ombro de leve e ela se sobressaltou um pouco, até ver os cabelos arroxeados de Lucy ao olhar para trás. Ficou ansiosa, mas com raiva também.

Lucy ajoelhou à frente dela.

— Eu sinto muito, Alice.

— O que você está fazendo? – perguntou Alice amargurada. – Sou sua amiga depois não sou mais? Por quê?

— É o maldito problema. Não posso ser sua amiga. – soltou Lucy duma vez.

Alice entendeu a frase e baixou o olhar. Sabia o que estava acontecendo. Também sentia quando tocava Lucy sem querer, quando as duas estavam perto demais, quando Lucy dava aquela gargalhada escandalosa dela, quando atirava as cartas picotadas dos pais pela Torre de Astronomia sem ler. Também sabia.

Só achou que era a única que sabia e decidiu ficar quieta. Afinal, já era diferente demais para ser mais um pouco.

— Lucy... – Alice tentou formar uma frase lógica.

Lucy chegou perto dela. Alice viu seus olhos raivosos se tornarem confusos. Seus narizes se tocaram, e os cabelos rebeldes de Lucy roçaram no rosto de Alice, fazendo cócegas.

— Posso te beijar? – perguntou Lucy com a boca tão próxima da dela que fazer a pergunta era uma piada.

Alice a beijou.

[...]

Cinema? Faculdade? — perguntou Roxanne. – Nunca ouvi falar.

Roxanne estava no último ano de residência. Ela tinha chegado de seu turno, tomado banho, feito um bolo e tomava chá sem parecer ter sono permanente como Molly.

Molly já era Chefe do Departamento de Danos Causados por Feitiços.

Lucy (com os cabelos negros) bebericava café, gosto que adquiriu da irmã depois de passar tantos dias de suas férias refugiada ali desde o quinto ano.

Roxanne e Lucy estavam sentadas nas banquetas altas. Lucy tinha acabado de se formar.

— É como uma escola depois da escola. – Lucy tentou explicar. – Para se especializar numa determinada profissão. E cinema é uma forma de arte... São histórias encenadas numa tela gigante, se mexendo, com diálogos... – Lucy tentou explicar.

— Parece complicado demais. – sentenciou a paciente Rox.

Para entender, só vendo um filme, Lucy sabia. Mas não ia arrastar a prima para um cinema só porque a namorada decidiu ter uma profissão de trouxa.

Lucy olhou para a Máquina de Bebidas que era a preciosidade de Rox e Molly (uma máquina com quatro torneiras de ouro que jorravam o chá de Rox, o café de Molly e quando Lucy se mudou, consertou as duas últimas torneiras para saírem cerveja amanteigada e suco). A máquina estava imunda.

— Molly não limpou a cozinha? – perguntou Lucy, já sabendo a resposta.

Rox deu uma negativa com a cabeça.

— Ela realmente acha que não sabemos que ela não está trabalhando? Que está presa no quarto com o namorado lobisomem?

Rox deu uma risadinha cúmplice e respondeu:

— Acha.

Lucy revirou os olhos.

— Você está ansiosa para sua exposição? – Rox perguntou, fazendo um movimento esquisito com o corpo, provavelmente “relaxante”.

Lucy era uma artista. Ela transfigurava mármore em estátuas magníficas, fazia feitiços que mandava os pinceis pintarem uma parede inteira com cenas criativas ou mesmo quadros. Era sua primeira exposição. A profissão, infelizmente, ainda não lhe dava independência financeira, mas sua irmã já ganhava dinheiro o suficiente para deixa-la morar na sala sem reclamar demais da bagunça.

— Estou. – confidenciou Lucy.

Molly destrancou o quarto, os cabelos ruivos despenteados, as roupas amassadas da madrugada anterior, o olhar tão alerta que não podia ter dormido de jeito nenhum. Fingiu um bocejo.

As duas ouviram Lorcan Scamander desaparatar de dentro do quarto.

— Bom dia. – Molly fingiu outro bocejo. – Cheguei um pouco antes de vocês acordarem, plantão de quase um dia todo...

Rox e Lucy se entreolharam, querendo rir.

— Claro que sim, mana. Plantão cansativo o seu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Hey õ/

Agora só me falta (a pedido da Mel) escrever mais sobre a Rox. A Roxanne é muito cool!

Ela merece uma one também.

O que acharam? ♥ Bjos.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lucy & Molly" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.