San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 38
Museu + Ele disse Mogi?




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Esperei ansiosa pelo passeio.

Nos treinos, pegamos pesado nas técnicas de cada jogador. Fizemos várias sessões de levantamento, recepção, defesa, etc. Eu e Júlio sempre ficávamos mortos e mal queríamos nos mover o resto do dia.

Na quarta, prof. Beatriz avisou para os alunos que queriam ir que os pais tinham autorizado.

Não sei como fizeram com os meus, mas o importante é que eu vou.

Alguém perguntou se poderíamos ir com roupas normais, mas ela disse que tínhamos de ir com o uniforme.

Partiríamos depois do café.

***

Acordei já bem disposta e pulei da cama. Me troquei e fui para o quarto da Lili para pegar uma bolsa emprestada.

Ela estava calçando os sapatos quando entrei, mas...

— Lili, por que você está com o uniforme de verão?

Ela me olhou, dando um nó no cadarço. — Por que vai fazer calor mais tarde. Eu vi na previsão. E vamos pro centro, lá é mais quente. Não tem árvores igual aqui para refrescar.

— Hmm...

Corri de volta para meu quarto. Troquei as meias grandes por soquetes, e a camisa de manga comprida por uma de manga curta. Calcei os sapatos e voltei ao quarto de Lili.

— Agora sim. — Ela me olhou.

— Me empresta uma bolsa?

— Pega aí.

Fui até seu guarda roupa e peguei a mesma bolsa que tinha usado quando saí com Yan e os meninos.

Voltei, coloquei meu documento e a carteira na bolsa.

Estou ansiosa. Ansiosa pra conhecer mais a cidade, para ir em um lugar diferente, para estar com Yan...

Quer dizer, se der. Não sei com quem ele vai estar.

Passei creme das mãos, um pouco de perfume e depois descemos.

— Você é besta. — Lili disse a Júlio, na mesa do refeitório. — Vai ficar pra aula.

— Eu já falei isso. — James riu.

— Eu já fui nesse museu, não vou perder nada. — Deu de ombros.

— Chato. — Lili disse baixo.

— Eu ouvi.

— Que bom que ouviu.

Quando terminamos, a maioria dos alunos foram para a sala quando o sinal tocou. Enquanto a renca saia de lá, olhava ao redor discretamente, para ver se Yan estaria sentado.

Reconheci a maioria dos rostos que ficaram do teatro. E, finalmente, vi quem eu queria ver.

Yan estava sentado junto com uma menina e um menino — pareciam um casal pelo jeito que estavam grudados.

— Vocês trouxeram dinheiro? — James me tirou de meus pensamentos.

— Sim — respondemos juntas. — Mas acho que vão dar lanche, não vão? — Lili continuou.

— Provavelmente.

As professoras Beatriz e Aline apareceram.

— Vamos chamar os nomes de quem vai para o passeio. Conforme os chamar, vão indo para a frente da escola com a Beatriz. — Aline falou, olhando em uma prancheta. Beatriz saiu de vista. — Ana Clara... — Aline chamou e uma garota levantou, seguindo Beatriz pra fora. — Bruno... — chamaram mais alguns nomes e vi o casal amigos de Yan levantar. — Bruna...

Droga, vou ter que ir sozinha.

Levantei e sai do refeitório. Vi o casal um pouco mais a frente, e os segui.

O grupo estava parado no jardim de entrada, na frente do primeiro prédio, junto com a Beatriz, que estava concentrada em outra prancheta.

Vieram mais algumas pessoas e James e Lili vieram. Mais algumas e por último, veio Yan e a professora.

Beatriz nos guiou até o ônibus de viagem que estava estacionado na rua.

A fila se desfez completamente. Todos — quase todos — queriam entrar ao mesmo tempo. James e Lili foram na frente.

— Que desespero, né? — Yan riu atrás de mim.

Olhei para trás — É...pra que isso.

— Deve ser pra pegar os lugares do fundo... — Ele olhou minha camisa. — Você não trouxe um agasalho? Não vai ficar com frio?

— Não. Lili disse que iria esquentar, e que no centro é mais quente. Acreditei nela, já que ela mora aqui.

— Ahn...

Nesse momento, subimos no ônibus. Procurei pelos dois, e vi Lili acenando. Quando me aproximei, vi que James estava sentado atrás dela.

