San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 32
Prima Vaca + Bad




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Depois de um tempo, Lili me puxou para pegar algo para beber. Olhamos nos copos dispostos na mesa, mas não havia nenhum com água.

— Vamos lá na cozinha, então. — Me puxou para a casa.

Só a luz da varanda estava acesa. Estava tudo escuro no interior da casa. Das portas duplas da varanda, só uma estava aberta, deixando um pouco de luz entrar, iluminando levemente o trajeto até a entrada da cozinha.

Fomos até lá. A cozinha estava escura, mas vinha um pouco de luz pela janela.

— Onde está a luz? — Tentei enxergar alguma coisa.

— Não precisa de luz. Eu sei onde estão as coisas.

Vi a sombra de Lili se movendo, abrindo e fechando uma porta de armário e abrindo a porta da geladeira. A luz foi breve, e vi que ela pegou uma garrafa de água.

Ela se encostou no balcão — enchendo o copo —, e eu fiz o mesmo, do outro lado.

— Você chegou a ver eu e o Júlio? — perguntou, pausando o gole d’água. Sua voz estava baixa.

— Vi sim. Vocês estavam bem fofos. Até achei que vocês iam se beijar ali.

— Eu estava achando também. Mas a música acabou cedo. Acho que se tivesse durado mais um minuto ele tinha me beijado... — Terminou de beber. — Vai querer?

— Quero. — Dei a volta no balcão, enquanto ela enchia o copo de novo. O peguei da mão dela e dei dois goles longos.

— Onde você vai? — Ouvimos uma voz baixa, na sala.

— Você vai ver — respondeu uma voz feminina.

Congelamos ao ouvir aquela voz. Vimos duas pessoas passando na frente do arco, indo para a outra sala.

Nos olhamos ao mesmo tempo, com os olhos meio arregalados.

Senhor, o que ele vai aprontar?

Ficamos em silêncio, tentando ouvir o que eles cochichavam. Lili saiu do lugar, indo até a porta. Olhou, e depois saiu. A segui.

Ela havia encostado no móvel da sala de jantar. Me juntei a ela. Ouvimos Júlio e uma garota conversando bem baixo.

— O que você está planejando? — Júlio perguntou, parecendo achar de graça da situação.

— Planejando? — Ela disse. — Não, estou mais agindo rápido. — Sua voz estava meio melosa, talvez querendo seduzi-lo.

Parece que ela não sabe como fazer isso.

— E por quê? — Ele perguntou.

— Ah, faz tanto tempo desde a última vez que você veio aqui. Nem deu pra ficarmos sozinhos... — Ouve um breve silêncio. — Eu venho aqui sempre que posso, na esperança de que você esteja aqui.

— Não tem tido tanta sorte, então. — Sua voz ficou meio vazia, como se não estivesse prestando atenção.

— Não... Mas acho que acabou de mudar.

As sobrancelhas de Lili estavam juntas, e pelo leve brilho da luz, deu pra ver que seus olhos estavam molhados.

Ouve mais um breve silêncio, e eu comecei a puxá-la dali, mas ouve mais um sussurro. Júlio disse algo muito baixo, que foi impossível de entender.

Poucos segundos depois, ouvimos uma porta sendo aberta e fechando rapidamente.

Senti Lili tendo um soluço mudo, e então ela me puxou, voltando a cozinha. Andou rápido até o outro lado do cômodo e abriu uma porta na parede lateral direita.

Quando entramos, não identifiquei o lugar, mas estava mais fresco. Próximo a porta, era coberto, mas se déssemos quatro passos à frente estaríamos sem teto.

Quando meus olhos se acostumaram, percebi que era uma lavanderia. Estreita, mas longa.

Lili deu alguns passos à frente, e sentou em um degrau. Me sentei do seu lado, e ela se encostou em mim. Passei um braço por sua cintura, e ela fez o mesmo comigo, encostando a cabeça em meu peito, próximo ao pescoço.

E começou a chorar baixinho durante um tempo.

Me cortava o coração vê-la daquele jeito, mas eu não sabia o que dizer. Então apenas a abracei mais forte.

Olhando para a esquerda, através do corredor, dava para ver um portão baixo — onde a parede acabava — e mais para a frente estava a área da churrasqueira, onde haviam pessoas comendo e rindo, e balançando conforme a música.

Ouvimos barulhos na cozinha, e a luz foi acesa.

Lili se encolheu e ficou quieta.

Ouve conversas, que logo sumiram, apagando a luz.

Lili suspirou, se endireitando e passou as mãos no rosto. — Temos que voltar, ou James vai achar ruim — cochichou com a voz meio anasalada.

— Lili, olha como você está...

— Não, eu sei. Vamos no banheiro primeiro. — Levantou.

Entramos e atravessamos a cozinha. Andamos pela sala e fomos até a porta próxima as escadas.

