Cinco meses.

Cinco meses foi o tempo entre o pedido de casamento e o momento em que Harry conseguiu entrar naquele terno, mesmo tendo muito medo de suar ele inteiro antes da cerimônia.

— Você está bem, querido? Está pálido... Quer que eu pegue uma água? - Narcisa sorriu docemente enquanto arrumava, pela incontável vez, a gravata do genro.

Ela tinha se mostrado bastante animada com os preparativos, era atenciosa e, como Draco adorava dizer, mimava mais a Harry do que ao próprio filho. Mas todo o encanto com a sogra se perdeu ao perceber o quão assustadora ela poderia se tornar se fosse contrariada.

Não era à toa que estava se casando com um smoking branco ao invés do preto que tinha escolhido.

— Eu estou bem, só ansioso, eu acho. - conseguiu dizer enquanto tentava acalmar a respiração e conter a tremedeira nas mãos. - Eu só não queria ter passado tanto tempo longe do Draco, sabe? Uma semana foi um pouco demais...

Narcisa torceu o nariz, contrariada. Tinha sido ideia dela os mandar para spas diferentes e mantê-los sem contato por aqueles sete dias intermináveis. Ela disse que faria bem e que a surpresa seria a alma de toda a cerimônia.

— Você verá que eu tenho razão quando se virem daqui... - ela conferiu o relógio da parede e sorriu -... 20 minutos. Agora respire e tome um pouco de água antes que você desmaie e o Draco nunca mais fale comigo.

Ele sorriu, acanhado, e aceitou o copo que ela lhe oferecia.

Os dois entraríam juntos e Narcisa os levaria até o altar. Segundo ela, estaria ganhando um filho com aquele casamento então nada mais justo que fazer o papel de Lily ao levar Harry até o bruxo que faria o enlace.

Sra. Weasley não tinha ficado muito feliz com aquilo, mas, como dito anteriormente, era impossível contrariar Narcisa sem explodir uma terceira Grande Guerra.

Batidas na porta chamaram a atenção e um homem de terno escuro abriu porta e entrou nos aposentos com uma bandeja em mãos.

— Sra. Malfoy, desculpe interromper, mas o Sr. Malfoy se recusa a sair do quarto e disse que não comparecerá á cerimônia. O elfo está escondido na cozinha, chorando bastante e se recusa a falar mais qualquer coisa. Por isso vim avisá-la. - o empregado parecia desconfortável ao dar a informação e evitada contato visual.

Narcisa fechou os olhos e respirou fundo, como se reunisse paciência.

— Harry, querido, termine sua água e, quando faltar cinco minutos para o horário da cerimônia, me espere na porta dos jardins. Draco já estará nos esperando lá fora e vocês não tem permissão de se verem até eu estar com você, tudo bem? - sua voz era calma, mas seu olhar era forte e não permitia contestação. - E, por favor, não sente ou amassará seu smoking. Se me der licença, vou acompanhar meu marido até seu lugar. - e saiu elegante, esvoaçando seu vestido verde em um movimento que lembrou a Harry, vagamente, o antigo professor de poções.

Os minutos seguintes foram uma tortura. Não era como se faltassem 15 minutos, mas sim 15 anos para que ele visse o  noivo novamente. Ao mesmo tempo, o relógio parecia brincar com Harry, correndo mais do que deveria quando seu nervosismo (e medo) pedia que fosse mais devagar.

E se Draco mudasse de ideia? E se ele visse que seu pai tinha razão? E se... Ok, não era momento para surtar. Eles estavam juntos, iriam se casar, constituir uma família. Estavam até planejando adotar uma criança assim que a fase de Lua-de-Mel passasse.

É, não existia motivos para pânico... Então por que suas mãos não paravam de tremer?

Os 10 minutos restantes se passaram e ele caminhou até a porta dos jardins. Como imaginou, elas estavam fechadas e sua sogra sorria para Harry, lhe estendendo o braço para segurar no dele.

— Está pronto para ser um Malfoy? - sua mão direita portava sua varinha e, com um movimento, as portas começaram a abrir.

— Tanto quanto Draco está para ser um Potter. – sorriu, nervoso.

— Então você nunca esteve tão pronto.

Mal teve chances de assimilar suas palavras, pois no momento seguinte tudo o que viu foi Draco.

