Após deixarem o Santuário da Princesa de Gelo, Witc e os outros se depararam com uma densa floresta de árvores colossais e repleta de pequenas criaturas cintilantes que se assemelhavam a borboletas e libélulas, que vagavam por aquela rápida transição de uma região polar, região das tundras, para uma zona de maior temperatura, um tipo de floresta temperada. Não só isso, o grande portão por onde passaram havia sumido, como se nunca tivesse existido, deixando-os intrigados.

— Estranho, todo o santuário desapareceu quando saímos. E, se não me engano, nós ainda estávamos do outro lado daquelas montanhas – Witc apontou para trás.

— Talvez exista algum encantamento forte o suficiente para tornar aquele lugar inacessível, pois aconteceu o mesmo com o portão de entrada. – Zenkatsu o complementou.

— Acho melhor seguirmos e ver onde essa floresta vai dar, vamos...

— Não irei com vocês, sigo sozinha a partir daqui, senhor Ryser. - Disse Akira ao apertar a fivela da comporta, prender bem o arco e devolver o pingente da clave de Sol a Witc. – Toma, acho que isso é seu, estamos quites. – Então saltou até o galho de uma árvore próxima e sumiu entre as folhagens.

— Droga, fiquei sozinho de novo. – Ayurik resmungou.

Não tardou até encontrarem o vilarejo das fadas, uma raça de pequeno porte, hostil com humanos e criaturas do submundo, embora não possuíssem força suficiente para guerras, se retirando de quase todos os conflitos históricos entre raças até pouco tempo.

No entanto, naquele lugar parecia ter ocorrido algum tipo de batalha. Muitas casas ainda em chamas, outras destruídas, algumas criaturas feridas pelo chão e outras tentando apagar o fogo ou ajudando a tratar os feridos.

— Quem são vocês? Vieram terminar o que começaram? Saibam que ainda tenho muita munição aqui... – Uma senhora de cabelos curtos e brancos, grandes e brilhantes asas vermelhas, com um fio de sangue escorrendo pelo rosto berrou ao vê-los se aproximar e desferiu alguns disparos com uma arma um tanto estranha.

— Calma, não queremos machucar ninguém, podemos ajuda-la? – Shawn a respondeu enquanto colocava as mãos para cima. – Também não deixei de notar seus dois pares de asas, você é uma fada?

— Meu nome é Foxes Darkred, sou uma das três fadas anciãs deste vilarejo e sou a líder da guarda das fadas. Nossa vila foi atacada por um grupo de humanos de Banotown, uma cidade próxima daqui. Nenhum humano jamais conseguiu ultrapassar o escudo de proteção do nosso povo ou nos ver, esta floresta era segura, mas... – Deu uma pausa – Assim como dizia na profecia, quando a estrela dourada tocasse as montanhas de gelo, o caos se espalharia pelos três mundos... também tinha algo falando sobre os imperadores e imperatrizes...

— Você sabe algo sobre isso? – Witc a mostrou o mapa.

— São os cinco santuários perdidos. Muitos acreditam que são os santuários por onde a estrela dourada passará, trazendo de volta aqueles que morreram na grande guerra.

— Fascinante! – Zenkatsu pronunciou com empolgação.

— Não tenho tempo a perder... – A fada caiu ao tentar mover um tronco a sua frente - vocês vão me ajudar ou não? – Indagou Foxes impaciente.

Notando o rio próximo dali, Ayurik retirou seu bracelete da Pedra da Lua, colocou-o entre as mãos e iniciou sua conjuração.

— Eu posso fazer uma coisa, Witc, me ajuda aqui. Pelas águas que banham a terra...

— Entendi! Pelos ventos que cortam os céus...

 Uma aura azul envolveu os dois garotos, expandindo-se até o rio e em seguida espalhando-se pela vila, como uma densa neblina. Aos poucos cada árvore em chamas foi sendo molhada e o fogo, apagado. A lâmina de água que corria pelo solo não tardou a apagar os focos nos arbustos, assim como nas casas. Logo todo o incêndio foi contido, restando apenas as cinzas e finas colunas de fumaça que se erguiam ao céu noturno. Diferente do que se pensava, eles poderiam combinar suas habilidades para diversos fins.

