Meu Milagre escrita por Briden


Capítulo 3
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Antes tarde do que nunca, demorei mas cheguei.
Tinha muita coisa e tive que diminuir, está grande, mas está ótimo.

Boa leitura!



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Beatriz não tem uma vida nada fácil, ela sempre faz tudo pelos outros e não recebe nada em troca, mas ela já sabe que as coisas não são como nos contos de fadas. Ela ajuda os outros para se sentir bem e fazer sua parte para poder tentar mudar o mundo, mas sabe que sozinha não irá conseguir.

Apesar das dores, das lágrimas e dos inimigos ela não desiste dos seus objetivos e nem de seus sonhos, isso que faz ela ser diferente.

Ao chegar em casa depois de uma manhã e de um começo de tarde agitado, cheia de estudos e ofensas — tudo o que ela mais quer é descansar um pouco, mas não é bem assim, ela guarda seu material escolar, troca de roupa e começa a limpar a casa — sozinha — ela limpa a casa toda. Como de costume Beatriz fez o jantar, arrumou a mesa e logo após foi para seu quarto.

Tomou um banho rápido, pois com seus pais em casa tinha que ser silenciosa. Ao sai do banho, já seca foi se trocar — vestiu o conjunto preto de calcinha e sutiã, colou um vestido branco com alguns desenhos de laranjas estampado por todo ele, uma sandália laranja nos pés — se olhou no espelho atrás da porta, deu um pequeno sorriso se sentindo bem com o resultou e para finalizar, amarrou o cabelo em um rabo de cavalo.

Beatriz saiu de seu quarto e bateu de frente com seus pais e seus irmãos, todos estão jantando, olhou para eles com um olhar sem graça — caminha até o quintal e coloca a toalha no varal e volta para dentro de casa — volta para o seu quarto, pega as chaves, sai tranca a porta do mesmo e caminha até a porta da frente sem olhar para trás.

Ela sai de casa e caminha até a igreja da cidade — que não é muito longe de sua casa, uma caminhada de mais ou menos 15 minutos — ela faz o sinal da cruz e entra na igreja e vai até o altar, se ajoelha, abaixa a cabeça e fecha as mãos — ela se sente calma e paz naquele ambiente, como se suas dores tivessem sido arrancadas de seu coração e sua alma assim que adentrou aquele ambiente — rezar é o que mais precisa para poder se sentir melhor.

O padre surge de trás do altar — um senhor de 50 anos, cabelos castanhos escuros com alguns fios brancos, olhos pretos, moreno e alto ele usa uma batina preta, com o colarinho branco, percata preta — cabelos penteados para o lado.

Ele olha pra Beatriz com admiração, afeição e com ternura, ela nem percebe a presença dele, pois está muito concentrada na reza.  

— Boa noite minha filha. — Ele coloca a mão no ombro dela.  

— Em nome do pai do filho e do espirito santo. — Após terminar ela faz o sinal da cruz diante de seu peito. — Amém. — Em seguida beija a cruz que fez com os dedos. — Padre, a sua benção. — Pede a benção ao levantar-se.

— Deus lhe abençoe. — Ele sorri. — Como você está?  

— Bem. — Sorri sincera para o mais velho. — Posso ficar aqui um pouco?  

— A casa do Senhor sempre estará aberta para você. — Ele coloca a mão no ombro dela e a conduz até um dos bancos. — Sente-se. 

— Obrigada. — Ela senta. — Desculpe-me não ter vindo a missa.  

— O que está havendo? — Ele senta ao lado dela.  

— O de sempre padre. — Os olhos dela se enchem de lágrimas. — Chega uma hora que eu não aguento mais, minha vida está horrível.  

— O que foi dessa vez? — Ele coloca a mão no rosto dela e o levanta. 

— Meus pais não falam comigo, eu não as aguento. — As lágrimas caem lentamente pela sua face. — Padre eu só quero ir embora dessa vida. 

— Outra vez querendo se suicidar? — Ele olha muito sério para ela.  

— Se não fosse pecado, eu já tinha me matado. — Ela limpa as lágrimas de seu rosto. — Amanhã faço 15 anos e será como sempre.  

— Amanhã será diferente. — Ele dá um sorriso para poder anima-la.  

— Amanhã será como todos os meus outros aniversários. — Ela respira fundo. — Mas amanhã vou fazer o que faço sempre, ajudar no orfanato, na igreja o de sempre.  

— Não quer nada? — Ele segura na mão dela.  

— Não. — Ela dá um sorriso. — E amanhã venho para lhe ajudar.  

— Está bom. — Ele levanta. —Vem comigo.  

— Para onde? — Ela levanta. 

—Vamos jantar. — Ele coloca a mão no ombro dela.  

—Padre eu vou jantar em casa. — Ela vira o rosto. 

—Mentir é pecado. — Ele olha sério para ela.  

— Eu vou caminhar um pouco. — Ela se afasta dele. — Padre, a sua benção. — Segura na mão dele e a beija.  

— Deus lhe abençoe. — Ele sorri. — Vá com cuidado e até amanhã.  

— Até amanhã. — Ela caminha até a porta da igreja, para e olha para trás — Obrigada, padre. — Ela sorri e vai embora. 

Beatriz anda em passos lentos até a praça da cidade — tem alguns bancos de madeira distribuído por toda a praça, algumas árvores e um coreto centralizado no meio da praça. Algo bem simples, porém, muito belo — ela focaliza seu olhar no céu, vendo que o mesmo está limpo dando uma bela visão da lua e das estrelas.

Suas noites eram sempre assim, saia de casa para poder não ter que ver seus pais e irmãos como uma linda família feliz, igual nos comerciais de margarina, mesmo sabendo que sua família a odeia ela não consegue odiá-los. Como isso é possível? Nem ela mesma sabe o motivo.

