I'll Stand By You escrita por Mia S


Capítulo 1
Encontros


Notas iniciais do capítulo

Hey, bem vindos!
Espero que gostem e aproveitem, a história foi escrita a muitos anos, tenho um carinho enorme por ela.



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Primeiro Encontro – Maio

— E ai, cara, a noite se estendeu muito ontem? – Emmet riu se jogando na cadeira de meu consultório.

— Cala a boca. – retruquei, atirando qualquer coisa em sua direção, ele desviou bem a tempo de não bater em seu ombro.

— Mas é sério, Irina saiu da boate igual a criança que ganha doce. – eu ri de sua comparação.

— A única coisa que posso te dizer é: Vá ter uma vida sexual e deixe de se preocupar com a minha. – e então foi a minha vez de rir da cara de Emmet.

Éramos amigos a longos anos, e praticamente tudo que eu fazia ele sabia, assim como eu sabia de toda sua vida. Fui padrinho em seu casamento – para o desgosto da mulher dele – e uma das primeiras pessoas a chegar ao hospital quando sua filha nasceu, a quase sete anos.

— Agradeceria se não precisasse ouvir falar de sua mulher.

— Vocês ainda vão ser grandes amigos. – ele riu de sua própria piada, sabendo que era muito. Alguns minutos depois ele voltou pra sua sala, sendo avisado que a paciente logo chegaria.

Emmet era obstetra e eu, um pediatra, acho que a única vez que chegava perto de crianças era no trabalho e quando ia visitar Emmet, depois, gostaria muito de ficar bem longe delas, ironia levando em conta minha profissão. O resto do dia correu tranquilo, mais alguns pacientes e mãe taradas dando em cima de mim e eu já estava liberado pra ir pra casa uma hora mais cedo.

Tirei meu jaleco, peguei minha pasta e chaves do carro e rumei para o estacionamento, mas antes, bati na porta da sala de Emmet para dar um tchau. Assim que entrei no carro, coloquei minha pasta no banco do carona e sai do prédio. Eu era Edward Cullen, tinha 27 anos, a quase 1 exercia minha profissão e era um solteirão convicto, para o desespero de minha mãe.

Bufei quando o caminho mais próximo para a minha casa estava bloqueado, fazendo com que minha única alternativa fosse dar a volta e fazer o caminho mais longo, parei em vários semáforos, num dos últimos decidi ligar e por uma música, optei por Debussy, gostava mesmo dele.

— Tio! – ouvi chamarem do outro lado do carro, na verdade, ao meu lado do motorista.

— Oi. – respondi simplesmente para a menina ali, ela era pequena, pela força que fazia estava erguendo os pés para conseguir falar comigo. Estava com uma blusa branca suja, o rosto não era dos mais limpos também, tinha um cabelo liso, dourado, e bastante comprido.

— O senhor tem uma moeda? – uma moeda? Foi então que entendi o que ela realmente era. Uma menina de rua. No principio, achei que ela poderia estar brincando, ou fazendo alguma, sei lá, experiência com o colégio, mas não, ela realmente estava ali pedindo, e de uma forma ou de outra, aquilo mexeu comigo, porque ela não devia ter mais que seis anos, e, no entanto estava lá, com a pequena mão erguida pra mim, com um sorriso lindo brotando em seu rosto. Lembrei que precisava ser rápido, o sinal logo ia abrir, então, num ato muito rápido, peguei uma nota de $ 5,00 na carteira e dei a ela.

— Obrigada, moço. – Educada. Aquilo me surpreendeu mais do que seus olhos brilhando para a nota, talvez ela soubesse o valor do dinheiro, mas não pude perguntar, porque os carros buzinavam atrás de mim e ela logo estava correndo para a calçada, sentando no chão ao lado de um cachorro.

Segundo Encontro – Agosto

— Alice, pelo amor de Deus, onde você está?

— Eu já disse que estou no shopping.

— Eu estou no shopping e não acho você, vou te deixar sozinha aqui e se vire com um taxi.

— Odeio taxis e você sabe disso, irmãozinho. Faz assim, me espera na praça de alimentação do terceiro andar, te encontro dentro de 5 minutos. – bufei e desliguei o celular, não ia adiantar discutir com aquela anã.

Subi mais um andar e me sentei pra esperar, me trouxeram um cardápio, no qual eu apenas uma lata de refrigerante. E depois do que pareceram horas – e eu tinha certeza que não estava exagerando – Alice apareceu, cheia de sacolas de diversas lojas.

