San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1) escrita por Biax


Capítulo 15
Primeiro, o Dever




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698681/chapter/15

Sabe quando você tem algo muito especial para fazer no dia seguinte, e fica com medo de se atrasar mesmo que tenha colocado o relógio para despertar? Era eu mesma, acordando de duas em duas horas durante a noite, percebendo que ainda estava escuro, resmungando, virando para o outro lado da cama e voltando a dormir.

Meu corpo e mente estavam exaustos, e quando o quarto estava começando a clarear, afundei em um sono pesado. Demorei para despertar quando o relógio fez o escândalo dele, e eu só apertei o botão na terceira vez em que ele tocou, ou seja, dez minutos depois.

Pulei da cama, jogando as cobertas para o lado e corri para o banheiro. Escovei os dentes enquanto usava o vaso sanitário, depois lavei o rosto muito bem, tirando todas as melecas, arrumei meu cabelo com os dedos, tentando desfazer os nós e desistindo quando reparei que vinte minutos tinham se passado.

Troquei de roupa umas quatro vezes, ficando indecisa entre usar calça jeans com camiseta, saia e uma blusinha, ou uma mistura dos dois que funcionasse. Infelizmente eu não tinha estilo nenhum, meu guarda-roupa tinha roupas de várias cores e formas — ele era quase o mesmo desde que eu tinha doze anos —, mas como eu sabia que usaria uniforme na maior parte do tempo, não me preocupei em trazer muitas peças diferentonas ou chiques.

Com o tempo acabando, resolvi vestir uma bermuda preta com cara social, uma camiseta branca larguinha e meu par tênis mais ou menos novo.

E o cabelo, como ficaria? Preso, solto...

Olhei o relógio que marcava dez para as dez.

Correeee! Ai meu Deus, ai meu Deus!

Deixei o cabelo solto e prendi a mecha do lado esquerdo com uma presilha. Passei um pouco de rímel nos cílios e espirrei perfume tanto na cabeça quanto no corpo.

Será que se eu levar a mochila algum funcionário vai estranhar? Mas eu não tenho outra mochila, mas acho que é exagero, de qualquer forma. Bem que eu podia ter pensado em trazer uma bolsinha de ombro...

Lembrei que estava com a chave do quarto da Lili, que tinha deixado comigo antes de ir embora. Talvez ela não se importasse se eu pegasse emprestado uma bolsa, era bem provável que ela tivesse algumas.

Peguei a chave e corri para o corredor. Assim que abri a porta me deparei com uma bagunça que era a cara da Lili. Cama desarrumada, algumas roupas penduradas no encosto da cadeira, cremes hidratantes, perfumes em cima da escrivaninha, fora os cadernos e materiais da aula lá também.

Passou um furacão aqui? Que agonia. Eu até daria uma organizada, mas não posso, tô atrasada! Vai, Bruna, sem distração.

Abri as portas do guarda-roupa, vendo duas opções de bolsas. Peguei a menor e voltei correndo depois de trancar o quarto dela. Arranquei três folhas de um dos cadernos e coloquei dentro da bolsa junto com uma caneta.

Pendurei a bolsa atravessada no corpo, respirei fundo e saí do quarto.

Tenta não ficar afobada, deixa essa agitação aí dentro. Eu sei, não adianta nada. Inspira, respira.

Desci devagar, tomando cuidado para não pisar em falso e rolar escada abaixo. Cheguei na entrada e parei, olhando para a porta de vidro e enxergando um borrão, alguém do lado de fora.

Espero não ter um ataque...

Abri a porta e Yan se virou para mim com um sorriso divertido nos lábios.

— Bom dia.

Senti minhas bochechas começando a queimar. — Bom dia...

— Bom diiiaaa! — cantarolou alguém diferente. Virei, vendo Gabriel encostado na parede. — Você se importa se eu for junto com vocês?