Depois de 30 minutos sozinha pensando, ela volta para casa — caminhando devagar, pensa em seus pais e no dia de amanhã — ela chega em casa e é recebida pelos seus pais e seus irmãos que estão na sala assistindo televisão – todos a olham com ódio, ela percebe e desvia o olhar.

Ela vai para cozinha e limpa a bagunça do jantar em silêncio — escuta as risadas dos pais e dos irmãos e uma dor enorme surge em seu peito — lágrimas silenciosas de dor, rejeição e magoa descem pela sua face.

Depois de limpar a cozinha, ela vai para seu quarto — entra e se tranca dentro do mesmo – senta na escrivaninha e começa a estudar, mas seu olhar para no porta retrato e sente aquela dor costumeira — a única foto que tem com seus pais, de quando era pequena e que foi tirada em uma festa – a única prova de que um dia teve um pouco de atenção dos pais.

 

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   Beatriz acorda e olha a hora — 06:00 da manhã — levanta, escova os dentes e se arruma. Depois vai para a cozinha e prepara o café e arruma a mesa — após isso ela limpa a cozinha inteira, sem fazer nenhum barulho — depois limpa a sala inteira e vai lavar a roupa — ela escuta barulhos vindo da cozinha e olha através da janela, vê que seus pais tomando café — ela volta a lavar a roupa.

Ela perde a noção do tempo, mas finalmente termina de lavar as roupas, por fim limpa o quintal, tudo em silêncio e com cuidado – ela entra e vai limpar o quarto de seus pais — adentra o mesmo, seu olhar para nas fotos que se encontram em cima da cômoda e abre um grande sorriso, ela se vira e vê seu pai a olhando — um olhar sério e gelado — ele tinha acabado de colocar o terno e os sapatos social preto e estava colocando a gravata vinho, ela abaixa a cabeça e prende a respiração.  

— Bom dia. — Ele dá o nó na gravata e vai até o espelho.  

— Bom dia. — Ela fala baixo. — Eu volto depois.  

— Não precisa voltar. — Ele penteia o cabelo. — Sua mãe já disse que ela arruma o nosso quarto, você já arrumou tudo?  

— Só falta o quarto da Bianca e do Arthur. — Ela olha para ele com admiração. — Só...  é.... eu já... com licença.  

— Toda. — Ele coloca o pente na cômoda. — Beatriz?  

— Sim papai. — Um sorriso esperançoso surge nos lábios da jovem. Só de imaginar que o pai lembrou de seu aniversário, seu coração se aquece.

— Não precisa fazer almoço. — Ele olha para ela. — Pode ir.  

— Sim Sr. — O sorriso em seus lábios morre e seu coração falha uma batida. — Com licença. — De cabeça baixa a jovem reira-se do quarto.

Miguel entra no banheiro para terminar de se arrumar, ele olha pra Robertha através do espelho, ela está terminando de pentear o cabelo — com um vestido laranja, sendo todo forrado de renda — olha para Miguel, com um olhar apaixonado, mas percebe que algo o incomoda, coloca a escova em cima da pia e se vira para ele. 

— O que foi? — Pergunta enquanto arruma o nó da gravata do esposo.

— A Beatriz. — Sorri sem humor por saber que a esposa não gosta quando de falar da filha caçula.

— O que foi que ela fez dessa vez? — Irritada ela dá as costas para ele.

— Nada. — Ele arruma a barra do vestido dela que estava dobrada. — Nada, ela só veio limpar o quarto. 

— Hum. — Ela pega uma presilha. — Se não fosse ela, nada daquilo tinha acontecido. — Ela prende as mechas da frente na parte de trás da cabeça. — você pode pegar meu salto? — Ela olha para ele através do espelho e sorri.  

— Posso querida. — Ele dá um beijo no rosto dela. — Qual deles? 

— O scarpin preto. — Ela vira para ele. — Obrigada. 

—De nada. – Ele sai do banheiro.  

— Te amo. — Ela vira para o espelho. — Como vai no trabalho? — Com cuidado ela passa rímel nos cílios.

— Consegui um aumento. — Ele entra no banheiro. — Nossa vida está melhor do que antes. — Ele coloca os saltos no chão. — E como vai no hospital?  

— Como sempre. – Ela calça os saltos – mas hoje é nosso dia juntos, então nada de falar de trabalho. – Ela sorri.  

— Eu te amo muito. — Ele abraça ela por trás passando os braços em volta da cintura dela. — Hoje será muito especial.  

— Eu sei. — Ela vira para ele colocando as mãos na nuca do mesmo. — Eu também te amo muito. — Ela o beija. 

Depois de 20 minutos ambos descem de mãos dadas e dão de cara com Beatriz, ela olha para eles e abre um lindo sorriso ao seu olhar eles estão lindos. Robertha a olha com ódio e frieza, mas Miguel a olha com compaixão e orgulho. 

— Bom dia mamãe. — Beatriz desvia o olhar.  

— Já volto, querido. — Robertha solta a mão de Miguel e sai da sala.  

— Já tomou café? — Miguel a olha sério.  

— Não Sr. — Ela abaixa a cabeça.  

— Arrume tudo. — Aproxima-se da caçula. — Não quebre nada. — Sua voz soa fria. 

— Sim Sr. — O coração dela aumenta os batimentos cardíacos.  

— Miguel vamos. — Robertha chega na sala e para na porta.  

— Vamos. — Ele caminha até Robertha. — Tchau Beatriz.  

—Tchau, papai. — Ela vira para eles. — Tchau, mamãe. 

O ar infantil e inocente de Beatriz ainda prevalece, mesmo após os pais declararem ódio tão abertamente. A jovem ainda os ama e nunca deixará de ama-los.

Robertha abre a porta e sai de casa, Miguel sai em seguida, mas antes olha para Beatriz e dá um sorriso — o sorriso aquece o coração da jovem — ele sai em seguida. Talvez Miguel não seja tão cruel assim, mas por que trata a filha tão friamente? Por que não ama a jovem como ama os outros dois?