— Obrigada por me dar uma carona, estou ficando louca sem o meu carro. – Seu marido deve estar ficando louco com você. – ela sentou enquanto me mostrava a língua.

Minha relação com Alice era assim, não importa quantos anos tivéssemos, sempre iríamos nos comportarmos como crianças. Ela era a minha irmã mais velha, quatro anos de diferença, mas seu tamanho a fazia parecer ter apenas uns 19 anos, e por isso eu implicava com meu cunhado, Jasper, que poderia acusá-lo de pedofilia. Alice se irritava, minha mãe se irritava, meu pai nos ignorava e eu ria muito. Era isso que acontecia quando estávamos todos juntos na casa dos nossos pais.

— Como você está? – indagou de repente.

— Ótimo. – respondi simplesmente.

No fundo, Alice sabia que a cada dia eu me afundava mais e mais em mim mesmo. Estava difícil enganá-la agora, ela sempre foi assim, sentindo coisas que ninguém mais sentia, sabendo quando estávamos bem ou não. Sempre foi assim, e por isso eu a evitava a todo o custo de um ano para cá. Sempre.

— Tem certeza? – indagou, olhei-a nos olhos, forçando um sorriso irônico.

— Toda.

Ficamos em silencio, não conseguindo olhar um para o outro, falamos apenas quando uma garçonete veio perguntar o que queríamos.

 Pedi um hambúrguer, já Alice, apenas uma salada sem óleo e um suco natural, eu sinceramente não sabia como ela sobrevivia apenas com pastos.

— Oi! – ouvi uma voz animada falando atrás de mim, confuso, me virei, me deparando com uma menina conhecida, mas não lembrava exatamente de onde.

Ela vestia um vestido um pouco grande de mais para o seu pequeno corpinho, o cabelo estava preso em uma cola torta, era liso, mas parecia um pouco pesado, nos pés, uma sandália simples, de um rosa escuro que apostava não ser a cor normal, o rostinho estava sorridente, e então eu lembrei. Era a menina do sinal. A que me pedira uma moeda e que havia me chamado de tio. Fiquei espantado por ela se lembrar de mim – e eu dela – e tinha certeza que minha cara denunciava isso, pois Alice foi a primeira a falar.

— Olá, meu nome é Alice. Quem é você? – foi direta, mas doce, como quase sempre era, olhava para a menina – que permanecia em pé ao meu lado – com um sorriso bobo, quase delicioso, Alice estava tentando engravidar, e era toda sorrisos com crianças.

— Eu sou Sara. – Sara. Seu nome soou doce em sua voz infantil, me enchendo de um deleite desconhecido.

— Você é muita linda, querida. Quantos anos têm?

— Tenho isso – mostrou uma mão cheia, mais dois dedinhos. Sete anos. Moradora de rua e sete anos.

— Você é bem pequena. – falei pela primeira vez. Ela corou, ficando adorável. – Mas o que está fazendo aqui?

— Eu te vi aqui, e queria te agradecer por aquele dia, com mais aquelas notas eu comprei um monte de comida pra mim e pra May.

May seria alguma outra menina de rua? Eu não sabia.

— Não foi nada. – eu ia abrir a carteira e dar mais uma nota pra ela, mas...

— Não, tio. Eu só vim agradecer, não vim pedir nada. Sério mesmo. – ela tocou meu braço, deu um sorriso lindo em minha direção, e depois para Alice, e então saiu correndo para o lado contrario. Me deixando ali, encantado com aquela beleza genuína, e com uma Alice confusa e curiosa para lidar.

Terceiro Encontro – Novembro

Nevava muito e a chuva era intensa, me refugiei embaixo do guarda chuva e corri até o carro, era hora do almoço e a correria por causa do tempo já era grande, poucos pacientes haviam consultado hoje, por isso estava tranquilo ir comer na casa de minha mãe, quero dizer, esses eram meus planos até Emmet aparecer e me arrastar até a casa dele – que era mais perto da clínica – pra almoçar.

— Sério, cara, lá em casa é mais rápido, e com essa neve... – balançou a cabeça. – Aproveitamos e vamos num carro só. – eu assenti finalmente me rendendo. Afinal, eu aproveitaria para ver April, minha afilhada que eu não via há séculos, Emmet e ela sempre me cobravam visitas, mas eu sempre dava alguma desculpa para não aparecer.

— April vai ficar feliz em te ver.

