Who I Am? escrita por StrangeDemigod


Capítulo 7
Number Seven




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/698319/chapter/7

Ela estava encolhida na cama de seu novo quarto, as luzes já apagadas, sem a blusa de mangas e as botas, mantendo apenas a regata, a calça e as meias. Seus cabelos estavam espalhados pelo travesseiro, moldando seu rosto. E este se encontrava manchado por lágrimas salgadas, que já haviam sido derramadas a muito e ainda continuavam a ser derramadas por seus olhos.

Helena havia acordado assustada, ofegante e suando frio. Ela havia tido um pesadelo. O pesadelo a fez se lembrar da morte de Ally, Joseph e Kevin. O pesadelo a fez sentir o peso do fardo que carregava em suas costas. O pesadelo a fez chorar.

Ela se sentia uma fraca. Não havia contado às meninas o que havia acontecido com seus pais e seu irmão. Temia que, se contasse, as duas a culpariam. Sua cabeça doía.

Passando ambas as costas das mãos por baixo de seus olhos, limpou suas lágrimas que ainda insistiam em escorrer. Fungando, virou-se de lado e ajeitou-se no colchão. Fechou os olhos e tentou ter um sono sem sonhos. Uma pena que isso não aconteceu.

—_//__

“Ela estava em um corredor escuro. Não enxergava absolutamente nada. Suas pupilas deviam de estar dilatadas ao máximo. Começou a andar. Na tentativa de enxergar alguma coisa, apalpou o que parecia ser uma parede.

Olhou para frente e viu uma luz. Rapidamente fechou os olhos, pois ela era extremamente forte e cegou a garota por alguns momentos. Piscou freneticamente, acostumando-se com a claridade a poucos metros de distância de si. Ela não podia enxergar muito, mas era o suficiente. Observava a luz branca. Era como se ela a chamasse.

Helena respirou fundo e, ainda se apoiando na parede, começou a dar pequenos passos em direção à luz branca. Pelo que ela percebera, o ar dentro daquele corredor não possuía tanto oxigênio. E, em consequência disso, a cada passo que ela dava, era como se ela corresse uma maratona. Mas não era só isso que estava lhe tirando as forças. Ela teve de parar.

Estava ofegante, com a visão embaçada, sua cabeça e seu corpo doíam. Caiu de joelhos. Ela sentia que algo escorria por seus braços. Era sangue. Mas o sangue não era vermelho. Era dourado. Helena franziu o cenho, olhando confusa para o líquido flavescente que escorria pelos seus braços.

—O q-que?- ela falava fracamente, pois os cortes por onde o sangue escorria eram profundos e, assim, o líquido viscoso e dourado vazava em grandes quantidades. -Dourado?Como... C-Como assim? Ai!- ela gemeu de dor e colocou a mão direita no braço esquerdo. -Como eu me cortei?- ela tirou a mão do braço e viu-a encharcada pelo sangue. -Nesse ritmo, eu vou... vou acabar desmaiando...- ela falava consigo mesma. Seus olhos estavam começando a ficar pesados. Sua consciência já ia se esvaindo. Porém algo a despertou. Alguém começou a falar em um tom muito alto.

—VEJAM SÓ! O BOM FILHO A CASA TORNA!- a voz era feminina, mesmo sendo meio grossa. Por entre as palavras, era possível perceber alguns rosnados. Helena se virou para trás e o que encontrou a fez arregalar os olhos. Era uma empousai. -VEJAM! ELA ESTÁ COM MEDO!_aquela, como se pôde definir, “coisa” falou e Helena percebeu uma movimentação estranha por trás da empousa, que tinha uma perna de bronze e a outra de burro. Logo, a sua vista, estavam cinco delas, ao total.

—Podemos matá-la?- uma delas perguntou para a do centro.

—Ela é imortal!- a do meio respondeu. Helena arregalou ainda mais os olhos. ‘Imortal? Eu?’ A garota de cabelos e olhos castanhos debatia-se mentalmente. -Mas isso não quer dizer que não possamos torturá-la!- ela falou, dirigindo um sorriso às demais.

Todas as cinco olharam Helena com sorrisos ameaçadores, garras apostas, prontas para atacar. Começaram a se aproximar da garota que já estava sentada no chão, com suor de nervosismo escorrendo pelo rosto e ofegando. Helena forçou-se arrastar para trás, porém, ao fazer isso, utilizou os braços e uma dor imensa lhe atingiu na área onde haviam os cortes. Seu urro de dor invadiu o local, fazendo com que os seres a sua frente abrissem mais seus sorrisos e seus olhares se tornassem mais escuros, sedentos por mais gritos de dor.

