A neve caia intensamente, Sawn e Becky Blanchey já estavam cansados da viagem, eles e outros viajantes iam parando nas pousadas que encontravam pelo caminho, Becky, não agüentava mais caminhar, carregava uma criança em seu ventre e estava exausta e então Sawn e Becky decidiram passar a noite em uma pousada humilde, que ficava bem entre a divisa de Kucci com o País de Sérpias, dois países fundados após a colonização da Antártida no ano de 2018.
Becky e Sawn fugiam de um passado de miséria e procuravam encontrar em Sérpias uma passagem de ida para América do Norte, um local onde os moradores dos países de Kucci, Sérpias, Colone e Bokomey acreditavam ser extraordinário, um local onde os sonhos se realizavam, os EUA, desde as duas primeiras guerras mundiais sempre foi visto como sonho de qualquer país subdesenvolvido, mas poucos conseguiam entrar legalmente desde que a família Knox fechara as portas para imigrantes.
Becky possuí esperanças de que criaria sua futura filha em um país desenvolvido, já Sawn não estava tão crente assim, Sawn não era um homem muito extravagante, ele era um homem de origem humilde, Becky havia nascido em berço de ouro, mas largara tudo para amar Swan.
Os dois deitaram-se na cama e ficaram olhando através da janela os flocos de neve caírem, um a um pintando o chão lá fora de branco, Becky virou-se para olhar seu marido, seus olhos brilhavam, era a coisa mais magnífica que já tinha visto, nem mesmo mil jóias poderiam ser comparadas aquele momento com Swan e juntos abraçados, dormiram ao som de ruídos e rangidos da construção antiga, o frio os envolvera em seus braços, mas isso não os incomodou, desde que tivessem um ao outro.
E então aconteceu, as dores começaram de madrugada, a pousada inteira foi ver o que havia ocorrido, uma nova criança vinha ao mundo, uma criança de dupla nacionalidade, nascida entre os países de Sérpias e Kucci.
— Ela vai se chamar Wira, pois já nasceu uma criança forte, mesmo no meio desse frio todo, não veio ao mundo chorando. — Disse Becky.
Swan pegou a criança em seus braços, enrolou ela em vários lençóis e saiu com ela para fora, ao sentir aquele frio de fora a criança começou a resmungar.
— Não chore minha pequena Wira, — falou o pai da criança — a coisas muito piores de suportar do que o frio.
As criadas da pousada gritaram para Sawn trazer a criança para dentro imediatamente, pois ela poderia ficar doente, mas o homem não ouviu as moças e ergueu Wira no ar.
—E assim nasce uma guerreira, Wira Blanchey, você não sabe quantas lutas a aguardam.
Quatro anos depois, Sawn, Becky e Wira não conseguiram ir para a América do Norte, mas conseguiram se estabilizar em Fonnec, uma cidade de Sérpias, Sawn havia encontrado um ótimo emprego e Becky o ajudava fabricando enfeites em casa e cuidando de Wira, todos estavam felizes quando aconteceu.
— Fujam, os soldados chegaram. — Avisou Bé, vizinho dos Blanchey. — Eles estão vindo atrás da menina.
Becky pegou Wira pelos braços enquanto Swan foi pegando seus pertences, era a lei, a lei estava fazendo com que eles fugissem, a lei regente do continente da Antártida, que todo primogênito assim que completasse quatro anos seria entregado para o EMK (Exército Mundial Knox), o maior e mais temido exército da terra.
Os Blanchey correram o mais depressa que conseguiram, mas o exército os pegou, atiraram primeiro em Swan e depois em Becky, porém Becky sobreviveu, então atiraram outra vez e arrancaram Wira de seus braços já sem vida.
— Mamãe, papai! Não! — As lágrimas escorriam pelo rosto da pequena órfã dos Blanchey, um soldado comovido com a situação, que era contra matar os que se rebelassem agachou à frente de Wira e lhe entregou um lenço.
—Tudo bem, está tudo bem, eu vou cuidar de você de agora em diante, está bem?
A garotinha concordou com a cabeça e segurou à mão do soldado, ele foi guiando-a até a nave, Wira se sentou ao lado de outras crianças que já estavam na nave, um garoto ao seu lado sorriu para ela.
— Sou Theo.
— Sou Wira.
Passados sete anos, Theo e Wira já estavam com onze anos e eram melhores amigos, treinavam juntos, almoçavam juntos e conheceram novos amigo, Hikari, Ayoki, Cat,Lara, Clara e David, porém Hikari, Cat e David já não podiam mais almoçar com eles, pois já haviam sido selecionados para seus grupos.
Esse era o ano de seleção de Theo, Wira, Ayoki e Clara, todo o treinamento, testando todas suas habilidades e seus limites, para no fim finalmente se tornar um membro maduro da sociedade EMK.
O local da seleção era um grande salão, quinhentas cadeiras estavam a disposição para quinhentas crianças, todas voltadas para um grande palco onde o general Groove Knox estava com seus três filhos, o mais velho Kaio Knox, futuro líder do grupo 1 do exército 1 possuí cabelos castanhos e alguns músculos já eram visíveis, o do meio Kyle Knox tinha o cabelo dourado como o de sua mãe e era mais baixo até que sua irmã mais nova, Renna Knox.
A seleção de Kyle foi no mesmo ano que a de Hikari, Cat e David e evidentemente ele foi para o grupo um do exército dois, para mais tarde se tornar capitão do mesmo grupo, Renna era a única da família Knox que não havia passado por nenhuma seleção ainda, mas era evidentemente que caíra na Aliança Científica Alinium, no grupo um.
Um a um as crianças iam sendo designadas ao seus grupos.
—Ayoki Katsun, grupo 1, exército 1. — A garotinha de cabelos tingidos de azul pulou de alegria, mas se entristeceu de repente, pois não havia caído no mesmo grupo que seu amigo Hikari.
— Clara Naskar, grupo 1, Aliança Científica Alinium. — Clara foi rastejando até a capitã de seu grupo.
— Theo Buchman, grupo 3, exército 2.
O coração de Wira se angustiou, a cada nome que foi passando ela desejava e ao mesmo tempo não deseja que seu nome chegasse logo.
— Wira Blanchey... — “meu Deus”, pensou ela. — grupo 3, exército 2.