Beatriz vai para seu quarto e tranca a porta, vai até o guarda-roupa e pega uma blusa de cetim vermelha, uma saia preta e um cinto preto e coloca a roupa em cima da cama, caminha até o outro lado do quarto e senta na cama e abre a gaveta do criado-mudo, pega seu diário – dá um suspiro longo e triste. 

— Hoje será como os outros aniversários. — Sorri triste. — Nenhum dos dois lembrou. — Lentamente as lágrimas cai pelo rosto dela. — O que eu faço com essa rejeição? — Ela guarda o diário e fecha a gaveta. — Quero morrer, só assim eles serão felizes. — Ela levanta da cama e caminha até o espelho, que tem atrás da porta. — Feliz aniversário, Beatriz. — Balança a cabeça negativamente e limpa as lágrimas de seu rosto. — Não vou chorar hoje. – Ela sai da frente do espelho e entra no banheiro. 

Beatriz permanece no banheiro por 30 minutos, termina seu banho e sai do banheiro de calcinha e sutiã, ambos lilases, ela vai até a cama e pega a blusa e veste, depois veste a saia e por último coloca o cinto, entra no banheiro novamente e para em frente ao espelho e começa a pentear os cabelos, sai logo em seguida do banheiro e pega o porta joias de cima da cômoda, abre o mesmo, pega o colar de ouro com um pingente de cruz, também de ouro e o fecha, coloca o colar e calça as sapatilhas pretas que está ao lado da cômoda — vai até o espelho e se olha, vendo que está tudo adequadamente certo — ela destranca a porta do quarto e sai, a trancando novamente por fora, ela caminha até a sala e bate de frente com Bianca que está de pijama vermelho e preto, deitada no sofá assistindo televisão e tomando café.  

— Que bom que você está em casa ainda. — Bianca tira os pés do sofá.  

— O que você quer? — Beatriz guarda as chaves no bolso da saia.  

— Hoje é o seu aniversário. — Bianca dá um sorriso falso. — E queria te dizer uma coisa muito importante.  

— O que? — Beatriz abre um grande sorriso. 

— Não vai ganhar a festa que tanto sonhou. — Bianca levanta do sofá. — nossos pais te odeiam, você é pior erro da vida deles. — Ela se aproxima de Beatriz. — 15 anos de um fardo e de um erro, como se sente não tendo amor deles, não recebendo carinhos, como que é ser um fardo? 

— Me deixa em paz. — O sorriso dela some rapidamente. — Você é má. 

— Obrigada pelo elogio. — Ela se afasta de Beatriz. — Quando você nasceu a mamãe nem te pegou no colo, só o papai e por pena ainda. A mamãe te odeia, te despreza, tem nojo de você. — Ela curva os lábios em um sorriso malvado. — Parabéns pelo décimo quinto aniversário. — Ela senta no sofá. 

— Que Deus te perdoe. — Ela caminha até a porta. — Você precisa mudar, antes que seja tarde demais. 

— Some garota. — Ela joga a almofada em Beatriz.  

— Até mais tarde. — Beatriz sai de casa.

Beatriz anda devagar indo para o centro da cidade, olha as pessoas que estão abrindo as lojas — faz a primeira parada dela na floricultura e olha para as rosas com brilho nos olhos — o dono da floricultura sai da mesma, segurando um buquê de flores do campo — um homem baixo, com cabelos castanhos nas laterais da cabeça, sendo careca no meio, olhos preto e gordo, usa calça jeans, camiseta preta um avental branco escrito "floricultura Ramirez" e sapatos preto — ele olha pra Beatriz e sorri.  

— Bom dia, Beatriz. — Ele a olha com admiração.  

— Bom dia, Sr. Ramirez. — Oferece um sorriso gentil para o mais velho. — Como o Sr. está?  

—Bem, graças a Deus. — Aproxima-se da jovem. — Feliz aniversário. — Lhe oferece o buquê e lhe dá um beijo na testa.

—Obrigada. — Ela pega o buquê e o abraça. — Obrigada, Sr. Ramirez.  

— Que você continue sendo uma boa garota e que Deus continue abençoando esse coração puro e bondoso. — O sorriso ainda brinca em seus lábios.  

— Amém. — Ela limpa as lágrimas do rosto. — Obrigada pelas flores.  

— Eu que agradeço por você sempre me ajudar. — Ele lhe dá outro beijo na testa. — Obrigado.  

— Faço com prazer, eu já vou. — Limpa as lágrimas do rosto novamente.  

— Cuidado, tchau. — Ele coloca as mãos dentro do avental.  

— Tchau. — Ela segue seu caminho.

Beatriz continua com se percurso — cheira as flores — o sorriso permanece em seus lábios, mas de repente uma mulher alta, morena, de olhos castanhos, aparentando ter uns 20 anos ou mais — usando um vestido vermelho com um cinto dourado e sapatilhas também dourada e com o cabelo preso em um rabo de cavalo – impedindo ela de continuar a andar, a jovem segura uma sacola. 

— Bom dia, Beatriz. — Ela sorri. 

— Bom dia, Camila. — Ela retribui o sorriso. 

— Feliz aniversário. — Ela estende a mão e entrega a sacola pra Beatriz.  

— Obrigada. — Ela pega a sacola. — Não precisava.  

— De nada. — Deposita um beijo na testa de Beatriz. — Eu já vou, parabéns, tudo de bom para você e que você sempre seja essa garota maravilhosa, bondosa e que Deus continue te abençoando.  

— Amém. — Novamente Beatriz chora. — Obrigada.  

— De nada. — Ela fica ao lado de Beatriz. — Se cuida, tchau.  

— Tchau. — Beatriz sai andando.

