Dois dias se passaram depois que a dupla deixou os portões de Konoha. Sasuke decidiu que ambos iriam para Tori no Kuni, um país cujo muito pouco ele conhecia. Combinaram que Sakura não ajudaria nas escolhas dos destinos de ambos, pois Sasuke havia visitado muitos lugares, porém, mesmo as pequenas nações eram enormes para que apenas um homem pudesse conhecer tudo; ela também sabia que seu objetivo era conhecer o mundo.

 Depois de ter se aberto com o Uchiha, a kunoichi sentiu-se melhor e mais aliviada. Estava sorridente nos dias que seguiram e voltou ao espírito tagarela e determinado de sempre. Fazia Sasuke, que estava acostumado ao silêncio de viajar sozinho, quase repensar se fizera a escolha certa ao deixá-la viajar com ele. Só nos últimos dois dias tinha informações suficientes para escrever um jornal.

 Ambos caminhavam a passos calmos, não lentos, mas também não tão rápidos; conversavam vagamente sobre qualquer assunto e retornavam ao silêncio. Em alguns momentos, Sakura sentia a falta que Naruto fazia para o time, mas no fundo, sabia que não queria continuar sendo apenas a colega de equipe e seus sentimentos eram dissipados no mesmo instante.

Viajar a sós com ele, ainda mais depois do que fizeram a deixava completamente desnorteada. Tentava a todo custo afastar pensamentos sobre aquilo. Procurou se concentrar na paisagem, observando trechos da floresta pouco densa que cercava a estrada por onde caminhavam, os poucos raios de luz solar atravessando as copas dos grandes carvalhos e outras ramificações; uma borboleta alaranjada que voava inocente ao redor de uma pequena e única margarida. No fim, acabou esquecendo, por hora.

 Os passos lentos foram suficientes para chegar até Amegakuri no Sato. Sakura reparou em todos os detalhes da aldeia. Desde o céu pintado de um cinza nebuloso graças às longas chuvas que caíam sobre o país, até as grandes construções modernas raramente vistas em Konoha. Alguns locais ainda mantinham seu estilo tradicional, como estabelecimentos construídos com madeira pura, visivelmente deteriorados devido às chuvas.

 Apesar de feliz, a kunoichi também se sentia completamente exausta nos últimos dias, pularia de alegria ao ver Sasuke entrar em uma estalagem se tivesse energia. Era um lugar simples e pequeno, mas visto que não estavam em nenhum tipo de viagem importante (e depois de acampar três noites seguidas), nem sonharia em reclamar. Assim que entrou, Sasuke foi imediatamente atendido pela balconista e recebeu a chave do quarto onde passariam a noite. Devido à pressa do Uchiha para chegar ao quarto, a ninja julgou que ele também estava exausto.

 Enquanto subia as escadas, lembrou-se de que era a primeira vez que passaria a noite em um quarto com Sasuke depois do que aconteceu. É claro que ele sequer a tocaria desta vez, ela tinha certeza disso, mas ainda sim, um calor predominava dento dela e seu estomago fervia. Deu graças quando entrou no quarto. Era bem espaçoso e arejado; possuía uma porta corredeira de vidro que os dava acesso à uma varanda; do lado direito, ficava o banheiro; no centro, uma mesa com quatro acentos no chão e ao lado esquerdo, dois futons. O espaço entre eles era consideravelmente pequeno, mas isso poderia ser mudado.

— Ah! — Sakura suspirou e deslizou para um dos futons, debruçando-se sobre ele — Eu estou exausta!

— Eu vou trazer algo para comer. — Sasuke anunciou, deixando apenas algumas sacolas mais pesadas no canto do quarto partindo até a porta antes de fechá-la — Eles não nos servem comida aqui.

Sakura soltou apenas um uhum como confirmação. Sentia-se tão cansada que apenas pronunciar uma frase completa a deixava com preguiça.

Quando notou que estava sozinha, pegou alguns acessórios em sua mochila e seguiu para o banheiro. Precisava urgentemente de um banho.

Enquanto despia-se, olhou atentamente seu corpo no espelho; um tanto magro, a pele alva e os seios discretos.

Será que ele se lembra de alguma coisa? Pensou. Lembrou-se que o tempo era curto e Sasuke poderia retornar a qualquer momento. Preferia tomar banho enquanto estava sozinha. Não sabia o porquê de ter ficado tão tímida após o que aconteceu. Para ela, até os menores detalhes faziam um tipo de apologia ao que houve naquela noite.

                  ::::::::::::::::::::::::::::::

O céu estava nublado e fazia um pouco de frio, e lá estava Sasuke voltando pelas ruas de mãos vazias. Pouco mais de oito horas da noite e quase todos os estabelecimentos estavam fechados. O único comercio que viu aberto, fora uma barraca onde uma velha vendedora de acessórios feitos com bambu estava.

— Forasteiro — ela chamou — Melhor você sair das ruas agora. É perigoso.

Curioso, o Uchiha se aproximou.

— Por quê? — questionou.