— Mas Rosalie não. – ironizei rindo, recebi uma tapa no ombro. Durante todo o caminho fomos praticamente em silencio, apenas dava pra ouvir o ruído baixo do aquecedor e o roçar de minhas mãos tentando se manter aquecida.

Emmet parou em um sinal vermelho, coincidência ou não, na mesma rua em que eu vira a menina na primeira vez, eu estava do lado contrário, o que não me impediu de esticar o pescoço e tentar encontrá-la. Dito e feito. Eu não podia vê-la direito, mas tinha certeza que a menina deitada no chão era ela. Estava encolhida, enrolada por uma manta, que eu tinha certeza ser fina abraçada ao corpo estava o cachorro, ainda pequeno, a parte branca dos pelos estava suja, a água que caia não a molhava por estar embaixo de um toldo, desviei o olhar, nunca gostei de ver o sofrimento de crianças. Mas era assim, não existiam apenas dias de sol, assim como nem todos eram felizes.

Droga, aquela menina estava me sensibilizando, e há muito tempo eu não me sentia mal por ser um inútil.

[...]

— TIO EDWARD! – Uma April muito contente pulou em meu colo assim que pus os pés dentro daquela casa, Emmet havia avisado que eu estava junto e a euforia da pequena era palpável.

— Olá gatinha. – respondi em seu mesmo entusiasmo. Fiz cócegas nela e depois a girei no ar, para o desespero de Rosalie.

— EDWARD. – berrou. – Ponha a minha filha no chão, seu irresponsável.

— Tio Ed é legal, mãe. – responde de cabeça pra baixo em cima do meu ombro. Rosalie me deu um olhar mortal, que dizia claramente que eu seria um homem morto caso não a largasse, por isso a coloquei sentada no sofá.

Bom, vamos esclarecer algumas coisas: Rosalie e eu não nos odiávamos. Talvez ela odiasse o fato de que quando brigava com Emmet ele ia atrás de mim, e eu o levava em um bar, mas é claro que ela não sabia que a gente não colocava uma gota de álcool na boca, apenas conversávamos. Ela também detestava o fato de que April me adorava. Era só a menina me ver que ela sabia que tinha perdido a filha, e April – e Emmet – eram as únicas coisas que Rosalie não aceitava dividir.

Mas preciso deixar claro, que quando morri de amores por uma vagabunda que me traiu, ela foi uma das primeiras pessoas a me dar um apoio sincero, até arrisco dizer que seus conselhos empatam com os de Alice, mas é claro que ela nunca saberia disso.

April pulava ao meu lado, contando sobre coisas aleatórias da sua vida, me mostrando vários dos brinquedos novos que tinha, os cabelos louros – iguais aos da mãe – balançavam sobre seu ombro enquanto ela se agitava.

Minha cabeça voou para imagem da outra menina, um pouco mais nova, encolhida sobre a chuva, de alguma forma e por algum motivo, senti um aperto no coração.

Ora essa, era uma criança, e ela estava em condições precárias, sem o mínimo de condições para sobreviver. Num ímpeto de coragem que geralmente me faltava, eu levantei abruptamente, assustando April, pedi desculpas enquanto beijava sua testa, pedi o carro de Emmet emprestado e disse que não podia voltar para a clínica à tarde. Ele certamente poderia pegar o carro da esposa.

Quando me dei conta, estava parado em frente aquela menina, agora de perto, ela parecia muito mais frágil e quebrável, o cachorro peludo e molhado estava perto dela, e sim, ele estava realmente sujo, como a menina, que estava atirada no chão, perto de algumas caixas, olhei dentro: Comida. A maioria fechada, pois apenas ficavam prontas no forno, é claro, eu apostava que ela mesma tinha comprado aquilo, havia alguns pacotes de bolachas abertos e um saco de ração.

Levei minhas mãos até seu cabelo, pronto para levá-la para o carro, mas então me lembrei de um detalhe muito, mas muito importante.

Droga...

— Sara? – chamei. Não me esqueceria de seu nome, era impossível. Mas meu coração apertou quando ela permaneceu de olhos fechados e apenas gemeu.

Ela estava doente.

— Sara. – tentei outra vez. – Cadê os seus pais, querida? – esperei alguns segundos, ela estava juntando forças para responder enquanto respirava.

— No céu. – respondeu inocentemente, meu peito relaxou, soltando a respiração que eu nem sabia estar prendendo. Aquela resposta foi a única para eu levantá-la em meus braços e caminhar para o carro.

