Sua Majestade, o Príncipe Legolas escrita por KamiB


Capítulo 1
O Banquete


Notas iniciais do capítulo

Bom, como já expliquei, esta é uma continuação de "o que são anões", que está marcada como concluída, então tive que postar uma nova história. Have fun!



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Olhou mais uma vez para os pés calçados com as botas novas, confeccionadas especialmente para a ocasião. Ainda estavam um pouco duras e ele não conseguia mexer direito os dedos dos pés. Uma careta de reprovação. Mexeu os ombros no intuito de ajeitar as mangas da túnica azul com bordados em prata. Outra careta. Sem contar as joias e a coroa, acessórios que ele não estava acostumado a usar.

                Porém, quando olhou-se no espelho, todo o incômodo sumiu: ele estava vestido como o príncipe que era. Sorriu ao ver sua figura e sentiu-se orgulhoso. Saiu correndo até aos aposentos de seu pai, deixando as servas e todos os seus pedidos para que esperasse para trás.

Abriu a porta com um pouco de dificuldade, uma vez tinha que erguer os pés e alongar-se ao máximo para alcançar a maçaneta. Quando as amas o alcançaram já era tarde demais: nenhuma ousaria entrar nos aposentos do rei.

—Estou “plonto”, Ada!  - fez um gesto apontando suas vestimentas com seu melhor sorriso.

—Ora, ora! – Thranduil se abaixou e o olhou melhor – Que ótimo trabalho fizeram com você...

                O elfo mais velho acariciou os cabelos dourados, quase brancos, do filho e colocou sua própria coroa.

—Penso que estamos prontos... – Sorriu e deu dois tapinhas nos ombro do elfo menor, antes de guia-lo para a sala do trono.

                Legolas sentou ao lado do pai e esperou, o que parecia para ele, uma eternidade. A ansiedade era tanta que balançava as pernas, uma de cada vez,  num vai e vem frenético, apesar de manter-se com a coluna ereta e a expressão impassível. Sim, era a cópia exata do pai – todos no reino concordariam com essa afirmação.

                Logo, seus pequenos ouvidos captaram uma agitação distante, quase aos portões do palácio.  E olhou curioso para Thranduil que respondeu apenas com um aceno na cabeça. Seu pai bem sabia o que ele estava pensando, afinal, ele era o elfo mais poderoso do mundo!

                Após a confirmação que recebera, ajeitou-se mais uma vez em seu acento e fechou a cara. Ele tinha que ser intimidador – como um rei seria, imponente – como um rei seria e respeitado – como um re... Como seu pai o era. E assim ele também seria, um dia.

                As portas da sala do reino se abriram, e pelo barulho que se fez, mais parecia uma horda de orcs atacando o palácio do que uma comitiva cujo propósito da visita ela “diplomático”. O pequeno elfo encarou curioso aqueles seres tão diferentes de seu povo. Como poderiam fazer tanto barulho sendo tão... pequenos?  Tudo bem que ele mal alcançava a altura da cintura de seu pai, nem dos demais elfos grandes do palácio, mas aquelas criaturas...

— Salve o Grande Thranduil, Rei da Floresta! – A julgar pelas vestimentas e joias, era o mais importante do bando, deduziu o pequeno. – e seu herdeiro! – Fez uma mesura um tanto forçada ante aos dois.

— Thror, Grande Rei Sob a Montanha. – O rei se levantou e respondeu da mesma forma, sem se curvar demais, é claro.

A voz de seu pai não demonstrava tensão, muito menos o animação. O tom de Thranduil era o mesmo com o qual ele diria que não apreciava vinho branco, ou que no outono as folhas secam e caem e que maçã era uma fruta. Ninguém mais percebera, exceto o pequeno, que conhecia seu pai bem demais. Também ironizou ao se referir à grandeza de Thror. E isso quase fez um sorriso formar em seu rosto.

                No fim da fila que se formara nos salões, notava-se uma pequena agitação e Legolas escutava risos contidos. Focou sua atenção apenas para escutar do que se tratava, enquanto seu pai e o Rei Anão mantinham um diálogo totalmente superficial.

— “Vestidos” – Mais risos – “Os orelhas-pontudas usam vestidos!” – um anão cochichava ao outro, que também ria.

— “E nem os machos têm pelo no rosto! Nossas mulheres têm mais barba que eles!” – O outro respondeu.

— “Deve ser pela comida verde” – um outro anão, que estava logo atrás comentou. – “Falta de proteína!”  - e dava tapas em sua barriga saliente.

