Não que estou a reclamar das aulas anteriores, mas eu espero um pouco mais de ação na lição de hoje com a nova professora. Sem querer parecer rude, mas as aulas de Lincoln não eram tão excitantes. Octavia parecia gostar, pelo menos.

Ainda estou com uma pulga atrás da orelha sobre isso. Eu não sou burra, eu sei que se colocar 1+1 o resultado vai ser 2, mas não há muitas evidências exatas para que chegamos a essa conclusão, aliás a matemática era tão complicada quanto a vida. Vamos pensar em 1+x e aprofundar mais no caso para encontrar as evidências exatas. 

Credo. Estou parecendo uma louca comparando matemática com a vida real.

Foco Clarke, as lições do dia estão para começar e você precisar concentrar sua atenção total na academia. É a segunda vez hoje que repito isso em minha mente. Por esse motivo eu vou até Bellamy avisar-lhe que estou fora do “caso”, se ele quiser que seja resolvido que entregue para as autoridades, não posso comprometer-me na academia mais do que fui.

Tomo uma respiração profunda e entro na sala de ginástica, todos vestiam uma camiseta azul marinho com o símbolo da academia de polícia de Illinois e calças cáqui marrom com quatro bolsos na frente – estilo militar –, eu também seguia o código de vestimenta, aparentemente a nova capitã é rígida e seguidora nata das normas. Olhei para o lado e vi Octavia com seus cabelos presos em um rabo de cavalo, tinha um sorriso no rosto parecendo animada, o resto dos acadêmicos entravam e se espalhavam pela sala deixando apenas espaço para o tatame no meio da sala.

— Vamos Clarke. - Chamou Octavia me puxando pelo braço sem esperar por uma resposta.

Eu a segui, não tinha muito escolha, O era magrinha, mas era forte. Rir sorrateira enquanto era puxada pela minha amiga, ela parou quando chegamos até Jasper e Harper (uma menina que conheci no refeitório antes de vir para a aula, ela aparentava ser legal), os cumprimentei novamente e começamos a conversar enquanto esperávamos pela capitã.

Logo uma mulher morena não muito alta cruzou pelo tatame e parou no meio, ela tinha cara de poucos amigos, vestia um uniforme de polícia, mas aqueles que só os “grandões” usavam, e ela estava de calças, não de saia como vi algumas mulheres oficiais passarem pelos corredores da academia.

— Formação! - Ela gritou em ordem.

A sala ficou em silêncio com apenas o barulho de nossos pés batendo contra o chão enquanto nos arrumamos em fileiras, tinha várias fileiras com mais de 5 pessoas, estávamos com os braços colados no corpo e eretos, mal dava-se para notar se alguém respirava. Octavia estava ao meu lado na segunda fileira, Finn estava atrás dela e Monty – um coreano (ou japonês, eu realmente não sei) – estava atrás de Finn, ele era um dos amigos dele. Eu e O liderávamos a fileira da qual estávamos, atrás de mim estava Harper, eu tenho certeza que Jasper também. Só não podia ver Bellamy ali entre a multidão.

— Eu sou a Tenente Indra e estou aqui para testar vocês até o limite. - Começou ela. De assustar. — Irei leva-los ao extremo onde, um de vocês irá pedir para sair. Muitos de vocês não irão conseguir, outros estarão pensando em desistir. Anotem bem o que vou falar: eu não sou a amiga de vocês; não falarei com nenhum de vocês fora da academia; vocês irão se referir a mim a Tenente, não responderei a outro nome além a do meu posto. - Continuou ela, as duas mãos para trás enquanto andava e observa todos nós.

Tentei não demonstrar nenhum sentimento, a tenente parecia muito séria em seu discurso.

— Essa é a primeira fase para vocês, patinhos, se tornarem sargentos. Lembrem-se do porquê estão aqui, porque eu vou fazer vocês esquecerem todos os dias. - Tinha um certo tom de desafio em sua voz. – A partir do momento que vocês entraram por aquelas portas, vocês juraram proteger essa cidade. É um juramento muito sério, ou vocês estão nisso ou não. Um dia vocês estarão sendo apenas agentes de trânsito, no outro, vocês serão tenentes, capitães, agentes do governo. Mas, antes vocês terão que passar por mim. - Ela sorriu pela primeira vez, um sorriso de glória e desafiador. – Então, quem irar lutar primeiro?

Minhas pernas estão tremendo, mas vamos manter essa informação em sigilo, não quero passar vexame na frente da tenente fria Indra, ela parecia realmente disposta em morder nossas cabeças.

*****

Estou tão cansada que seria capaz de dormir até o outro dia.