Uma pequena, bem pequena, parte de mim ficou triste, tipo um por cento de mim. O resto ficou feliz e tranquila por saber que eu não passaria tanta vergonha e que teria mais alguém para ajudar nas conversas.

— Claro que não, vai ser legal — assegurei, mais confiante.

Gabriel é engraçado e fala bastante, vai me ajudar a não ficar tão nervosa. Ótimo!

— Vamos? — perguntou Yan.

— Vamos comer primeiro? — perguntei, seguindo os dois.

— Pensei em ir num lugar pra tomar café, a menos que você prefira comer aqui. — Me olhou, dando a opção de escolher.

— Não, eu só perguntei. Podemos seguir seu plano — respondi, desviando o olhar.

 — Você trouxe papel e caneta? — indagou cochichando, se inclinando para mim.

Afirmei, dando risada, e ele balançou a cabeça, arrumando a postura.

Gabriel falou alguma coisa com Yan, e eu aproveitei para dar uma espiada em como ele estava vestido. Calça jeans azul escuro, uma blusa de flanela xadrez, vermelho com preto, e uma camiseta branca por baixo. Seu cabelo cacheado estava bagunçado, como sempre. Me fazia querer passar a mão só para confirmar se era realmente macio como parecia ser.

Voltei ao ritmo deles antes que percebessem alguma coisa.

Passamos pelo refeitório, secretaria, onde assinamos uma lista confirmando que íamos sair, e estávamos fora. Era a primeira vez que eu saia da escola desde que cheguei.

— Vamos pegar um ônibus para o centro — Yan avisou.

— Tá bom... É longe?

— Não, acho que dá uns quinze minutos daqui, ou menos até.

Andamos mais uma quadra e chegamos ao ponto vazio. Sentamos no banquinho e esperamos. Mal tinha carros passando na rua. Pelo jeito as pessoas demoravam para sair de suas camas no sábado.

— Yan — exclamou Gabriel, de repente —, vamos no Playland? Por favooorr!

— Mas a gente foi semana passada...

— Ah, vamos de novo! — E ele me olhou, lançando suas últimas esperanças em mim. — Vamos, Bru?

— O que é Playland? — perguntei, sem entender o que exatamente era aquilo.

Eles me olharam espantados.

— Nunca foi num Playland? — Gabriel perguntou, chocado, como se eu estivesse perdendo a melhor coisa do universo.

— Não.

— Mais um motivo pra gente ir hoje, Yan!

Yan me olhou, erguendo uma sobrancelha. — Você quer ir?

Gabriel estava fazendo sinal de positivo atrás de Yan com um sorrisão na cara, me incentivando. Segurei o riso.

— Tá, eu quero.

— YES! — Gabriel levantou os braços, comemorando, todo feliz.

Yan riu e revirou os olhos. — Mas vamos só mais tarde.

— Tudo bem. Indo é o que importa.

O ônibus chegou e Yan deu sinal. Conseguimos nos sentar no banco do fundo, e em dez minutos chegamos no centro da cidade. As ruas estavam pouco cheias, e as pessoas que circulavam por lá estavam com sacolas, fazendo compras.

— Vamos comer? — Yan perguntou, andando na frente.

— Sim — Eu e Gabriel respondemos ao mesmo tempo. Meu estômago estava nas costas de tanta fome.

Andamos um pouco e seguimos Yan para uma cafeteria de fachada azul. Não consegui ver o nome, mas era uma cafeteria e livraria. Toda a parte da frente do lugar era a cafeteria, onde haviam mesas em frente às janelas, com bancos estofados. Cada mesa ficava bem reservada, pois para conseguir enxergar a mesa de trás ou a da frente, era necessário ficar de pé.

A loja era dividida pelo desenho do piso. A cafeteria tinha um piso cerâmico, claro, e da livraria era de madeira escura. Todo o ambiente tinha um ar retrô e moderno ao mesmo tempo, e era bem aconchegante com a iluminação, as mesas, os pufes entre as estantes de livros... Era bem bonito.