— Ué? — Olhei para os dois.

— Jogamos par ou ímpar e eu ganhei. — Lili sorriu. — Você fica comigo.

Olhei para James, que sorriu e levantou os ombros como se dissesse “ela ganhou, fazer o quê”.

Entrei no espaço da poltrona, e vi Yan passando por nós. Aí notei que seus amigos estavam sentados atrás de James.

Yan olhou para frente, mas não havia mais lugares vagos, a não ser aquele do lado de James.

— Vou ficar aqui, tudo bem? — Yan perguntou a James.

— Claro, senta aí.

Ai meu Deus.

Yan falou algo com seus amigos e sentou. James me olhou, sorrindo, com as sobrancelhas levantadas, como se mostrasse com orgulho algo que fez.

O olhei, meio sem reação, mas talvez eu só parecesse espantada. Vi Yan olhando de James para mim, tentando entender algo.

Quando senti as bochechas esquentando, escorreguei para baixo e me sentei.

Ouvi James rindo. Lili riu e sentou também.

Não me diga que ele planejou isso...

As duas professoras subiram. Beatriz sentou, e Aline ficou de pé no começo do corredor.

— Gente, lá no museu é bem grande, então vocês vão poder se separar. Vamos marcar um ponto de encontro para ir embora, certo?

— Sim! — Todos disseram.

— Ótimo. — Ela falou algo com o motorista e voltou. — Vamos distribuir os lanches, então.

O motor do ônibus foi ligado, e logo começou a andar. Todos falavam, animados.

As duas foram distribuindo uma sacola pequena de pano bege. Aline nos deu duas sacolas.

Eu e Lili a abrimos ao mesmo tempo.

Havia um lanche natural — tinha uma etiqueta dizendo que era de patê de presunto, queijo branco, tomate e alface — Uma maçã, uma mini garrafa de suco, uma caixinha de achocolatado e duas barrinhas de cereal.

— Se Júlio estivesse aqui ia reclamar que tem pouca coisa. — James falou acima de nossas cabeças.

— Com certeza. — Lili riu, olhando para cima.

James voltou a se sentar. Ficamos de joelho na poltrona, viradas para trás.

Yan estava do mesmo jeito que nós, conversando com o casal. De vez em quando ele sentava e participava da nossa conversa.

Vinte minutos depois chegamos. Descemos em frente ao museu e entramos.

As professoras deram a última palavra e disseram que éramos para nos encontrar nesse mesmo lugar, as quatro horas. Mas se todos quisessem ir embora mais cedo, era só procurar por elas.

Pelo que olhei no índice no saguão de entrada, haviam bastante exposições.

Vi Yan se afastando com seus amigos. Já vi que não vamos passar muito tempo juntos hoje...

Lili e James como bons “cdfs” decidiram ir primeiro para a exposição da língua portuguesa.

Vimos sessões de costumes do Brasil — que muitas vezes cada estado tem suas diferenças — Diferença de linguagem, trajes indígenas, e etc. Depois, vimos obras de arte de artistas brasileiros e várias outras coisas.

Perto do horário do almoço, fomos para a exposição de literatura. Passamos em frente a uma estrutura no meio do salão. Ela era um pouco curva, mas dava para ver que era escuro lá dentro.

Me aproximei da entrada. Eu não via tudo, mas parecia ser um corredor bem extenso. Haviam algumas pessoas olhando para a parede que eu não conseguia ver. Mas as pessoas estavam levemente iluminadas.

Dei um passo para dentro, e vi Yan encostado na parede de trás, olhando para frente. Dei mais alguns passos e vi que a parede que todos olhavam servia de tela para cenas que se passavam ao longo do corredor. As filmagens ficavam um pouco distante umas das outras, e passavam coisas diferentes em cada uma delas.

Algumas pessoas viam os filmes mais de perto, e outras — como Yan — viam de longe.

Ele estava a três filmagens de distância.

Andei devagar olhando cada filme.

Apesar de ter somente a luz dos filmes, o corredor não ficava totalmente escuro. No chão havia uma trilha de luzes vermelhas pequenas, como se fosse o rodapé das paredes. Era bem sutil.

Meu coração acelerava conforme chegava perto dele.

Encostei na parede para ele não me ver e fiquei perto. Olhei para a projeção a nossa frente. Era preto e branco e sem som.