Beatriz continua com seu trajeto, ela caminha até a igreja — ao longo do trajeto ela encontra várias pessoas que a cumprimenta pelo aniversário e lhe dão presentes — todos a conhecem, sabem de sua vida e o que acontece em sua casa, afinal sua família deixa bem claro o ódio que sente pela jovem — o caminho normalmente não é longo, mas hoje ele ficou e Beatriz se sentiu muito feliz em receber carinhos das pessoas e em saber que ela tem amigos — finalmente chega a igreja após um caminho cheio de boas surpresas, ao entrar ela avista o padre no altar — com cuidado coloca as sacolas e as flores em cima do último banco e caminha em direção ao padre, ela para atrás dele e nesse momento ele vira.  

— Bom dia Beatriz. — Ele sorri para ela.  

— Padre, a sua benção. — Ela segura na mão dele e a beija. 

— Deus lhe abençoe. — Ele dá um beijo na mão dela.  

— Vim ajudá-lo. — Ela sorri para ele.  

— Antes de começarmos com a arrumação na igreja, quero lhe dizer uma coisa. — Retribui o sorriso.

— Pode dizer. — Ela fica com um olhar curioso. 

— Sente-se. — Aponta para o banco atrás dela. — Quero conversar sério com você. 

— Agora fiquei assustada. — Vira e caminha até o banco. — Eu fiz algo de errado? Se eu fiz, me perdoe.

— Não fez nada. — Ele caminha até ela. — Hoje é uma data muito especial para você. — Senta ao lado dela. — Hoje você comemora 15 anos de vida. — Seu olhar se torna sério. — Há mais ou menos 8 anos atrás vi você perder a infância e não quero que você perca a adolescência.  

— Vá direto ao assunto. — A jovem fica tensa. — Eu estou fazendo 15 anos, mas continuo sendo a mesma Beatriz de sempre, nada mudou.  

— Nada mudou? — Ele levanta. — É isso que eu estou querendo que você compreenda. — Ele fica de costas para ela. — Você é uma menina boa, educada, inteligente e muito caridosa. — Coloca as mãos nas costas — Eu nunca vi uma alma tão caridosa e pura como a sua e isso é bom, mas também é ruim.  

— Bom e ruim? — Ela fica com uma expressão confusa. 

— Bom porque você ajuda sem pedir nada em troca e acredita que o mundo pode mudar. — Ele vira para ela e a encara com um olhar sério. — Ruim porque você é tão caridosa e generosa que não vê a maldade do mundo e as maldades das pessoas. — Tira as mãos das costas. — Beatriz aprenda a olhar para os outros com outro olhar, aprenda vê que todos são maus, egoístas e cruéis.  

— Padre, todos merecem uma segunda chance. — Ela desvia o olhar.  

— Nem você mesma acredita nisso. — Ele caminha até a porta da igreja devagar. — Beatriz o mundo é cruel, e até mesmo as pessoas boas como você se tornam más. — Para uns 10 passos da porta da igreja. — O medo, as humilhações, os xingamentos, as agressões e a falta de amor e carinho pode transformar a alma mais pura em uma alma maligna. — Vira para ela.  

— Só que eu tenho fé e acredito em Deus. — Ela vira o pescoço e olha para ele. — Tenho fé e muita, todos os dias penso em desistir e abandonar tudo, mas quando me ajoelho e rezo, sei que não estou sozinha, sei que essa luta conto com Deus e nada vai mudar minha alma e meu caráter.  

— Só quero que você continue sendo assim e que Deus lhe guarde, lhe proteja. — Ele sorri para ela.  

— Amém. — Ela retribui o sorriso. — Podemos começar?  

— Hoje você não precisa ajudar. — Diz ao começar a caminhar. — É seu aniversário, aproveite. — Ele para.  

— Vou arrumar o altar. — Ela levanta — Estar aqui me faz bem.

Beatriz anda até o altar e começa a arrumar as coisas. Poucos conseguem continuar e ela é um exemplo de vida, muitos já teriam desistido de tudo, mas Beatriz não, talvez desistir não esteja em seu dicionário. Até quando ela irá ser forte? Irá suportar tudo isso?

Depois de duas horas arrumando a igreja para a missa há noite, ela finalmente termina. Ela se ajoelha diante o altar, junta as mãos e começa a rezar, o padre a observa minuciosamente, ele percebe que ela ainda continua sendo a mesma Beatriz caridosa, generosa, bondosa, solidaria, amiga, carinhosa e amorosa. 

Beatriz pode ter feito 15 anos, mas isso não a mudou em nada, ela sabe que o que mais importa na vida não são os bens matérias e nem o dinheiro e sim o amor da família, o amor e a fé em Deus e é tudo isso que faz com que ela continue a viver depois de cada tombo que leva na vida e que tudo o que sofre tem um proposito, ela pode enfrentar tudo e todos sem medo, porque ela sabe que Deus não abandonará ela, assim como ela não abandonará Deus. Ela termina de rezar, faz o sinal da cruz diante de seu peito e beija o sinal da cruz que fez com os dedos, levanta, arruma a saia e vira para o padre. 

— Padre já vou. — Ela caminha até ele que se encontra na porta da igreja — Agora vou ajudar no orfanato. — Ela sorri.  

— Obrigado pela ajuda. — Ele tira uma da mão das costas e segura uma caixinha branca com um laço vermelho. — Feliz aniversário.  

— Obrigada. — Ela olha para caixinha na mão dele. — Mas isso não é necessário, só os parabéns é o suficiente.  

—Pegue. — Ele pega a mão dela. — É simples, mas é de coração. — Coloca a caixinha na mão dela. — Parabéns por mais esse ano de vida.  

— Obrigada padre. — Ela põe a mão em cima da mão dele – obrigada.  

— De nada. — Ele beija a mão dela. — Cuidado, que Deus lhe leve em segurança e lhe proteja.  

— Amém. — Ela pega as flores e as sacolas de cima do banco. — Padre, a sua benção. 