Lili se certificou de que o banheiro estava vazio, e entramos. Ao acender a luz, vi que seus olhos estavam borrados e pretos. O rímel tinha escorrido, fazendo vários riscos escuros em suas bochechas. E claro, seus olhos estavam vermelhos.

Ela abaixou na pia, abrindo a torneira e lavou o rosto. Tirou todos os vestígios de maquiagem, com a ajuda do sabonete líquido, e se secou.

— Você está bem? — Era uma pergunta idiota, mas o que mais eu ia perguntar?

— Não, mas... — Ajeitou o cabelo. — Não tem muito o que fazer. Vamos voltar.

— Mas... Tem certeza? Como você vai...?

— Ignorando, Bru, como sempre. — Deu um meio sorriso. — Desculpe por aquilo.

— Não precisa se desculpar. Esse é o meu dever, não é? Te ajudar... Ou tentar, pelo menos.

Ela deu uma risadinha. — Sim, obrigada. — Me puxou para um abraço.

A apertei, e depois deixamos o banheiro. Voltamos para fora e fomos direto as comidas.

— Onde vocês estavam? — Ouvimos James perguntar atrás de nós.

— No banheiro. — Lili disse, pegando alguns amendoins.

James a olhou, provavelmente desconfiado. — Foi tirar a maquiagem?

Ela o olhou e riu. — Eu fico tão diferente assim?

— Um pouco. — Deu um sorriso tímido. — Mas só vejo diferença porque te conheço bem. E você sabe que prefiro assim. — Deu de ombros.

— Eu sei. — Sorriu.

— Mas por que tirou?

— Você sabe que eu não tenho o costume de usar. Estava me incomodando.

— Hmm... Tá bom, então. — Pegou um mini hambúrguer da mesa. — Vamos dançar mais. Já estão cansadas?

— Não. — Eu disse.

— Sim. — Lili falou ao mesmo tempo que eu.

— Geralmente você tem mais energia que eu. — James tirou sarro.

— É que eu acordei cedo. Até deixei ela dormir até mais tarde. — Apontou pra mim.

— Então vamos gastar sua energia. — Ele pegou minha mão.

Dei uma última olhada em Lili enquanto James me puxava para o gramado. Fiz alguns sinais e ela retribuiu com um “joia” e um sorriso.

Enquanto voltávamos a pista de dança, vi Júlio sentado sozinho em nossa mesa.

Ué, onde está a garota de pouco tempo atrás?

Paramos um de frente pro outro, e James me girou, começando a dançar.

Ele chegou perto de repente. — Está tudo bem? — falou no meu ouvido.

Ainda bem que fiquei parada. — Sim, por quê? — Não está exatamente bem, mas eu não deveria falar como Lili estava se sentindo.

— Sei lá. Achei o clima meio estranho.

— Está tudo bem sim. — Tentei ser convincente. Começou uma música lenta. — E como está sendo seu aniversário?

Como ele já estava segurando minhas mãos, apenas as puxou pra cima, de modo que eu abraçasse seu pescoço.

Ele abraçou minha cintura, ainda mantendo certa distância. — Está sendo melhor do que achei que seria.

— Achou que seria ruim? — Sorri.

— Não exatamente. — Riu. — Vendo minha mãe comprar e arrumar as coisas dava um certo desespero. Não sabia se ela ia exagerar. Mas eu sabia que em todo caso, não seria a pior coisa do mundo, porque vocês estariam aqui pra me animar. Ou no pior dos casos para fugir.

Dei risada. — Que exagero!

— Eu sei, é brincadeira.

— Ganhou muitos presentes?

— Hmm... — Tentou lembrar. — Acho que sim.

— Qual foi o melhor? O mais legal?

— Depende. Ganhei algumas roupas, um tênis, jogos, o CD de vocês, e vocês.

— A gente? Como assim?

— Vocês terem vindo foi o melhor presente. Que tipo de festa seria se meus melhores amigos não estivessem aqui?

— Ownnn! — Apertei suas bochechas. — E que tipo de amigos seriamos se não tivéssemos vindo, né?

James sorriu. — É. Tipo isso. — E me abraçou.

Fiquei na ponta dos pés para tentar apertá-lo mais, mas não tive muita força. Já ele me apertou e me levantou.

— AAH! — Dei um gritinho.

Senti todos olharem, ao mesmo tempo que James me soltou.

— Shiu! — Colocou a mão em minha boca. — Vão achar que estou tentando te matar assim. — Deu risada.

— Desculpe. Estou bem — expliquei baixo, olhando ao redor.

— Muita gente vai te ouvir assim.

— Eu sei.

Outra música começou. Não era agitada, mas também não era lenta. Então continuamos do mesmo jeito.

Nos olhamos. James cantava a música bem baixo, fazendo algumas caras e bocas. E eu apenas ria.