Acabamos há pouco os treinamentos. A tenente queria que nós começássemos com luta corporal para ver nossas habilidades em caso de confronto corpo-a-corpo, algumas pessoas deram um show digno de MMA no tatame, outras não foram tão bem. Eu fazia parte do “não tão bem”, e como “punição” tive que boxear até a hora da aula acabar.

Tinha raiva de Octavia que se deu bem e chutou algumas bundas de uns manés que se achavam os gostosões, além da invejinha, eu estava bem orgulhosa da minha amiga, que virou a queridinha da tenente.

Por falar nela, acabara de entrar em nosso dormitório com uma toalha enrolada em seu corpo e uma ao redor do seu pescoço, os cabelos presos em um coque agora, e o seu olhar para mim em choque.

— Clarke! Sua nojenta fedorenta. Levanta essa sua bunda grudenta do colchão e vá entrar no chuveiro agora! - Mandou ela. 

Eu ri.

— Calma chefe, eu e minha bunda grudenta estava apenas cansada do treino. - Respirei fundo mostrando o meu cansaço.

— Levanta logo daí antes que o nosso quarto fique o fedor de enxofre. - Falou O fazendo uma careta de nojo.

Ri mais uma vez com o seu exagero, mas fiz o que ela disse, levantei-me da cama sentindo todos os meus músculos doerem, e choraminguei muito antes de sair pela porta com o meu nécessaire e toalha para o banheiro.

Depois do banho, posso dizer que sai renovada, mas convenhamos, os músculos do meu corpo pareciam ainda mais doloridos. Me troquei no banheiro mesmo, não gosto muito de me expor, voltei para o quarto apenas para guardar meus pertences e pegar meus equipamentos essenciais (celular, chaves, casaco e relógio), deixei meus cabelos molhados mesmo pois estava com fome. Eu literalmente mataria agora por um hambúrguer com fritas.

Esse pensamento fez minha barriga roncar. Espero que Octavia esteja pronta quando eu chegar no dormitório. Golpe de sorte, para mim e meu estômago, Oc já estava pronta e me esperando, eu coloquei minha jaqueta e nós duas seguimos até o refeitório, os meninos já deviam ter de ser reunido lá. 

Ainda vestíamos o uniforme da academia, assim que a hora do almoço acabasse teríamos aulas de direito com outro professor por pelo menos 3 horas, e em seguida voltaríamos para as aulas com Lincoln, ele queria saber sobre o progresso da leitura do livro que nos passou.

— Garota, nós precisamos extravagar mais antes de nossas vidas virarem um inferno! - Exclamou Octavia com o entusiasmo de sempre. Eu ri olhando para ela e esperando que explicasse o que ela queria dizer. – Vai ter uma festa hoje, que tal? - Perguntou sugestiva.

Faço uma careta. Não tinha o mesmo entusiasmo que Oc tinha. 

— Eu vou ficar e estudar. - Respondi.

Oc bufou e revirou os olhos.

— É desanimador a sua falta de entusiasmo. - Bufou ela abaixando os ombros. 

Quanto drama para uma pessoa só!

Nós rimos como se eu tivesse dito isso em voz alta. Eu disse? Acho que não.

Assim que passamos pela porta dupla avistei os garotos sentados ao redor da mesa, Oc acelerou os passos e ficou bem na minha frente, ela deveria estar animada sobre a festa, vi que se juntou logo com o nosso grupo, eu não a acompanhei pois, bom, meu estômago não iria acompanhar também, foi pegar o meu almoço e, desanimador, não é hambúrguer. Purê de batata não é almoço.

Talvez eu devesse ficar com Bellamy no caso afinal, é uma p(pi)*** injustiça desviar dinheiro da academia, nos faz ter comida ruim... Ok, eu não deveria estar pensando por esse lado. A fome está afetando o meu cérebro e eu já estou começando a pensar com o estômago.

Peguei minha bandeja de comida e fui procurar um assento no meio dos outros acadêmicos. Eu sou a única deslocada aqui, já ouvi me chamarem de “princesa” e/ou caipira, o passado do meu pai começou a pesar nos meus ombros, principalmente depois que descobri que o capitão Kane foi parceiro do meu pai antes dele ser transferido. Filhinha de policial “famoso” ou de caras poderosos não tinham um nível de aceitação como os outros acadêmicos, talvez eles achassem que eram favorecidos.

Encontrei um assento vago numa mesa vazia, longe das conversas e da bagunça de comida, outra menina sentou ao meu lado e me cumprimentou, eu fiz o mesmo para ser educada, comecei a comer e logo a mesa onde estou sentada começou a ser preenchida por pessoas ao redor.

— Então, por que escolheu entrar para a academia de Boston? - Um deles perguntou, casualmente.