Assisti por um tempo, mas não conseguia entender exatamente do que se tratava.

Yan estava concentrado e sorria de vez em quando.

Quando voltei a olhar para frente, a luz do filme se apagou.

— Bruna? — Senti Yan encostando em meu braço de leve.

O filme recomeçou, e nos “encontramos”.

— Não tinha te visto, desculpe.

— Tudo bem, acabei de chegar. Você estava tão concentrado que não queria te atrapalhar.

— Ah... Você quer assistir? — Apontou para o filme.

— Não, eu só... Estava vendo um pouco de cada quando te vi aí.

Andamos para o próximo filme.

— Onde estão Lili e James?

Epa.

Olhei para trás, mas eles não tinham entrado comigo. — Acho que eles não viram que eu entrei aqui.

Ele riu. — Aconteceu a mesma coisa comigo.

Nesse filme havia som, bem baixo, e também era preto e branco.

Ficamos lado a lado, encostados na parede.

Era engraçado, estranho e várias outras coisas estar com ele em um ambiente escuro. Eu não sabia se tentava ouvir o som baixo do filme ou tentava prestar atenção em algum movimento dele.

— Vamos sair? — Yan sussurrou.

— Por quê?

Ele afrouxou o nó da gravata. — Está meio abafado aqui...

O segui para a saída. Quando saímos para a luz, parecia que eu tinha acabado de acordar.

— Você está bem? — O olhei.

— Estou. — Respirou fundo e sorriu, como se desculpasse. — Desculpa, eu só precisava de um ar frio. Podemos voltar se quiser...

— Não. — O cortei. — Não precisa. Tem certeza que está bem? Não quer se sentar?

— Estou bem, relaxa. — Colocou a mão no topo da minha cabeça. — Vamos procurar seus amigos, ou eles vão achar que você se perdeu. — Começou a andar.

— Não sou criança para me perder — brinquei, o seguindo.

— Mas não precisa ser uma para se perder. — Riu.

Andamos, procurando por James e Lili, mas nem sinal deles. Enquanto procurávamos, olhávamos algumas exposições de autores internacionais.

— Yan, olha. — Apontei para a mesa com tampo de vidro que eu estava olhando.

Era o autor do “nosso” livro — que eu ainda não li. Havia uma foto do escritor, sua história e uma linha do tempo com suas obras e algumas informações e curiosidades sobre elas.

Sobre o autor, o que chamou minha atenção foi que ele havia se casado com uma amiga de escola, anos depois que se formaram.

Olhei a linha do tempo. Todas as obras dele fizeram sucesso, mas o Jardim de Rosas Mortas foi o mais vendido. Na curiosidade, dizia que a história foi inspirada em sua esposa, no caso, o romance dos dois, mas as partes trágicas eram fictícias.

A última obra dele tinha sido lançada a pouco tempo.

— Ainda não consegui ler o último livro — comentou apontando para a imagem do livro. — Não consegui comprar. Sempre acaba rápido.

Olhei o nome do livro. “Além das Fronteiras”. Preciso gravar esse nome. Se eu achar, vou comprar.

Meu estômago roncou alto. Fiz uma careta e Yan me olhou rindo.

— F-foi meu estômago, juro.

— Eu também estou com fome. Tem uma praça de alimentação pra lá. Vamos.

Yan guiou o caminho. Voltamos ao hall de entrada e viramos a nossa esquerda. Depois do arco, era a praça, que parecia aquelas de shoppings, mas haviam poucas lanchonetes e somente dois restaurantes.

Sentamos em uma mesa para quatro pessoas perto da entrada. Fiquei de costas para ela.

Já tirei o sanduiche da sacola, abri a embalagem e mordi. Yan começou pela maçã.

— Você já tinha vindo aqui? — perguntei a ele.

— Sim, umas três vezes, eu acho. Você já?

— Não. Não conheço nada daqui.

— Ah, é, você mora longe.

— Mas você disse que também mora longe. Como conhece tanto daqui?

— Meu pai morou aqui um tempo. Acho que uns dois anos. Um ano desses eu morei com ele. — Ele viu minha cara e riu, como se adivinhasse o que eu estava pensando. — Sim, meus pais são separados.

Eita. — Faz tempo que eles se separaram? — Acabei o sanduiche e ainda sentia fome.

— Hmm... Uns três anos, acho. Nessa mesma época eles decidiram que eu estudaria aqui.