Em um momento, ele olhou para o lado e virou o rosto pra mim, parecendo envergonhado.

— O que foi?

— Não olha.

A curiosidade falou mais alto, e olhei para onde ele havia olhado, e me arrependi muito. Virei a cara na mesma hora, sentindo até minhas orelhas esquentarem.

Todas as pessoas que estavam sentadas — metade de todo mundo que estava na festa — estavam olhando para nós dois.

— Eu avisei. — James riu, balançando a cabeça. — Minha família não sabe ser discreta, desculpe.

— Não, tudo bem. Minha família também não é lá discreta.

 — Eles só estão curiosos. Ou surpresos.

— Por quê?

— Porque você é a segunda garota que eu trago aqui. A primeira foi a Lili, que eu já deixei claro que era minha amiga... Eles devem achar que sou gay.

— Que besteira. Só por que você nunca trouxe uma namorada?

— Pois é. Pelo jeito que eles estão olhando devem achar que você é a primeira. — Revirou os olhos.

Dei um riso meio nervoso. — Só porque estamos dançando.

— É... V-você quer parar? Porque se quiser po...

— Não, James. Eu não ligo. Não estamos nos divertindo?

— Claro que estamos.

— Então é isso o que importa, não é?

Ele sorriu, parecendo estar corado. — É, você está certa. Vamos ignorar esses mal-educados.

— Vamos tentar. — Ri.

Uma música agitada começou, e nos separamos, dançando.

Pelo que consegui ver, Júlio continuou sozinho até James resolver dar uma pausa e ficar um pouco com ele. Mas nem vi sinal de Lili.

Olhei onde ficavam as comidas, mas não estava ali. E, apesar do receio de olhar as mesas — e ter pessoas me olhando ainda — olhei mesmo assim. E a encontrei sentada em uma mesa, junto com Lucas e a avó dele.

Fui até lá e me sentei na cadeira vazia ao lado dela. Eles estavam jogando uno.

— Quer jogar? — A senhora perguntou.

— Claro, mas espero a rodada acabar.

Pouco tempo, Lucas ganhou a rodada, e sua avó juntou as cartas e as embaralhou.

— Qual o nome dela mesmo? — Sussurrei no ouvido de Lili.

— Carmen — murmurou, dando uma risadinha.

Carmen terminou e distribuiu as cartas. Lucas começou o jogo.

— Como assim vocês preferem jogar uno do que aproveitar a festa? — Senti James se apoiando no encosto de minha cadeira.

— Ora, James, você sabe que não tenho mais idade para balançar os ossos.

— Que besteira, vó. Eu já vi você balançando esses ossos várias vezes.

Ela riu e balançou a cabeça, como se dissesse que era mentira.

Na quarta rodada, James ainda assistia-nos jogar. Até me ajudou quando não havia visto a única carta azul que eu tinha, e impediu que eu comprasse outra carta.

E acho que a família dele realmente não sabe ser discreta. Carmen não parava de nos olhar. Mas que era engraçado, era.

***

Carmen ganhou a rodada. James se juntou ao grupo e ganhou a terceira, e Lili a quarta.

Lucia chamou a atenção de todos quando estava puxando uma mesa até o centro da área livre, enquanto Marcus trazia um bolo grande, já com as velas.

Os dois fizeram James ir para trás da mesa. Apagaram as luzinhas e acenderam as velas, e começaram a puxar os parabéns.

Cantamos, batendo palmas, enquanto James passava vergonha. Ele enrolou pra assoprar as velas, então começaram a cantar “com quem será”. Rapidinho ele as assoprou e perguntou quem queria o primeiro pedaço.

Talvez eu soubesse quem seria o alvo da musiquinha sem graça.

Lucia cortou o bolo, James deu o primeiro pedaço a ela e o segundo ao seu pai. Distribuíram os pedaços, e aos poucos, as pessoas foram indo embora.

Só ficaram nós e Carmen. Lili não saiu do lado de Lucas, e eu fiquei com ela enquanto arrumávamos as coisas.

Depois de juntar as comidas e levar para dentro, ficamos na cozinha com Lucia e Lucas, ajudando com as louças.

Júlio ficou ajudando Marcus com os equipamentos de som e luzes, e James tinha subido com sua vó.

— Obrigada garotas. — Lucia disse após acabarmos tudo. — Vocês vão passar a noite aqui, né?

— Vamos. — Lili disse.

— Que bom, então! Obrigada de novo, podem subir.

— Por nada — dissemos.

Subimos, e antes que entrássemos no quarto de James, paramos porque ouvimos a voz da sua vó.

— Eles estão conversando, vamos esperar eles acabarem — falei baixo, já puxando ela de volta.

— Espera. — Lili me segurou, parando na parede próximo a porta.

— Ah, James... — Sua vó disse, compreensiva. — Pode me falar. Está com vergonha?


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