— Arvorosos, vocês também podem ajudar. Vão e curem quem puder! – Lina ordenou, também querendo colaborar de alguma forma.

— Arvorosos? Você é uma druida? – Surpresa, Foxes indagou.

— Não, eles foram presentes de um amigo da família, na verdade, minha real habilidade é esta – Mostrou-lhe as chamas azuis em sua mão com um estralar de dedos.

— A imperatriz das chamas... não! Ela está morta! Então... você é uma herdeira?! Vocês também?! Vocês são aliados da bruxa Nefise? – Questionou espantada.

— Claro que não somos aliados deles. Até agora só sabemos de três herdeiros: Lina, com as chamas azuis; Witc, com a telecinese, e Mylla, com o poder do raio. – Shawn esclareceu. – Nós estávamos atrás da esfera divina ou, como vocês chamam, a estrela dourada. Mas acabamos nos perdendo no santuário de gelo e chegamos aqui.

Mais calma, a fada anciã explicou que várias fadas da vila haviam sido capturadas, inclusive uma das três líderes, a fada Nímia, responsável pela colheita. Havia uma terceira, Délia, a guardiã do rio, entretanto, por estar debilitada, não pôde ajudar na batalha.

Sem pensar duas vezes, aceitaram o pedido de ajuda e decidiram salvar Nímia, contudo, precisavam encontrar um local para tratar dos feridos e descansarem naquela noite.

Levou alguns meses até que boa parte da floresta queimada se recuperasse. Nesse tempo, muito aconteceu.

Ayurik, após conhecer Délia, fez questão de aprender tudo o que podia sobre a pedra da Lua, seus poderes mágicos e como ele poderia se tornar um mago mais forte apenas dominando o elemento água. Seu tempo foi dividido entre aulas teóricas com a fada, que dava-lhe dezenas de livros, e treinos matinais com os castores e as ondinas nas água do rio, onde ele aprendia como sentir a energia da água e controla-la melhor.

Lina rapidamente se familiarizou com Foxes e todo seu estoque armamentista, se tornando sua aprendiz. Embora jovem, sua mente genial permitia um rápido entendimento sobre as mecânicas utilizadas para a produção das armas da guarda das fadas. Com suas chamas azuis, ela dava ainda mais poder às criações de sua mestra, que também fazia questão de que Lina aprendesse mais sobre a magia nos três mundos e como controlar os elementos. Tarefa fácil para a garota. 

Mesmo com uma habilidade destrutiva, Mylla combinou seu carisma com seu jeito amável e conquistou de maneira impressionante os gnomos e todas as fadas da vila. Seu sorriso era como a luz que acendia a esperança no coração de todos que foram feridos, e sua voz era uma canção de ninar para os menores. Mylla, sem dúvidas, era especial. Carinhosamente ajudou no cultivo das hortas e novas árvores, descobrindo mais sobre a terra e aprendeu a controlar a água com seu irmão. Depois de uma fase de tormentas, ela finalmente foi feliz com a pessoa que ela amava.

Diferente de Mylla, Witc focou sua atenção em preparação para as futuras batalhas. Sabia que aquela calmaria terminaria em breve, pois fora encontrado o paradeiro da fada sequestrada. Presa, ela era forçada a trabalhar numa fábrica têxtil em Banotown. Ele treinou duro com seu pai, conseguindo dominar três elementos, descobriu muito mais sobre a mitologia que envolvia os dozes reis – Imperadores e imperatrizes. – com Zenkatsu, procurou tudo que pôde sobre o submundo e, escondido dos outros, ele se encontrava com Akira, que se instalou numa caverna não muito longe dali.

Juntos, eles pensavam em maneiras de chegarem até o castelo de Ádrian e resgatarem Aquiles e Don. Antes precisavam encontrar um portal para o submundo naquela região, pois o único que Akira conhecia ficava em Déviron Garden.

Embora separada dos demais, o pouco tempo de trégua com Mylla, quando estavam presas na caverna, e o tempo que ela passava treinando com Witc a fez perceber, aos poucos, o quanto era bom fazer parte de um grupo onde ela poderia demonstrar quem realmente era, que ela poderia sorrir novamente e todos lutariam juntos para proteger aqueles que amam.

Ao se despedir do jovem feiticeiro nos finais das tardes, Akira acreditava mais na possibilidade de rever seu irmão.