A garota tentava se levantar, mas sem usar os braços, seria impossível. Engoliu em seco e, logo após, reuniu o quanto de ar pode.

—SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDE, POR FAVOR!- gritou em plenos pulmões. As empousas ainda se aproximavam dela. A do meio, possivelmente a líder do grupo, soltou um tipo de rosnado, que parecia ser um riso sarcástico.

—Ninguém vai ajudá-la, garota. Você foi renegada por todos. Renegada pelo próprio pai.- ela falou. ‘Como assim...?’. -Se eu fosse você, eu não tentaria lutar.- elas continuaram a se aproximar dela. Helena estava em desespero. Um desespero tão grande que, mesmo com seus braços ainda machucados, ela os usou para se levantar. Mais uma vez, seu urro de dor invadiu o local. Apoiou-se a parede. Olhando para os monstros à sua frente, Helena respirou fundo e empurrou-se da parede para começar a correr em direção à luz branca e extremamente cegante.

Ofegava. Ela sentia os pulmões queimarem, mesmo assim não parou. Ela teria certa vantagem na corrida, devido às pernas de tamanho irregular e formas diferentes das empousas. Sabendo disso, apertou o passo e correu mais rápido. Quão mais perto estava da luz, sentia que tudo começava a ficar embaçado.

Helena podia escutar os gritos das criaturas ficando distantes. Ela olhou para trás, ainda correndo, e as viu. Estavam paradas, olhando para ela. Quando Helena olhou para frente novamente, só viu uma luz lhe cegar, então tudo ficou branco.

Mal Helena sabia que ela havia acordado todo o Acampamento Meio-Sangue.

—_ //__

Ela viu-se em um jardim.

Olhou para o próprio corpo. Estava usando um vestido rosa claro, que balançava e tremeluzia, e estava descalça. Viu que seus braços não possuíam nem cortes, nem sangue escorrendo, nem cicatrizes. Ainda confusa, parou para observar melhor o jardim. Ele era estranhamente belo e lhe dava a sensação de aconchego. Possuía alguns cogumelos gigantes e coloridos, estes brilhavam na escuridão do local, que parecia ser ‘morto’. Ao invés de flores, era possível ver esmeraldas, rubis, entre todas as outras pedras preciosas que se pode imaginar.

Helena, então, escutou risadas. Risadas de uma criança. Olhou para trás e encontrou uma cena que poderia tirar a tristeza de qualquer pessoa. Havia uma pequena garota, pálida, de cabelos castanhos e olhos da mesma cor. A garotinha poderia facilmente lembrar uma Helena criança. A pequena corria e girava pelo jardim e dava risadas. Correndo atrás dela, havia um homem alto, pele igualmente pálida como a da garota, mas seus olhos e cabelos eram extremamente negros. Mais atrás deles, havia uma mulher sentada em um banco de mármore negro. Seus cabelos e olhos eram castanhos, assim como os da garotinha, mas sua pele era bronzeada. Ela tinha um sorriso em seu rosto. Aparentemente, ela sorria para a cena à sua frente.

O homem conseguiu pegar a garotinha em seu colo, que parecia ter mais ou menos de um a dois anos de idade. A mulher no banco soltou uma pequena risada abafada, o que fez o homem virar-se para ela e lhe direcionar um olhar repressor. Ele, com a garota no colo, dirigiu-se até o banco e sentou-se. A mulher, ainda rindo, pegou a garota em seu colo e lhe deu um beijo na bochecha.

—Você vai causar muitos problemas para o seu pai no futuro.- ela olhava nos olhos da garota, tão iguais aos seus.

—No futuro?! Ela já me causa problemas agora.- o homem ofegava levemente. -Eu estou ficando velho.- A mulher soltou mais uma risada e logo após deu um beijo na bochecha do homem.

—Hades... você tem quase três mil anos. Admitir que está ficando velho agora não adianta de nada.- ela olhou para ele sorrindo. Ele soltou um suspiro e pegou a garotinha em seus braços.