A menina morena que sentou perto de mim sorriu bagunçando a comida antes de responder.

— O meu pai...- Ela respondeu, sem fazer contato visual com o menino que perguntou. – Ele era policial então, eu não sei. - Deu de ombros com um sorriso pequeno no rosto. Aparentava triste, talvez o assunto a chateou. – Eu quis seguir os seus passos, eu acho. - Completou levantando o olhar e encarando o mais moreno que balançava a cabeça concordando.

Continuei minha refeição até uma pergunta chamar minha atenção, não foi redirecionada para mim, mas me deixou curiosa, então olhei para o meu lado para a garota que eu não recordava o nome na expectativa que ela respondesse à pergunta lhe foi feita e que toda a mesa parou para escutar.

— Ele foi... morto no serviço? - O mais moreno perguntou de novo, cauteloso, mas nem um pouco sutil. 

Aquele assunto realmente perturbava essa garota. Não era para tanto, é sobre o seu pai em um trabalho perigoso, não há nada mais perturbador que perder alguém pela qual a vida foi tomada pelas mãos de outro ser-humano, eu mesma entendo essa dor...

— Ele não estava trabalhando. - Ela disse, quase pausando e não muito alto. – Ele estava com o meu outro pai andando pela rua, nós iriamos nos encontrar no restaurante próximo, eu estava os esperando para comemorar que eu tinha sido aceita em Yale, iria ser advogada, mas eles nunca chegaram no restaurante. - Ela engoliu em seco. – Na esquina antes do restaurante, meus pais se depararam com um ladrão de rua, ele tinha uma faca e estava ameaçando uma senhora, papai foi intervir, mas não viu que ele tinha uma arma. O ladrão puxou a arma quando reconheceu que ele era um policial, ele atirou na perna do meu outro pai e esfaqueou meu pai, depois atirou nele 6 vezes a queima-roupa e fugiu. Ouvi os tiros do restaurante, vi meu pai caído com um tiro na perna e corri... Me deparei em seguida com o meu pai policial sangrando naquele beco, eu chamei a ambulância, mas já era tarde demais para ele. - Terminou sua história limpando as lágrimas nos olhos.

Ual. É mesmo uma história triste, ela não precisava compartilhar com os outros, mas pareceu ter ajudado a tirar um peso de seu peito. 

— O cara que fez isso com os meus pais ainda está solto. Prometi que iria entrar na polícia para limpar essa cidade, ninguém merece ver alguém da família caído num beco em volta do próprio sangue.

— Eu sinto muito, Lex. - Disse o garoto cabisbaixo.

Eu ousei apertar o ombro dela para dar um conforto, ela olhou para mim e sorriu fraco, sorri de volta e tirei minha mão de seu ombro. Sinto uma mão gelada cobrindo os meus olhos e tento tirar, são grandes mãos, então é masculino.

— Você pode tirar agora! - Eu digo, um pouco divertida.

A pessoa faz o que eu disse e senta do meu lado no meio das outras pessoas. Era o Jasper.

— Octavia disse que você não vai para festa. É isso mesmo? - Ele perguntou.

Ri, não esperava que logo o Jasper viesse me confrontar sobre a festa.

— Desculpa parceiro, mas tenho que estudar. - Respondi sorrindo.

O resto da mesa elevou a voz desinteressados em nossa conversa.

— Claro. - Ele bufou, mas riu em seguida. – Ás 5 da manhã, você vai aparecer no ginásio. - Disse ele. Levantei a sobrancelha confusa. – Octavia e Ballamy vão mostrar alguns truques de luta para a aula de Indra. - Explicou ele, bateu no meu ombro e levantou.  

— Nos vemos lá! - Confirmei com um sorriso.

Jasper sorriu e saiu de vista.

Eu já não estava com tanta fome como antes, então peguei a bandeja quase vazia e me despedi do pessoal, coloquei a bandeja no local de “despejo” e foi em direção a saída, Harper colou comigo junto com uma menina magrinha e mais baixa, nós três seguimos no corredor conversando sobre a academia e um monte de besteira. Mandei uma mensagem para Octavia antes de entrar na sala e me preparar para a aula, tinha pego o necessário no meu armário da academia e já havia alguns alunos na sala. Iriamos ter uma aula de direito, algo que todo policial deveria saber e ter em mente, assim ouvi falar. Ainda não sei quem é o professor, mas sei que não é o Lincoln.

— Ei, eu ouvi que o professor é um gato. - Comentou Harper animada. Eu ri. – To me sentindo de volta no ensino médio. - Suspirou ela.

— O nome dele é Roan Snow, se não me engano. - A outra menina disse.

Bem, parece que estou presa por 3 horas aqui mesmo.

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