— Que Deus lhe abençoe e lhe proteja. — Ele sorri.

Beatriz sorri para padre e sai da igreja, ela caminha em direção ao orfanato — o orfanato não é muito longe da igreja, uma caminhada de 15 minutos — caminha devagar até o orfanato e ao longo do caminho encontra mais pessoas e recebe mais presentes — ela realmente está feliz em receber tanta atenção — porém o que ela mais queria, infelizmente ela não tem e já se conformou em não ter — ela chega ao orfanato e é recebida pela madre — uma senhora de mais ou menos 53 anos, morena, olhos verdes, usando um hábito.

— Bom dia. — Beatriz sorri ao ver a madre. 

— Bom dia. — Ela retribui o sorriso — Quer ajuda?  

— Sim, por favor. — Ela dá um sorriso sem graça. 

— Parece que hoje vai ser um dia bem agitado. — Ela pega algumas sacolas da mão de Beatriz. — Entre. 

— Obrigada. — Beatriz entra no orfanato.  

— De nada. — Ela entra em seguida.

As duas caminham em direção ao escritório da madre em silêncio — ambas entram — elas colocam as sacolas em cima do sofá que tem do lado esquerdo do escritório, perto da porta, a madre puxa a cadeira e olha pra Beatriz.  

— Sente-se. — Ela olha para cadeira.  

— Obrigada. — Ela senta e coloca o buquê em seu colo.  

— Feliz aniversário. — Ela dá a volta na mesa - que hoje seja um dia cheio de alegrias e bênçãos para você. — Puxa a cadeira e senta.  

— Amém. — Ela coloca o cabelo atrás da orelha. — É melhor eu ir ajudar as crianças e as freiras.  

— Espere um pouco. — Ela abre a primeira gaveta da escrivaninha. — Quero te dar algo e falar sério com você. — Pega uma caixinha roxa com um laço rosa e a coloca em cima da escrivaninha. — É seu presente. — Ela fecha a gaveta. — Aceite, por favor.  

— Obrigada, mas não precisa. — Ela fica sem graça.  

— Mas eu quero lhe dar um presente. — Ela empurra a caixinha para perto de Beatriz. — Aceite, por favor.  

—Obrigada. — Ela pega a caixinha. — Mas o que a Sra. quer conversar?  

— É sobre sua família. — Ela fica com um olhar sério. — Você faz 15 anos hoje e sei que normalmente nessa idade os pais dão uma festa de debutantes e também sei que você não vai ganhar.  

— Eu sei disso, mas não ligo. — Ela tira o buquê do colo e o coloca na cadeira ao lado. — Eu sei que não sou como meus irmãos, sei também que minha mãe e meu pai me desprezam e me odeiam, mas eu o amo os dois muito. — Ela levanta.  

— Eu sei disso. — Ela olha cada traço físico de Beatriz. — Você é muito boa com as pessoas e elas se aproveitam de sua bondade.  

— Eu preencho o vazio que tenho, ajudando os outros. — Ela pega uma flor do buquê - eu amo meus pais, mas eles não me amam e sou culpada por isso. — Ela coloca a flor dentro de um vaso, que se encontra em cima da escrivaninha. — Mas eu já me conformei com isso.  

— Primeiro você não tem culpa. — Ela lança um olhar reprovador para Beatriz. — segundo você precisa saber quem são pessoas que querem seu bem e quem querem seu mal.

— Eu já sei disso. — Ela caminha até a prateleira que contém alguns livros. — Eu só quero um pouco de amor deles e já que não recebo, procuro o amor nas outras pessoas. — Sua voz fica alterada. — ser a terceira filha de um casal que não se importa é horrível, um pesadelo constante, uma tormenta, eu vivo um pandemônio, desculpa madre. — Ela sente o olhar gélido e sério da madre.  

— Tudo bem. — Ela permanece com o olhar sobre Beatriz. — Imagino como deve ser sua vida, mas você também precisa reagir e ser forte. — Ela levanta. — Depois da tempestade sempre vem o sol. — Se aproxima de Beatriz. — Você irá conseguir tudo o que quiser e ser quem quiser, é só ter fé em Deus.  

— Eu tenho muita fé em Deus e sei que um dia terei o que eu mais anseio. — Ela vira para a madre. — Eu terei o amor e o respeito deles, leve o tempo que for, minha vida vai mudar, algo dentro de mim está dizendo isso.  

— Até lá conte comigo. — Ela segura nas mãos de Beatriz. — Eu sempre estarei aqui com você, como mulher, como conselheira e como amiga. — Ela abraça Beatriz com força. — Você é um anjo. 

— Obrigada. — Lentamente as lágrimas cai pelo rosto de Beatriz. — Eu estou muito feliz. — Ela olha para a madre. — Obrigada.

— Não chore. — Ela limpa as lágrimas do rosto de Beatriz. — Hoje é um dia muito especial para você.  

— São lágrimas de alegria. — Ela limpa o rosto. — Melhor eu ir ver as crianças e ajudar freiras.  

— Daqui a pouco eu vou. — Ela limpa a última lágrima do rosto de Beatriz. — Qualquer coisa me chame. 

— Está bom. — Ela sorri. — Com licença. — Ela sai da sala.

A madre pega o buquê e sai da sala para poder colocar as flores na água, para não morrerem. Beatriz anda pela sala e encontra 5 meninas brincando — todas usam o uniforme do orfanato, que é preto com faixas brancas na barra e nas mangas, cabelos presos em rabo de cavalos ou em tranças e sapatos preto com meias brancas — Beatriz para e fica admirando as meninas, ela percebe que mesmo aquelas meninas não tendo pais, elas são felizes e que são uma grande família — ela senta em uma poltrona e fica a observar as 5 meninas. De repente uma das meninas vê Beatriz e sai correndo e a abraça com força.  