—Essa ‘coisinha’ aqui- ele esfregou seu nariz do da menina e ela soltou uma gargalhada. -me deu muitos problemas durante o tempo que você esteve fora, que, aliás, foi muito tempo. Você ficou quase um ano fora, Perséfone.

—Eu sei, eu sei. Mas eu precisava Hades. Os outros ainda não podem saber sobre Helena.- ela acariciou as mãos da menina, que brincava com os dedos do pai. -Minha mãe foi me enchendo de perguntas. Ela queria saber o porquê de eu ter ficado quase dois anos sem voltar lá para cima.- ela suspirou e olhou nos olhos do homem. -Apolo me contou que foi preciso ele, Ares, Poseidon, Hermes e até Hefesto para segurá-la para ela não vir aqui atrás de você tirar satisfações.- ela riu mais uma vez, lembrando-se da cena. -Você me entende, certo? Se Zeus descobrir sobre Helena ele pode... pode...-ela gaguejava.

—Calma, Perséfone.- ele afagou de leve a bochecha dela. -Tente não pensar nisso, certo? Esqueça todos lá em cima. O importante é que estamos juntos agora, com essa pequena encrenqueira.- ele ergueu um pouco a menina na frente no rosto da mulher. -E nós te amamos.

—Modéstia de sua parte, não?- ela sorriu para ele. -Eu te amo.- ela deu um selinho nele. -E amo essa coisin... Helena?- ela se interrompeu olhando para o colo do marido procurando pela filha, que há poucos segundos estava ali. -Hades, cadê Helena?- ela perguntou para ele, que se assustou, procurando a menina.

Olharam em volta e a acharam parada um pouco a frente deles, olhando para cima. Não se sabia o que ela estava olhando. Perséfone soltou um suspiro de alívio e se levantou, indo até a garota, parando a seu lado, e se agachando. Observou a menina, que tinha os olhos concentrados em um ponto fixo.

—O que está olhando, filha?- ela perguntou para a garotinha, que levantou a mão e apontou para frente, para o nada.

—Mama, alma.- a garotinha apontava para o nada, mas Perséfone não via o que ela queria lhe mostrar.- Alma ‘galota’, mama.- a pequena continuava a apontar para o nada. -Alma, mama. Alma!- apontava freneticamente.

—Como assim, filha, que alma?-  a morena mais velha tentava ver algo, mas só via o nada. - Hades, está vendo algo?- ela olhou para trás, em direção ao marido, que negou com a cabeça. Ele estava olhando Helena, com o cenho franzido. -Não tem nada aí, filha.- ela pegou a menina no colo. -Vamos, está na hora de você dormir.- Perséfone se virou e seguiu para entrar no castelo, com Hades atrás dela. A menina, mesmo no colo da mãe, olhava para trás, em direção a tal alma a qual havia tentado mostrar aos pais.

Mas eles não imaginavam que a alma que a garotinha viu, era ela mesma, dezoito anos mais velha.

—_//__

O sonho havia mudado mais uma vez. 

A garota de olhos e cabelos castanhos ainda estava confusa. Aquela garotinha a enxergava, mas seus pais não. E ela possuía o mesmo nome que Helena. Seria possível? Não... Ou talvez... Ela não saberia responder. Parou mais uma vez para olhar o lugar onde estava. Também era um jardim, mas esse era diferente. Era bem claro. Alguns arbustos e árvores de folhas incrivelmente verdes cercavam o local. Possuía um pequeno caminho feito de paralelepípedos claros e alguns bancos de mármore na cor branca. As flores eram diversificadas, tanto em tipos quanto em cores. Mas um conjunto de flores chamou mais sua atenção. Eram rosas. Ela se dirigiu até o conjunto de flores que ela tanto amava. Parou a frente das rosas e ficou de joelhos. Abaixou um pouco a cabeça em direção às flores e aspirou o cheiro delas. Sem dúvida, o cheiro era maravilhoso. Levou a mão em direção a uma e sentiu a textura. Era por isso que ela amava rosas. Mas não rosas coloridas. Ela gostava de rosas vermelhas, de um vermelho bem escuro, quase preto. Era, simplesmente, fascinante.

Helena, de repente, escutou soluços. Eram bem baixos, mais ainda sim ela podia escutar. Tentou saber de onde vinham e, logo após dar uma olhada em volta, descobriu. Havia uma pessoa, uma mulher para ser mais exata, sentada em um dos bancos de mármore branco, com as mãos no rosto. Helena saiu de perto das rosas e foi em direção da mulher que chorava.

