{Saga Pov´s}

                Depois do ocorrido com o Aoi, Shou me ajudou a chegar até a cozinha e fez com que eu me sentasse em uma das cadeiras. Eu possuía agora alguns pequenos arranhões e poucos machucados não muito graves em meu joelho e em meu cotovelo. Mesmo que não fossem nada que tirasse a minha vida eu também nem estava me importando com eles

- Eu sinto muito por isso Saga, o Aoi às vezes exagera! - ele dizia se aproximando de mim e se ajoelhando perto de mim.

- Ah... Deixa pra lá... Não foi nada demais. - eu disse olhando para a pequena maleta que Shou abria, retirando algumas gazes, esparadrapos e remédios.

- Ele sempre foi assim sabe, desde que nos conhecemos... – fez uma pequena pausa enquanto retirava o remédio da maleta e continuou a falar enquanto colocava um pouco do liquido em um algodão. – Ele só sabe ser assim rude com as pessoas, ele só sabe quere vencer.

- Ah... Mas talvez ele tenha escorregado e não fez por mal. – disse inocentemente o vendo Shou levantar seu rosto alvo e me encarar com aqueles orbes cor de chocolate.

- Saga, não seja bobo! – ponderou passando o remédio no meu joelho. - Ele sempre maltratou todo mundo por ser o braço direito do meu pai, se ele te importunar mais uma vez é só me avisar.

- Eetto... O-Ok.

                Ficamos um tempo em silêncio. Fiquei a fitar aquela figura morena a minha frente enquanto passava cuidadosamente o algodão sobre meus machucados logo em seguida fazendo os curativos com a gaze e o esparadrapo. Era realmente impossível como uma pessoa poderia ser tão doce comigo, ainda mais sendo quem ele era. Fazia de tudo para eu me sentir feliz, ou pelo menos para que eu pudesse me sentir mais confiante a respeito dele. Cada sorriso, cada palavra, cada gesto dele fazia com que meu coração disparasse como o coração de um pequeno ratinho prestes a ser devorado por seu predador. Como uma pessoa como eu poderia conseguir, depois de tudo, sentir algo estranho assim, mas de maneira encantadora, como eu estava sentindo naquele momento?

- Pronto, acho que isso vai ajudar!– ele ponderou.

- O... Obrigada Shou, foi muito legal da sua parte! – eu disse.

- Amigos são para isso, não é? – ele terminou sorrindo para mim.

                Eu nada disse, apenas retribui o sorriso que ele fazia questão de mostrar.

oOo

     Quanto mais o tempo passava, eu e Shou estávamos cada vez mais próximos. Ele era uma pessoa maravilhosa, e desde que ele chegou nessa casa eu pude sorrir de verdade. Algumas vezes, esquecia o passado, outras, nem tanto. Mas de uma coisa eu sabia: eu me sentia feliz depois de tanto tempo.

                Ver que o Shou podia sorrir fazia com que eu me sentisse bem. Mas sabia que o sentimento que estava escondido dentro de mim era a sensação mais estranha e encantadora que eu já sonhei em sentir. Algumas vezes, me pegava observando ele enquanto jogava basquete ou lendo um livro, mas depois disfarçava e continuava a fazer minha lista de coisas intermináveis.

- Ah... Saga, achei você! - Shou dizia se aproximando da mesa.

- Ah... Boa noite Shou! - Eu disse com um sorriso no rosto.

- O que você está fazendo? - olhava curioso para a mesa

- Fazendo umas anota... - fui interrompido

- Ah, deixa isso pra depois, vamos fazer algo divertido. – falou logo tirando o papel e a caneta de minhas mãos.

- Mas eu tenho que terminar isso. – retruquei intrigado e o encarando.

- Depois eu falo com meu pai sobre isso, vamos jogar alguma coisa ou sei lá. – completou - Algo divertido.

- Mas o que? – indaguei me dando por vencido pela insistência do moreno que por nem um segundo deixava de sorrir.

- Já sei! Vem comigo – ele disse me puxando e fazendo com que os papeis, mesmo que sobre a mesa, fossem ao chão.

