Go on escrita por Toruna


Capítulo 1
"O inferno são as pessoas"




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Era guerra. Papai me carregava para todos os lugares próximos de onde tínhamos perdido tudo. Não foi fácil, mas ouvimos boatos. A aldeia da Grama precisava de pessoas com habilidades médicas! Não tínhamos nada. E, para mim, tínhamos menos que todos, porque eu havia perdido mamãe.

Médicos? Certo. Mas me são muito suspeitos. — Disse o ninja da Grama, porém papai insistiu até onde pôde.

Diferentes? Que tipo de diferença? Hã? Uzumaki? Uzumaki... Uzumaki... Não conheço... O que disse? Curar-nos com... com... — Impressionou-se o ninja. Sim, papai afirmou. Exatamente. Com mordidas! Éramos uma família de um kekkei genkai raro capaz de curar qualquer ser vivo que mordesse nossa carne.

Então prove! — Finalizou o shinobi. Eu não compreendia direito essa habilidade. Não quis olhar. Mas fomos aceitos.

No dia seguinte, fomos designados para várias equipes. Corríamos muito para todo canto, pois todos nos queriam, mas papai era o único que “atendia” os doentes.

Pegue a reserva! Leve-a para o Norte! — Eu era geralmente chamada de “reserva”. Não entendia o porquê. À noite, às vezes, eu via papai voltando para o ponto de encontro com novas cicatrizes. Sentava na grama e esperava, como sempre, com um sentimento que me agitava o espírito. Numa noite, meu inferno começou.

Oe, reserva! — Alteei os olhos para o homenzarrão à minha frente, aterrorizada. – Precisamos de você! — Este me agarrou e me levou. Corremos para socorrer os doentes do Sul, para onde papai havia saído aquela noite. Chegamos antes do amanhecer. Vários fios de cabelo vermelho atulhavam minhas mãos: estava ansiosa para vê-lo.  

[...]

Meus olhos se enevoaram. Ouvia as palavras dos shinobis como um som de fundo onde eu só conseguia focar nas batidas aceleradas de meu coração. [...] Queria me levantar, socorrê-lo, ser útil. Lá estava papai, recostado numa árvore enorme, sentado, ajoelhando-se para mim e abrindo seus braços. E cada movimento que fazia em que seu corpo se abria eu via sangue e mais sangue e mais sangue. Sangue, Uzumaki Sataoshi cheio de sangue. Vermelho. Os cabelos de meu pai, vermelhos. Não conseguia piscar, mas as lágrimas escorriam tão forte, tão rápido. Meu impulso foi o de abraçá-lo. Um fio de felicidade me passou pelos lábios na forma de um escasso sorriso que logo se enrugou novamente ao sinal das lágrimas que caiam de meu rosto e que pintavam o ar à medida em que acelerava o passo.  

Papai sorria para mim, estreitando-me contra seu peito enquanto eu sentia gotas de sangue misturadas com lágrimas caírem sobre meu pescoço. Puxaram-me: fui arremessada para longe de papai por vários shinobis feridos que começavam a mordê-lo em todas as partes de seu corpo, como zumbis... Um sentimento de pânico, confusão, angústia. Ódio. Queria que o soltassem, corri de punho cerrado para afastá-los, mas algo estava errado. Estaquei: os feridos não se recuperavam. Foi então que nós percebemos: papai estava morto.

Não serve mais! —  Exclamaram! Eu fiquei inconsolável, depositada no chão, de joelhos enquanto instintivamente percebia olhares poderosos: todos vinham na minha direção... estendiam meus braços, pernas... abriam suas bocas... mordiam minha carne... Reserva... Foi com a dor que saí de meu delírio... Gritei bastante. Shinobis chegavam e me seguravam.

USEM A RESERVA! — Foi o que disseram. Eu estava incontrolável... Peguei uma kunai quando tive chance. Mirei os olhos no primeiro à minha frente. Acertei-o no pescoço. Todos se afastaram num impulso. Lágrimas incessantes. Meus olhos não eram vermelhos como os de papai nem tão serenos. Estavam cheios de raiva, mirando-os. Tinha 10 anos. Sem pai nem mãe (acertei mais três feridos) sem casa nem pátria.

 – É um demônio!!! — Aquela foi a primeira vez (acertei 2 incapacitados) que fui mordida.

Peguem... — Aquela foi... a primeira vez que matei um homem. – Uzumaki Karin!

Dizem que você meio que perde a noção do tempo quando está passando por uma experiência ruim. Que você meio que desce ao inferno e depois volta. Que 3 minutos normais são sentidos como 3 anos. É exagero, mas para mim não depois de ver tudo acontecer.


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Notas finais do capítulo

Título oficial do capítulo: Vermelho* é amor
Tema: amor

*referência à cor do cabelo da protagonista.



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