Quando chegou perto da mulher no banco, pode observá-la melhor. A mulher parecia ter a mesma idade que ela. Helena não podia ver seu rosto, mas pôde observar outras coisas. Tinha os cabelos castanhos como os seus, mas eles estavam presos em uma trança de lado. Usava uma túnica grega preta. E usava sandalhas igualmente negras até a canela.

Os soluços da garota que estava sentada ficaram mais altos. Logo então, ela levantou o rosto, o que fez com que Helena arregalasse seus olhos. A garota que estava sentada no banco era ela. O rosto manchado por lágrimas, bochechas e nariz levemente avermelhados, mas ainda sim era ela.

Helena olhava abobada para a Helena que estava sentada no banco.

A Helena do banco levantou a cabeça, olhou para sua frente e levou um susto. Tinha alguém parado ali. Mas não era qualquer pessoa. Era ela mesma. Usava um vestido leve e de cor rosa claro. Estava descalça e com os cabelos soltos.

Ambas com os olhos arregalados observavam-se. A do banco ainda tinha lágrimas escorrendo pelo rosto. A que estava em pé queria saber o porquê de a do banco estar chorando.

—Por qu...- a Helena que estava em pé começou a falar, mas foi interrompida por um grito que atraiu a atenção das duas.

—HELENA!- uma mulher gritou. As duas Helenas olharam sua direção. A que estava em pé reconheceu a mulher como aquela que havia visto no sonho anterior. A mulher, cujo nome era Perséfone, não havia envelhecido em nada. Ela corria em direção as duas ali, segurando a barra de sua túnica igualmente negra como a da Helena que estava sentada. -Pelos deuses... Você me assustou. Saiu correndo de lá...-  ela parou de falar e observou o rosto da garota no banco. -Helena... você estava...- ela hesitava em falar. Era claro que a garota havia chorado. -Oh, Helena...-  a mulher foi em direção a mais nova, com o intuito de abraçá-la, mas a garota do banco recuou.

—Não... Mãe-  a mais nova colocava sua mão à frente do corpo, tentando impedir o abraço. -Eu não quero te machucar. Por favor...- novas lágrimas desciam pelo rosto da garota pálida de vestes negras. Recolheu a mão para o colo e fechou-a. A Helena em pé observava tudo.

 -Minha filha... O que houve...?- a mais velha sentou-se ao lado da mais nova, porém a certa distância.

—Eles odiaram-me, mãe... Odiaram-me...- ela falava entre soluços.

—Não!- a mais velha exclamou tentando colocar a mão no ombro da filha, mas a mais nova recuou novamente. Perséfone recolheu sua mão. -Eles não te odiaram Helena...

—Como não?!-  ela gritou. -Aquela cujo deveria ser minha ‘avó’ me tratou como lixo. Você mesma viu!- exclamou entre lágrimas. -Agora Zeus está discutindo com o papai lá dentro. Ele foi o que mais me odiou, sem dúvidas.

—Helena, mantenha a calma!- Perséfone falou.

—Como manter a calma? Como?- ela colocou ambas as mãos nas têmporas e apertou a cabeça. -Faz parar, mãe, por favor! Isso dói demais!- a garota apertava os olhos com força.

—Helena! O que há de errado?- a mais velha tentava entender o que se passava. -Filha...- Perséfone encostou a mão no ombro da mais nova, mas algo inusitado aconteceu. A mais nova estava nervosa. Devido a isso, uma aura negra a envolvia. E, ao encostar na filha, Perséfone recebeu uma descarga de poder muito forte. Ela caiu no chão, desmaiada. Ao se acalmar, a Helena do banco abriu os olhos e, mesmo eles estando embaçados, viu a mãe caída no chão, inconsciente.

—Mãe?- a garota perguntou, chacoalhando o corpo da mulher. -Mãe? MÃE!- caiu de joelhos, ao lado do corpo desfalecido da mulher. -MÃE! ME DESCUPE!- gritava e chorava. A Helena de vestes claras observava tudo atônita.

Enquanto a garota de joelhos gritava e chorava, alguém apareceu correndo pelo jardim. Era um homem. Alto, pele pálida, vestes, cabelos e olhos escuros. Era Hades. Ele havia ouvido os gritos da filha e correu atrás para ver o que havia acontecido. Quando viu a esposa no chão, correu até ela, desesperado. Ajoelhou-se perto do corpo da mulher e segurou-a pela nuca e cintura. A mulher não respirava.