— NÃO! – gritou quando notou o que eu estava fazendo. – A minha cadelinha. Não, não. – esperneou sem forças. Olhei o cachorro, e ele olhava pra mim com a cara de bravo, afinal das contas, eu estava levando a dona dele. – Por favor, tio. – ouvi sua voz enquanto pensava. – Não deixa a May ai, eu só tenho ela tio, e ela só tem eu, eu cuido dela e ela cuida de mim. – sua voz não passava de um suspiro fraco. Respirei fundo, sentindo minhas roupas todas molhadas, a menina não estava diferente.

Com assovio, chamei a cadelinha e mandei-a entrar no carro, mais esperta do que eu esperava, ela fez isso, coloquei Sara no carro, vendo seus olhos escuros já abertos, mas igualmente cansados e caídos.

— Tem alguma coisa aqui que você tenha que levar?

— Só umas roupas e a May.

Certo. Roupas... Ela certamente não precisaria daquelas. Fechei a porta do carro, fiz a volta e sentei no lado do motorista. Sara estava de olhos fechados outra vez, a mão repousando no pelo molhado da cachorrinha. Eu não devia deixá-la dormir, mas eu estava nervoso, nem sabia ao certo o que estava fazendo, mas tinha certeza que não era errado, bom, eu esperava que não.

Fiz a volta na rua, pronto pra ir pra casa, meu celular tocou nesse meio tempo e o nome de Emmet piscou na tela.

— Fala Emmet.

— Onde você está?

— Indo pra casa. Olha cara, eu não posso falar agora, mas está tudo bem, ok, não se preocupa. – não dei tempo para ele responder, simplesmente terminei a chamada, querendo mais rápido do que nunca chegar em casa.

Assim que o fiz, deixei o carro atrás do meu na garagem e levantei Sara, ela sequer piscou, a cadelinha imitou meu movimento e saiu do carro, me seguindo escada acima.

— ROSA! – gritei. – ROSA. – chamei outra vez, minha empregada – uma senhora de 50 e poucos anos, baixinha e redonda – entrou no meu campo de visão com um avental e uma colher de pau na mão.

— Fala menino... – seus olhos se arregalaram quando viram a menina em meus braços, então simplesmente despejei a verdade sobre ela, mesmo que fosse me trazer problemas.

— É uma menina de rua, conheci uns meses atrás, preciso ajudá-la, não tem pais, não tem ninguém, está doente, pegou chuva, por favor... – falei rápido, implorando. Ela se aproximou de mim com uma velocidade que eu achava impossível. – De um banho quente nela, lave o cabelo, se conseguir a mantenha acordada, eu mesmo faria isso, mas tenho medo que acorde assustada num lugar estranho e ainda sem roupas, é uma criança, mas...

— Edward! – Rosa chamou. – Fique calmo menino, vai ficar tudo bem, tome um banho e se prepare para fazer o seu trabalho. Mas fique calmo.

Eu assenti a ajudando a carregar Sara até o maior quarto de hospedes que eu tinha, até onde eu podia a auxiliei, quando não era mais útil, sai de lá. Sara estava bem grogue, apostava que estava com frio e fome, devia estar com apenas uma gripe, afinal, o tempo ruim estava na cidade a menos de dois dias.

Tomei um banho rápido, o suficiente para tirar o frio do corpo, coloquei uma calça de moletom e uma camiseta, e foi nesse instante que pensei que Sara não tinha o que vestir quando saísse do banho.

Ok, eu teria que pensar: Ela estava com frio, precisava ficar aquecida, peguei uma camiseta minha, ficaria enorme nela, mas eu poderia colocar algum cinto na cintura, ela não tinha calcinha, e isso era um problema, mas eu a enrolaria num edredom grosso e enquanto cuidava dela poderia dar um jeito em roupas depois.

Fiz tudo isso antes de ir para o quarto onde elas estavam, me sentei na cama apreensivo, ouvindo a voz de Rosa tentando conversar com Sara, enquanto a menina fazia força para responder, a porta do banheiro estava entreaberta, e suas vozes eram baixas.

Levantei para espiá-las, vendo Rosa de costas, segurando Sara na pequena banheira daquele quarto. A menina parecia mole. Respirei fundo, ouvindo um latido no andar de baixo.

Eu havia esquecido completamente o cachorro, cadela, na verdade. Desci as escadas a encontrando na beira da mesma.