                Fomos  correndo até o jardim. Era muito bonito, possuía flores de todos os tipos e cores e um lindo chafariz no centro. Cobrimos uma parte do chão com uma coberta e nos sentamos. A noite estava realmente linda, o céu todo estrelado e formando uma linda melodia de luzes pelo céu.

- Eu adoro esse lugar sabia? – Começou ele logo se deitando entre as cobertas e olhando para o céu.

- É um lugar muito bonito mesmo – continuei- eu não sabia que existia um lugar desses por aqui, quase tudo é opaco e sem enfeites.

- Esse era o meu esconderijo e da minha mãe, quando eu era pequeno me deitava nesse mesmo lugar e ficava contando as estrelas com ela. –completou.

- Ela devia ter sido uma pessoa muito legal não é?

- Sim, ela era muito doce e gentil – falou e ficou a fitar as estrelas daquele manto azul marinho perdido em devaneios - Parecia um anjo – concluiu.

- Por isso que você é gentil e doce desse jeito? - pensei alto, arfei e tampei meus lábios com minha mão direita enquanto pensava se Shou tivesse escutado.

- Desculpe disse alguma coisa? - ele olhou para meus olhos fazendo com que eu ficasse corado.

- N... Não nada. – gaguejei e logo desviei o olhar.

- Ah... – Olhou para mim demonstrando uma pequena desconfiança, mas logo ponderou - Tudo bem então! Er... Escuta Saga você pode ouvir uma música que eu fiz? Eu gostaria de saber se ficou boa.

-O... Ok

- Ah, e desculpa se eu desafinar – ele dizia soltando uma gargalhada

- Sem problemas. - Conclui sorrindo.

“A constelação do leão está cintilando outra vez,

Entregando esta terra com lágrimas...

Essa voz, como você pode ter uma voz tão linda...

Mesmo este céu, mesmo esta canção, por quê?

Perdendo cor, perdendo som, não são reais

Seu sonho me abraça, ele transforma em uma estrela que vai ressonando

Meu coração disparava enquanto escutava sua voz rouca, melódica e doce ao mesmo tempo... Que sensação é essa? O que está acontecendo comigo? Por que sinto tudo isso só em ouvi-lo cantar?

Por causa de você, meu coração está ferido

Os estilhaços ainda estão lá em silêncio...

Mesmo esta flor,

Mesmo esse pássaro,

Mesmo o vento,

Mesmo a lua;

Ele para o tempo...

Esse sentimento... Como será que posso descrevê-lo? Gostaria de poder identificar essa sensação...

O céu estrelado está cintilando outra vez,

Esta terra é exaltada com lágrimas

Que o tempo galopante concede para fora da luz,

Este mundo sem você é ‘fantasia’...”

- E Então? Ficou bom? - ele perguntava sorrindo.

- Sim... Sua voz é muito bonita, Shou-sama! - disse retribuindo o sorriso.

- Obrigado! –Continuou - Você também canta?

- Não, eu não sou bom nisso! – desviei seu olhar e senti meu rosto esquentar levemente o que dava a entender que minha face se enrubescia. - Eu sempre fui uma pessoa muito calada, então eu não costumo cantar.

- Mas não custa tentar um dia, é muito divertido!- continuou - Em minha opinião é uma das formas mais belas de se expressar.

- Então quando eu criar coragem eu canto! – Conclui.

- Ok, vou aguardar então... -terminou sorrindo.

                Depois disso nos deitamos sobre a coberta que estava estirada ao chão. Aos poucos meus olhos seguiam cada estrela que  formava lindos desenhos sobre o céu. Eu lembrava tudo que aconteceu comigo, tudo que passei e agora o que eu estava recebendo em troca por tudo isso. Eu nunca tive amigos, mas agora descobri que é tão bom ter alguém para que você possa sorrir de vez em quando e ajudar quando esse alguém se encontra em perigo ou quando precisa de um ombro amigo.

                Naquele momento nada mais passava pela minha cabeça. Olhei uma última vez para o Shou que já de olhos fechado, dormia com um semblante calmo e demonstrando qualquer preocupação. Meus olhos aos poucos se fecharam e eu perdia a noção de onde estava. Virei-me e adormeci de frente para ele, era como se fôssemos ligados por um profundo laço que até mesmo eu desconhecia.