                Estariam bufando em risadas se não vissem que o olhar do príncipe estava sobre eles e os fuzilava com os olhos. Inflaram os peitos e alinharam-se tentando disfarçar. Um até tentou assobiar.

—“Ouvidos de elfo.” – Dentre os três, o que tinha o cabelo mais claro comentou, tentando não mover os lábios e tentar passar despercebido.

 

                Thranduil os conduziu até o banquete que havia sido preparado para a ocasião. Uma mesa longa estava posta com diversos pratos, frutas e bebidas de todos os tipos, alcoólicas e não alcoólicas. As toalhas em um tom bordô deixava tudo mais apetitoso e o cheiro estava muito convidativo. O Rei Elfo sentou-se em uma ponta, Legolas ocupou seu lugar ao lado direito e o Rei Anão na outra extremidade, como deve ser.

                Legolas já terminara sua refeição e perdeu a conta de quantas vezes os servos completaram sua taça com néctar de pêssego, que agora estava cheia e ele mal conseguia olhar para ela sem que seu estômago reclamasse. Seus olhos pesavam de sono e o barulho parecia aumentar. Os anões continuavam comendo e bebendo sem parar. Riam, gritavam, cantavam e dançavam.  Cada vez mais alterados.

                Então, um anão não tão roliço quanto o rei, ainda assim, irritante na mesma medida,  esbarrou em sua caneca de cerveja, que por sua vez derrubou a taça do príncipe, derramando tudo sobre o elfo-criança. Ele não esperava por aquilo. Seus reflexos (que ainda não eram grande coisa) estavam lentos pelo sono. Estreitou seus olhos em fúria. Suas faces estavam ardentes e vermelhas. Sua ama logo veio em seu auxílio e começou a secá-lo.  Seus pequenos punhos estavam cerrados, seu pai olhava a cena e segurou o riso da melhor maneira que podia e obteve sucesso, nem mesmo o pequeno percebeu. O anão sentiu-se desconcertado, não sabia o que fazer, nem como pedir desculpas. Se fosse um de seu povo, despejaria o resto da bebida sobre sua cabeça antes que o outro pudesse reclamar, mas o atingido era o príncipe élfico, oras. E os elfos da floresta não eram conhecidos pela sua tolerância. Arrependeu-se mais ainda ao ver que os olhos azuis gélidos de Thranduil estavam sobre si e encolheu.

—Per... Perdão, Majestade! – A voz falhara.

                Ele apenas assentiu e ordenou que a ama levasse Legolas aos seus aposentos. Já tinha passado da hora de dormir, afinal e não queria expor seu filho ainda mais à presença de anões embriagados. Só Eru Ilúvatar saberia a quantidade de palavrões e ofensas seriam proferidos até o amanhecer, ele devia ser poupado.

—Mas, Ada! – o pequeno protestou.

—Legolas, por favor– abaixou e aproximou seu rosto da orelha de seu filho. – Eu vou dar um jeito nesses anões, prometo. – cochichou. – Agora, acompanhe sua ama até seu quarto, e assim que eu terminar, farei meu relatório.

                Os pequeninos olhos azuis faiscaram de excitação e concordou. A ama tentou carrega-lo, mas ele se desvencilhou de seus braços.

—Não se “atleva”!— Alertou a criada. – Não pense que eu não o “matalia”, “amão”! “Selia um plazer”! – Ameaçou o anão, antes de sair com toda a sua majestade do salão. Não fosse seu pouco tamanho, as vestes molhadas e manchadas de laranja e a coroa torta em sua cabeça, ele seria tão intimidador quanto qualquer um de sua linhagem.

                Thranduil observou seu filho até que as portas estivessem fechadas. Voltou sua atenção aos seus convidados que estavam ali apenas para comer e beber de seu vinho. Sua adega sofreria uma grande baixa depois dessa noite, lamentável. Porém, como todo pai orgulhoso, seu coração batia feliz em seu peito: Legolas certamente seria um grande elfo, e ele nem precisaria se esforçar. Só precisava dar um jeito em sua língua presa.


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Notas finais do capítulo

E então?!
Devo confessar que me diverti escrevendo sobre o pequeno Legolas e sua língua presa. Hahaha!
Não me aprofundei muito sobre as questões diplomáticas, porque quis abordar mais o ponto de vista do pequeno em seu primeiro contato com os anões.
E a frase que dá título faz referência à que o Leggie usou no filme, quando encontrou Thorin e os outros perdidos na floresta. (Não resisti).
Obrigada, a você que leu até aqui! Espero que tenha gostado! ;)