Fomos para a última mesa, já que as cinco primeiras estavam ocupadas. Yan e Gabriel sentaram no banco da parede, e eu no outro, ficando de frente para eles.

— Quase adivinhei que você ia querer vir pra cá. — Gabriel riu, já pegando o cardápio.

— Não é difícil saber isso — disse ele, pegando dois cardápios e me dando um. — Será que você adivinha o que eu vou pedir?

— Não exagera também, né. Não sou sua namorada. — Eles riram.

Olhei as opções, que por sinal não eram tão caras. Ainda bem que lembrei de colocar a carteira na bolsa.

— Já sabe o que vai pedir? — Yan me olhou, deixando seu cardápio na mesa e apoiando os braços em cima dele.

— Não, mas minha vontade é de pedir tudo.

Ele riu. — Somos dois. Tudo daqui é bom demais.

Depois de alguns minutos analisando, ponderando e excluindo mentalmente as opções que eu tinha menos vontade, decidi o que ia pedir.

Um rapaz veio anotar nossos pedidos, e Yan apontou para mim, querendo que eu falasse primeiro. Fofo.

— Eu quero um mocaccino e uma cesta de pão de queijo, por favor.

Os meninos pediram algumas coisas com nomes diferentes, e em menos de cinco minutos, nossa comida chegou. Estava tudo perfeitamente bonito e perfumado, e eu tive certeza que estava incrível quando comecei a comer.

Os pães de queijo estavam quentinhos e macios. O mocaccino estava fumegante, do jeito que eu gostava, e tinha uma combinação maravilhosa de café e chocolate.

— Meu deus, que delícia.

— Eu falei — comentou Yan, bebendo seu suco. — Se pudesse comeria aqui todos os dias.

Enquanto comíamos, posso dizer que Gabriel puxou noventa por cento dos assuntos que falamos, o resto foi Yan. Na verdade, os dois falavam mais entre si, e eu ouvia tudo com atenção. Gostava mais de ouvir a interação animada deles do que comentar.

— Vamos fazer a atividade? — Yan perguntou, comendo o último pedaço do seu lanche.

— Sim. — Eu já tinha terminado um tempinho antes, e procurei as folhas e a caneta na bolsa, as colocando sobre a mesa.

— Eu vou procurar algo pra ler e deixar vocês se concentrarem. — Gabriel levantou e caminhou calmamente para as estantes.

Yan puxou as louças para o lado dele, me deixando confusa, e aí levantou e veio se sentar do meu lado. Eu rapidamente me arrastei mais para a direita para lhe dar espaço, ficando um pouquinho tensa.

— Vamos começar pelo resumo, certo? Mais fácil... — Yan tamborilou os dedos na mesa, como se ajudasse a lembrar de alguma coisa.

— Sim, por favor.

— Bom, vamos ver...

Yan se virou de frente para mim, dobrando a perna direita para não tirar meu espaço, e começou a falar sobre o livro de um jeito animado, sem poupar detalhes. Ele gesticulava, fazia caras e bocas quando contava a reação dos personagens e demonstrava o quanto gostava da trama. Era muito bonitinho ver a empolgação dele.

Resumindo a história em uma frase, segundo dele, era “um romance bonito com final triste”. Depois de contar tudo, Yan começou a pensar alto no resumo, e pediu para eu escrever o que saísse, que depois ele dava uma ajeitada na ordem das coisas.

Fiquei com vergonha pelo garrancho que saiu? Fiquei, mas o que eu podia fazer se minhas mãos gelavam perto dele? Eu só pedi ao universo para que ele conseguisse entender o que estava escrito, de resto eu até conseguia relevar.

Enquanto Yan lia o último trecho que eu escrevi, procurei Gabriel com o olhar, o encontrando em um dos pufes, absorto em algum livro que ele segurava no colo.