— Mas seu pai não mora mais aqui, né?

— Não. — Pegou o sanduiche na sacola e me ofereceu. — Você quer?

— Você não vai comer? — Ele balançou a cabeça. — Mas vai ficar com fome.

— Prefiro comprar alguma coisa. Pode pegar.

Peguei o lanche. — Obrigada.

— Meu pai voltou para Mogi, mas bem longe da minha mãe. — Riu, como se lembrasse de uma piada interna. — Quer algo? — Levantou. — Vou comprar alguma coisa.

Pera, ele disse Mogi? — Não, obrigada.

— Já venho, então.

Ele foi em direção a uma lanchonete. Fiquei o olhando. Ele disse Mogi... Então ele pode ser meu vizinho e eu não sei!

Preciso perguntar onde exatamente ele mora...

Senti duas mãos quentes cobrindo meus olhos. Essas mãozinhas só podem ser... — Lili! — Me virei.

— Menina, onde você se enfiou? Será que vamos ter que te colocar numa coleira?

James riu, ao lado dela. — Já íamos te chamar pelos alto-falantes.

— Eu achei que vocês estavam me seguindo! Entrei naquele corredor de filmes e me distrai. Ai que eu vi que vocês tinham sumido.

— Bom, você sumiu, não a gente. — James disse.

— A última vez que te vi foi antes do James me chamar pra olhar um painel. Depois você desapareceu.

— Desculpa.

— O que importa é que te achamos antes da Lili querer chamar os seguranças.

— Com quem você está? — Lili olhou para a mesa e a sacola em frente à minha, mas me olhou como se já soubesse a resposta.

— Encontrei Yan. Ele também tinha se perdido dos amigos dele.

Lili deu um sorrisinho malicioso.

— E cadê ele? — James perguntou.

— Ali. — Apontei para onde ele estava.

— Ele não gostou do lanche? — Lili o olhou.

— Sei lá.

— Vou comprar alguma coisa também. — James falou deixando sua sacola na mesa. — Querem algo?

— Eu vou junto. — Lili disse também pondo a sacola na mesa. — Ele comeu quase tudo da sacola — disse com a mão na frente da boca.

— Que eu saiba é pra isso que ganhamos o lanche. — Ele a puxou pelo braço.

Enquanto eles iam para lá, abri o outro sanduiche e comecei a comer. Quando chegaram lá, falaram com Yan. Ele sorriu e conversou com eles. Quando terminei de comer, Yan pegou o pedido e voltou para a mesa.

— Eu disse que eles acharam que você tinha se perdido. — Colocou a bandeja na mesa e sentou.

— Ah... — Dei de ombros. — Já nos achamos. — Sorri.

Na bandeja, haviam duas cestinhas que pareciam de madeira trançada. Na maior, tinham dois pães redondos, e na menor, alguns pãezinhos pequenos amarelados.

Yan pegou a cesta menor e a colocou na minha frente. O olhei, sem entender.

— Peguei pra você. — Pegou um dos pães maior e o rasgou no meio.

— Yan...

— Eu sei que você gosta. Se você não comer vou ficar chateado — disse sério, mas não conseguiu segurar o riso.

Mordi o lábio, desviando o olhar de sua covinha. Sorri sentindo as bochechas corando e peguei um pãozinho de queijo.

Coloquei um na boca. Estavam quentes e maravilhosos. — Obrigada.

Antes que eu pensasse no que dizer sobre o assunto anterior, Lili e James voltaram e sentaram do nosso lado.

Agora não vejo a hora de ficar sozinha com ele para conversarmos.

— Eu só espero que não queiram passar algo sobre isso. — James falou.

— Isso o quê? — perguntei.

— Eu acho que uma das duas vão querer passar alguma atividade sobre a visita. — Lili disse. — Sobre o que vimos aqui, ou mesmo sobre o autor do livro da peça de vocês.

— Se passar, vamos saber o que fazer, pelo menos. — James disse comendo seu sanduiche.

— Preciso ir ver o autor. — Yan falou abrindo a garrafinha de suco. — Ainda não sei onde está.

— Eu também não. — Comi outro pãozinho. Ofereci para os três, mas Yan não quis.

— Verdade, quando vimos você já tinha sumido. — Lili falou.

— A gente volta lá. — James abriu seu suco.


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