— Oi. — Ela beija Beatriz várias vezes no rosto. — Estava com saudades.  

— Oi Gabi. — Beatriz dá um beijo no rosto dela.

As outras 4 meninas correm e abraçam Beatriz com força, ela fica feliz em rever tanto carinho das meninas, a poltrona fica pequena demais, então Beatriz levanta e senta no chão, colocando as pernas de lado, Gabriela senta do lado direito dela, Ana senta do lado esquerdo dela, Marina deita e coloca a cabeça no colo dela, Larissa deita e coloca a cabeça na barriga de Marina e Emily deita e coloca a cabeça no colo de Ana — Beatriz olha para elas com um grande sorriso no rosto.  

— Senti saudades de todas. — Beatriz acaricia o rosto de Marina.  

— Beatriz hoje é seu aniversário? — Pergunta Ana. 

— Sim Ana. — Ela dá um meio sorriso. — Cadê as outras meninas?  

— Carol, Jessica, Amanda e Fernanda estão no quarto. — Responde Larissa. — Dani, Vivi, Marcela e Aline estão no jardim. — Ela segura na mão de Beatriz. — As outras não sei.  

— Eu só vou ficar com vocês só mais um pouquinho. — Ela olha para cada uma com um lindo sorriso. — Depois vou ajudar as freiras.  

— Está bom. — As 5 falam juntas e em seguida levantam e abração Beatriz a derrubando no chão, ela sorri e ao mesmo chora de alegria.

O orfanato tem 30 meninas, 15 adolescentes, 5 pré-adolescentes, 7 crianças e 3 bebês recém-nascida, o orfanato foi fundado em 1971 pela família Thompson e recebe apenas meninas, o orfanato recebe ajuda de todos da cidade e da família Thompson, depois de 1980 o orfanato passou a ser católico e a contar com a ajuda da igreja da cidade. Com o passar dos anos o orfanato passou por várias reformas e hoje está bem estruturado e é adequado para receber meninas de todas as idades, a primeira menina do orfanato foi a filha do fundador que morou lá por 18 anos e depois foi embora para outra cidade e até hoje ela visita o orfanato e o ajuda, é um dos melhores orfanatos católico do estado e em média 30 meninas são adotadas por ano.

Beatriz ficou mais um pouco com as meninas e depois foi ajudar as freiras — ajudou na limpeza dos quartos das meninas, nos banheiros, na sala de estar e na sala e música, depois foi para o jardim ajudar as pequenas plantar flores — foi um trabalho exaustivo, mas ela fazia de bom grado e depois de ajudar no orfanato, já estava completamente esgotada e cansada, mas sabia que tudo tinha valido a pena e para ela é gratificante poder ajudar as pessoas.

Ela ajudou a arrumar a mesa para o lanche — colocou a mesa para as meninas — deixando tudo em ordem, já com a mesa pronta as meninas se servem e sentam a mesa, Beatriz olha pra todas e vê que realmente vale a pena ajudar as pessoas sem esperar nada em troca — as meninas fazem as preces agradecendo pela refeição e depois começam a comer.  

— Beatriz, você não vai comer? — Pergunta Gabriela com a boca cheia de comida.  

— Gabi não se deve falar com a boca cheia. — Beatriz se aproxima dela. — Primeiro mastigue e depois fale.  

— Sente-se Beatriz. — Clara puxa a cadeira.  

— Eu já vou. — Ela coloca o cabelo atrás da orelha. — Eu ainda tenho coisas para fazer e eu ainda vou a missa.  

— Nós temos uma surpresa para você. — Ana come um pouco.  

— Uma surpresa? — Beatriz fica surpresa e curiosa.  

— Sim, mas sente-se e almoce. — Clara olha para cadeira e depois pra Beatriz. — E não aceito não como resposta.  

— Está bom. — Beatriz senta e olha pra Clara. — Obrigada. 

— Vou te servir. — Clara empurra a cadeira. — E é para comer tudo.  

— Vou comer tudo. — Beatriz pega o guardanapo. — Emi devagar. — Ela limpa a boca de Emily.  

— Beatriz quantos anos? — Carol bebe um pouco do suco.  

— 15 Anos. — Beatriz limpa a boca de Gabriela.  

— Não parece. — Aline limpa a boca. — Você parece ser mais velha.  

— Por que? — Beatriz coloca novamente o cabelo atrás da orelha.  

— Porque você tem atitudes diferentes e do modo que você fala e se comporta. — Aline come um pouco.  

— Você realmente parece que é mais velha. — Amanda sorri pra Beatriz.  

— Pronto. — Clara coloca o prato na frente de Beatriz. — Coma tudo.  

— Vou comer. — Beatriz abaixa a cabeça e fecha os olhos.  

— Depois do almoço podemos ir brincar? — Emily olha para madre e sorri.  

— Sim, mas só depois da aula de música. — A madre aperta o nariz dela. — Mas cuidado para não se machucarem.  

— Madre podemos passear depois do almoço? — Carol olha para madre com um lindo sorriso. — Podemos. 

— Não gosto que saiam do orfanato, é perigoso. — A madre olha sério pra Carol. — Eu não quero que vocês corram perigo.  

— A Beatriz pode nos acompanhar. — Carol olha para Beatriz que ainda está fazendo as preces. — Só um pouquinho madre.  

— Não meninas. — Olha para cada uma com um olhar sério e autoritário. — Depois do almoço aula de música.  

— Sim madre. — Todas falam juntas.  

— Meninas. — Ela olha sério pra todas, mas com um sorriso nos lábios – vou terminar uns assuntos, com licença. — Ela sai da cozinha.

As meninas almoçam, mas não em silêncio, cada uma fala de um assunto diferente e dão muitas risadas, mas Beatriz se mantém quieta, ela apenas observa as meninas conversando e vê que apesar de nenhuma delas não terem uma família, elas são felizes e tem uma a outra. As meninas terminam o almoço e vão para a sala de música, Beatriz ainda almoça, mas na verdade ela nem tocou na comida direito, apenas comeu umas 7 garfadas, Clara percebe que ela está quieta demais e se senta ao lado dela — Beatriz não percebe Clara ao seu lado.  