— Olá, May. – ao ouvir seu nome, se aproximou de mim, até faria carinho nela, mas tinha que estar limpo para tratar de Sara.

Fui até a cozinha, peguei um pote que Rosa usava para guardar comidas, e peguei também resto do jantar na geladeira, coloquei no pote e pus no chão para o pequeno filhote, ela atacou a comida com voracidade, em outra tigela lhe dei água e depois tornei a subir, se bem conhecia bichos, ela comeria e ia procurar um canto pra dormir.

Quando voltei ao quarto, Rosa estava enxugando a menina e, sim, ela estava muito mole, mas pelo menos tinha os olhos abertos.

— Posso entrar? – perguntei ao bater na porta.

— Claro. – Rosa respondeu. Eu entrei devagar, não querendo assustá-la.

— Oi, querida. – sussurrei. Seus olhos se abriram um pouquinho mais.

— Oi tio. – e sorriu. E aquilo bastou para eu atravessar o quarto e sentar ao seu lado, tocando em sua mão.

— Como você está?

— O meu corpinho dói um pouco, e parece que eu to pesada. – ri de sua explicação simples, porém de muita ajuda. Só que antes que ficasse totalmente feliz, sua voz foi ouvida fazendo uma pergunta que eu nem sabia se tinha a resposta.

— Porque você me pegou da rua? Eu nem tive tempo para pensar, mas lhe dei a resposta mais sincera que eu poderia achar, pelo menos por agora.

— Porque eu quero cuidar de você.

— Ninguém nunca cuidou de mim. – confessou, segurando a cabeça com uma das mãos pequenas.

— Pois eu prometo que vou. Por isso que a Rosa, eu aposto que você gostou dela, vai te ajudar, eu trouxe uma roupa bem grande, mas você deve estar com frio, então vou te enrolar num cobertor.

Ela riu na ultima frase, fazendo eu me deliciar com aquela risada infantil, por mais fraca que parecesse.

Disse a Rosa como ela deveria vestir Sara, ela assentiu e enquanto isso eu fui até o meu quarto pegar remédios para a febre e para a dor. Vi no meu armário que tinha uma escova de dente que não tinha nem aberto ainda, sorri com isso, pegando para levar até Sara.

— Obrigada por cuidar de mim, Rosa. – foi o que ouvi ao estar parado do lado de fora do quarto.

— De nada, meu amor, eu quero muito que você fique boa logo.

— Eu tenho certeza que eu vou ficar. Você pode me dizer onde está a minha cachorrinha?

Foi nesse momento que eu decidi entrar no quarto, Sara me encarou com um sorriso, e Rosa apenas saiu.

— Essa pergunta eu posso te responder. – eu sorri enquanto me sentava na cama, vendo Sara toda enrolada em um cobertor e com a minha camiseta enorme. Quase ri da situação.

— Então, tio. Onde ela esta?

— A ultima vez que a vi, ela estava comendo lá na cozinha, agora ela deve estar dormindo em algum lugar.

— Ah! A May é folgada, ela deve ta dormindo mesmo. – e riu, um riso fraco, mas ainda assim um riso.

— Sim. – ela sorriu de forma sutil.

— Você precisa de ajuda? Sabe como fazer? – hesitantemente ela negou com a cabeça.

— Não sei. – falou baixinho. Eu levantei, estendo os braços para ela, me surpreendendo, ela veio para o meu colo e assim a levei para o banheiro, como eu lembrava, ela era uma criança muito leve, então não tive dificuldade alguma de carregá-la até encontrar um banquinho.

A ensinei a escovar os dentes da mesma forma que lembrava de minha mãe me ensinando, foi uma coisa divertida de se fazer, Sara se mostrava uma menina muito inteligente, quando voltamos para o quarto, Rosa estava de volta ali, parada.

— Vou preparar um lanche pra vocês, porque ainda é cedo, tem alguma preferência? – eu neguei, olhando pra a menina em meus braços.

— E você lindinha, o que quer? – perguntei.

— Não sei, qualquer coisa ta bom.

— Qualquer coisa nós não temos, vamos, diga. – incentivei.

Ela ficou alguns segundos pensando, e quando Rosa notou que ela realmente não sabia o que queria comer, decidiu ajudar.

— Que tal um chocolate ­quente? Está bem frio, posso fazer um bem gostoso. Você gosta?

— Eu não sei.

— Não sabe se quer?

— Não sei se gosto, eu nunca provei. – suas bochechas aderiram um tom rosado pela vergonha, eu suspirei, passando a mão em suas costas.