— Que foi? — Yan me tirou de meus pensamentos.

O olhei. — Quê?

Ele riu. — Se distraiu com o quê? — Ele virou rapidamente para trás. — Gabriel?

— Ah... — Ele pode acabar pensando coisa errada. — Eu tinha esquecido que ele tava aqui também. Ele parece concentrado no que tá lendo.

— Deve ser algum livro de terror. Ele ama histórias de terror e horror — comentou com humor, voltando para a leitura do meu texto.

Observei Yan, ainda sem acreditar no que estava acontecendo. Não era engraçado como, com algumas pessoas, você se dá bem automaticamente? Mal se conhecem e se sentem bem. Não digo isso por eu ter essa paixonite por ele, mas aconteceu o mesmo com o James. Parece até que é algo predestinado...

Yan virou o rosto para mim, reparando que eu estava encarando. — Que foi?

Olhei para a folha, ficando vermelha. — Nada. Tava esperando você acabar... Agora o artigo de opinião... Isso já é mais difícil, já que eu não li o livro... e seria mais errado ainda você fazer por mim.

— E você acha que consegue ler o livro até o dia da entrega? — perguntou, em tom de desafio.

Fingi uma expressão triste. — Não.

Ele deu risada. — Então acho que você não tem muitas opções.

— Não mesmo... — suspirei.

— Você se preocupa muito — falou, encostando o dedo indicador na minha têmpora rapidamente. — A professora não vai perguntar nada sobre o livro. Não aconteceu comigo, nem vai acontecer com você.

— Tem certeza?

— Tenho, relaxa.

Suspirei de novo, tentando deixar de lado aquela preocupação. — Tá bom, pode falar.

Yan começou a falar sua opinião sobre o livro, que eu achei fantástica, mas não era nada parecido com algo que sairia da minha mente. Ele simplificou um pouco, falamos sobre, e depois passei tudo para o papel com as minhas palavras.

— É... Dá pra enganar muito bem — brincou, terminando de ler. — Ficou ótimo. Agora é só passar a limpo e entregar.

— Valeu... Nem sei como agradecer.

— Imagina. Você não pegou o livro por culpa minha, então o mínimo que eu podia fazer era te ajudar. — Ele se recostou no estofado, me dando um sorrisinho gentil.

— Mesmo assim... Eu queria retribuir a ajuda.

Yan me olhou, parecendo ficar envergonhado, e virou o rosto para frente, passando a mão pelo cabelo. — Quando eu precisar de ajuda, vou lembrar de te pedir, pode deixar.

O que será que ele pensou...? Ou o que ia pedir? Talvez um... Não, claro que não. Até parece. Que ideia.

Ele tateou o bolso da calça e tirou o celular de lá. Abriu a tela e leu alguma coisa, começando a rir.

— Mateus — explicou, começando a digitar uma resposta. — Tá reclamando que a gente não esperou ele pra vir.

— E por que não esperamos ele?

— Por que o bonito tava dormindo e não queria acordar por nada. Olha que eu chacoalhei, chamei, explodi uma bomba no ouvido dele...

Dei risada. — Então ele nem pode reclamar.

— É... — Sorriu, lendo outra mensagem que chegou e já digitando outra. — Ele pediu pra esperar ele... O ruim é que ele demora demais pra se arrumar.

— Você quer ir em outro lugar antes de ir no Playland?

— Arrã. Quero ir em alguma farmácia ou perfumaria.

— Fala pra ele encontrar a gente lá, então. Se ele souber onde é.

— Boa ideia... Vou pedir pra ele me ligar quando chegar. — Digitou e guardou o celular de volta, levantando e pegando a comanda. — Podemos enrolar um pouquinho lá nos livros.

Concordei e dobrei as folhas, as guardando junto da caneta e ficando de pé.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "San Peter: A Escola dos Mimimis Amorosos (Vol.1)" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.