— Muitas crianças adorariam ter um pouco dessa comida. — Clara coloca a mão em cima do ombro de Beatriz. — Está havendo alguma coisa?  

— Eu sei. — Ela coloca o garfo no prato. — Só estou um pouco triste.  

— Mas por que? Hoje é seu aniversário. — Ela tira a mão do ombro de Beatriz.  

— Porque hoje é meu aniversário. — Ela dá um sorriso triste.  

— Você é uma menina boa e muitas pessoas te amam. — Ela coloca a mão no queixo de Beatriz e o levanta. — Hoje é um dia feliz para você, sorria.  

— Às vezes é difícil prosseguir com todos contra você. — Ela segura no pulso de Clara e tira a mão dela de seu rosto. — Só queria ouvir um "eu te amo Beatriz." — Ela segura na mão de Clara. — Obrigada por tudo.  

— Agora termine de almoçar. — Ela olha pra Beatriz e depois para o prato dela. — Vou ficar te vigiando para ter certeza de que vai comer tudo.

Beatriz come a comida sob a vigilância de Clara – ela come tudo e depois ajuda a lavar a louça e a limpar a cozinha — ela vai para a sala de música e fica observando as meninas cantar, depois de uns 10 minutos observando elas, Beatriz finalmente se junta e canta com elas — depois da aula de música Beatriz vai para o jardim para brincar com as crianças, ela brinca com as crianças de todos os tipos de brincadeira e depois de quase uma hora brincando as crianças ficam cansadas e Beatriz as colocas pra dormir — Beatriz vai para o quarta das adolescente, ela olha para as meninas e vê que elas estão conversando sobre garotos, ela senta ao lado de Jessica — as meninas percebem ela no quarto e todas olham pra ela com um olhar sério — Beatriz sente um arrepio em sua nunca e um frio na barriga, todas caem na gargalhada.

 

                                     ✟ ✟ ✟ ✟ ✟ ✟ ✟

 

No final da tarde Beatriz já se encontrava exausta, mas feliz — para ela as meninas são fortes, pois mesmo após serem abandonadas continuam a vida — ela se inspira nessas meninas para poder viver.

Jessica e Samantha conduzem Beatriz com cuidado pelo orfanato, elas passam em frente aos quartos, descem as escadas, passam pela sala e finalmente chegam no jardim, onde todos do orfanato se encontram - o jardim foi decorado com algumas flores e alguns balões e um faixa escrita "Feliz Aniversário Beatriz", tem algumas mesas onde tem doces, salgados e refrigerante e em uma delas tem um bolo grande com uma vela de 15 anos, elas colocam Beatriz de frente pra faixa, Jessica desfaz o nó e tira a venda dos olhos de Beatriz — quando ela abre os olhos, ela fica com os olhos cheios de lágrimas, mas de emoção.  

— Surpresa. — Todos falam ao mesmo tempo.  

— O que é... não pode... oh meu... obrigada. — Beatriz não segura as lágrimas e elas cai rapidamente pelo seu rosto. — Madre não precisava. — Ela corre até a madre e a abraça. 

— As meninas insistiram e eu queria lhe dar isso. — Ela segura nas mãos de Beatriz. — Se divirta. 

— Obrigada madre. — Beatriz beija as mãos da madre. — Obrigada, obrigada, obrigada e muito, muito, muito, muito obrigada mesmo.  

— Se divirta. — A madre limpa as lágrimas do rosto de Beatriz. — Chega de lágrimas, eu vou resolver uns assuntos e já eu volto. — Ela dá um beijo na testa de Beatriz. — Feliz aniversário, com licença. — A madre entra.

Beatriz come alguns doces e depois vai brincar com as crianças, ela corre para todo o lado atrás delas e logo depois ela vai conversar com as adolescentes, elas riram e falaram sobre garotas, cansada da conversa Jessica coloca uma música — Beatriz olha pra Jessica sem entender nada — as outras adolescentes começam a dançar e Beatriz fica olhando, mas não por muito tempo, porque Jessica puxa para ela para dançar, mas ela fica meio tímida. As outras dançam sem timidez, mas as crianças também querem dançar, então elas entram na roda e começam a dançar — algumas freiras ficam olhando elas se divertirem. Beatriz deixa elas se divertindo e vai ficar com as freiras, ela senta ao lado delas.  

— Se divertindo? — Clara olha pra Beatriz. 

— Muito, estou amando a festa. — Beatriz cruza a perna. — A madre não vai brigar por causa da música?  

— Não. — Clara olha para Beatriz. — Ela permitiu que as meninas escutassem as músicas que elas gostam.  

— Que horas é? — Beatriz olha para o pulso e percebe que esqueceu o relógio. — Sr. Lopes que horas é? 

—São... — Ele olha no relógio que se encontra no pulso esquerdo. — É 18:57.  

— Obrigada. — Beatriz sorri para ele. — Eu já tenho que ir.  

— Beatriz. — Carol se aproxima de Beatriz. — Vem dançar. — Segura na mão de Beatriz. — Está muito divertido.  

— Eu já tenho que ir. — Beatriz descruza a perna. — Já está ficando tarde.  

— Espera, falta cortar o bolo. — Carol puxa Beatriz da cadeira. — Agora vem dançar e não tem discussão. — Carol a puxa para o meio do jardim.  

   Beatriz dança com as meninas, ela segura na mão de Emily e as duas começa a dançar — as freiras ficam observando como elas todas estão felizes e se divertindo — apesar de tudo elas são felizes e aproveitam cada oportunidade que a vida lhe da.