— Garanto que é gostoso. – falei. – Pode fazer sim Rosa, nós três adoraríamos um chocolate. E então Rosa saiu, quase correndo, arrisco dizer.

Me virei para deitar Sara na cama, assim que o fiz, a enrolei de volta no mesmo cobertor, esperando que Rosa voltasse com o lanche. A arrumei de forma confortável na cama, tive que deixá-la com o cabelo úmido mesmo, não tinha nada que pudesse secá-lo em casa. Puxei uma poltrona e a deixei do lado de sua cama, me sentei ali e peguei o controle da TV, ligando em um canal de desenho pra ela.

— Você está bem? – perguntei enquanto a observava. Ela virou o rostinho pra mim, o semblante cansado.

— To sim.

— Eu vou te dar um remédio, tá. Ele não é tão ruim, mas talvez você não goste muito. Tudo bem?

— Eu vou ficar boa se tomar?

— Vai sim.

— E se eu ficar boa você vai me deixar na rua depois?

Eu fiquei em silencio, sem reação alguma em relação a sua pergunta, eu nem sabia o que faria com ela. Mas queria ajudá-la.

— Não, eu não vou deixar você na rua. – ela sorriu. E aquele sorriso fez o meu coração saltar.

— Então eu quero tomar.

Depois de fazê-la tomar o remédio, a arrumei melhor na cama, em volta de cobertores, quando me sentei, uma batida soou na porta, era Rosa com os nossos lanches.

— O chocolate quente é de alguma princesinha que está por aqui? – Sara riu de maneira simples.

— Não tem princesa aqui. – ela falou.

— Claro que tem. – Rosa disse ao colocar uma bandeja em cima da cama. Notei apenas duas xícaras ali.

— Não vai tomar, Rosa? – perguntei.

— Sim, mas tenho muitas coisas pra fazer na cozinha, então tomo por lá mesmo. – e piscou pra mim, saindo do quarto logo em seguida.

Sara encarava atentamente as xícaras que estavam perto dela, com olhos grandes e, com toda a certeza, desejosos.

— Você está com fome. – ela apenas assentiu, de cabeça baixa. A resposta que ela deu para a minha próxima pergunta fez meu coração doer. – Quando foi a ultima vez que você comeu?

— No jantar, ontem a noite. Um moço da padaria me deu alguns pães. – ontem a noite. Já tinha passado das duas da tarde, ela estava há muito tempo sem comer.

— Coma então, querida. Eu vou ficar aqui com você, ta bom? – peguei uma xícara e levei até suas mãos, lhe dei uma das colheres que Rosa havia trazido, e hesitante, ela começou a beber, eu procurava não a encarar muito, para deixá-la a vontade, e foi quando notei que ela realmente estava com fome, foi uma questão de tempo até que sua xícara estivesse vazia. – Você ainda está com fome? – perguntei, ela baixou os olhos e assentiu levemente. – Espere aqui um pouquinho, eu já volto.

— Ta bom. Desci as escadas, encontrei Rosa na cozinha e lhe pedi que fizesse alguma comida rápida e gostosa, com uma salada variada e um copo de suco, ela atendeu prontamente. Quando retornei ao quarto, Sara estava espirrando muito, o pequeno nariz vermelho pelo esforço.

— Calma, calma. – sussurrei pra ela assim que cheguei perto de sua cama. – Pelo jeito você pegou uma gripe, garotinha.

— Vai passar?

— Claro que vai, você já tomou o remédio, logo vai estar curada. – ela assentiu, aumentei a temperatura do aquecedor, pra que ficasse ainda mais quente, mas notei que o cabelo molhado que ela tinha era o que estava causando aquela crise de espirros.

— Droga. – falei pra mim mesmo. Sara não ouviu, apenas continuou respirando de forma pesada, coçando o nariz. Gritei por Rosa, que achando que tinha acontecido alguma coisa realmente série, chegou numa velocidade desconhecida.

— O que foi, menino?

— Você não tem um secador de cabelos por ai? – ao olhar para Sara, ela entendeu o porque de minha pergunta.

— Não tenho, mas sei de alguém que pode te ajudar.

— Quem?

— A menina Bella, tenho certeza que ela não se recusaria a te ajudar.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Vocês não tem ideia de como foi difícil editar esse capitulo. Espero mesmo que tenham gostado, até o próximo ;)

Obs: fiz algumas modificações, como nomes e idades, nada relevante;