—Helena... o que foi que você fez...?- ele falava baixo e frio. Uma nuvem negra cobria seus olhos. -O QUE VOCÊ FEZ?!

—Pai.. e-eu não q-queria...- ela gaguejava. Iria continuar, mas o olhar frio de seu pai a deixou apavorada.

—PERSÉFONE!- um grito feminino invadiu o local. Uma mulher, com uma túnica grega verde musgo, sandalhas gregas amarronzadas, de cabelos enrolados castanho-escuros e olhos verdes vinha correndo até eles. Quando chegou perto, tapou a boca com as mãos e arregalou os olhos. -Hades...- ela olhava furiosamente para o homem, mas ele ignorou-a.

Logo, o jardim estava cheio de pessoas. A Helena de vestido rosa olhava todos os presentes ali. Porém, quem mais lhe chamou a atenção, fora um homem de olhos azuis elétricos, com pose firme.

—Apolo...- Hades pronunciou-se e logo após, um homem de cabelos e olhos dourados estava a seu lado. -Cuide dela.- O homem de cabelos e olhos negros colocou a mulher desfalecida no colo do mais novo, que logo se retirou do local.

Hades levantou-se e encarou a garota de cabelos e olhos castanhos, com vestes negras, que estava de joelhos.

—Como você pôde, Helena?- ele falava friamente. A garota já chorava novamente. Quando ela ia se pronunciar, Hades berrou. -COMO PÔDE?!  ELA É SUA MÃE! COMO TEVE A AUDÁCIA EM FAZER ISSO COM ELA? RESPONDA-ME!

—P-pai...- gaguejava, mas teve o rosto virado bruscamente para o lado e um estalo foi ouvido no silêncio do jardim. Hades havia estapeado o rosto da própria filha. A Helena em pé estava com as mãos por sobre a boca. De seus olhos, lágrimas escorriam. Ela podia até sentir o ardor em sua bochecha. A Helena de joelhos ainda estava com o rosto virado, a marca dos quatro dedos de Hades estava avermelhada e visível. O homem bufava, mas estava arrependido de ter feito aquilo.

—HADES! ELA É SUA FILHA!- um grito de repreensão ecoou pelo local.

—NÃO SE INTROMETA, AFRODITE!- ele olhou para a mulher que havia gritado e, logo após, virou-se novamente para a menina que estava de joelhos, que continuava com o rosto virado. -ELA NÃO É MINHA FILHA! EU NÃO TENHO UMA FILHA!- gritou novamente. Bufando, virou-se em direção ao homem de olhos azuis elétricos. -Mesmo que isso possa parecer estranho, eu concordo com você, Zeus. Aceito o acordo.- ele falou e logo se retirou do jardim, indo atrás da esposa. Todos olhavam a cena estupefados.

—Ares.- chamou e logo um homem o olhou. -Leve-a.- o homem assentiu e foi em direção à menina ainda de joelhos, mas agora com o rosto abaixado. Ares pegou-a bruscamente pelo braço, forçando-a a se levantar e andar. Estavam passando perto de Zeus, quando ele se pronunciou. -Amanhã, os seus treinamentos se iniciam.- ele falou perto do ouvido da garota, que apenas ficou em silêncio, sendo puxada pelo braço até sumir pelos corredores.

Depois dos fatos, todos se dispersaram do jardim. Agora sozinha, a Helena que estava de pé, caiu de joelhos. Ela não acreditava no que havia visto. Nada parecia real.

Querendo tentar absorver melhor o que havia se passado ali, sentou-se no chão e abraçou os joelhos, começando a chorar compulsivamente.

Enquanto uma chorava, a outra era jogada dentro de uma cela, como se fosse um animal. Quando o homem foi embora, a Helena do sonho sentou-se no chão frio e pôs-se a pensar.

Seu olhar estava opaco, vazio. Ela havia machucado sua mãe, sim, mas fora um acidente. Um acidente que provocara a separação dela de seus pais. Seu próprio pai, por causa daquilo, havia lhe batido e a renegado. Então ela se decidiu. A partir dali se seu pai não teria mais uma filha, então ela não teria mais um pai. Tornar-se-ia fria, vazia. Apenas uma carcaça que obedecia ordens.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Who I Am?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.