Ele estava deslumbrante em um smoking cinza que realçava certos tons da cor de seus olhos. Seus cabelos estavam soltos, sem gel ou qualquer tipo de poção, e emolduravam seu rosto, deixando os traços mais marcados. E seu sorriso nervoso se desfez ao encontrar os olhos verdes.

— Venha, Draco, venha dar o braço para sua mãe. Depois vocês terão todo o tempo do mundo para me agradecerem. - Narcisa soava pretensiosa e feliz ao ter seu outro braço envolvido pelo do filho.

Uma música suave começou a tocar, mas nenhum dos dois parecia saber ao certo qual era. Caminharam sem pressa até o altar montado no final do caminho de flores e, então, Narcisa os deixou para ficar ao lado de seu marido, que não escondia o descontentamento de estar ali.

— Estamos reunidos aqui para o enlace de Harry James Potter e Draco Lucius Malfoy. Gostaria de pedir que os noivos olhassem-se e dessem as mãos. - eles obedeceram ao bruxo e sorriram, quase em sincronia. - Harry James Potter, aceita Draco Lucius Malfoy como seu legítimo esposo? Prometendo ser fiel em todos os momentos de suas vidas?

— Sim, eu aceito. – disse firme e viu o bruxo levantar a varinha e tocar suas mãos unidas.

— Draco Lucius Malfoy, aceita Harry James Potter como seu legítimo esposo? Prometendo ser fiel em todos os momentos de suas vidas?

— Sim, eu aceito.

O bruxo levantou a varinha minimamente antes de encostá-la em suas mãos novamente.

— Muito bem, agora podem fazer seus votos.

Draco fechou os olhos e respirou fundo. Harry sabia o quão difícil era pra ele demonstrar o que sentia com palavras, mas quando ia dizer que não precisava, ele voltou a encarar os olhos pelos quais era apaixonado, sorrindo.

— Você sabe o quanto eu sou horrível com palavras. Quase perdi você por não dizer o que deveria, você lembra? - Harry concordou com a cabeça - Então eu prometi pra mim mesmo que isso nunca mais aconteceria. Eu prometi que te daria o mundo e algumas palavras nada são perto de tudo que você merece. Você me salvou quando mais ninguém sequer tentou. Você mostrou pra mim o que era amor de verdade. Você me mostrou que eu poderia ser feliz. E eu quero provar pra você que suas escolhas valeram a pena e sempre vão valer. Eu amo você, Harry.

As lágrimas já desciam sem barreiras pelo rosto de Harry, enquanto tentava gravar cada segundo daquele momento em sua mente.

— Senhor Potter... - o bruxo chamou sua atenção e ele respirou fundo antes de começar a dizer seus votos.

— Eu lembro a primeira vez que eu te vi. Não no Beco Diagonal ou no trem, ali eu apenas olhei pra você. A primeira vez que eu te vi você estava chorando em um banheiro. Chorando sem uma escolha e sem saber o que fazer. Ali, e apenas ali, que eu vi você, Draco. Eu vi todos os seus nuances, todos os seus lados... E eu amei. Amei a ponto de não conseguir imaginar uma vida longe de você. Eu amei a ponto de te abraçar sem pensar nas consequências. Eu amei e continuo amando porque escolher você foi a melhor coisa que eu já fiz na minha vida. E eu sei que todos os nossos dias serão cheios de escolhas como essa. Eu amo você, Draco.

Ambos sentiram as mãos se aquecerem enquanto o bruxo afastava sua varinha, deixando um resquício de uma linha dourada que começava em um pulso e terminava no outro. A linha logo sumiu e o cerimonialista sorriu.

— E, com o poder a mim investido, eu os declaro casados. Podem se beijar.

Draco soltou suas mãos, mas Harry não pôde se sentir abandonado sequer por um instante, pois logo foi puxado para um beijo intenso e cheio de saudade. Aprofundaram o beijo, sem cerimônia. Harry levou os dedos à nuca alheia, arranhando a pele de leve enquanto o puxava para mais perto pela frente de suas vestes.

O momento pareceu durar uma eternidade, mas logo ouviram os aplausos dos convidados e se separaram. Harry escondeu seu rosto no pescoço de Draco, um pouco acanhado por terem se empolgado tanto em público, e Draco riu, beijando seus cabelos.

Ele estava feliz. Os dois estavam. E nada no mundo poderia destruir o sentimento que tinham construído.

Até mesmo Lucius se conformou com isso depois de algumas tentativas.