— Há um grupo de bandidos que vem atazanando esta parte da aldeia. — A velha contou, quase sussurrando e olhando para todos os cantos — Eles não toleram quem cruza seu caminho. Sugiro que vá para casa enquanto ainda não estão por aqui.

O Uchiha chegou a cogitar a possibilidade de ficar e enfrentar os bandidos, mas poderia estar se envolvendo em algo muito maior e que requeria muito mais investigação. Retornou então à estalagem.

Quando entrou, notou que Sakura não estava deitada. Ouviu o barulho do chuveiro ligado e sentiu-se estranho.

Merda.

Começou a imaginar coisas. É claro que Sasuke não era um homem fútil e superficial cujo único pensamento era mulheres, mas ainda sim, era um homem, isso era algo que ele jamais poderia conter. Depois do que havia acontecido, sentia que seus hormônios estavam muito mais aflorados. Não pode parar de pensar no fato de que a companheira estava nua no cômodo ao lado e sentiu-se um idiota por isso.

Logo, foi rapidamente tirado de seus devaneios pervertidos ao ouvir um grito seguido de um barulho um tanto estrondoso vindos do banheiro. Seu corpo moveu-se involuntariamente e quando se deu conta já havia aberto a porta. Sem bater, sem avisar, apenas entrou.

Teve a imagem de Sakura caída no chão com uma das mãos apoiando a cabeça e uma toalha tampando algumas partes do corpo. A névoa formada no cômodo não permitiu que ele visse muito, mas era completamente perceptível ver que ela estava nua.

Quando notou que o rapaz estava no banheiro, a ninja soltou um grito que fez o Uchiha sair imediatamente.

Sakura estava tão envergonhada que nem se deu conta de que quase desmaiou durante o banho. Em sua cabeça não havia espaço para assimilar que estava acontecendo algo com ela. Pensava apenas no que acabara de acontecer e o que diria depois daquilo.

Quando se acalmou, a ninja secou-se e vestiu um dos roupões da estalagem. Lembrou da barulheira que havia feito e ao notar que aquilo preocupou Sasuke, ficou um pouco mais confortável com a situação.

Assim que saiu do banheiro, notou que ele já havia separado os futons (em uma distância um pouco maior do que ela esperava).

— Ne, Sasuke-kun. — A voz da ninja saiu um tanto rouca, ela se recostou na parede e olhou diretamente para o chão — Desculpe ter preocupado você, eu estava tão cansada que acabei escorregando. Podemos apagar o que aconteceu, certo?

Sasuke a olhou e a viu com os mesmos olhos de quando conversaram pela primeira vez depois daquilo.

— Eu não estava preocupado. — ele emitiu em tom rude natural típico dele. Não queria demonstrar qualquer sinal de que fora afetado pelo ocorrido — Ouvi que há alguns bandidos nessas áreas. Pensei que fosse um deles me causando problemas.

Sakura suspirou aliviada. Dessa vez ele ao menos disse algo. Não era tão grave assim.

Depois daquilo permaneceram o restante da noite em silêncio. Exaustos, não demoraram a deitar cada um em seu próprio futon, esperando o sono chegar.

Sakura voltou a preocupar-se com o tombo. Aquilo não deveria ter ocorrido. Lembrou-se da visão tornando-se turva e da perca repentina de forças. Uma remota suspeita do que viria a ser se instalou em sua mente, arrepiando-a. No fim, negou a si mesma. Provavelmente era só o cansaço. Quando estava quase dormindo quando se assustou com a voz meio grave de Sasuke.

— Você não está preocupada em dormir aqui?

Seu rosto se tornou um pimentão. Entendeu o que ele estava insinuando no mesmo momento.

— E-Está tudo bem. — Falou baixinho virando-se para o telhado.

A kunoichi pensou que talvez, Sasuke estivesse mais preocupado do que ela, afinal, em sua cabeça, ele acabou dormindo e agarrando-a; então, lembrou-se de algo importante que talvez já devesse ter dito a ele.

— Sasuke-kun... — ela chamou.

— Hm — ele murmurou, sem fazer alarde.

— Tem algo que eu quero dizer a você.  — Sakura admitiu com o rosto ainda mais vermelho.

— O que foi? — ele falou baixo ainda sem se virar para ela.

— O chá que você tomou na minha casa, ele... É ótimo para ajudar a dormir, mas, em grandes doses ele... Aumenta a... Produção de hormônios no corpo... Criando um tipo de... Desejo. Eu sei... Eu sei que deveria ter dito antes, mas... Você sabe o que eu já disse sobre esse assunto.

Os olhos de Sasuke se abriram no escuro do quarto vagamente iluminado pela luz de um poste que atravessava o vidro da porta. Ouvir aquilo foi como retirar um peso das costas. O Uchiha se conhecia melhor do que ninguém e sabia que mesmo desmaiado, não faria tal coisa, mesmo que quisesse muito. Talvez esse tenha sido o motivo de Sakura ainda confiar nele. Acabou dando um pequeno sorriso de canto.

— Aquela menina idiota...