     As meninas se aproximam da mesa, Dani desliga a música e também se aproxima da mesa, Clara acende as velas — Beatriz abre um lindo sorriso e seus olhos se enchem de lágrimas, todos começam a bater palmas e cantar "Parabéns pra você" — nesse momento Beatriz olha pra cada uma das meninas e percebe que ela tem uma família, que tem amigas e que elas realmente gostam dela pelo o que ela é e que elas são muito especiais pra ela e que irá sentir falta de todas — essa é a primeira festa de aniversário de Beatriz e que é o melhor presente que ela já ganhou, não a festa, mas sim o carinho das meninas.  

— Beatriz? — Jessica estrala os dedos na frente do rosto de Beatriz.  

— Pois não? — Beatriz pisca.  

— Assopre as velas. — Carol olha para o bolo e depois pra Beatriz. — E faça um pedido. — Ela sorri.  

— Está bem. — Beatriz fecha os olhos, respira fundo e assopra as velas.  

— Agora corta o bolo. — Emily sorri pra Beatriz.  

— Está bom. — Beatriz corta o bolo e coloca o pedaço no prato.  

— E para quem é o primeiro pedaço de bolo? — Charlote sorri.  

— Primeiro quero agradecer pela maravilhosa festa que me deram, vocês são mais que amigas para mim, são como irmãs e sei que iram embora, mas amarei todas para sempre. — Beatriz embarga. — Só quero que vocês saibam que eu sou muito sortuda em ter vocês ao meu lado, obrigado pela festa, pela amizade e por serem minhas amigas, que Deus não mude nunca os corações de você e que... — Ela faz uma pausa e respira fundo. — E que vocês encontrem um lar onde haja amor, carinho e respeito, é isso que quero pra todas. — Ela olha pra todas e percebem que todas estão chorando de alegria.  

— Você é má. — Carol limpa as lágrimas de seu rosto — E para quem é?  

— É para a madre. — Beatriz se aproxima da madre. — Sei que isso é pouco, para pagar tudo o que a Sra. fez e faz por mim, mas quero que aceite.  

—Obrigada. — A madre pega o prato. — Eu faço isso porque gosto de você e porque você é uma boa menina.  

— Meninas podem comer o quanto quiser. — Beatriz olha para o bolo.

Beatriz ajuda Clara a servir o bolo e o refrigerante para as meninas — elas sentam no jardim para poderem comer o bolo. Beatriz pega um pedaço de bolo e senta no degrau da escada, ao lado de Charlote — ela come e aprecia cada segundo ao lado das meninas, gravando cada momento do dia — algo simples, mas com muito amor e carinho.

Beatriz percebe que está tarde e tem que ir embora — e também as meninas tem hora para dormir – ela  pega seus presentes e segue seu caminho pra casa — vai caminhando o mais rápido possível por causa  da hora e ela tem que chega em casa antes de seus pais, no caminho ela encontra várias pessoas e algumas delas perguntam pra ela o porquê das lágrimas e educadamente ela responde que não é nada demais — a missa já havia começado e pelo cálculo dela não daria pra ela ir pra casa se arrumar e ir pra igreja, então infelizmente ela não iria — ao chegar em casa ela percebe que a casa está vazia, entra em casa e vai direto pro seu quarto, coloca as flores em um vaso com água e coloca o vaso na escrivaninha de seu quarto e calmamente olha os presentes que ganhou e fica feliz, mesmo sabendo que são apenas lembranças — arruma cada coisa em seu devido lugar — depois de tudo arrumado ela pega uma camisola lilás dentro do guarda-roupa, uma calcinha lilás e entra pro banheiro pra tomar um longo banho, pra poder relaxar.

Já de banho tomado e trocada ela vai para cozinha beber um pouco de água e bate de frente com seus pais que tinham acabado de chegar — ela olha para eles com um olhar triste, mas um pequeno sorriso no rosto. 

— Boa noite papai, boa noite mamãe. — Ela desvia o olhar ao perceber que sua mãe a olha com ódio e frivolidade. 

— Boa noite Beatriz. — Miguel repara cada traço físico de Beatriz e percebe que ela já é uma linda moça. — Onde seus irmãos estão? 

— Não sei papai. — Ela caminha até a pia da cozinha. — Eu cheguei e eles não estavam. — Ela pega um copo no escorredor. 

— Miguel eu vou subir. — Robertha dá um beijo em Miguel. — Lhe espero lá em cima. — Ela sobe a escada. 

— Beatriz, está tudo bem? — Ele se aproxima um pouco dela.

— Sim. — Ela vira para ele. — Só estou cansada. 

— Boa noite. — Ele desvia o olhar ao perceber o olhar triste da menor. — Não vá dormir tarde. 

— Sim Sr. — Ela pega um pouco de água. — Papai? 

— Sim. — Ele engole seco. 

— Eu amo o Sr. muito. — Ela se aproxima dele. — Boa noite. —  Fica na ponta dos pés. — Te amo. — Ela dá um beijo no rosto dele e sai da cozinha.  

— Eu também te amo muito. — Ele fala para si mesmo. — Feliz aniversário, que Deus nunca lhe mude meu anjo e perdoe-me por tudo. — Ele coloca a mão no lugar onde Beatriz beijou e sorri.

Apesar de Miguel ser frívolo as vezes com Beatriz ele há ama — Miguel tem medo de escolher proteger Beatriz e acabar perdendo a esposa e os outros filhos e mesmo amando Beatriz muito ele sabe que ela é forte — mesmo ele a tratando mau, ela sabe que ele a ama e que um dia ele verá ela como uma filha. Ao nascer Robertha se recusou a pegar Beatriz no colo e ela não sentiu o que Miguel sentiu — ele sentiu uma grande paz, um amor incondicional por ela e quando Beatriz sorriu ele viu que o mundo tinha acabado de ganhar um anjo. 


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Notas finais do capítulo

Obrigada.
O que acharam?



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